terça-feira, 23 de abril de 2024

Malafaia chama Moraes de ditador, pede renúncia nas Forças e diz que Pacheco é frouxo

Na manifestação em Copacabana neste domingo, 21, o pastor Silas Malafaia, um dos organizadores do ato em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), adotou uma retórica agressiva contra autoridades da República, referindo-se ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes como um “ditador com modus operandi” e descrevendo o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), como “frouxo, covarde e omisso”.

Durante seu pronunciamento, Malafaia afirmou que os demais ministros do Supremo não estão alinhados com as decisões de Moraes e instou os líderes das Forças Armadas a renunciarem aos seus postos até que uma investigação sobre o STF seja conduzida pelo Senado. No entanto, apesar das declarações do religioso, as decisões de Moraes tendem a ser confirmadas pelo plenário da Suprema Corte.

“Há dois anos, chamo Alexandre de Moraes de ditador da toga. Alexandre de Moraes, quem te colocou como censor da democracia? Quem é você para definir o que um brasileiro pode falar? Todo ditador tem um modus operandi: prende alguns para colocar medo em outros, para que ninguém o confronte”, afirmou Malafaia, acrescentando que o ministro do STF instituiu o “crime de opinião” no País e censurou parlamentares bolsonaristas.

Antes do ato em Copacabana, Malafaia já havia avisado que seu alvo principal seria Moraes. “Meu negócio não é STF, meu negócio é Alexandre de Moraes”, disse ao Estadão. “Vamos mostrar através de fatos o que está acontecendo nesse País.”

        Deputado discursa em inglês para defender liberdade ‘porque Elon Musk está olhando’

O deputado bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO) participou do ato em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, neste domingo, 21, e fez parte do discurso em inglês porque “o Elon Musk está olhando”.

O empresário sul-africano lançou uma campanha de ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que motivou apoiadores de Bolsonaro às vésperas da manifestação.

“Vou mandar um último recado, desta vez para o mundo todo escutar. Vou falar em inglês porque com certeza o Elon Musk está olhando o que está acontecendo aqui agora”, disse, antes de trocar o idioma. Gayer se notabilizou como professor de Inglês antes de ser eleito deputado por Goiás em 2022.

“É uma mensagem para o mundo. Olhem o que está acontecendo no Brasil hoje. O que vocês veem aqui são pessoas lutando por democracia. São pessoas que amam a liberdade e não desistem. São pessoas dispostas a dar as suas vidas e que nunca vão desistir. Nós seremos a esperança para o mundo”, disse, em inglês. Gayer é pré-candidato a prefeito de Goiânia nas eleições deste ano.

Além dele, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) também citou o empresário Elon Musk. O presidente da Comissão de Educação da Câmara pediu palmas para o dono da rede social X.

“Quero deixar um agradecimento a um homem estrangeiro, Elon Musk, pelo que ele está fazendo. Sei que isso aqui vai rodar o mundo . E peço para eles uma salva de palmas pela luta da liberdade do nosso País. Mas o Elon Musk ele tem poder, mas não tem todo o poder. Continuo colocando a minha esperança, minha confiança naquele que detém todo o poder e se chama Jesus Cristo”, afirmou.

        Bolsonaro exalta Musk, e ato eleva ataques a Moraes e Pacheco com retórica sobre trama golpista

O ato em apoio a Jair Bolsonaro (PL) no Rio de Janeiro neste domingo (21) foi marcado por uma elevação no tom das críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

As falas mais duras foram proferidas por aliados como o pastor Silas Malafaia. O ex-presidente não citou o nome nem de Moraes nem de Pacheco e optou em seu discurso por exaltar Elon Musk, dono do X (ex-Twitter), defender anistia aos condenados pelo 8 de janeiro e retomar a narrativa de que eventual decreto de estado de sítio no país após a derrota na eleição de 2022 não seria um ato golpista.

"Estado de sítio é uma proposta que o presidente pode submeter ao Parlamento", declarou, negando que ele tenha feito uma minuta de golpe.

Em fevereiro, declaração de Bolsonaro no mesmo sentido foi entendida pela PF como um reforço à linha de investigação de que houve uma trama de tentativa de golpe de Estado, pelo fato de ele dar a entender que sabia das minutas.

O ex-presidente não mencionou sua estadia de dois dias na embaixada da Hungria em Brasília, revelada pelo jornal The New York Times.

Caso permanecesse dentro da missão diplomática, Bolsonaro não poderia, em tese, ser alvo de uma ordem de prisão, por exemplo, por tratar-se de prédio protegido pelas convenções diplomáticas.

Sobre o 8 de janeiro, ele falou no ato deste domingo em participantes que agiram como terroristas e golpistas. Ainda assim, defendeu anistia para os envolvidos no ataque às sedes dos três Poderes.

"Temos pelo Brasil orfãos de pais vivos", disse o ex-presidente. "A anistia é algo que sempre existiu na história do Brasil. Ninguém tentou, por meio de armas, tomar o poder em Brasília. Aquelas pessoas estavam com a bandeira verde e amarela nas costas e muitas com uma Bíblia embaixo do braço. Não queiram condenar um número absurdo de pessoas porque alguns erraram invadindo e depredando o patrimônio, como se fossem terroristas, como se fossem golpistas."

Bolsonaro pediu ainda uma salva de palmas a Musk, que tem atacado Moraes há duas semanas devido ao bloqueio de contas por ordem judicial.

O ex-presidente voltou a chamar o dono do X de "mito da Liberdade" e disse "que o objetivo dele é que o mundo todo seja livre", ignorando o fato de que a rede social cumpriu centenas de ordens de remoção de conteúdo fora do Brasil sem acusar censura, em especial em países com governos autoritários de direita, como Índia e Turquia.

O ex-presidente ainda conclamou as pessoas a continuarem mobilizadas caso alguém fizesse uma "covardia" com ele. "Temos que lutar, caso contrário iremos para o abatedouro como cordeirinhos", afirmou.

Em discurso antes de Bolsonaro, no mesmo carro de som onde estava o ex-presidente, coube a Malafaia o discurso mais duro, no qual chamou Moraes de "ditador da toga" e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de "frouxo, covarde e omisso" por não investigar o ministro do STF.

"Eu não vim aqui atacar aqui o STF. A maioria dos ministros não concordam com o Alexandre de Moraes. Vocês não podem se calar. Alexandre de Moraes está jogando o STF na lata do lixo da moralidade", disse.

O pastor atacou também a imprensa e disse que a consulta de militares para instaurar uma GLO (Garantia de Lei e Ordem) não seria um ato golpista.

Malafaia ainda criticou ações da PF contra militares suspeitos de participação nos ataques golpistas de 8 de janeiro e os atuais comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica. "Se esses comandantes militares honram a farda que vestem renunciem dos seus cargos e que nenhum outro comandante assuma até que haja uma investigação do Senado", afirmou.

Assim como na avenida Paulista em fevereiro, a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro também fez um discurso recheado de referências religiosas. Disse que os manifestantes estavam ali não por um homem ou uma mulher, mas por valores e "pelo reino de Deus estabelecido na Terra".

Conclamou as mulheres a fazerem uma "política feminina e não feminista" e iniciou uma oração.

Ela afirmou ainda que o país já vive o versículo Lucas 2:12, que diz "Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido".

O versículo deu nome à operação da Polícia Federal que investiga um esquema de desvio de joias recebidas como presentes de autoridades estrangeiras pela Presidência da República no mandato de Bolsonaro.

Também presentes no ato, os deputados Gustavo Gayer (PL-GO) e Nikolas Ferreira (PL-MG) usaram suas falas especialmente para exaltar Musk e falarem de liberdade de expressão.

O tema já havia sido mencionado por Bolsonaro no vídeo de convocação para o ato.

O Monitor do Debate Político no Meio Digital, da USP, estimou o público presente no pico da manifestação, às 12h, em 32.750 pessoas, menos de um quinto presente no auge do ato pró-Bolsonaro na avenida Paulista (185 mil), e pouco mais da metade do registrado no ato de Copacabana em 7 de setembro de 2022 (64,6 mil).

Ao longo da manifestação, o público chegou a ocupar quatro quarteirões da avenida Atlântica, que passa ao lado da praia de Copacabana, entre as ruas Constante Campos e Miguel Lemos.

O monitor usa metodologia que identifica cabeças e conta a quantidade de pessoas em uma imagem. Para o total da conta, usou fotografias aéreas de modo a cobrir toda a extensão do evento.

Presente no evento, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL), pré-candidato à prefeitura do Rio, não discursou e foi mencionado no microfone antes da chegada de Bolsonaro, quando o presidente do PL Valdemar Costa Neto enumerou os quadros do partido.

Ramagem chegou ao ato ao lado de Bolsonaro e do governador do Rio, Claudio Castro (PL), que saudou apoiadores, mas não discursou nem foi anunciado.

Valdemar e o general Braga Netto falaram rapidamente ao microfone antes da chegada de Bolsonaro. Por causa das investigações sobre a trama golpista para reverter a eleição de 2022, eles estão proibidos de encontrar o ex-presidente.

O ato em Copacabana ocupou mais de três quarteirões lotados da avenida Atlântica, com apoiadores também na areia da praia. Em fevereiro, o ato em São Paulo ocupou quatro quarteirões da avenida Paulista.

Da mesma forma que fez antes da manifestação em São Paulo, no final de fevereiro, Bolsonaro pediu ao convocar seus correligionários que não levassem bandeiras ou faixas, e foi atendido. O objetivo era não piorar a situação do ex-presidente nos inquéritos em que é investigado.

INELEGIBILIDADE

Ao escolher fazer a demonstração em Copacabana, o ex-presidente voltou ao palco do evento que deu origem a uma das decisões que o tornaram inelegível o ato do 7 de Setembro de 2022.

Na ocasião, houve uma solenidade oficial bancada com recursos públicos com oito horas de programação. Ao lado do palanque do governo foi instalado um carro de som bancado pelo pastor Silas Malafaia, onde os discursos de campanha foram proferidos. Bolsonaro foi para esse local quando aviões da Esquadrilha da Fumaça ainda faziam exibições previstas no ato oficial.

No julgamento do caso, Moraes classificou o comício como de caráter eleitoral e eleitoreiro e criticou fortemente o fato de o Exército ter cancelado o tradicional desfile militar no centro do Rio para engrossar o ato bolsonarista em Copacabana.

O comício em Copacabana faz parte da série de atos marcados por Bolsonaro para mobilizar a militância em seu entorno para demonstrar apoio popular em meio às investigações de que é alvo no STF. Uma delas mira trama para um golpe de Estado articulada por bolsonaristas após a vitória do presidente Lula (PT) nas eleições de 2022.

 

Ø  Saiba como foi o ato em defesa de Bolsonaro no Rio

 

A Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, foi palco ontem de mais um ato em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Com a recente tensão entre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e o dono do X (antigo Twitter), Elon Musk, o discurso, de cerca de 40 minutos, foi marcado pela defesa da "liberdade de expressão".

O empresário se tornou alvo do inquérito das fake news, relatado no Supremo por Moraes, após chamá-lo de ditador e afirmar que algumas determinações judiciais brasileiras, sem citar quais, estariam em desacordo com o Marco Civil da Internet e a Constituição. Bolsonaro definiu Musk como "um homem que teve a coragem de mostrar para onde a nossa democracia estava indo". "Quando estive com Elon Musk, em 2022, começaram a me chamar de 'mito'. Eu disse 'não, aqui, sim, temos um mito da liberdade: Elon Musk", comentou.

Bolsonaro se defendeu da acusação de que teria planejado um golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e disse que nunca jogou "fora das quatro linhas da Constituição", que não elaborou "minuta do golpe" alguma e que "estado de sítio é proposta que um presidente pode submeter ao Congresso". 

Para o ex-presidente, o "sistema" não teria gostado do trabalho desenvolvido pelo governo e "passou a trabalhar contra a liberdade de expressão". Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal por fraude em cartões de vacinação e a investigação aponta que o episódio teria ligação com a tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro do ano passado, quando manifestantes golpistas atacaram as sedes dos Três Poderes. Evitando complicar a situação do ex-presidente, a organização do evento pediu que os participantes não levassem faixas ou cartazes.

O cuidado para não infringir decisões da Justiça fez o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, discursar antes de Bolsonaro subir ao carro de som. Eles também se hospedaram em locais diferentes. Moraes proibiu, em fevereiro, que Bolsonaro, o presidente do PL e outros investigados pela PF por tentativa de golpe de Estado, se comunicassem. Valdemar afirmou que o Rio é o estado em que o PL é mais forte. Ao listar os nomes da sigla pelo estado, o senador Romário acabou sendo vaiado.

O ato, que não deixou de ter um tom eleitoreiro, foi marcado pelos elogios do presidente do PL ao vereador e filho do ex-presidente Carlos Bolsonaro. "Vocês e Bolsonaro fizeram do PL o maior partido do Brasil. Agradeço a todos vocês. Deus, pátria, família e liberdade", declarou.

Valdemar e Bolsonaro evitaram ataques diretos ao STF e a orientação era que os apoiadores não levassem nenhuma faixa ou cartaz, buscando não piorar a situação do ex-presidente com a Justiça. A ideia do PL é que eventos como o de ontem se repitam em outras cidades até a chegada das eleições municipais, como confirmou Valdemar. "Não posso ficar com Bolsonaro no palanque. Mas isso vai passar. Vamos conseguir reverter essa situação em breve. Não tenho problema nenhum com o Judiciário. Então, eles vão ter que me liberar. Isso atrapalha o andamento do partido em ano de eleição", lamentou.

·        Malafaia

O pastor Silas Malafaia, um dos principais organizadores e financiadores das manifestações pró-Bolsonaro, foi menos cauteloso e distribuiu críticas a Moraes e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em um discurso inflamado. O pastor da Assembleia de Deus avaliou o documento encontrado na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, de minuta do golpe foi "safadeza", a "maior fake news da história política do Brasil" e que teria sido "capitaneada pelo grupo Globo".

O evento contou com cerca de 32,7 mil pessoas, como apontou o Monitor do Debate Político, ferramenta da Universidade de São Paulo (USP). A margem de erro é de 12%, para mais ou para menos. O público ontem equivale a 18% dos 185 mil presentes no ato anterior, em fevereiro, na Avenida Paulista, em São Paulo — os organizadores, no entanto, calculam que 1 milhão de pessoas participaram do ato na capital paulista.

 

Fonte: IstoÉ/FolhaPress/Correio Braziliense

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