Eleições
2024: Salvador deve ter presidente
"neutro" em disputa
Com o
indicativo de "entrar de cabeça" apenas em capitais com cenário claro de polarização para as eleições
municipais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) deve adotar postura neutra em Salvador. Diferente do que se desenha em
cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre, onde disputas
entre lulistas e bolsonaristas devem ser protagonizadas, a capital baiana vê
tom moderado do presidente.
Em
Salvador, apesar de não ter lançado sua pré-candidatura de forma oficial, o
atual prefeito Bruno Reis (União) vai enfrentar o vice-governador Geraldo
Júnior (MDB), que terá apoio do PT.
Na Bahia,
os partidos dos dois principais postulantes para a prefeitura são adversários
atualmente, mas fazem parte da base do governo no Congresso. Em sua passagem
por Salvador na última semana, Lula deixou claro o seu posicionamento: citou
Geraldo Júnior mas tergiversou ao ser questionado sobre uma eventual
participação na campanha.
"Temos
que colocar o pé na realidade. Não posso, como presidente da República, fazer
campanha como se fosse um cidadão comum. Se tiver dois candidatos da base do
governo disputando uma eleição, eu tenho que dar um tratamento mais respeitoso,
eu não posso ser acintoso no apoio a um candidato nosso", disse.
·
Lula prioriza polarização e vai evitar bola
dividida nas eleições municipais
O
presidente Lula (PT) intensificou a costura de alianças para as eleições deste
ano nas capitais e indicou que pretende se empenhar nas disputas onde houver
cenário claro de polarização, opondo um candidato de sua base a outro ligado a
Jair Bolsonaro (PL).
Lula deve
centrar forças em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto
Alegre, onde se desenham disputas entre lulistas e bolsonaristas, a despeito de
haver mais de uma candidatura de aliados do petista.
O
movimento foi indicado pelo próprio Lula em entrevista na semana passada ao
falar sobre o apoio ao deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) na capital
paulista.
"Na capital de São Paulo é uma coisa muito especial. Uma confrontação
direta entre o ex-presidente e o atual presidente, é entre mim e a figura
[Bolsonaro]", disse Lula à rádio Metrópole, de Salvador.
O PT não
lançará candidatura à Prefeitura de São Paulo pela primeira vez. Nesta sexta
(2), a ex-senadora Marta Suplicy retornará ao partido após movimento articulado
por Lula. A chapa Boulos-Marta enfrentará Ricardo Nunes (MDB), que negocia o
apoio do PL e de Bolsonaro.
No Rio e
no Recife, a ordem é fortalecer o campo lulista com o apoio a aliados. O PT
busca a indicação para vice de Eduardo Paes (PSD) e João Campos (PSB) de olho
nas eleições de 2026, quando os atuais prefeitos poderão renunciar para
disputar o governo.
No Rio, a
resistência esbarra no próprio Paes, que tem indicado preferência por um nome
do seu entorno. O PT segue insistindo, mas sem tensionar: "Estaremos com o
prefeito, mas queremos mostrar que com o PT na vice ele fica mais
competitivo", afirma o presidente do PT do Rio, João Maurício de Freitas.
O
candidato do PL no Rio tende a ser um nome próximo a Bolsonaro. O do deputado
federal Alexandre Ramagem, alvo de operação da Polícia Federal sobre um suposto
esquema de espionagem ilegal de opositores e autoridades, agora está em xeque.
Em viagem
a Pernambuco em janeiro, Lula defendeu à cúpula do PT estadual que siga em
busca da vice na aliança com João Campos (PSB). O presidente ainda orientou, em
encontro reservado, que o partido converse diretamente com o prefeito sobre as
eleições de 2026.
Os
petistas, contudo, dizem acreditar que o PSB só entregará a vice ao PT em caso
de pedido direto de Lula.
O
principal opositor de João Campos no Recife deverá ser o ex-ministro do Turismo
do governo Bolsonaro Gilson Machado Neto. A expectativa é que o ex-presidente
viaje ao Recife até março para lançar a pré-candidatura oficialmente.
Em Porto
Alegre, a candidatura da deputada Maria do Rosário (PT) representa uma aposta
dobrada na polarização nacional, graças aos embates de décadas dela com
Bolsonaro e à aproximação do atual prefeito, Sebastião Melo (MDB), com o
bolsonarismo.
Rosário deverá ter como vice Tamyres Filgueira, do PSOL. PT e PSOL comemoram a
decisão de Lula de não ungir mais Manuela D’Avila (PC do B) à prefeitura, que
concorreu em 2020 com a bênção do PT, mas decepcionou o presidente ao se
recusar a concorrer ao Senado em 2022.
Melo vinha
construindo uma chapa ampla para si, mas cresceram nas últimas semanas
conversas por uma terceira via ao gosto do governador Eduardo Leite (PSDB), que
poderia ter PDT e PSB em torno de uma mulher: Nadine Anflor (PSDB), ex-chefe de
polícia, ou Any Ortiz (Cidadania), ambas deputadas estaduais.
Curitiba é
uma das capitais em que a orientação de Lula pode ser fundamental para manter
coesa a frente ampla que o elegeu. Embora o PT tenha pré-candidatos, ele pode
se ver obrigado a ceder a cabeça de chapa para o ex-prefeito Luciano Ducci
(PSB) ou o deputado estadual Goura (PDT), segundo colocado em 2020.
A situação
no Paraná, que hoje tem o vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD) e o
ex-governador Beto Richa (PSDB) pode bagunçar caso Deltan Dallagnol (Novo)
consiga se lançar ou viabilizar sua mulher, Fernanda Dallagnol, filiada ao Novo
recentemente. Salvo outro entendimento da Justiça Eleitoral, Deltan ficou
inelegível ao ter o mandato de deputado federal cassado.
Em Cuiabá,
há movimento oposto. Lula entrou em campo para fortalecer o nome do deputado
estadual Lúdio Cabral (PT) com apoio do PSD, partido do ministro da Agricultura
Carlos Fávaro. Apesar da força do bolsonarismo no estado, a direita está
rachada na disputa pela sucessão de Emanuel Pinheiro (MDB).
Algo
parecido pode ocorrer em Goiânia, onde o senador Vanderlan Cardoso (PSD),
pré-candidato e outrora bolsonarista, ensaia aproximação com a candidatura de
Adriana Accorsi (PT), deputada federal.
Enquanto
intensifica as articulações nas cidades onde se desenha um cenário de
polarização, Lula adota uma postura mais cautelosa em cidades que vão
protagonizar uma disputa entre partidos aliados.
É o caso
de Salvador, onde o prefeito Bruno Reis (União Brasil) vai enfrentar o
vice-governador Geraldo Júnior (MDB), que terá o apoio do PT.
Adversários
na Bahia, os dois partidos fazem parte da base no Congresso. Bruno Reis negocia
apoio do PL de Bolsonaro, mas trabalha por uma frente com outras legendas
aliadas de Lula como PDT, PP e Republicanos.
Em visita
à Bahia na última semana, Lula indicou apoio a Geraldo Júnior, mas escorregou
ao ser questionado sobre sua participação na campanha. "Temos que colocar
o pé na realidade. Não posso, como presidente da República, fazer campanha como
se fosse um cidadão comum. Se tiver dois candidatos da base do governo
disputando uma eleição, eu tenho que dar um tratamento mais respeitoso, eu não
posso ser acintoso no apoio a um candidato nosso", disse.
Esse
cenário deve se repetir em outras cidades como Fortaleza, Belém, João Pessoa e
Aracaju. Na capital cearense, Lula só deve se engajar na campanha do PT num
eventual segundo turno contra Capitão Wagner (União Brasil), aliado de
Bolsonaro.
Fonte: BN/FolhaPress
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