sábado, 24 de fevereiro de 2024

Aldo Fornazieri: O Holocausto e o massacre de crianças em Gaza

O termo “holocausto” é de origem grega e conata algo assemelhado a “queimado” ou “oferenda totalmente queimada”. O termo podia se referir também aos castigos que os exércitos impunham aos inimigos derrotados e aprisionados, queimando-os em fogueiras numa oferenda aos Deuses. Em Israel antigo usava-se a palavra olah (Shoá), significando holocausto, em referência as oferendas a Deus que eram queimadas no fogo. Em Levítico existem as instruções para a realização do holocausto: “As vísceras e as pernas serão lavadas com água. E o sacerdote queimará tudo isso no altar. É um holocausto, oferta preparada no fogo, de aroma agradável ao Senhor” (Lv 1:9).

De modo geral, o termo holocausto significa também sacrifício, oferenda, desastre, destruição, catástrofe e genocídio. Os palestinos atuais, por exemplo, usam a palavra “catástrofe” (Nakba) para relatar a história de suas vicissitudes, massacres, deslocamentos e desterros que vêm sofrendo desde 1948, quando foi criado o Estado de Israel. Quer dizer: eles têm o seu holocausto e um dos mais violentos e terríveis é este que está acontecendo agora em Gaza, onde o Estado de Israel promove uma guerra contra as crianças.

“Holocausto”, conotando massacres populacionais, portanto, não foi criado no contexto da Segunda Guerra. Existia antes. Durante séculos a palavra “holocausto” (holocaustum) se referia a grandes massacres. Os próprios judeus sofreram um massacre na Inglaterra em 1190 e o episódio foi classificado como um holocaustum. Nas últimas décadas do século XX, porém, a palavra holocausto passou a se referir de forma mais restrita aos massacres que os judeus sofreram sob o regime nazista de Hitler.

Os especialistas se dividem acerca do uso restrito ou ampliado do termo. Em regra, ninguém é obrigado a usar um conceito que existe há séculos num sentido estrito, referido a um terrível evento singular da história humana. Lato sensu, o termo pode ser referido a vários acontecimentos, inclusive ao que os palestinos estão sofrendo em Gaza nos nossos dias. Mas, sem dúvida, o que os judeus sofreram sob Hitler é incomparável em termos de brutalidade e magnitude. Isto não significa que existam similitudes em menor escala e similitudes morais.

A magnitude da brutalidade sofrida pelos judeus não pode nem anular e nem diminuir o repúdio e a repugnância que se deve sentir em relação outros massacres, como esse de Gaza. A história registra que seis milhões de judeus foram massacrados no holocausto hitlerista. De acordo com o Museu do Holocausto, um milhão eram crianças, o que corresponde a 6%.

Até agora, morreram em Gaza 29.100 pessoas, sendo que 12.400 são crianças e 7.870 são mulheres. Isto é: cerca de 43% são crianças massacradas. Os nazistas jogavam crianças judias vivas nas fornalhas. Outras morriam de inanição nos guetos e nos campos de concentração.

Quem assiste a cenas que vêm de Gaza vê corpos de crianças despedaçados, queimados. Vê crianças tendo pés, pernas, mãos e braços amputados no chão da terra, sem anestesia e sem remédios. Rios de sangue escorrem pelas ruas e estradas das cidades de Gaza.

O governo de Israel, os políticos, os militares, os funcionários civis e todas as pessoas bem informadas sabem que as maiores vítimas do tipo de guerra que Israel promove em Gaza são e serão crianças e mulheres. Então há uma ação deliberada e consciente na condução de uma guerra contra crianças e mulheres. Diante disso é preciso perguntar: qual a diferença moral entre um nazista que joga uma criança judia dentro de uma fornalha e os pilotos judeus que massacram crianças e mulheres com tiros e bombas?

Estas perguntas terríveis precisam ser respondidas pelos comentaristas, analistas, jornalistas e falsos humanistas que desencadearam uma tempestade de críticas contra o presidente Lula. Estão discutindo as palavras de Lula, mas muitos deles nunca abriram a boca e nunca escreveram uma linha contra a brutalidade que o Estado de Israel está patrocinando em Gaza.

Não é possível separar o governo de Israel do Estado de Israel, assim como não é possível separar Hitler do Estado alemão das décadas de 1930-40. O governo e o Estado de Israel então promovendo crimes de guerra, crimes brutais contra palestinos inocentes, contra crianças e mulheres. Não resta dúvida que o Hamas promoveu um ato terrorista. Se Israel quisesse punir o Hamas deveria ter promovido outro tipo de guerra. Mas prefere patrocinar uma guerra de vingança, uma guerra de genocídio, uma guerra de deslocamentos.

Cerca de 85% da população de Gaza foi deslocada, submetida ao terror dos bombardeios, da fome, das doenças, das misérias e da maldade do Exército de Israel. A guerra de Gaza não é mais uma guerra contra o Hamas. É uma guerra contra a pulação civil, contra crianças e mulheres.

Nenhuma guerra moderna deslocou, proporcionalmente, tantas pessoas como essa que Israel promove em Gaza. Nenhuma guerra moderna promoveu tanta destruição de cidades como essa que Israel está promovendo em Gaza. Os falsos humanistas precisam falar sobre isso

Se há alguém que ofende a memória das vítimas do holocausto esse alguém é o governo de Israel, é o Exército de Israel. A memória das vítimas do holocausto aponta para uma única direção: para a Paz. O governo de Israel é um governo de morte, de destruição, de massacre de crianças e de inocentes.

O povo judeu tem uma admirável história de sofrimento, resiliência e abnegação. Essa história não legitima o que Israel e seus aliados vêm fazendo com os palestinos desde 1948. Os mortos do holocausto não legitimam os crimes dos vivos de hoje que estão deixando uma história de mortos. Nenhum povo tem um estatuto especial acima dos outros. O povo judeu não é o “santo dos santos”. O sacerdote Arão disse a Moisés: “então, não sabes o quanto este povo é propenso ao pecado?”. Quantas advertências os profetas emitiram contra os pecados de Israel, de Judá, de Jerusalém? De acordo com a religião antiga, as destruições, desterros e diásporas que os judeus sofreram foram para purgar os seus pecados. A resignação e a resiliência fazem parte dessa purgação.

Agora Israel está praticando pecados terríveis, contra os palestinos e contra a humanidade. Lula nada mais fez do que desnudar esses pecados. Não há que pedir desculpas a um governo criminoso. Um governo que precisa ser levado aos tribunais pelos seus crimes brutais. Um governo que assassina mulheres e crianças para permanecer no poder. Lula teve a coragem de fazer o que nenhum outro governante fez: tirou a máscara vergonhosa de um governo que massacra crianças e inocentes.

 

Ø  Os planos de Netanyahu para Gaza após fim da guerra

 

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, falou sobre os planos que tem sobre o período pós-guerra em Gaza.

Segundo o seu plano, Israel controlaria a segurança indefinidamente e os palestinos sem ligações com grupos hostis a Israel governariam o território.

Os EUA, principal aliado de Israel, querem que a Autoridade Nacional Palestina (AP), sediada na Cisjordânia, governe Gaza depois da guerra.

Mas o breve documento – que Netanyahu apresentou aos ministros ontem à noite – não faz qualquer menção à AP.

Anteriormente, ele já havia descartado um papel no pós-guerra para o órgão apoiado internacionalmente.

O plano prevê uma Gaza "desmilitarizada"; Israel seria responsável por remover toda a capacidade militar além da necessária para a ordem pública.

Ainda segundo o plano de Netanyahu, haveria um "fechamento ao sul" na fronteira do território com o Egito para evitar o contrabando tanto subterrâneo quanto aéreo.

E programas de "desradicalização" seriam promovidos em todas as instituições religiosas, educativas e de assistência social. O documento sugere que países árabes com experiência em tais programas estariam envolvidos, embora Netanyahu não tenha especificado quais.

Segundo o plano, Israel também manteria o controle de segurança sobre toda a área a oeste da Jordânia, por terra, mar e ar.

Netanyahu tem estado sob pressão – interna e internacional – para anunciar quais seriam suas propostas para Gaza desde que iniciou a operação militar no território.

Ele está empenhado em restaurar uma reputação em ruínas como um líder que pode manter Israel seguro e desejará apelar aos radicais de direita no seu governo de coligação.

Um porta-voz de Mahmoud Abbas, presidente da AP, disse que o plano de Netanyahu está fadado ao fracasso.

"Se o mundo está genuinamente interessado em ter segurança e estabilidade na região, deve acabar com a ocupação de terras palestinas por Israel e reconhecer um Estado palestino independente", afirmou Nabil Abu Rudeineh.

Netanyahu repetiu a sua rejeição de qualquer reconhecimento unilateral de um Estado palestino por parte dos países ocidentais.

Enquanto isso, os negociadores que tentam mediar um cessar-fogo temporário e a libertação dos reféns israelenses deverão se reunir em Paris.

Os EUA querem um acordo antes do início do mês sagrado muçulmano do Ramadã, em pouco mais de duas semanas.

E, à medida em que a situação humanitária piora em Gaza, há também pressão internacional para que a guerra termine. O Ministério da Saúde administrado pelo Hamas informa que mais de 29.500 pessoas, a maioria mulheres e crianças, foram mortas desde o início da guerra, em outubro.

A ofensiva militar de Israel foi desencadeada pelo ataque sem precedentes do Hamas, em 7 de outubro, no qual homens armados mataram cerca de 1.200 pessoas - principalmente civis - e levaram 253 para Gaza como reféns.

Na noite de quinta-feira (23/2), o chefe do órgão da ONU responsável pelos refugiados palestinos (Unrwa) alertou que Gaza enfrenta um "desastre monumental com graves implicações para a paz regional, a segurança e os direitos humanos".

Numa carta ao presidente da assembleia geral da ONU, Philippe Lazzarini disse que a agência "chegou ao ponto de ruptura, com os repetidos apelos de Israel para desmantelar a Unrwa e o congelamento do financiamento por parte dos doadores num momento de necessidades humanitárias sem precedentes em Gaza".

Alguns dos maiores doadores da Unrwa suspenderam o financiamento para a agência no mês passado, depois de a Unrwa ter despedido vários dos seus funcionários, em meio a acusações de Israel de que teriam envolvimento com os ataques de outubro.

Netanyahu pretende encerrar a agência como parte do seu plano pós-guerra e substituí-la por - ainda não especificadas - organizações de ajuda internacional.

E insistiu que continuará a sua guerra até que Israel desmantele o Hamas e a Jihad Islâmica – o segundo maior grupo armado em Gaza – e que todos os reféns israelenses sejam devolvidos.

No final de 2023, Netanyahu alertou que a guerra poderia durar "muitos mais meses".

 

Fonte: Jornal GGN/BBC News Mundo

 

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