Lideranças evangélicas elogiam fala de Lula
e dizem que não há contradição em ser crente e criticar Israel
A fala do presidente
Lula que gerou uma crise diplomática com Israel foi elogiada por lideranças
evangélicas ouvidas pelo Brasil de Fato. Elas também disseram não
ver contradição em pertencer a religiões cristãs, pentecostais ou
neopentecostais, e criticar o governo israelense.
"Lula foi
cirúrgico em sua fala e disse o que está ocorrendo em Gaza, já que a
neutralidade em relação a este assunto é impossível. Seu posicionamento, como
chefe de Estado e liderança global, eleva a responsabilização dos diferentes
países em relação ao genocídio palestino que
ocorre há décadas", afirmou pastora luterana Romi Bemcke, da secretaria
geral do Conselho Nacional de igrejas Cristãs do Brasil.
Já o pastor Ariovaldo
Ramos, coordenador nacional da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito
acredita que o termo genocídio foi muito bem empregado, "uma vez que as
vítimas não têm como responder ao ataque, somente aguardam o momento da fatalidade".
"Entendi que Lula
não comparou os dois exércitos (da Alemanha nazista e o israelense atual), mas
sim duas situações angustiantes, quando as vítimas ficam totalmente à mercê de
seus algozes."
·
Por que a defesa de Israel?
Também da coordenação
da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, Nilza Valéria Zacarias destaca
que a fala de Lula "não pode ser vista isoladamente, mas sim no contexto
de que o Brasil já havia concordado com a África do Sul, que classificou o que
está acontecendo lá como genocídio". Ela diz que "nenhuma guerra é
aceitável à partir da leitura de textos bíblicos".
"Considerando que
sou evangélica, minha vida será pautada pelos princípios que norteiam minha fé.
Assim, não é aceitável que mães percam seus filhos, crianças morram, idosos....
pessoas que olham para suas vidas e enxergam apenas terror e destruição."
Mas de onde vem a
ligação de certas igrejas cristãs pentecostais e neopentecostais com o estado
judaico de Israel? Os religiosos concordam que essa ligação é baseada em
princípios errados.
"Eles estabelecem
uma relação direta e equivocada entre o Estado de Israel contemporâneo e o povo
bíblico de Israel. Importante chamar a atenção que o Israel bíblico não tem
nada a ver com o atual Estado de Israel", explica a pastora Romi Bencke.
Ø
Israel sente que mundo o isola, mas não vai
barrar guerra por isso
Há um sentimento comum
em praticamente todas as conversas com autoridades que a CNN participou desde a
semana passada em Israel: o de que o Ocidente cada vez mais isola Israel numa
guerra em que o país considera justa, mas que isso não será suficiente para que
a guerra pare.
No Ministério das
Relações Exteriores de Israel, em Jerusalém, por exemplo, é nítida a percepção
de que o mundo livre e o Ocidente deveriam apoiar Israel porque, na visão
deles, é justamente o mundo livre e o Ocidente que estarão ameaçados se o Hamas
e seu patrocinador Irã vencerem a guerra.
A indignação com a ONU
e suas agências que atuam direta ou indiretamente na guerra deixa claro esse
sentimento de isolamento.
Em uma fala de cerca
de trinta de minutos, Alon Simhayoff, diretor do Departamento de Assuntos
Políticos da ONU no governo israelense, acusa a entidade e suas subseções de
compactuar com o terrorismo.
“Estamos profundamente
desapontados com a ONU. Como um oficial da ONU pode dizer que o Hamas não é
terrorista?”, disse.
Quando questionados
sobre a grande diferença entre palestinos e israelenses mortos em Gaza, a
resposta é a mesma para diferentes autoridades: a culpa é do Hamas. Foi o que
disse à CNN Ophir Falk, conselheiro do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, na
segunda-feira pela manhã em Jerusalém.
De acordo com ele, a
estratégia das forças israelenses não é o que parte considerável do mundo diz,
mas o contrário: é minimizar o número de mortos enquanto a do Hamas é
maximizar, justamente para fazer da população em Gaza uma “arma de propaganda”
mundial” para se vitimizar.
Além disso, dizem que
o ministério da saúde palestino controlado pelo Hamas inflaciona o número de
mortos (o mais recente boletim fala em 29.200 mortos). Embora não tenha uma
contabilidade própria, Israel diz ja ter matado 10 mil integrantes do Hamas.
No Knesset, o
Parlamento israelense, a CNN conversou tanto com deputados da oposição ao
primeiro-ministro Benjamin Netanyahu quanto com integrantes do Likud, o partido
de Bibi. Embora haja divergências sobre questões relacionadas a guerra — como
em relação à estratégia para resgatar os israelenses sequestrados, o grande
clamor nacional —, há uma defesa unânime da campanha militar.
Em linhas gerais, para
eles, os israelenses mortos nos ataques de 7 de outubro de 2023 e os
sequestrados do Hamas são as grandes vítimas do conflito cujo resultado é
determinante para o futuro do país.
“Sentimos que o que
está em jogo é a própria existência de Israel”, disse à CNN a deputada de
oposição Mati Tzarfati Harkabi.
A alta cúpula do
governo segue a mesma linha. O ministro da Economia, Nir Barkat, um dos cotados
para a sucessão de Bibi, diz: “O que queremos é nos proteger”. E menciona um
dos principais argumentos comuns por aqui: “Não é apenas uma questão sobre
Israel, mas sobre os Estados Unidos e o Ocidente”.
Apesar das críticas
mundiais, ele ainda deixa claro que dinheiro não faltará para a guerra. Diz que
a economia de Israel é forte o suficiente para alcançar os gastos que, calcula,
podem chegar a 10% do PIB ao final.
Por onde se anda em
Israel, seja em Jerusalém ou Tel Aviv, na fronteira norte atacada diariamente
por bombas e mísseis do Hezbollah, ou ao sul (próximo ao combate em Gaza), o
país respira guerra.
Há bandeiras em todo
lugar, nas casas e comércios. Há cartazes com rostos dos sequestrados nos
muros.
Grande bonecos de
pelúcia manchados de vermelho simbolizam nous boulevards de Tel Aviv crianças
mortas e sequestradas.
Nos corredores da
secular Jaffa há uma exposição com telas feitas por artistas após o 7 de
Outubro com referências aos ataques do Hamas. Em outra frente, turistas
sumiram.
Não há fila, por
exemplo, para entrar na gruta onde nasceu Jesus Cristo em Belém. Normalmente a
espera chega a quatro horas. Em Jerusalém, são sete minutos de espera apenas
para visitar o Santo Sepulcro, onde Jesus Cristo ressuscitou, segundo a crença
cristã. Os relatos são de que, a depender da época do ano, são horas de espera.
Apesar disso, há
poucos sinais de que a guerra vai parar tão cedo, tampouco que se ela parar
será em decorrência da pressão internacional. A sensação é de que ela vai parar
quando o país atingir seus objetivos: destruir o Hamas e trazer os reféns de
volta.
A estimativa oficial
estima que o conflito dure pelo menos 2024 inteiro. Foi o que disse à CNN o
porta-voz das forças israelenses, Roni Kaplan: “Temos mais alguns meses de
guerra.”
A iminente incursão
terrestre de soldados a Rafah, no sul da Faixa de Gaza, que motiva a recente
escalada das críticas internacionais, está prevista para as próximas semanas.
A expectativa é que a
operação comece após o início do Ramadã, que começa em 10 de março e dura um
mês. Só nessa conta, seriam mais pelo menos dois meses de guerra.
Acabar a guerra “o mais rapidamente
possível” quer dizer nada
Dada à sua natureza
excessivamente conservadora, como demonstrado ao longo da história, a
tradicional imprensa brasileira, só agora e com bastante atraso, começa a
dar-se conta de que o maior obstáculo à paz no Oriente Médio é o governo de
extrema-direita do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, pela
terceira vez no cargo.
O presidente dos
Estados Unidos, Joe Biden, sabe disso, mas não quer admitir às vésperas de uma
eleição difícil contra o ex-presidente Donald Trump. A maior colônia de judeus
fora do Oriente Médio está justamente nos Estados Unidos. Israel é visto pelos americanos
como seu maior-porta-aviões naquela parte inóspita do mundo.
Os líderes das maiores
potências ocidentais também sabem, mas suas ligações com o povo judeu,
alimentadas por um antigo sentimento de culpa e negócios que interessam aos
seus países, os impede de dizer com clareza que é preciso dar um basta à guerra
que ameaça dizimar os palestinos. De resto, não ousam contrariar os Estados
Unidos.
Em agosto de 1982,
narra a jornalista Lúcia Guimarães na Folha de S. Paulo, o então presidente
americano Ronald Reagan, com um telefonema, sustou o bombardeio israelense de
civis no Líbano. Reagia assim a um dia de ataques que haviam deixado 100 civis
mortos. Reagan ligou para o primeiro-ministro Menachem Begin e disse:
“Isto é um
Holocausto”.
Begin, em tom
sarcástico, respondeu, segundo Lou Canon, biógrafo de Reagan:
“Eu acho que eu sei o
que é um Holocausto”.
Vinte minutos depois,
Begin ligou de volta avisando que tinha suspendido o bombardeio. Biden não faz
o mesmo com Netanyahu por razões que só ele e Deus conhecem. Não se passa um
dia sem que Biden, pessoalmente ou por meio de porta-vozes, não diga que a matança
de palestinos tem que ser interrompida.
Mas todas as
resoluções apresentadas ao Conselho de Segurança que recomendavam o fim da
guerra foram vetadas pelos Estados Unidos. Esta semana, mais uma foi vetada. O
governo americano diz que prepara a sua, recomendando que a guerra seja cesse
“o mais rapidamente possível”. Quer ambiguidade maior?
O mais rapidamente
possível quer dizer o quê? Uma semana, um mês, um ano? Quem definirá o prazo
para que os canhões silenciem, e os mísseis e bombas fornecidos pelos Estados
Unidos deixem de ser jogados sobre palestinos em fuga dentro da Faixa de Gaza,
a correrem para um lado e para outro obedecendo às ordens de Israel? É um tiro
ao alvo.
Biden, e mais
recentemente os líderes europeus, dizem que o fim da guerra implicará na
devolução pelo Hamas dos reféns que eles fizeram, da libertação por Israel de
palestinos presos em suas masmorras, e do início “o mais rapidamente possível”
da criação de um Estado Palestino. É a velha tese dos dois Estados jamais
implantada.
Na semana passada, por
unanimidade, o governo de Netanyahu decidiu que não haverá Estado palestino. A
decisão foi ratificada, anteontem, pelo Congresso de Israel. Dos 120 deputados,
99 de diferentes partidos políticos votaram de acordo com Netanyahu, e apenas
nove contra, de partidos árabes.
Ahmad Tibi, líder do
partido Arab Taal, interrompeu o discurso de agradecimento de Netanyahu
gritando: “Será criado um Estado palestino! Apesar de suas palavras, ele será
criado!” Após duas advertências do presidente da sessão, Ahmad foi expulso do
plenário.
Lula falou em
Holocausto para condenar a matança em Gaza. Mas ele não é o Reagan, nem o
Brasil os Estados Unidos.
Ministra da Igualdade Social de Israel
afirma estar 'orgulhosa das ruínas de Gaza'
A ministra da
Igualdade Social e Empoderamento Feminino de Israel, May Golan, afirmou, em
discurso nesta quarta-feira (21), que está "orgulhosa das ruínas de
Gaza".
A titular da pasta
enalteceu os ataques e bombardeios cometidos contra civis palestinos — desde 7
de outubro de 2023, as Forças de Defesa de Israel (FDI) mataram mais de 28 mil
palestinos, incluindo milhares de mulheres e crianças, segundo dados do Ministério
da Saúde de Gaza.
"Estou orgulhosa
das ruínas de Gaza! Que cada bebê — mesmo aos 80 anos — conte aos seus netos o
que os judeus fizeram quando assassinaram as suas famílias, violaram-nas e
raptaram os seus cidadãos", declarou.
Em trecho divulgado
nas próprias redes sociais, ela fez referência à "carta de Caim" e
lançou insultos contra aqueles que, segundo ela, demonstraram covardia ao não
atuarem no conflito, comparando-os a "porcos".
"Nem uma pomba
nem uma folha de oliveira, apenas uma espada — para cortar a cabeça do [líder
palestino do Hamas, Yahya] Sinwar", finalizou.
As declarações sobre o
conflito ganharam mais destaque após o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula
da Silva, comparar, durante viagem oficial à Etiópia, o que ocorre em Gaza aos
crimes cometidos pelo regime nazista.
A fala do presidente
brasileiro gerou forte reação do governo de Israel, que exigiu uma retratação
do líder. O chanceler israelense, Israel Katz, considerou as palavras de Lula
"promíscuas" e "delirantes", exigindo um pedido de desculpas
imediato.
Por sua vez, o
ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, criticou a resposta
de Israel, classificando-a como "insólita" e "revoltante".
Vieira destacou que a
postura israelense de distorcer declarações e recorrer a linguagem ofensiva é
inaceitável em relações diplomáticas entre países amigos.
"Uma chancelaria
dirigir-se dessa forma a um chefe de Estado, de um país amigo, o presidente
Lula, é algo insólito e revoltante. Uma chancelaria recorrer sistematicamente à
distorção de declarações e a mentiras é ofensivo e grave", afirmou Vieira.
O governo brasileiro
também refutou as alegações de que Lula estaria negando o Holocausto,
rejeitando veementemente tais acusações como "mentirosas".
Fonte: Brasil de Fato/CNN
Brasil/Metrópoles/Sputnik Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário