terça-feira, 23 de abril de 2024

Raúl Zibechi: Milei se rende à China

A mesma coisa aconteceu com Jair Bolsonaro, durante a sua presidência. Teve que engolir seus insultos à China e reconhecer que o Brasil depende de suas exportações para o país asiático, que é o principal parceiro comercial há mais de uma década.

Antes de sua ascensão ao poder, Bolsonaro criticou a China e visitou Taiwan, como evidente provocação a Pequim. Depois teve que recuar, receber executivos da Huawei no próprio palácio presidencial e aceitar sua participação na rede 5G do Brasil.

“Você negociaria com um assassino?”, disparou Milei no trecho mais irracional de sua campanha eleitoral desbocada. Agora, diz que nas relações com o dragão não se mexe e que não modificará “nem um pingo” os acordos comerciais.

“Sempre dissemos que somos libertários, se as pessoas querem fazer negócios com a China, podem”, disse o presidente argentino ao editor-chefe da Bloomberg News, em 4 de abril.

Segundo a Bloomberg, “mais do que qualquer um dos seus vizinhos latino-americanos”, a Argentina depende financeiramente da China. Acrescenta que os intercâmbios comerciais e o investimento chinês, “agora, impulsionam grandes setores da economia argentina, das matérias-primas e energia aos bancos”.

A verdade é que a China “tem projetos até nas regiões mais remotas do país: desde minas de lítio na árida fronteira boliviana, no norte, até planos para construir um porto a 4.000 km de distância, no extremo sul do país”, a apenas uma curta viagem de barco da Antártida. Esse é o ponto em que o Pentágono quer intervir, para controlar os passos do seu principal adversário e, chegado o momento, poder bloqueá-lo.

Estamos diante de movimentos simultâneos de avanço e retrocesso. Em 2022, a Argentina aderiu formalmente à Faixa e Rota da China, sob o governo progressista de Alberto Fernández. Milei não pretende retirar seu país dessa aliança, mas decidiu não aderir ao BRICS como um aceno aos Estados Unidos.

Estritamente, não deveríamos dizer que Milei mudou sua posição ou que se rendeu à China. Está sendo fiel a seu apego aos interesses do capital, dos negócios e dos lucros. Ou seja, à classe social a que serve. Neste ponto, está sendo coerente, mesmo que não gostemos de nada do que faz.

O presidente argentino, assim como antes o brasileiro, reconhece uma realidade geopolítica estrutural: hoje, os negócios mais lucrativos são feitos com a China, país que também tem capacidade para investir em projetos de infraestrutura (hidrelétricas, usinas nucleares, estradas e portos, entre outros), sempre em defesa de seus interesses estratégicos.

A potência em declínio, os Estados Unidos, deve deter as iniciativas chinesas porque estão “comendo” o seu quintal. A questão do lítio é muito clara: quer impedir que a China controle as reservas e a exploração, mesmo que não esteja em condições de ocupar esse lugar. Faz parte da dura concorrência geopolítica pela hegemonia, já que ambos lutam pela mesma coisa, com armas parcialmente diferentes.

Até agora, alguns governos da região se voltaram completamente para a China. É o caso da Venezuela e da Nicarágua. Muitos outros mantêm boas relações com o dragão, sobretudo os progressistas, ainda que neste setor haja muitas nuances. O governo colombiano de Gustavo Petro está em processo de instalação de três bases militares dos Estados Unidos em Gorgona, Pereira e Letícia, refletindo processos iniciados sob governos anteriores.

Há casos como o do Chile, em que as adesões à política da China começaram sob governos conservadores, como a integração na Rota da Seda, em 2019, do governo direitista de Sebastián Piñera. Peru e Panamá são casos semelhantes. A Colômbia ainda não a integra, o que nos permite dizer que as relações com a China não são regidas pelas coordenadas esquerda-direita, mas por meras conveniências econômicas.

Depois, existem confusões, que não são poucas, em especial as que afetam o campo antissistêmico e antiextrativista. Seria bom repassar, ainda que seja algumas delas. Não poucos movimentos sustentam que a China é uma aliada na resistência ao imperialismo estadunidense e que a sua ascensão é, de algum modo, a do socialismo.

Nada mais longe da realidade. A China é profundamente extrativista e capitalista. Até agora não se comporta da mesma forma que os antigos colonialismos e imperialismos, não invade países para impor as suas políticas e interesses. Exporta capital e usa o seu poder econômico para se impor, que são algumas das facetas do imperialismo, desde finais do século XIX.

Do mesmo modo que agora não é necessário levar tanques às ruas para dar um golpe de Estado, também não é necessário enviar tropas a uma nação para configurar uma invasão. O imperialismo atual deve ser analisado de acordo com os novos modos de dominação.

Seria um erro grave difundir a crença de que as potências emergentes desempenham qualquer papel a favor dos povos.

 

Ø  Julgamento criminal de Trump sobre suborno começa com declarações iniciais em Nova York

 

Donald Trump ouvirá nesta segunda-feira os promotores explicarem por que seu suposto encobrimento de um pagamento a uma estrela pornô durante campanha presidencial de 2016 violou a lei, à medida que o primeiro julgamento criminal de um ex-presidente dos Estados Unidos começa em Nova York.

Os advogados do candidato presidencial republicano também farão sua declaração inicial no que pode ser o único dos quatro processos criminais de Trump a ir a julgamento antes de sua revanche contra o presidente Joe Biden em 5 de novembro.

Os promotores afirmam que o pagamento de 130.000 dólares feito pelo ex-advogado de Trump Michael Cohen à estrela pornô Stormy Daniels, em troca de seu silêncio sobre um suposto encontro sexual com Trump uma década antes, enganou os eleitores nos últimos dias da campanha em 2016, quando sua candidatura enfrentava outras revelações de mau comportamento sexual.

Trump se declarou inocente de 34 acusações de falsificação de registros comerciais apresentadas pelo promotor de Manhattan, Alvin Bragg, e nega ter tido um encontro sexual com Daniels.

O caso é visto por muitos especialistas jurídicos como o menos consequente dos processos contra Trump. Um veredito de culpa não o impediria de assumir o cargo, mas poderia prejudicar sua candidatura.

Pesquisa Reuters/Ipsos mostra que metade dos eleitores independentes e 25% dos republicanos dizem que não votariam em Trump se ele for condenado por um crime.

Os promotores têm dito que o pagamento a Daniels fazia parte de um esquema mais amplo de "pegar e matar" elaborado por Trump, Cohen e David Pecker - o ex-diretor executivo da editora de tabloides American Media - para pagar pessoas com informações potencialmente prejudiciais sobre Trump antes da eleição de novembro de 2016. Trump derrotou a democrata Hillary Clinton.

Pecker é a primeira testemunha que os promotores planejam chamar após as declarações iniciais, informaram o New York Times e a CNN no domingo. De acordo com os promotores, Pecker concordou, durante uma reunião em agosto de 2015 com Trump e Cohen, em atuar como "olhos e ouvidos" da campanha, procurando histórias negativas sobre Trump.

A American Media, que publica o National Enquirer, admitiu em 2018, como parte de um acordo para evitar um processo criminal, que pagou 150.000 dólares à ex-modelo da revista Playboy Karen McDougal pelos direitos de sua história sobre um caso de meses com Trump em 2006 e 2007. A American Media disse que trabalhou "em conjunto" com a campanha de Trump e nunca publicou a história.

Trump tem dito que os pagamentos foram pessoais e não violaram a lei eleitoral. Ele também negou o caso com McDougal.

O depoimento de Pecker pode ajudar a corroborar o depoimento de Cohen, a testemunha central do julgamento. Os promotores têm reconhecido que o ex-advogado de Trump pode enfrentar problemas de credibilidade, já que foi condenado e preso por acusações federais de financiamento de campanha por seu papel no esquema.

Os promotores planejam convocar pelo menos 20 testemunhas no total, de acordo com a equipe de defesa de Trump. O julgamento pode durar de seis a oito semanas.

¨      Trump está ficando sem dinheiro para despesas legais, diz mídia

O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, está ficando sem dinheiro para despesas jurídicas, informou um site de notícias dos EUA, citando dados financeiros da sua campanha eleitoral.

"Donald Trump gastou US$ 4,9 milhões (R$ 25,63 milhões) em honorários advocatícios em março e restam apenas US$ 6,8 milhões (R$ 35,57) nas contas que usa para financiar seus advogados, o que pode lhe causar problemas financeiros à medida que os custos legais aumentam", informou a Bloomberg.

Segundo a mídia, Trump financia suas batalhas jurídicas graças ao comitê Save America, que arrecada fundos de doadores.

A agência acrescenta que Trump pode tentar usar seus próprios fundos ou angariar mais dinheiro de doadores para financiar os seus processos judiciais. O site acrescenta ainda que o Comitê Nacional Republicano se recusou a cobrir os honorários advocatícios de Trump, que deve disputar mais uma eleição presidencial pelo Partido Republicano neste ano.

Em fevereiro, a Justiça considerou Trump culpado por fraudar a declaração dos ativos da Organização Trump. Por conta da corrupção, o ex-presidente foi ordenado a pagar, inicialmente, cerca de US$ 355 milhões (mais de R$ 1,8 bilhão). A multa total já chegou a US$ 454 milhões (mais de R$ 2,3 bilhões), incluindo juros.

Além disso, o republicano foi proibido por três anos de exercer a função de "executivo ou diretor de qualquer corporação no estado de Nova York". Trump também está proibido de "solicitar empréstimos de qualquer instituição financeira registrada no estado de Nova York". O ex-presidente apelou contra a decisão.

 

Ø  Rússia e China transferem quase todos os pagamentos mútuos para moedas nacionais, diz Lavrov

 

Mais de 90% dos acordos financeiros russo-chineses são conduzidos em moedas nacionais, enquanto a cooperação econômica bilateral está progredindo ativamente, disse o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, nesta segunda-feira (22).

"A cooperação comercial e econômica russo-chinesa está se desenvolvendo ativamente, e isto apesar das tentativas persistentes dos Estados do Ocidente coletivo de colocarem obstáculos. Houve uma desdolarização quase completa dos laços econômicos bilaterais. Hoje, mais de 90% dos acordos mútuos são convertidos em moedas nacionais", disse Lavrov na reunião do Conselho de Chefes das regiões russas.

A cooperação energética russo-chinesa está progredindo "de forma constante", acrescentou o ministro das Relações Exteriores.

"O fornecimento dos nossos produtos agrícolas ao mercado chinês está crescendo. Estão sendo implementados projetos conjuntos nas esferas de investimento e industrial. Os benefícios mútuos de tal cooperação são claramente sentidos em ambos os lados da fronteira russo-chinesa", disse Lavrov.

Em dezembro de 2023, o primeiro-ministro russo Mikhail Mishustin disse que a Rússia e a China tinham alcançado a desdolarização quase completa nos seus pagamentos bilaterais.

Em agosto de 2023, Lavrov disse que os Estados-membros do BRICS estavam concentrados em elaborar mecanismos de comércio mútuo que acabassem com a sua dependência de moedas de reserva estrangeiras, como o dólar norte-americano.

 

Fonte: La Jornada – Tradução do Cepat Para IHU/Reters/Sputnik Brasil

 

 

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