Quatro pontos que explicam a crise na Tesla
de Elon Musk
A Tesla está hoje
longe de ser a queridinha de Wall Street.
Já se foi o tempo em
que seu valor de mercado ultrapassava US$ 1 trilhão (no fim de 2021) — e tudo
indicava que a gigante dos veículos elétricos era imbatível.
Naquela época, ela
batia recordes de produção e entrega, enquanto o preço de suas ações subiam,
levando a empresa ao patamar de companhias como Apple e Amazon.
Agora, a empresa de
Elon Musk, seu fundador e CEO, enfrenta grandes desafios que dificultam avançar
num mercado altamente competitivo.
As vendas, os lucros,
o valor de mercado e a confiança de muitos acionistas na capacidade de inovação
e crescimento da companhia a longo prazo caíram.
As empresas de
veículos elétricos chinesas baixaram seus preços, afetando a demanda por seus
automóveis, e as recentes demissões anunciadas por Musk não foram bem recebidas
pelo mercado.
Alguns dos problemas
da empresa começaram em outubro, quando Musk alertou que a demanda estava
começando a desacelerar.
E quando o seu maior
concorrente, a gigante chinesa BYD, ultrapassou brevemente a Tesla como maior
vendedor mundial de carros elétricos no último trimestre do ano passado, a
situação não parecia nada bem.
Os anúncios de corte
na produção da Gigafactory da empresa, em Xangai, e os problemas relacionados à
produção da picape Cybertruck e dos carros autônomos tampouco ajudaram a
melhorar o clima.
Uma boa parte dos
analistas e investidores afirma que, embora a construção de um veículo
totalmente autônomo seja crucial para as perspectivas da Tesla, fabricar um
carro elétrico com preço acessível é importante para impulsionar o crescimento
hoje.
Nesta semana, as
notícias não têm sido positivas para a empresa americana, após a publicação de
resultados financeiros abaixo das expectativas dos analistas de mercado.
Desde a sua criação em
2003, a trajetória da Tesla sempre teve altos e baixos. Muitos se perguntam se
esta é mais uma crise que vai passar, como as demais, ou se a gigante
automotiva atingiu um ponto de ruptura.
A seguir, estão quatro
pontos que explicam a crise que a companhia está atravessando.
• 1. Demissões
A Tesla anunciou em
meados de abril que iria demitir mais de 10% dos seus empregados a nível
mundial, como parte de um plano de restruturação que visa reduzir custos e
melhorar a posição da empresa.
Após anos de rápida
expansão, esta restruturação interna — que vai afetar cerca de 15 mil
funcionários — gerou preocupação nos mercados, uma vez que se soma a uma
redução significativa nas entregas de veículos neste ano.
“Não há nada que eu
odeie mais, mas tem que ser feito”, disse Musk.
Analistas das
consultorias Gartner e Hargreaves Lansdown argumentaram que os cortes eram um
sinal das pressões de custos, à medida que a fabricante de automóveis investia
em novos modelos e inteligência artificial.
Há poucos dias, um dos
membros da equipe executiva, Andrew “Drew” Baglino, disse em uma postagem no X
(antigo Twitter) que havia tomado a “difícil decisão” de deixar a empresa após
18 anos, adicionando mais incerteza às mudanças na companhia.
O impacto das mudanças
na direção e das estratégia para o futuro da Tesla preocupa os investidores,
especialmente no que diz respeito à sucessão na liderança da companhia.
Musk comanda a Tesla
desde 2008, mas sua atenção tem se dividido entre outros projetos, como a
SpaceX e a Neuralink.
A saída, em agosto, do
então diretor financeiro, Zachary Kirkhorn, outro provável sucessor, também foi
interpretada como um sinal de incerteza.
O debate tem girado em
torno de dois aspectos fundamentais: os desafios que a empresa enfrenta em
termos da sua estratégia de crescimento e da sua direção.
• 2. Lucros
Nesta semana, a
gigante automotiva divulgou os resultados do seu desempenho durante o primeiro
trimestre deste ano. Se já havia preocupação entre alguns investidores, os
dados apresentados apenas alimentaram um clima de incerteza quanto aos planos
futuros.
A Tesla registrou uma
queda de 55% nos lucros em relação ao primeiro trimestre do ano passado.
E também apresentou
uma queda de 9% na receita no mesmo período, o maior declínio ano a ano desde
2012.
Outro fator que
trabalhou contra a empresa até agora neste ano foi o recall de seu veículo mais
recente, a picape Cybertruck.
O veículo apresentava
um defeito no pedal do acelerador que aumentava o risco de acidentes.
• 3. Vendas
Nos relatórios
trimestrais que a Tesla apresenta aos acionistas, a empresa se refere a
“entregas”, ou seja, aos veículos que a empresa entrega após ter recebido as
encomendas.
Desta forma, as
entregas de automóveis são o que mais se aproxima do conceito de venda de
automóveis, uma vez que as vendas não são definidas com precisão nas
comunicações formais da companhia, conforme explica a emissora CNBC.
Sendo assim, as
entregas de veículos caíram 8,5% no primeiro trimestre deste ano, em comparação
com o mesmo período no ano passado — a primeira queda desde 2020.
Esta queda, dizem os
especialistas, pode estar relacionada, além das causas subjacentes, a alguns
fatores circunstanciais — como interrupções no transporte marítimo global ou um
incêndio na sua fábrica europeia.
O cenário é complexo
não só pela queda nas vendas, mas também pela redução nos preços dos veículos.
Há poucos dias, foi
anunciado que a empresa reduziria o preço dos modelos Y, X e S em cerca de US$
2 mil cada.
Apesar de todos os
desafios, Elon Musk manteve nesta semana um discurso otimista sobre as
perspectivas da empresa. Ele disse aos investidores que antecipará o lançamento
de novos modelos a partir do segundo semestre de 2025.
Em conversa com os
acionistas, Musk deixou claro que também tem ambições maiores, como suas
apostas em veículos autônomos e no desenvolvimento da inteligência artificial.
A Tesla “deveria ser
considerada uma empresa de robótica de inteligência artificial", e não uma
fabricante de automóveis, declarou Musk.
Mas estas ideias foram
questionadas por alguns analistas. O Deutsche Bank afirma, por exemplo, que os
veículos sem motorista enfrentam “desafios tecnológicos, regulamentares e
operacionais”.
• 4. Valor de mercado
As ações da Tesla já
tinham caído ao longo do último ano, refletindo fatores como as elevadas taxas
de juros em muitos países, que dificultaram o acesso ao financiamento para a
compra de seus carros elétricos.
O preço das ações da
empresa chegou a cair 40% neste ano, levando a empresa a ter um valor de
mercado próximo a US$ 460 bilhões — no fechamento de quarta-feira (24/4).
E desde novembro de
2021, quando cada ação da companhia valia mais de US$ 400, caiu para cerca de
US$ 162.
A queda de 40% nas
ações da Tesla neste ano fez a empresa cair algumas posições nos rankings das
maiores empresas dos Estados Unidos.
A companhia ocupava o
sétimo lugar em capitalização de mercado dentro do índice S&P 500 no início
deste ano, de acordo com o Dow Jones Market Data, mas agora está na 14ª
posição.
Dentro de um panorama
que parece pouco animador, a Tesla explicou nesta semana que iria apresentar
“novos modelos” no próximo ano, sem oferecer mais detalhes. E prometeu acelerar
o lançamento de modelos com preços mais acessíveis.
Fonte: BBC News Mundo
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