DEPUTADOS PEDEM IMPEACHMENT DE LULA, MAS
VOTAM COM O GOVERNO NA CÂMARA
Capitaneada pela
deputada Carla Zambelli (PL-SP),
a lista de deputados que pedem o impeachment do presidente Lula (PT) tem mais
de 30 nomes que, na maior parte do tempo, votaram junto com o governo na Câmara
em 2023. De acordo com dados do Radar do Congresso, há congressistas que
seguiram a orientação da gestão Lula em mais de 80% das vezes e hoje pedem a
saída do presidente.
A proposta de
impeachment veio depois de uma declaração de Lula, que comparou os ataques de
Israel à Faixa de Gaza ao Holocausto contra os judeus comandado por Adolf
Hitler. O governo de Israel reagiu e declarou o presidente persona non grata no país.
O Radar do Congresso
calcula o governismo de cada parlamentar a partir das votações na Câmara. Votos
iguais à orientação (sim ou não) do líder do governo na Casa aumentam a taxa;
qualquer opção diferente da orientação (seja sim, não, abstenção ou falta) diminui
o governismo. O levantamento considerou as votações feitas ao longo de 2023,
primeiro ano da gestão Lula.
O Congresso em
Foco usou como base a relação de nomes publicada por Carla Zambelli em seu
perfil no X (ex-Twitter). Entre os signatários do impeachment, pelo menos 32
têm uma taxa de governismo acima de 50% – ou seja, votaram junto com
o governo Lula em mais da metade das vezes. Leia abaixo quem são:
Como a lista tem 142
nomes, o grupo que vota com o governo equivale a pouco mais de um quinto dos
signatários do impeachment.
Seis deputados que
pedem a saída de Lula têm uma taxa acima de 80%, ou seja, concordaram com
a orientação do governo em pelo menos quatro de cada cinco votações. Estes
signatários da lista do impeachment têm taxas acima disso:
- Darci de Matos (PSD-SC) – 93% de governismo
- Vicentinho Júnior (PP-TO) – 86% de governismo
- Da Vitória (PP-ES) –
84% de governismo
- Amaro Neto (Republicanos-ES) – 82% de governismo
- Stefano Aguiar (PSD-MG) – 82% de governismo
- Marco Brasil (PP-PR) –
81% de governismo
Segundo o Radar do
Congresso, a Câmara dos Deputados, se tomada como um todo, tem um alinhamento
de 73% com Lula.
·
O que dizem os deputados
Procurados
pelo Congresso em Foco, deputados signatários da lista dizem ter atuação
independente no Congresso e posicionam o apoio ao impeachment como motivado
apenas pela menção a Israel, e não por divergência programática ou ideológica.
- O deputado Ismael dos Santos (PSD-SC),
que tem um governismo de 74%, disse ao Congresso em Foco que o
número se trata de "uma perspectiva matemática absolutamente
seletiva" e que é "um deputado independente que busca separar o
técnico do ideológico". Exemplificou que votou contra o governo em
pautas como a reforma tributária, o marco temporal e a desoneração da
folha. Segundo ele, o apoio ao impeachment é um pedido de sua base
política. "O governo peca ao perder a oportunidade de fazer uma
retratação oficial", declarou.
- Via assessoria, o deputado Fred Linhares (Republicanos-DF), que tem 75% de governismo,
respondeu que "pode ter votado a favor do governo em muitas ocasiões
por considerar que as políticas propostas eram positivas para o
país", mas que "a decisão de assinar o impeachment do presidente
após sua comparação de Israel ao nazismo de Hitler foi motivada pela
consideração das declarações como inadequadas, prejudiciais e até mesmo
contrárias aos interesses do Brasil e à paz internacional".
- Segundo a assessoria do deputado Dilceu Sperafico (PP-PR, governismo em 75%), a assinatura do pedido de
impeachment foi motivada exclusivamente pela declaração de Lula. "Não
tem nada a ver com algum pedido do partido ou em ser contra o Executivo,
foi exatamente sobre a declaração do presidente".
>>> As
palavras e os votos
A rigor, não é
necessário que um pedido de impeachment tenha um número específico de apoios de
parlamentares para começar a tramitar. O avanço do impeachment é uma decisão do
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que dificilmente vai colocar o processo
em pauta.
Na prática, as
assinaturas de deputados em favor do impeachment são um gesto político, já que
as chances de avanço são baixas.
Os casos de deputados
que pedem o impeachment mas votaram alinhados a Lula concentram-se
especialmente em partidos da base alinhada do governo, que ocupam
ministérios: União Brasil e PP têm oito nomes nesta
situação, Republicanos tem cinco e o PSD tem quatro. Todos
estes partidos coordenam pelo menos uma pasta na Esplanada dos Ministérios de
Lula.
União Brasil, PP e
Republicanos são justamente as legendas que, em meados de 2023, renegociaram
sua presença na Esplanada dos Ministérios em um arranjo feito para ampliar a
base de apoio do Planalto na Câmara. Buscando receber apoio destes partidos na
Casa, o presidente Lula nomeou os deputados Celso Sabino (União Brasil-PA),
André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) como ministros do
Turismo, do Esporte e de Portos e Aeroportos, respectivamente.
Ø
Dezessete deputados do PL de Bolsonaro não
assinam impeachment de Lula
Dezessete deputados
do PL, o
partido de Jair Bolsonaro, não assinaram o pedido de impeachment que Carla Zambelli protocolou contra Lula, na quinta-feira (22/2), na Câmara.
O documento aponta
crime de responsabilidade na comparação que o presidente fez entre a guerra Israel na Faixa de Gaze e o Holocausto.
Entre os políticos
estão o líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes, e nomes que não são ligados ao bolsonarismo. Antonio Carlos
Rodrigues, de São Paulo, foi ministro dos Transportes no segundo mandato
de Dilma Rousseff e não aderiu ao impeachment. Outro que não assinou o
documento foi Robinson Faria, do Rio Grande do Norte. Ele foi governador entre 2015 e 2019 e
é pai de Fabio Faria, ex-ministro bolsonarista das Comunicações.
O ex-palhaço Tiririca,
que está no terceiro mandato de deputado por São Paulo, também não aderiu ao
impeachment.
Além deles, não
assinaram o documento Henrique Júnior, do Maranhão; Icaro de Valmir, de
Sergipe; João Carlos Bacelar, da Bahia; Jorge Goetten; de Santa Catarina,
Luciano Vieira, do Rio de Janeiro; Luiz Carlos Motta, de São Paulo; Matheus
Noronha, do Ceará; Paulo Marinho Jr, do Maranhão; Rosângela Reis, de Minas
Gerais; Sonize Barbosa, do Amapá; Soraya Santos, do Rio de Janeiro; Vinicius
Gurgel, do Amapá; e Wellington Roberto, da Paraíba.
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A lista de Zambelli
conta com 139 assinaturas. Ela declarou que apresentará um aditamento, na segunda-feira (26/2), com mais cinco nomes, entre eles o do
deputado Giacobo, do PL do Paraná.
Ø
Noblat: Para além do impeachment, oposição
quer Lula julgado em Haia
Depois de protocolar
mais um pedido de impeachment contra o presidente Lula (PT) (esse com 139 assinaturas), a oposição bolsonarista
estuda meios de denunciar o petista ao Tribunal Penal Internacional (TPI), em
Haia, nos Países Baixos.
O irônico plano
esbarra sob qual crime denunciar o presidente da República. A aposta mais
considerada é enquadrar Lula em um crime contra a humanidade, ao comparar o
genocídio palestino promovido por Israel na Faixa de Gaza, com o holocausto
judeu na Alemanha provocado por Adolf Hitler.
A denúncia só não foi
para frente ainda, porque não há base jurídica para um pedido de julgamento. O
crime contra a humanidade é uma categoria de crime internacional que envolve a
prática sistemática e generalizada de atos desumanos e graves.
No caso de Lula, esse
tal “ato desumano” seria uma perseguição política e religiosa contra o povo de
Israel.
O TPI é responsável
por julgar indivíduos acusados de crimes de genocídio, crimes de guerra, crimes
contra a humanidade e, desde 2018, de crimes de agressão. No entanto, para que
o TPI intervenha, é necessário que o Estado onde o crime foi cometido não esteja
disposto ou não seja capaz de realizar investigações e julgamentos eficazes.
<<<< Bolsonaro
encrencado
Em Haia, há seis
denúncias contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). São elas:
- crimes contra a humanidade e incitação ao genocídio dos
povos indígenas;
- crime contra a humanidade e genocídio na pandemia de
covid-19;
- crime contra humanidade por contrariar determinações da
Organização Mundial da Saúde (OMS) e adotar uma postura negacionista;
- genocídio indígena ao dar aval ao garimpo ilegal;
- genocídio contra a população brasileira em meio à pandemia
e;
- crime contra a humanidade pelo aumento do desmatamento na
Amazônia e do número de incêndios na floresta.
Fonte: Congresso em
Foco/Metrópoles
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