quinta-feira, 4 de abril de 2024

Casca da jabuticaba reduz inflamação e glicemia em quem tem síndrome metabólica

Geralmente descartada por seu sabor adstringente, de “amarrar a boca”, a casca da jabuticaba pode ser uma excelente aliada no tratamento da obesidade e da síndrome metabólica, sugere estudo publicado na revista Nutrition Research.

Conduzida por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pesquisa mostrou que o consumo diário de pelo menos 15 gramas da casca da fruta melhorou, ao longo de cinco semanas, os níveis de inflamação e de glicose no sangue de indivíduos com síndrome metabólica e obesidade.

“Os compostos fenólicos e as fibras presentes na casca da jabuticaba têm o poder de modular o metabolismo da glicose. Já tínhamos observado esse efeito em estudos anteriores. Neste trabalho, no entanto, avaliamos o consumo prolongado e descobrimos que esse efeito na glicose se dá inclusive no período posterior à refeição, ou seja, na glicemia pós-prandial”, afirma Mário Roberto Maróstica Junior, professor da Unicamp e coordenador da investigação.

Segundo o pesquisador, mesmo em indivíduos saudáveis a glicemia costuma aumentar após as refeições, voltando depois aos níveis normais. “Portanto, algo que possa baixar a glicemia após uma refeição é interessante, pois faz com que o sujeito tenha níveis controlados de açúcar no sangue ao longo do tempo, o que resulta em uma vida mais saudável e parâmetros mais controlados”, explica.

O trabalho, apoiado pela FAPESP por meio de três projetos (22/09493-9, 19/12244-8 e 21/02271-8), envolveu 49 participantes com síndrome metabólica e obesidade. Parte recebeu um suplemento diário com 15 gramas de casca de jabuticaba por cinco semanas, e os demais, apenas placebo. Todos foram submetidos a exames de sangue para monitoramento da glicemia. Também foram avaliadas as medidas antropométricas, como peso corporal e circunferência abdominal, além de pressão arterial e parâmetros inflamatórios, como a proteína interleucina-6, considerada um marcador de inflamação relacionada à obesidade.

“O estudo apontou resultados positivos em relação à diminuição da glicemia pós-prandial e níveis de inflamação no grupo que recebeu o suplemento. Mas vale ressaltar que a casca da jabuticaba não faz milagre, ela é apenas uma excelente maneira de auxiliar a modulação da glicemia. Isso quer dizer que a estratégia precisa vir acompanhada de outras medidas, como boa alimentação e exercício físico”, destaca o pesquisador à Agência FAPESP.

Compostos bioativos

Entre os compostos fenólicos presentes na casca da jabuticaba estão as antocianinas, que, além de conferirem a cor arroxeada à jabuticaba e a outras frutas, interferem no metabolismo da glicose, estimulando, sobretudo, as células L-intestinais. “Quando essas substâncias chegam ao intestino, entram em contato com as células L, responsáveis pela liberação de um composto chamado GLP-1 (glucagon-like peptide-1), que estimula a liberação de insulina na célula pancreática”, diz.

O pesquisador ressalta que é a insulina liberada no pâncreas que melhora a utilização da glicose. “Essa é uma das funções da insulina: chegando às células musculares – que são grandes captadoras de glicose – ela realiza uma cascata de sinalização que favorece o transporte da glicose para dentro da célula”, conta.

A síndrome metabólica é um conjunto de alterações metabólicas e hormonais que eleva o risco do indivíduo de desenvolver doenças cardiovasculares. Ela é caracterizada por pressão alta, obesidade abdominal, nível elevado de açúcar no sangue (hiperglicemia) e níveis anormais de triglicerídeos e HDL-colesterol. No estudo, os 49 participantes com síndrome metabólica apresentavam pelo menos três desses cinco fatores.

O pesquisador ressalta ainda que a obesidade em geral está associada com níveis mais elevados de moléculas pró-inflamatórias. “É como se a pessoa tivesse uma inflamação constante e isso prejudica toda a ação da insulina. Por isso que, em geral, pessoas com sobrepeso e obesidade têm também resistência à insulina. Nesses casos, geralmente, apesar de a insulina ser produzida, ela não atua”, diz.

Geralmente esse desbalanço nos níveis de glicose (que leva ao diabetes do tipo 2) pode ser corrigido com medicamentos ou a adoção de hábitos saudáveis e a perda de peso. “A casca da jabuticaba atua também reduzindo a interleucina -6, que tem papel-chave no desenvolvimento de resistência insulínica e contribui para a inflamação do tecido adiposo. Ela tem, portanto, um efeito positivo não só na glicose pré-prandial, mas também reduz os níveis de inflamação, o que a torna uma aliada para os casos de síndrome metabólica”, diz.

O problema, segundo o pesquisador, é que ninguém quer comer a casca da jabuticaba por ela ser muito adstringente. “Mas isso pode ser contornado com o consumo de extratos e suplementos com a casca da fruta já disponíveis no mercado”, completa.

 

       Síndrome metabólica grave aumenta o risco de desenvolver câncer, diz estudo

 

Um estudo publicado na segunda-feira (11) mostrou que pessoas que possuem síndrome metabólica persistente e grave podem ter um maior risco de desenvolver vários tipos de câncer. As descobertas foram publicadas no jornal científico CANCER, da American Cancer Society.

De acordo com a SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), a síndrome metabólica é um conjunto de doenças caracterizadas pela resistência à insulina. A condição ocorre quando um paciente apresenta três dos cinco critérios abaixo:

•        Obesidade central: circunferência da cintura superior a 88 cm na mulher e 102 cm no homem;

•        Hipertensão arterial;

•        Glicemia alterada ou diagnóstico de diabetes;

•        Triglicerídeos a 150 mg/dL;

•        Colesterol HDL a 40 mg/dL em homens e 50 mg/dL em mulheres.

>>>> Como o estudo foi feito?

Para o novo estudo, pesquisadores acompanharam 44.115 adultos na China entre 2010 e 2021. Os participantes tinham uma idade média de 49 anos e foram categorizados em quatro padrões de trajetórias e pontuações (ou escores) diferentes para síndrome metabólica:

•        10,56% exibiram um padrão baixo-estável e mantiveram uma pontuação baixa para síndrome metabólica;

•        40,84% apresentaram padrão moderado-baixo e mantiveram pontuações moderadas a baixas para síndrome metabólica;

•        41,46% exibiram um padrão moderado-alto e mantiveram escores moderados a altos para síndrome metabólica;

•        7,14% apresentaram um padrão alto, no qual os escores para síndrome metabólica eram elevados e foram aumentando ao longo do tempo.

Durante o período de acompanhamentos, 2.271 participantes foram diagnosticados com câncer. Segundo o estudo, as pessoas que apresentavam um padrão alto para síndrome metabólica tinham um risco 1,3 vezes maior para desenvolver qualquer tipo de câncer, em comparação com o grupo que apresentavam um padrão baixo-estável para a síndrome.

Em relação ao câncer de mama, o risco foi 2,1 vezes maior; para o câncer de endométrio, o risco foi 3,3 vezes maior; para o câncer renal, o risco foi 4,5 vezes maior; para o câncer colorretal, o risco foi 2,5 vezes maior, e para o câncer de fígado, o risco foi 1,6 vezes maior.

Ainda de acordo com o estudo, os participantes categorizados no padrão de trajetória alto apresentaram riscos mais elevados de desenvolver todos os tipos de câncer mesmo em comparação com os outros três grupos de participantes juntos.

Além disso, segundo a pesquisa, pessoas que apresentavam síndrome metabólica grave e inflamação crônica, ao mesmo tempo, apresentaram riscos mais altos de desenvolver câncer de mama, endométrio, cólon e fígado. Já o risco de câncer renal foi predominante entre os participantes com pontuações altas para síndrome metabólica, mas sem inflamação crônica.

“A pesquisa sugere que o manejo proativo e contínuo da síndrome metabólica pode servir como uma estratégia essencial na prevenção do câncer”, disse o autor sênior Han-Ping Shi, da Capital Medical University, em Pequim. “Nosso estudo pode orientar pesquisas futuras sobre os mecanismos biológicos que ligam a síndrome metabólica ao câncer, resultando potencialmente em tratamentos direcionados ou estratégias preventivas. Será necessária uma avaliação formal destas intervenções para determinar se são capazes de modular o risco de câncer.”

 

Fonte: CNN Brasil

 

Nenhum comentário: