A
“blitzkrieg” de Tarcísio contra a Educação, em São Paulo
É
difícil acompanhar o ritmo das atrocidades que o governo de São Paulo está
fazendo à escola pública. Privatiza!! é a palavra de ordem da gestão Tarciso e
Feder. E, todos os dias aparece nos jornais uma nova privatização dos serviços
públicos do estado, a qualquer preço. Como disse Luís Nassif, Tarciso é hoje a
maior ameaça à democracia.
Como
se não bastasse a reforma do ensino médio e os estudos do ministério da Fazenda
para reduzir o orçamento constitucional para saúde e educação e atender ao
ajuste fiscal emascarado na lei de arcabouço fiscal, temos em São Paulo a
plataformização da educação e o leilão das escolas públicas. Vale examinar cada
uma destas iniciativas.
As
escolas paulistas receberam este ano um pacote digital coordenado pelo Centro
de Mídias (CMSP) com 11 plataformas digitais para uso de professores e
estudantes, operadas por corporações do setor privado com contratos que
destinam recursos públicos para essas empresas. Além disso, há outras cinco
plataformas usadas para registro das atividades de gestão pedagógica da escola.
Através delas é possível a verificação diária pela direção da escola, pela
diretoria de ensino e pela Secretaria de Educação da frequência dos alunos e do
uso das plataformas na escola em tempo real; intensificando o controle do
trabalho docente modelado pela secretaria. Os professores podem acessar
tutoriais no Youtube para saber como funciona cada uma dessas plataformas.
O
CMSP proporciona aulas digitais dos componentes (a nova nomenclatura para as
disciplinas) da Formação Curricular Básica para que os professores as projetem
no lugar de ensinar a partir de metodologias próprias, e um conjunto de
atividades no formato de questões objetivas que os estudantes recebem
diretamente pelo aplicativo para responder nas suas casas no prazo de dois dias
após a realização da aula correspondente. As tarefas são corregidas pela
própria plataforma e compõem o processo avaliativo e a nota do bimestre
atribuído pela inteligência artificial.
No
caso, por exemplo, da disciplina Redação a plataforma contém o tema e o roteiro
da redação. Após inserida pelo estudante no aplicativo, a Inteligência
Artificial faz uma primeira correção que equivale a 40 pontos. O restante é
realizado pelo professor.
Outro
exemplo é a plataforma Leia SP. Contém um conjunto de livros, avalia o
progresso de leitura e as perguntas obrigatórias para serem respondidas pelos
alunos, que acompanham cada livro. É apresentada ao professor como uma solução
digital para que possa fazer um “acompanhamento correto de sua turma”.
Há
dois casos de componentes curriculares que são paradigmáticos na platafomização
da educação paulista, Tecnologia e Robótica e Orientação de Estudos. Todas as
aulas são realizadas nas respectivas plataformas, Alura e Tarefa SP. Ou seja,
estudante e professor não têm nenhuma autonomia na definição dos conteúdos e na
organização destas aulas, foram transformados em “consumidores” de “aulas
prontas”.
Estes
são alguns exemplos de padronização do trabalho pedagógico que transforma o
processo formativo num conjunto de ações pragmáticas e instrumentais,
diminuindo ou anulando o espaço de participação, de consulta e reflexão,
danificando a construção do pensamento crítico dos estudantes.
A
falta de interatividade entre o professor e o aluno, e entre os próprios
colegas de uma classe, somada à ausência de participação ativa de todos, torna
as aulas enfadonhas. Os estudantes não demonstram interesse nos conteúdos
transmitidos nas aulas/slides. Zombam. Entram e saem da sala. Consultam o
celular e se concentram nos games, inclusive quando estão com os computadores
ou tablets da escola. O desinteresse, o desânimo e certa inquietação constituem
o clima escolar que agora impera nas escolas de ensino médio de São Paulo,
permeado por certo cansaço em relação ao excesso de conteúdo digitalizado.
O
uso de tecnologias tem sido recontextualizado no discurso das políticas
educacionais (Silva, 2022). As novas tecnologias não são recursos didáticos a
serviço de um projeto educativo institucional, mas a educação escolar que se
adequa à plataformização à serviço das corporações. Quando as escolas
questionam a secretaria da Educação sobre que pressupostos políticos e
pedagógicos fundamentam o uso de determinadas plataformas, não encontram
respostas. O conhecimento que as escolas estão construindo aos poucos deste
aparato digital, tem mostrado um conjunto de inconsistências em relação ao
objetivo anunciado pela secretaria, de garantir melhor aprendizagem aos
estudantes. O argumento de oferecer recursos pedagógicos numa linguagem mais
próxima à realidade digital dos estudantes não tem encontrado ressonância entre
os eles, que transitam do desinteresse à pouca aprendizagem e ao estar
entediado.
Na
verdade, trata-se de um modelo de gestão baseado em sistemas de
responsabilização e de controle e prestação de contas hierarquizados – o que é
chamado accountability, nas novas formas de gestão empresarial.
O
modelo flexível de organização e gestão, associado às modernas tecnologias de
gestão empresarial, incorpora as inovações da quarta revolução industrial, o
modelo da indústria 4.0, que “do ponto de vista da construção da hegemonia
exige formas de consentimento, que passam a atingir de maneira inaudita a
dimensão intelectual e espiritual dos trabalhadores”. (Cavalcante, 2023)
Se
é verdade que as plataformas estão se constituindo como “novo recurso
pedagógico” ou, como afirmou a fundação Telefônica Vivo, que a “Plataformização
da educação chegou para ficar”, é fundamental que a sociedade discuta o
significado de uma educação escolar plataformizada para a aprendizagem, para a
formação e para a constituição subjetiva das novas gerações. Principalmente
quando tudo está sendo feito “a toque de caixa” pelos governos por meio da
aquisição de plataformas prontas que não passaram pelo crivo de especialistas
em conteúdos e metodologias de ensino.
• Escolas
oferecidas para empresas em leilão
Não
bastasse a plaformização “descontrolada” da educação paulista, recentemente o
governo Tarcísio anunciou leilão para que empresas privadas administrem as
escolas públicas de São Paulo. “A PPP envolverá a construção, gestão e operação
das unidades, além de serviços não-pedagógicos, como limpeza, manutenção,
gestão de infraestrutura e segurança”. O objetivo seria “liberar a direção das
escolas de tarefas burocráticas permitindo maior dedicação às questões
pedagógicas” (UOL, 12/4/2024). A gestão de uma escola envolve a organização das
atividades meio, aquelas que dão sustentação a realização das atividades-fins,
isto é, o processo de ensino e de aprendizagem. A formação e educação dos
estudantes, portanto, são inseparáveis. O governo de São Paulo utiliza um
discurso enganoso para romper com o princípio constitucional da gestão
democrática da escola pública, por meio do qual atividades meios e fins são
decididas e realizadas de forma participativa e democrática. Colocar os
serviços denominados não-pedagógicos nas mãos do setor privado, além de
destinar recursos públicos a empresários, poderá criar uma situação em que as
atividades-meio não estejam devidamente adequadas à finalidade da escola, que é
educar as novas gerações. O mesmo discurso enganoso é utilizado quando se
questiona as escolas cívico-militares.
Este
modelo de gestão privada da escola pública, chamada internacionalmente de
escola-charter não é novo no Brasil. Já existe em vários estados e, também é o
modelo das escolas cívico-militares. Foi implantado na ditadura de Pinochet
(1973-1990), que acabou com o sistema público de ensino no país. Nos Estados
Unidos, as escolas charter tiveram um crescimento considerável a partir da
década de 1990, com o governo Bush Filho (Bastos, 2018).
Isto
é claramente a desresponsabilização do Estado pelo sistema público de ensino,
apoiada na narrativa de eficiência e eficácia da gestão privada de think tanks
da educação no Brasil e no exterior – organizações privadas liberais e/ou
conservadoras – (CASIMIRO, 2018), além de ser glamourizadas pelos supostos
casos de sucesso das políticas educacionais norte-americanas, reiteradamente
contestados por pesquisadores e mídia alternativa do país.
As
pesquisas do modelo da escola charter nos Estados Unidos e em outros países
demonstram que não se trata “apenas” de escolas mantidas com recursos públicos
e cuja gestão é privada. Este modelo significa um intenso processo de mudança
da racionalidade organizacional da educação, uma formação centrada no trabalho
docente desregulamentado, defendido pelo empresariado no Brasil. É muito
vulnerável aos interesses – econômicos e ideológicos – das corporações e
gestores privados. Nos Estado Unidos criou-se uma gestão franchise, com rotinas
escolares e propostas pedagógicas padronizadas, acompanhadas por material
didático para toda a rede de escolas (Krawczyk, 2018).
Em
2016, uma entrevista realizada a um pesquisador estadunidenses publicado na
revista Carta Capital mostrava a presença frequente de casos de corrupção,
denúncias de segregação, interrupções da escolaridade das crianças e jovens
causadas pelo fechamento intempestivo de escolas charter quando não dão certo
ou quando as corporações resolveram investir em outras áreas.
É
preciso estar alerta frente a estas rápidas investidas do governo paulista para
desregulamentar a educação pública paulista num processo de privatização da
gestão das escolas e dos conteúdos a serem ensinados. Até onde o governo
paulista pretende chegar?
Ø Delegado é afastado do caso Porsche após causar incômodo à PM ao
pedir câmeras
Responsável
pelo inquérito que investiga o episódio envolvendo um jovem ricaço que conduzia
um luxuoso Porsche de maneira imprudente, e que acabou matando um motorista de
aplicativo numa colisão na Zona Norte de São Paulo na noite de 31 de março, o
delegado Nelson Alves foi retirado do caso e transferido de delegacia nesta
sexta-feira (19), por determinação da direção da Polícia Civil.
Alves
vinha pedindo insistentemente as imagens das câmeras corporais dos PMs que
atenderam à ocorrência, já que esses agentes liberaram o condutor aparentemente
embriagado do local, a pedido da mãe, sob o pretexto de levá-lo ao
pronto-socorro, mas que na prática permitiu a sua evasão do flagrante. O
delegado também tornou-se alvo de críticas da equipe de advogados de Fernando
Sastre de Andrade Filho, o condutor do Porsche, pois detalhes do inquérito
teriam chegado ao conhecimento da imprensa, levando os defensores a atribuírem
tal vazamento ao policial.
O
fato é que Alves despertou a fúria do governo de Tarcísio de Freitas
(Republicanos) pelos pedidos reiterados de entrega dos registros feitos pelas
câmeras dos PMs, sob quem recairiam suspeitas de terem facilitado, seja lá por
qual razão, a saída do responsável pela tragédia do local da violenta batida.
Tarcísio vem dando caráter excepcional de importância à Polícia Militar e quer
torná-la uma “superinstituição” com poderes quase absolutos, que não poder
criticada, questionada ou investigada por crimes e irregularidades, em
consonância com o discurso autoritário militarista do bolsonarismo.
Oficialmente,
a Secretaria da Segurança Pública (SSP) explicou que a retirada de Alves do
caso e do 30° DP, sendo transferido para o 81° DP, também na Zona Leste, seria
por mera burocracia e “razões administrativas”. No lugar dele foi colocado o
delegado Milton Burguese, que estava no 81°DP. Ou seja, eles foram trocados. Em
entrevista ao jornalista José Luiz Datena no começo da noite desta sexta (19),
o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Artur Dian, disse que se tratou
de uma “permuta”, uma troca direta entre os dois funcionários, o que foi negado
por Alves, que ao ser questionado pela imprensa em relação à sua saída
respondeu: “Ninguém sabe, só cumpro ordens”.
A
recusa e as desculpas da PM em entregar logo o material registrado nas câmeras
corporais causam estranheza a todos, uma vez que o caso sequer investiga
diretamente seus integrantes. Ainda que fossem o alvo da investigação, como
instituição pública e de Estado, a PM deveria imediatamente entregar essas
imagens à Polícia Civil, que legalmente é quem realiza a função de polícia
judiciária. A situação é tão esdrúxula que o delegado Marcos Casseb, titular do
30°DP e até então chefe direto de Alves, teve que fazer um pedido à Justiça
para que o Comando da Polícia Militar repasse de uma vez as imagens filmadas, o
que deixou a corporação fardada ainda mais irritada.
Ricardo
Nunes agiu de maneira ilegal ao afrouxar controle municipal sobre saneamento,
diz MP
Parecer
do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) aponta que o prefeito de São Paulo,
Ricardo Nunes (MDB), cometeu ato ilegal e lesivo ao assinar um documento que,
na prática, afrouxa o controle municipal sobre o saneamento básico na cidade,
facilitando inclusive a privatização da Sabesp. Esse documento, aliás, embasou
o projeto de lei aprovado em primeira votação nessa quarta-feira (17) na Câmara
Municipal.
“A
perda de autonomia do município por si só já basta para tornar inválido o ato
de adesão à Unidade Regional de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário,
ato de responsabilidade do atual prefeito”, escreveu a promotora Claudia
Cecília Fedeli, da Promotoria de Justiça de Mandados de Ações Populares.
“Demonstrada a ilegalidade, passemos à lesividade: o serviço de saneamento
básico consistente em fornecimento de água e coleta e tratamento de esgoto está
dentre um dos mais importantes serviços prestados à população. Trata-se de um
direito fundamental, previsto como alicerce da democracia brasileira”,
completou.
Despachado
no último dia 7, a manifestação do Ministério Público refere-se à ação popular
movida por José Célio Sardi contra a Prefeitura de São Paulo e o prefeito
Ricardo Nunes. Servidor aposentado da Sabesp, Sardi questiona a adesão de Nunes
a uma iniciativa do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Para ele, o
prefeito coloca em risco o direito humano à água devido a questões econômicas
envolvidas com a privatização da companhia da abastecimento endossada pelo
gestor municipal.
Em
agosto de 2023, sem consultar a população e nem os vereadores, o prefeito foi
ao Palácio dos Bandeirantes e incluiu a capital à Urae 1. Trata-se de uma das
quatro Unidades Regionais de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário,
criadas em 2021, na gestão do então governador João Doria, para adequação ao
marco regulatório do saneamento. Com a Urae, a gestão do saneamento passaria a
um conselho formado por representantes do estado e dos municípios reunidos. E
não mais entre a Sabesp e o município.
A
adesão foi possível graças aos pauzinhos mexidos por Tarcísio. Como São Paulo
havia perdido o prazo para aderir à Urae, que expirou em 2022, Tarcísio editou
novo decreto (67.880, de 15 de agosto) dias antes da assinatura de Nunes, dando
mais seis meses para adesão de outras prefeituras. O interesse do republicano
na adesão paulistana era simples: com todos os municípios juntos em um únicos
bloco, ficaria mais fácil para o governador aprovar no conselho da Urae um
contrato de longo prazo. E com isso atrair o interesse de empresas na compra do
controle acionário da Sabesp. Isso porque o acordo da companhia com as maiores
cidades prevê cancelamento de contratos em caso de privatização.
O
decreto de Tarcísio, aliás, está sendo questionado no Supremo Tribunal Federal
(STF) pelo PT e pelo Psol. Em outubro passado os partidos ingressaram com Ação
Direta de Inconstitucionalidade. Apontam que o decreto “conferiu ao Conselho
Deliberativo das Uraes a competência para “deliberar acerca da celebração de
contratos, convênios, parcerias e outros instrumentos congêneres para a gestão
associada dos serviços públicos de abastecimento de água potável e esgotamento
sanitário, inclusive alterações de prazo, de objeto ou de demais cláusulas dos
contratos e instrumentos atualmente vigentes, e do seu agrupamento em novo(s)
contrato(s) de concessão, no âmbito dos Municípios”.
“Essa
nova competência conferida por meio de decreto para que os Conselhos
Deliberativos das Uraes possam alterar prazos, objetos ou de demais cláusulas
dos contratos e instrumentos atualmente vigentes no âmbito dos Municípios,
extrapola o poder meramente regulamentar que pode ser exercido pela via do
decreto executivo; cria verdadeiros direitos onde a legislação não os havia
criado, violando competência do Poder Legislativo e, de forma inaceitável,
violando a autonomia dos municípios e o pacto federativo”, apontam.
A
Procuradoria Geral da República e a Advocacia Geral da União já emitiram
pareceres. Neles consideram que o decreto de Tarcísio de Freitas para favorecer
o processo de privatização da Sabesp afronta a autonomia municipal.
Na
esfera estadual, há diversas ações na Justiça de São Paulo. Entre elas, mais de
50 movidas pelo Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do
Estado de São Paulo (Sintaema) e Federação Nacional dos Trabalhadores em
Energia e Meio Ambiente (Fenatema).
O
sindicato ainda apoia diversas ações individuais de trabalhadores e cidadãos
que estão cientes das consequências que a privatização da Sabesp trará para o
estado de São Paulo. Entre elas, a ação movida por José Célio Sardi. Para a
entidade, o ato de adesão à Urae é ilegal e lesivo ao Estado e para a
população, em especial a mais pobre, em muito aspectos. “Entre eles, porque
viola a Constituição Federal, fere a lei orgânica do município, que exige
prévia autorização da Câmara para qualquer adesão. É claro o desvio de
finalidade, visto que o ato de adesão está sendo praticado em troca de apoio
político eleitoral. No contrato em vigor, firmado entre a cidade de São Paulo
com a Sabesp, existe cláusula rescisória frente a privatização, que inviabiliza
a subscrição ao termo de adesão a Urae”, disse o presidente do sindicato, José
Faggian.
Fonte:
Por Nora Krawczyk e Marcia A. Jacomini, para Outras Palavras/Fórum/RBA
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