As alianças e rivalidades que unem e
dividem o Oriente Médio
Os últimos dias foram
marcados por ineditismos no Oriente Médio.
Após o lançamento
do primeiro ataque direto do Irã contra Israel no fim de semana, um míssil israelense atingiu o território iraniano na manhã desta sexta-feira (19/4), noite de quinta-feira
no Brasil, segundo duas autoridades norte-americanas ouvidas pela rede de
televisão CBS News, parceira da BBC nos Estados Unidos. Diante do nível elevado
de tensões, líderes mundiais se manifestaram pedindo contenção. Há temores de
que uma escalada entre os dois países arraste seus respectivos parceiros
regionais para um conflito expandido.
Mas afinal, quais são
as principais alianças e rivalidades que unem e dividem o Oriente Médio
atualmente? E quais os fatores que influenciam nesse complexo xadrez
geopolítico?
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Os grandes rivais
A rivalidade
entre Israel e Irã já dura muitos anos e é uma das
principais fontes de instabilidade na região. Mas a relação entre os dois
países já foi bastante cordial.
Embora tenha se oposto
ao plano de divisão de território que resultou na criação do Estado de Israel
em 1948, o Irã foi um dos primeiros países de maioria muçulmana a reconhecer
Israel. Porém, as coisas mudaram em 1979, quando a chamada Revolução Islâmica
conquistou o poder em Teerã. A revolução impôs uma república islâmica que se
apresentava como defensora dos oprimidos. Uma das suas principais marcas era a
rejeição ao que classificava como "imperialismo" americano e a
Israel, que já tinha nos Estados Unidos o seu principal aliado.
O ex-presidente da
Autoridade Palestina Yasser Arafat foi o primeiro líder estrangeiro a visitar
Teerã após a queda do Xá e elogiou os novos revolucionários. Em um movimento
simbólico, o governo local também entregou a embaixada israelense ao movimento
palestino Fatah. Durante esses anos, as autoridades iranianas enfatizaram a
hostilidade para com Israel. Já Israel acusa o Irã de financiar grupos que têm
os israelenses como alvo e de realizar ataques contra seus interesses.
Justamente por isso, sempre foi uma obsessão para os israelenses minar o
programa nuclear iraniano.
A rivalidade entre os
dois países já fez um grande número de mortos, muitas vezes em ações secretas
em que nenhum dos governos admite sua responsabilidade. E a guerra em Gaza só
fez as coisas piorarem. Desde o começo, analistas e governos do mundo todo
demonstravam preocupação com a possibilidade de que o conflito pudesse provocar
uma reação em cadeia na região, e um confronto aberto e direto entre iranianos
e israelenses. Por um bom tempo, pareceu que tanto o Irã quanto Israel estavam
tentando evitar uma escalada de hostilidade. Mas o ataque à sede diplomática do
Irã na Síria no início do mês bateu forte em Teerã. Várias pessoas
morreram, incluindo alguns altos comandantes iranianos. O Irã atribuiu esse ataque a Israel - o que nunca foi
confirmado pelo governo israelense.
Na época, o Ministério
das Relações Exteriores iraniano prometeu um "castigo ao agressor".
Por isso, a ofensiva contra Israel no último fim de semana não foi exatamente
uma surpresa.
Nos últimos anos,
Israel atacou bases iranianas e as suas forças aliadas muitas vezes, mas o Irã
nunca havia respondido antes. Imediatamente após a ofensiva, as alianças
alcançadas pelos dois rivais nos últimos anos se tornaram motivo de discussão. Enquanto
os parceiros do governo israelense participaram da estruturação da defesa e
resposta à ofensiva iraniana, os laços entre Teerã e grupos não-estatais que
agem no Líbano, Iraque e outros países da região ficaram mais uma vez evidentes
após relatos de disparos vindos de seus territórios no último sábado (13/4).
Após os disparos, o
Corpo da Guarda Revolucionária do Irã (IRGC) confirmou ter lançado os drones e
mísseis contra Israel. Mas o Departamento de Defesa dos EUA afirmou que suas
forças interceptaram dezenas de projéteis lançados do Iraque, Síria e Iêmen. O
grupo Hezbollah no Líbano, aliado do Irã, também disse ter disparado duas
barragens de foguetes contra uma base militar israelense nas Colinas de Golã
ocupadas.
Segundo as forças
israelenses, 99% dos mais de 300 mísseis de cruzeiro e drones lançados foram
interceptados por Israel, com o auxílio de Estados Unidos, Reino Unido, França
e Jordânia. O ex-chefe do Conselho de Segurança Nacional israelense, Giora
Eiland, afirmou ainda ao jornal Financial Times que um complexo sistema de
comando e controle estabelecido entre os EUA, Israel e seus vizinhos árabes há
mais de quatro anos foi essencial para detectar e responder às ameaças.
Os EUA também
exerceram um importante papel diplomático, ao advogar pela contenção do lado
israelense. Ainda assim, autoridades norte-americanas confirmaram que um míssil
israelense atingiu o Irã na manhã desta sexta.
Explosões foram
ouvidas na cidade de Isfahan, embora não esteja claro qual foi o alvo. A
província abriga uma grande base aérea, um importante complexo de produção de
mísseis e várias instalações nucleares. A imprensa iraniana não noticiou nenhum
impacto direto do ataque israelense desta sexta-feira, e a Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA) afirmou que nenhuma instalação nuclear
foi danificada. Não está claro que tipo de armas foram usadas, nem de onde
foram lançadas. Fontes dos EUA disseram que um míssil foi disparado no ataque,
enquanto o Irã afirmou que o ataque envolveu apenas drones de pequeno porte.
Não houve nenhum
comentário oficial por parte de Israel até agora.
O ex-embaixador do
Reino Unido no Líbano, Tom Fletcher, disse ao programa Today da BBC Radio 4 que
o quadro ainda é "bastante nebuloso" e muitos em toda a região estão
"acordando com um medo real". “Este é um sinal de que Israel pretende
continuar este jogo de pôquer de alto risco com o Irã”, diz ele. Fletcher
acrescentou que diplomatas de toda a região, bem como dos EUA e do Reino Unido,
“estarão procurando maneiras de minimizar isso agora”.
·
Irã e o ‘eixo da
resistência’
Segundo especialistas
consultados pela BBC Brasil, os principais aliados do Irã na região são
atualmente atores não-estatais. Essa rede de influência por meio da associação
com grupos em diversos países ficou conhecida como "eixo de resistência". Essa influência ocorre no contexto de conflitos como os da
Síria e Iêmen, e na luta contra o Estado Islâmico no Iraque.
O eixo, marcadamente
antiamericano e anti-Israel, é composto principalmente por Irã, Síria,
grupo Hezbollah no Líbano, milícias
xiitas no Iraque, Afeganistão e Paquistão, grupos
militantes nos territórios palestino e os Hutis (grupo rebelde do Iêmen). Embora
o denominador comum destes grupos seja o fato de serem xiitas, tal como a
maioria da população do Irã, o eixo também inclui um grupo sunita: o Hamas. “É uma questão de alinhamento de
interesses para esses atores, majoritariamente não-estatais, cuja razão de ser
é a resistência, seja a Israel ou aos regimes locais. Muitas vezes a
resistência de um incorpora a resistência do outro”, explica Elizabeth Monier,
da Universidade de Cambridge.
Em um artigo publicado
em 2020 pela BBC News Mundo, Kayvan Hosseini, jornalista da BBC Persa, afirmou
que todos estes grupos recebem "apoio logístico, econômico e
ideológico" do Irã. O arquiteto desta rede de influência iraniana foi
Qasem Soleimani, ex-comandante do grupo de elite Força Quds, da
Guarda Revolucionária Iraniana, morto pelos Estados Unidos em janeiro de 2020.
A Força Quds é
responsável pelas ações militares secretas das forças iranianas no exterior e
por meio da qual se articulam os laços de Teerã com grupos e milícias em outros
países. E enquanto o Hamas possui fortes laços com o regime iraniano, o Fatah,
organização política que controla a ANP (Autoridade Nacional Palestina), tem
uma relação cada vez mais distante. Recentemente, o Fatah acusou o governo
iraniano de “instigar o caos e intrometer-se nos assuntos internos
palestinianos de uma forma que beneficia apenas a ocupação israelense”. No
Líbano, Iraque, Iêmen, Afeganistão e Paquistão, divisões internas marcam a
busca pela influência iraniana.
Além de um grupo
armado, o Hezbollah também é um partido político e uma força incontestável no
Líbano. Mas apesar de ter poder de veto no Executivo do país, a organização e
sua aliança com o Irã não possuem apoio absoluto.
Já no Iêmen, a ligação acontece por meio dos rebeldes
houthi. O grupo que segue uma corrente do islamismo xiita conhecida como
zaidismo ganhou grande força política no início de 2014 e hoje controla grandes
partes do país.
A Arábia Saudita sunita
apoia o governo internacionalmente reconhecido, por mais fraco que seja, e
interveio militarmente para tentar derrubar os houthis em uma ação que teve
apoio do Bahrein. Os houthis teriam recebido centenas de milhões de dólares dos
iranianos, segundo relatos. O Irã não confirma essa destinação de recursos.
Mas quando o assunto
são atores estatais, a Síria aparece como o
aliado mais importante do Irã no Oriente Médio. Assim como a Rússia, o Irã
ajudou o governo sírio de Bashar al-Assad a sobreviver à guerra civil que já
dura uma década no país.
“O regime Bashar
al-Assad depende extensivamente do Irã e ambos os países são aliados há muito
tempo. Mas a Síria é um Estado muito fraco no momento, não é um grande ator
regional geopolítico e ainda sofre as consequências da guerra civil”, diz Yaniv
Voller, da Universidade de Kent, no Reino Unido. “Isso significa que o Irã não
pode contar muito com a Síria além de como um corredor para transportar armas
para o Hezbollah no Líbano.”
Fora do que é
conhecido como ‘eixo da resistência’, no Iraque o Irã tem se envolvido de forma
mais profunda na política local desde a queda do regime de Saddam Hussein em
2003. Muitos partidos políticos iraquianos têm ligações com o regime iraniano,
que financia e treina grupos paramilitares alinhados com estes partidos.
Segundo um artigo
publicado pelo especialista em assuntos militares e de segurança Michael
Knights no CTC Sentinel, um periódico acadêmico da Academia Militar dos Estados
Unidos, entre os grupos que possuem ligação com a Força Quds estão o Kataib
Hezbollah e o Asaib Ahl al-Haq. “O Irã tem uma enorme influência social no
Iraque. Há milícias xiitas que estão muito alinhadas com o Irã e o atual
governo depende dessas milícias, mas ao mesmo tempo precisa e tenta manter
relações mais estreitas com os Estados Unidos”, explica Ewan Stein, da
Universidade de Edimburgo. No Afeganistão e Paquistão as relações são
ainda mais complexas.
Quando Cabul caiu para
o Talibã em agosto de 2021, o aiatolá Khamenei saudou publicamente a mudança,
embora com palavras cuidadosamente elaboradas. O Irã também foi um dos poucos
países que manteve a sua embaixada aberta no país após a transição de poder. Mais
recentemente, porém, preocupações com a capacidade do Talibã de manter a
segurança local - algo especialmente importante para o Irã, que divide uma
fronteira de quase 950 quilômetros com o território afegão - têm crescido.
Distúrbios na região
da fronteira também marcam os vínculos com o Paquistão. Em janeiro, os dois
países passaram por momentos de tensão após trocas de bombardeios. A
primeira ofensiva veio de Teerã, que disse ter como alvo o Jaish al-Adl, um
grupo muçulmano sunita balúchi que acusa de realizar ataques dentro do Irã. Como
resposta, o Paquistão lançou ataques com mísseis contra o Irã dois dias depois,
matando nove pessoas. Segundo o governo local, os alvos eram "esconderijos
terroristas" de dois grupos militantes, o Exército de Libertação do
Baluchistão (BLA) e a Frente de Libertação do Baluchistão (BLF).
O Irã ainda conta com
um mais discreto apoio de China e Rússia. As relações são principalmente baseadas
em comércio e transações financeiras, segundo Yaniv Voller. "Não é muito
provável que China ou Rússia decidam se juntar ao Irã em caso de um conflito
ampliado" com Israel, diz. O pesquisador, porém, não descarta a
possibilidade dessas duas potências se envolveram por meio de apoio político
com vetos nas Nações Unidas.
Especialistas ouvidos
pela BBC Brasil também acreditam que, no caso extremo de uma escalada, os
governos russo e chinês possam estar dispostos a enviar suporte logístico e
fornecimento de armas ao Irã.
·
Israel e seus aliados
Os principais aliados
de Israel estão fora do Oriente Médio, segundo Yaniv Voller, da Universidade de
Kent. Além dos Estados Unidos, o
especialista cita França, Reino Unido e outros países da Europa. “Israel também
tem importantes aliados na região, mas enquanto alguns demonstram apoio de
forma mais aberta, outros agem mais nos bastidores”, diz Voller.
Elizabeth Monier, da
Universidade de Cambridge, prefere classificar esses laços mais como uma
“cooperação” em diferentes níveis do que como alianças. Egito e Jordânia
assinaram acordos de paz com o governo israelense em 1979 e 1994,
respectivamente.
A parceria entre
egípcios e israelenses se baseou nos últimos anos principalmente nos esforços
para erradicar ameaças extremistas na Península do Sinai e no comércio de gás
natural. Mas segundo os especialistas ouvidos pela reportagem, o governo
egípcio parece menos disposto a apoiar seu vizinho em um eventual conflito
expandido com o Irã. “Entre todos os países da região que possam eventualmente
aderir a um hipotético conflito, o Egito certamente não é o primeiro da fila”,
diz Yaniv Voller. “O país tem seus próprios problemas. O regime [do presidente
Abdul Fatah] Al-Sisi está constantemente preocupoado em tentar melhorar a
situação econômica e lidar com a pressões que sofrem em outras partes do seu
território.”
O Egito trava uma
batalha contra a Etiópia ao sul, por conta da construção de uma barragem gigante que o governo Al-Sisi afirma que ameaça o seu
abastecimento de água do rio Nilo. Ao mesmo tempo, há preocupações com a
segurança na fronteira oeste com a Líbia, que sofre com enorme instabilidade
política após mais de uma década de guerra civil.
As relações com Israel
também passaram por momentos delicados depois que o primeiro-ministro Benjamin
Netanyahu indicou que poderia ordenar uma ofensiva terrestre na cidade
palestina de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em fevereiro. A
cidade fica na fronteira com o Egito e essa eventual ofensiva poderia forçar
milhares de palestinos a cruzar para o país em busca de refúgio.
Já a Jordânia
participou ativamente dos esforços de defesa ao lado de Israel durante o ataque
iraniano do último sábado. O fato, porém, desagradou parte da população, que
tem protestado contra o apoio jordaniano desde o início da ofensiva de Israel
em Gaza. “A decisão da Jordânia de se juntar à coalizão para barrar os misseis
iranianos é algo bastante complicado”, diz May Darwich, professora de Relações
Internacionais do Oriente Médio da Universidade de Birmingham, no Reino Unido.
Segundo a
pesquisadora, o país poderia simplesmente ter se abstido ou então apenas
permitido que os EUA usassem sua base militar em território jordaniano para
abater os mísseis. “Mas eles decidiram fazer eles mesmos e agora o regime é
visto por todos como um aliado próximo de Israel, pronto para defender os
interesses e o território israelenses”, afirma. “Isso por si só coloca a
Jordânia numa posição muito difícil a nível interno, mas também regionalmente,
porque se a guerra expandir, a Jordânia será considerada um aliado de Israel.”
·
Os países do Golfo
Israel também assinou
mais recentemente tratados de paz com os Emirados Árabes Unidos e Bahrein. Antes
do conflito em Gaza, também havia rumores de que a Arábia Saudita estava
prestes a estabelecer relações diplomáticas com Israel, em uma aproximação
patrocinada pelo governo americano. No contexto atual, porém, especialistas
afirmam que esse movimento está totalmente paralisado.
Historicamente, os
sauditas estão entre os maiores defensores da causa palestina e nos últimos
meses o reino têm condenado intensamente as ações israelenses em Gaza. Mas
segundo reportagem do Wall Street Journal, que ouviu oficiais americanos,
egípcios e sauditas, Riad teria auxiliado Israel na defesa contra os mísseis
iranianos no final de semana por meio do fornecimento de inteligência. A
informação, porém, não foi confirmada oficialmente por nenhum dos dois lados.
Publicamente, o
governo saudita disse estar profundamente preocupado e apelou aos “mais altos
níveis de autocontenção”, de acordo com um comunicado do Ministério dos
Negócios Estrangeiros. Durante cerca de 40 anos, a Arábia Saudita e o Irã
mantiveram uma rivalidade aberta que alguns especialistas chegaram a descrever
como "a nova Guerra Fria no Oriente Médio". Esta situação foi
agravada pelo apoio do Irã aos grupos armados no Iêmen, Líbano e Iraque. Em
março de 2023, as relações entre a Arábia Saudita e o Irã entraram em uma nova
era ao restabelecerem os laços diplomáticos e acordos de segurança, comerciais,
econômicos e de investimento em uma negociação mediada pela China. Isso seria
mais um exemplo, como alertam os especialistas consultados pela BBC, da
constante fluidez e complexidade das relações de poder no Oriente Médio.
Segundo Elizabeth
Monier, da Universidade de Cambridge, a Arábia Saudita é hoje uma forte
concorrente para o papel de liderança regional. “A Arábia Saudita é crucial
como equilíbrio para o Irã e como formadora das estratégias do Conselho de
Cooperação do Golfo [organização formada também por Omã, Emirados Árabes
Unidos, Catar, Bahrein e Kuwait]. É também fundamental para a segurança energética
e para quaisquer desenvolvimentos no processo de paz.”
Também entre os países
do Golfo, o Catar desempenha atualmente um papel singular como mediador entre
Israel e o Hamas diante do conflito em Gaza e mantém relações próximas com o
Irã.
Para Yaniv Voller, o
país é um dos poucos na região que também teria condições de atuar como
mediador entre Israel e Irã. O especialista também cita a Turquia como uma
segunda alternativa. Como outro Estado não-árabe da região, o país desfrutou de
laços estreitos durante grande parte da sua relação de 74 anos com Israel. Mas
mais recentemente, sob a liderança do presidente Recep Tayyip Erdogan, as
relações se tornaram mais tensas, muitas vezes em paralelo com os altos e
baixos das tensões israelo-palestinas. Erdogan criticou o premiê israelense na
última terça-feira (16), após o ataque iraniano contra Israel. “O principal
responsável pela tensão que tomou conta dos nossos corações na noite de 13 de
abril é Netanyahu e a sua administração sangrenta”, disse o líder turco.
Ainda assim, Voller
acredita que o país tem se mantido em uma posição mais neutra do que outros
Estados da região. “A Turquia é um ator importante na região e um aliado da
Otan. A economia turca passa por dificuldades e um conflito maior certamente
pode piorar as coisas. Por isso acredito que o país teria interesse na
prevenção de uma escalada”, diz. Há ainda quem aponte Omã como mais uma
possibilidade de mediador. O país localizado a sul dos Emirados Árabes Unidos e
da Arábia Saudita já fez esse papel em outros momentos de negociação entre Irã
e nações ocidentais.
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Sunitas x xiitas?
Há ainda uma grande
divisão no Oriente Médio que é baseada em religião: a separação entre muçulmanos sunitas e xiitas. As duas grandes forças que representam essa divisão são
atualmente Irã e Arábia Saudita. Enquanto o primeiro é majoritariamente xiita,
o segundo tem os sunitas como principal vertente. A divisão remonta ao ano de
632 e à morte do profeta Maomé, que resultou em uma luta pelo direito de
liderar os muçulmanos. De certa maneira, essa disputa continua até hoje.
Embora as duas
vertentes coexistam há séculos, compartilhando muitas crenças e práticas,
sunitas e xiitas mantêm diferenças importantes em questões de doutrina,
rituais, leis, teologias e organização. Seus respectivos líderes também tendem
a competir por influência religiosa.
E da Síria ao Líbano,
passando por Iraque e Paquistão, muitos conflitos recentes enfatizaram ou até
agravaram essa divisão, separando comunidades inteiras.
Nos países governados
por sunitas, os xiitas geralmente fazem parte da parcela mais pobre da
sociedade e se veem como vítimas de opressão e discriminação. Alguns
extremistas sunitas também pregam ódio contra os xiitas. Mas segundo os
especialistas ouvidos pela BBC Brasil, os conflitos no Oriente Médio atualmente
não podem ser reduzidos à violência sectária. “Embora a divisão sunita/xiita
desempenhe um papel na retórica política e como combustível que pode aumentar o
fogo de um conflito, não acredito que esta diferença sectária seja em si a
fonte do conflito”, diz Elizabeth Monier. Segundo ela, o conflito entre o Irã e
os Estados árabes é geopolítico e está ligado à busca por alianças e à presença
dos Estados Unidos na região.
Fonte:
BBC News Mundo
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