Malafaia chama Moraes de ditador, pede
renúncia nas Forças e diz que Pacheco é frouxo
Na manifestação em
Copacabana neste domingo, 21, o pastor Silas Malafaia, um dos organizadores do
ato em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), adotou uma retórica
agressiva contra autoridades da República, referindo-se ao ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes como um “ditador com modus operandi”
e descrevendo o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), como “frouxo,
covarde e omisso”.
Durante seu
pronunciamento, Malafaia afirmou que os demais ministros do Supremo não estão
alinhados com as decisões de Moraes e instou os líderes das Forças Armadas a
renunciarem aos seus postos até que uma investigação sobre o STF seja conduzida
pelo Senado. No entanto, apesar das declarações do religioso, as decisões de
Moraes tendem a ser confirmadas pelo plenário da Suprema Corte.
“Há dois anos, chamo
Alexandre de Moraes de ditador da toga. Alexandre de Moraes, quem te colocou
como censor da democracia? Quem é você para definir o que um brasileiro pode
falar? Todo ditador tem um modus operandi: prende alguns para colocar medo em outros,
para que ninguém o confronte”, afirmou Malafaia, acrescentando que o ministro
do STF instituiu o “crime de opinião” no País e censurou parlamentares
bolsonaristas.
Antes do ato em
Copacabana, Malafaia já havia avisado que seu alvo principal seria Moraes. “Meu
negócio não é STF, meu negócio é Alexandre de Moraes”, disse ao Estadão. “Vamos
mostrar através de fatos o que está acontecendo nesse País.”
• Deputado discursa em inglês para
defender liberdade ‘porque Elon Musk está olhando’
O deputado
bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO) participou do ato em defesa do ex-presidente
Jair Bolsonaro (PL), na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, neste domingo,
21, e fez parte do discurso em inglês porque “o Elon Musk está olhando”.
O empresário
sul-africano lançou uma campanha de ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e
ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que motivou apoiadores de Bolsonaro às
vésperas da manifestação.
“Vou mandar um último
recado, desta vez para o mundo todo escutar. Vou falar em inglês porque com
certeza o Elon Musk está olhando o que está acontecendo aqui agora”, disse,
antes de trocar o idioma. Gayer se notabilizou como professor de Inglês antes
de ser eleito deputado por Goiás em 2022.
“É uma mensagem para o
mundo. Olhem o que está acontecendo no Brasil hoje. O que vocês veem aqui são
pessoas lutando por democracia. São pessoas que amam a liberdade e não
desistem. São pessoas dispostas a dar as suas vidas e que nunca vão desistir.
Nós seremos a esperança para o mundo”, disse, em inglês. Gayer é pré-candidato
a prefeito de Goiânia nas eleições deste ano.
Além dele, o deputado
Nikolas Ferreira (PL-MG) também citou o empresário Elon Musk. O presidente da
Comissão de Educação da Câmara pediu palmas para o dono da rede social X.
“Quero deixar um
agradecimento a um homem estrangeiro, Elon Musk, pelo que ele está fazendo. Sei
que isso aqui vai rodar o mundo . E peço para eles uma salva de palmas pela
luta da liberdade do nosso País. Mas o Elon Musk ele tem poder, mas não tem
todo o poder. Continuo colocando a minha esperança, minha confiança naquele que
detém todo o poder e se chama Jesus Cristo”, afirmou.
• Bolsonaro exalta Musk, e ato eleva
ataques a Moraes e Pacheco com retórica sobre trama golpista
O ato em apoio a Jair
Bolsonaro (PL) no Rio de Janeiro neste domingo (21) foi marcado por uma
elevação no tom das críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo
Tribunal Federal), e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
As falas mais duras
foram proferidas por aliados como o pastor Silas Malafaia. O ex-presidente não
citou o nome nem de Moraes nem de Pacheco e optou em seu discurso por exaltar
Elon Musk, dono do X (ex-Twitter), defender anistia aos condenados pelo 8 de janeiro
e retomar a narrativa de que eventual decreto de estado de sítio no país após a
derrota na eleição de 2022 não seria um ato golpista.
"Estado de sítio
é uma proposta que o presidente pode submeter ao Parlamento", declarou,
negando que ele tenha feito uma minuta de golpe.
Em fevereiro,
declaração de Bolsonaro no mesmo sentido foi entendida pela PF como um reforço
à linha de investigação de que houve uma trama de tentativa de golpe de Estado,
pelo fato de ele dar a entender que sabia das minutas.
O ex-presidente não
mencionou sua estadia de dois dias na embaixada da Hungria em Brasília,
revelada pelo jornal The New York Times.
Caso permanecesse
dentro da missão diplomática, Bolsonaro não poderia, em tese, ser alvo de uma
ordem de prisão, por exemplo, por tratar-se de prédio protegido pelas
convenções diplomáticas.
Sobre o 8 de janeiro,
ele falou no ato deste domingo em participantes que agiram como terroristas e
golpistas. Ainda assim, defendeu anistia para os envolvidos no ataque às sedes
dos três Poderes.
"Temos pelo
Brasil orfãos de pais vivos", disse o ex-presidente. "A anistia é
algo que sempre existiu na história do Brasil. Ninguém tentou, por meio de
armas, tomar o poder em Brasília. Aquelas pessoas estavam com a bandeira verde
e amarela nas costas e muitas com uma Bíblia embaixo do braço. Não queiram
condenar um número absurdo de pessoas porque alguns erraram invadindo e
depredando o patrimônio, como se fossem terroristas, como se fossem
golpistas."
Bolsonaro pediu ainda
uma salva de palmas a Musk, que tem atacado Moraes há duas semanas devido ao
bloqueio de contas por ordem judicial.
O ex-presidente voltou
a chamar o dono do X de "mito da Liberdade" e disse "que o
objetivo dele é que o mundo todo seja livre", ignorando o fato de que a
rede social cumpriu centenas de ordens de remoção de conteúdo fora do Brasil
sem acusar censura, em especial em países com governos autoritários de direita,
como Índia e Turquia.
O ex-presidente ainda
conclamou as pessoas a continuarem mobilizadas caso alguém fizesse uma
"covardia" com ele. "Temos que lutar, caso contrário iremos para
o abatedouro como cordeirinhos", afirmou.
Em discurso antes de
Bolsonaro, no mesmo carro de som onde estava o ex-presidente, coube a Malafaia
o discurso mais duro, no qual chamou Moraes de "ditador da toga" e o
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de "frouxo, covarde e omisso"
por não investigar o ministro do STF.
"Eu não vim aqui
atacar aqui o STF. A maioria dos ministros não concordam com o Alexandre de
Moraes. Vocês não podem se calar. Alexandre de Moraes está jogando o STF na
lata do lixo da moralidade", disse.
O pastor atacou também
a imprensa e disse que a consulta de militares para instaurar uma GLO (Garantia
de Lei e Ordem) não seria um ato golpista.
Malafaia ainda
criticou ações da PF contra militares suspeitos de participação nos ataques
golpistas de 8 de janeiro e os atuais comandantes do Exército, Marinha e
Aeronáutica. "Se esses comandantes militares honram a farda que vestem
renunciem dos seus cargos e que nenhum outro comandante assuma até que haja uma
investigação do Senado", afirmou.
Assim como na avenida
Paulista em fevereiro, a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro também fez um
discurso recheado de referências religiosas. Disse que os manifestantes estavam
ali não por um homem ou uma mulher, mas por valores e "pelo reino de Deus
estabelecido na Terra".
Conclamou as mulheres
a fazerem uma "política feminina e não feminista" e iniciou uma
oração.
Ela afirmou ainda que
o país já vive o versículo Lucas 2:12, que diz "Não há nada escondido que
não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido".
O versículo deu nome à
operação da Polícia Federal que investiga um esquema de desvio de joias
recebidas como presentes de autoridades estrangeiras pela Presidência da
República no mandato de Bolsonaro.
Também presentes no
ato, os deputados Gustavo Gayer (PL-GO) e Nikolas Ferreira (PL-MG) usaram suas
falas especialmente para exaltar Musk e falarem de liberdade de expressão.
O tema já havia sido
mencionado por Bolsonaro no vídeo de convocação para o ato.
O Monitor do Debate
Político no Meio Digital, da USP, estimou o público presente no pico da
manifestação, às 12h, em 32.750 pessoas, menos de um quinto presente no auge do
ato pró-Bolsonaro na avenida Paulista (185 mil), e pouco mais da metade do
registrado no ato de Copacabana em 7 de setembro de 2022 (64,6 mil).
Ao longo da
manifestação, o público chegou a ocupar quatro quarteirões da avenida
Atlântica, que passa ao lado da praia de Copacabana, entre as ruas Constante
Campos e Miguel Lemos.
O monitor usa
metodologia que identifica cabeças e conta a quantidade de pessoas em uma
imagem. Para o total da conta, usou fotografias aéreas de modo a cobrir toda a
extensão do evento.
Presente no evento, o
deputado federal Alexandre Ramagem (PL), pré-candidato à prefeitura do Rio, não
discursou e foi mencionado no microfone antes da chegada de Bolsonaro, quando o
presidente do PL Valdemar Costa Neto enumerou os quadros do partido.
Ramagem chegou ao ato
ao lado de Bolsonaro e do governador do Rio, Claudio Castro (PL), que saudou
apoiadores, mas não discursou nem foi anunciado.
Valdemar e o general
Braga Netto falaram rapidamente ao microfone antes da chegada de Bolsonaro. Por
causa das investigações sobre a trama golpista para reverter a eleição de 2022,
eles estão proibidos de encontrar o ex-presidente.
O ato em Copacabana
ocupou mais de três quarteirões lotados da avenida Atlântica, com apoiadores
também na areia da praia. Em fevereiro, o ato em São Paulo ocupou quatro
quarteirões da avenida Paulista.
Da mesma forma que fez
antes da manifestação em São Paulo, no final de fevereiro, Bolsonaro pediu ao
convocar seus correligionários que não levassem bandeiras ou faixas, e foi
atendido. O objetivo era não piorar a situação do ex-presidente nos inquéritos
em que é investigado.
INELEGIBILIDADE
Ao escolher fazer a
demonstração em Copacabana, o ex-presidente voltou ao palco do evento que deu
origem a uma das decisões que o tornaram inelegível o ato do 7 de Setembro de 2022.
Na ocasião, houve uma
solenidade oficial bancada com recursos públicos com oito horas de programação.
Ao lado do palanque do governo foi instalado um carro de som bancado pelo
pastor Silas Malafaia, onde os discursos de campanha foram proferidos. Bolsonaro
foi para esse local quando aviões da Esquadrilha da Fumaça ainda faziam
exibições previstas no ato oficial.
No julgamento do caso,
Moraes classificou o comício como de caráter eleitoral e eleitoreiro e criticou
fortemente o fato de o Exército ter cancelado o tradicional desfile militar no
centro do Rio para engrossar o ato bolsonarista em Copacabana.
O comício em
Copacabana faz parte da série de atos marcados por Bolsonaro para mobilizar a
militância em seu entorno para demonstrar apoio popular em meio às
investigações de que é alvo no STF. Uma delas mira trama para um golpe de
Estado articulada por bolsonaristas após a vitória do presidente Lula (PT) nas
eleições de 2022.
Ø Saiba como foi o ato em defesa de Bolsonaro no Rio
A Praia de Copacabana,
no Rio de Janeiro, foi palco ontem de mais um ato em defesa do ex-presidente
Jair Bolsonaro (PL). Com a recente tensão entre o ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Alexandre de Moraes e o dono do X (antigo Twitter), Elon Musk, o
discurso, de cerca de 40 minutos, foi marcado pela defesa da "liberdade de
expressão".
O empresário se tornou
alvo do inquérito das fake news, relatado no Supremo por Moraes, após chamá-lo
de ditador e afirmar que algumas determinações judiciais brasileiras, sem citar
quais, estariam em desacordo com o Marco Civil da Internet e a Constituição.
Bolsonaro definiu Musk como "um homem que teve a coragem de mostrar para
onde a nossa democracia estava indo". "Quando estive com Elon Musk,
em 2022, começaram a me chamar de 'mito'. Eu disse 'não, aqui, sim, temos um
mito da liberdade: Elon Musk", comentou.
Bolsonaro se defendeu
da acusação de que teria planejado um golpe de Estado para impedir a posse de
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e disse que nunca jogou "fora das quatro
linhas da Constituição", que não elaborou "minuta do golpe" alguma
e que "estado de sítio é proposta que um presidente pode submeter ao
Congresso".
Para o ex-presidente,
o "sistema" não teria gostado do trabalho desenvolvido pelo governo e
"passou a trabalhar contra a liberdade de expressão". Bolsonaro foi
indiciado pela Polícia Federal por fraude em cartões de vacinação e a investigação
aponta que o episódio teria ligação com a tentativa de golpe de Estado em 8 de
janeiro do ano passado, quando manifestantes golpistas atacaram as sedes dos
Três Poderes. Evitando complicar a situação do ex-presidente, a organização do
evento pediu que os participantes não levassem faixas ou cartazes.
O cuidado para não
infringir decisões da Justiça fez o presidente do PL, Valdemar Costa Neto,
discursar antes de Bolsonaro subir ao carro de som. Eles também se hospedaram
em locais diferentes. Moraes proibiu, em fevereiro, que Bolsonaro, o presidente
do PL e outros investigados pela PF por tentativa de golpe de Estado, se
comunicassem. Valdemar afirmou que o Rio é o estado em que o PL é mais forte.
Ao listar os nomes da sigla pelo estado, o senador Romário acabou sendo vaiado.
O ato, que não deixou
de ter um tom eleitoreiro, foi marcado pelos elogios do presidente do PL ao
vereador e filho do ex-presidente Carlos Bolsonaro. "Vocês e Bolsonaro
fizeram do PL o maior partido do Brasil. Agradeço a todos vocês. Deus, pátria,
família e liberdade", declarou.
Valdemar e Bolsonaro
evitaram ataques diretos ao STF e a orientação era que os apoiadores não
levassem nenhuma faixa ou cartaz, buscando não piorar a situação do
ex-presidente com a Justiça. A ideia do PL é que eventos como o de ontem se
repitam em outras cidades até a chegada das eleições municipais, como confirmou
Valdemar. "Não posso ficar com Bolsonaro no palanque. Mas isso vai passar.
Vamos conseguir reverter essa situação em breve. Não tenho problema nenhum com
o Judiciário. Então, eles vão ter que me liberar. Isso atrapalha o andamento do
partido em ano de eleição", lamentou.
·
Malafaia
O pastor Silas
Malafaia, um dos principais organizadores e financiadores das manifestações
pró-Bolsonaro, foi menos cauteloso e distribuiu críticas a Moraes e ao
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em um discurso inflamado. O
pastor da Assembleia de Deus avaliou o documento encontrado na casa de Anderson
Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, de minuta do golpe foi
"safadeza", a "maior fake news da história política do
Brasil" e que teria sido "capitaneada pelo grupo Globo".
O evento contou com
cerca de 32,7 mil pessoas, como apontou o Monitor do Debate Político,
ferramenta da Universidade de São Paulo (USP). A margem de erro é de 12%, para
mais ou para menos. O público ontem equivale a 18% dos 185 mil presentes no ato
anterior, em fevereiro, na Avenida Paulista, em São Paulo — os organizadores,
no entanto, calculam que 1 milhão de pessoas participaram do ato na capital
paulista.
Fonte:
IstoÉ/FolhaPress/Correio Braziliense
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