sábado, 20 de abril de 2024

Pepe Escobar: A 'Nova Equação' do Irã vai muito além do Oeste Asiático

Um Santo dos Santos foi esmagado na Terra Santa quando o Irã deu uma resposta bastante comedida e altamente coreografada  ao ataque terrorista de Israel à residência de seu cônsul/embaixador em Damasco, uma evisceração de fato da imunidade diplomática colocada na Convenção de Viena.

Esse divisor de águas irá interferir diretamente na maneira como o sistema anglo-americano administrará suas conflagrações simultâneas com Rússia, China e Irã – três dos principais membros dos BRICS. 

O problema central é que as escaladas já estão incorporadas – e serão difíceis de eliminar. A Guerra de Cancelamento Total contra a Rússia; o genocídio em Gaza – com sua política explícita magistralmente decodificada pelo Professor Michael Hudson; e o desacoplar/configurar o terreno contra a China não irão simplesmente desaparecer – enquanto todas as pontes de comunicação com  Maioria Global continuam a ser incendiadas.

Mas a mensagem iraniana de fato estabelece uma "Nova Equação" – como Teerã a batizou, e prevê muitas outras surpresas vindas do Oeste Asiático.

O Irã queria mandar – e de fato mandou – uma mensagem clara. Nova equação: se a entidade bíblica psicopata insistir em atacar os interesses iranianos, de agora em diante o contra-ataque atingirá o território de Israel. E tudo  em uma questão de "segundos" - uma vez que o Conselho de Segurança de Teerã já liberou todos os procedimentos. 

No entanto, a escalada parece inevitável. Segundo o antigo primeiro-ministro de Israel Ehud Barak: "Netanyahu é influenciado por seus parceiros políticos [fundamentalistas] que querem que ele mantenha a  escalada a fim de se sustentar no poder e acelerar a chegada do Messias".

Compare-se a isso a afirmação do Presidente iraniano  Raisi: "O menor ato contra os interesses de Teerã provocará uma resposta maciça, ampla e dolorosa a todas as suas operações".

·        Adeus a seu "invencível" labirinto de defesa 

Para a Teerã, regular a intensidade do choque que ocorre no Oeste Asiático entre Israel e o Eixo da Resistência e, simultaneamente, estabelecer uma contenção estratégica para substituir a "paciência estratégica", implicou o lançamento de uma onda tripla:  um enxame de drones abrindo caminho para mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos.

O desempenho dos tão alardeados   Iron Dome, Arrow-3 e David's Sling – apoiados por jatos de combate e  pela força naval dos Estados Unidos e do Reino Unido – não foi exatamente brilhante. Não há vídeos  da "camada externa" do sistema Arrow-3 abatendo coisa alguma no ar.

Pelo menos nove mísseis balísticos penetraram a densa rede de defesa israelense e atingiram as bases Nevatim e Ramon. Israel não pronunciou uma única palavra sobre o destino de suas instalações de inteligência nas Colinas de Golan  – atingidas por mísseis de cruzeiro.

Em meio ao clássico nevoeiro de guerra, é irrelevante se  Teerã lançou centenas ou dezenas de drones e mísseis. Apesar das mentiras da mídia do OTANistão, o que ficou provado além de qualquer dúvida é que o supostamente "invencível" labirinto de defesa de Israel – indo desde sistemas AD/ABM de fabricação estadunidense até falsificações israelenses  – são indefesos em uma guerra real contra um adversário tecnologicamente avançado.

O que foi alcançado por uma única operação fez com que muitos cenhos profissionais se franzissem. O Irã forçou Israel a esvaziar furiosamente seu estoque de  interceptadores e a gastar pelo menos 1,35 bilhões de dólares – ao mesmo tempo em que viu se estilhaçar por completo seu domínio de escalada e sua estratégia de contenção.

O golpe psicológico foi ainda mais violento. 

Como seria se o Irã tivesse lançado uma série de ataques sem um generoso aviso prévio de diversos dias? Como seria se os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e a – traiçoeira – Jordânia não estivessem preparados para uma defesa coordenada? (O fato surpreendente de esses países terem usado poder de fogo em benefício de Tel Aviv não foi de modo algum analisado). Como seria se o Irã houvesse atingido seriamente alvos industriais e de infraestrutura? 

·        Criando uma equação sem perturbar a pivotagem

Como seria de se prever, não houve o mínimo debate em todo o OTANistão sobre o súbito colapso do Mito da Fortaleza Israel – que embasa o mito maior de o sionismo oferecer  Segurança Impenetrável aos habitantes de Israel. Isso acabou. Essa narrativa mentirosa está morta e enterrada.

O Irã, de sua parte, não dá a mínima importância às narrativas do OTANistão. A mudança rumo à Nova Equação, na verdade, foi generosa o bastante a ponto de oferecer a Tel Aviv uma rota de fuga para evitar a escalada – rota que não será tomada para o risco de Israel.  

Para Tel Aviv, tudo o que aconteceu até agora mostra que houve Derrota Estratégica por todo o espectro: em Gaza, no Líbano, na economia entrando em colapso, na total perda de legitimidade aos olhos do mundo e, agora,  com a dolorosa perda da contenção. 

Todos os olhos agora se voltam para o que irá acontecer em seguida: ficará finalmente claro se o Hegêmona prevalecerá ou se é Israel que comanda o show do "abana o cachorro"? 

É de importância essencial levar em conta a visão da parceria estratégica Rússia-China. O consenso entre os acadêmicos chineses é que o Hegêmona prefere não comprometer recursos demais no Oeste da Ásia, uma vez que isso afetaria o Projeto Ucrânia já em colapso e o planejamento estratégico de se contrapor à China na Ásia-Pacífico.

Quando se trata da Rússia, o  Presidente Raisi, em pessoa, ligou para o Presidente Putin, e os dois discutiram todos os detalhes relevantes por telefone. Calmos, de cabeça fria e com total comedimento.

Adicionalmente, mais para o fim da semana, o Chanceler Adjunto iraniano Ali Bagheri Kani – que disse que o Irã responderia "em poucos segundos" a qualquer novo ataque israelense – visita Moscou para a Conferência sobre Não-Proliferação  e se reunirá também com o primeiro escalão do Ministério das Relações Exteriores russo.

É de se notar que o Irã conseguiu criar a Nova Equação sem perturbar sua política de pivotar para a Eurásia – após o colapso  do acordo nuclear de 2015 – ao mesmo tempo em que protegia a complexa estrutura engajada na defesa da Palestina.

As opções do Hegêmona são lamentáveis. Elas vão desde acabar sendo expulsos do Oeste Asiático e do Golfo Pérsico até um choque impossível de ser vencido contra três estados-civilização – Rússia, China, Irã.

O que resta como o principal cenário praticável é uma retirada cuidadosamente calculada rumo a um quintal mais fácil e controlar: a América Latina, principalmente a América do Sul, manipulando seu ativo  privado de soberania, a Argentina.

E, é claro, manter o controle sobre uma Europa desindustrializada e  privada de soberania.

O que não muda o fato de que a projeção de poder dos Estados Unidos está em declínio em termos globais, e é para esse lado que o vento sopra. A psicodemência dos neocons straussianos é insustentável. A questão é se eles poderão ser progressivamente expurgados da estrutura de poder dos Estados Unidos antes de tentarem mergulhar a Maioria Global em nas profundezas irracionais de sua perdição.

·        E não se esqueçam da nova Equação dos BRICS 

Em contraste, no front da Maioria Global, mais de 40 países querem se juntar aos  BRICS – além de outros mais, segundo o chefe da Comissão de Assuntos Internacionais do Conselho Russo,  Grigory Karasin.

Após uma reunião dos presidentes das comissões de assuntos internacionais dos Parlamentos dos  BRICS, na semana passada em Moscou, Karasin observou que muitos países-membros dos BRICS entendem que não devem se apressar para criar uma carta rígida, "percebendo o quão contraproducente e até provocadora vem sendo a atuação da União Europeia". O nome do jogo é flexibilidade. 

Alastair Crooke levantou um tema de importância chave,  presente ao longo de todo o meu novo livro, Eurásia versus OTANistão: "Tudo o que era bom e verdadeiro na civilização ocidental está preservado e em pleno florescimento na Rússia. É essa percepção não expressa em palavras que tanto enfurece as elites do Ocidente. E, em parte, é por essa mesma razão que os estados dos BRICS evidentemente olham para a Rússia em busca de liderança".

Nova Equação criada pelo Irã, membro soberano dos BRICS, terá um poderoso efeito na solidificação desse estado de cooperação – multilateral, multicultural – enquanto o Império e seu "porta-aviões" no Oeste Asiático, exceto no departamento de operações sigilosas, veem-se cada vez mais reduzidos à condição de um tigre de papel.

 

Ø  Israel já superou Hitler após matar mais de 14 mil crianças em Gaza, diz Erdogan

 

O alto responsável reiterou seu apoio ao Hamas, que vê como lutando contra a injustiça israelense, e o comparou com a Guerra da Independência da Turquia (1919-1923).

Israel já superou o líder nazista Adolf Hitler após matar mais de 14 mil crianças inocentes em Gaza, disse na quarta-feira (17) o presidente da Turquia.

O líder turco disse que Israel está realizando massacres que são marcas de vergonha na história da humanidade com o apoio incondicional do Ocidente, tanto em Gaza quanto na Cisjordânia.

Falando durante uma reunião do grupo do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, na sigla em turco) no parlamento turco, Recep Tayyip Erdogan contou que há 15 anos, no Fórum Econômico Mundial de 2009 em Davos, na Suíça, ele desafiou a liderança israelense e sua opressão dos palestinos, no célebre episódio "Um minuto!", apontando:

"Quando ninguém mais quis falar, nós nos levantamos e dissemos: 'O Hamas não é uma organização terrorista, mas um grupo de resistência'. Apresentamos mapas na ONU mostrando como Israel ocupou gradualmente as terras da Palestina nos últimos 70 anos", acrescentou.

"Apoiamos nossos irmãos e irmãs palestinos de todas as formas, especialmente nos momentos mais difíceis. Mobilizamos todos os nossos recursos para a Palestina, para o povo oprimido de Gaza", sublinhou ele.

Segundo ele, "há um preço a pagar por dizer isso", e comparou a luta do Hamas com a Guerra da Independência da Turquia há mais de 100 anos.

"Enquanto Deus me conceder a vida, continuarei defendendo a luta da Palestina e serei a voz do povo palestino oprimido", acrescentou Erdogan.

Erdogan reiterou a determinação da Turquia de defender corajosamente a luta da Palestina pela independência em toda e qualquer circunstância.

Em 2009, durante um painel de discussão no Fórum Econômico Mundial em Davos, Erdogan se recusou a ser interrompido pelo moderador, o colunista do Washington Post David Ignatius, ao tentar responder às justificativas do então presidente israelense Shimon Peres. "Um minuto... Um minuto... um minuto", disse Erdogan a Ignatius, dirigindo-se depois a Peres.

 

Ø  Pentágono não comenta ataque israelense ao Irã: 'Não temos nada a relatar'

 

O Pentágono, neste primeiro momento, não comentou o ataque israelense em território iraniano, disse um porta-voz do departamento à Sputnik.

"Não temos nada a relatar neste momento", disse um porta-voz do Pentágono.

Os veículos de imprensa norte-americanos e iranianos informaram, anteriormente, que Israel lançou um ataque com mísseis contra uma instalação no Irã. Segundo a Bloomberg, os Estados Unidos foram notificados do ataque com antecedência.

Parceiros históricos de Israel, os EUA têm demonstrado o reforço dos laços entre os países desde o início do conflito na Faixa de Gaza. Atualmente, diante do ataque no Irã, membros do Pentágono preferiram, então, não se pronunciar.

A CNN, canal de mídia norte-americano, disse, por sua vez, que um alto funcionário do governo norte-americano afirmou ao canal que os EUA não endossam o ataque israelense.

 

Fonte: Tradução de Patricia Zimbres, para Brasil 247/Sputnik Brasil

 

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