segunda-feira, 22 de abril de 2024

A importância das cidades resilientes para se lidar com as tragédias climáticas

As águas de março fecharam o verão. Porém, o outono iniciou-se com chuvas em diversas regiões do país, sendo que algumas já com problemas bastante significativos. É importante lembrar que, como de costume, no ano que vem, o período de chuvas abundantes retornará. Pensar em obras estruturantes neste momento de estiagem é fundamental para minimizar e, quiçá, evitar futuras tragédias climáticas. Nesse sentido, vem ganhando cada vez mais espaço o debate sobre cidades inteligentes e resilientes. A discussão soma muito, porém, o problema vai muito além de focar no tema somente quando as tragédias estão acontecendo.

Somente em 2023, por exemplo, foram mais de mil desastres causados pelas chuvas no país, somando 132 mortes, 9.263 pessoas feridas ou enfermas e 74 mil desabrigadas. Os dados foram levantados pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Além disso, devido a esses desastres, foram gastos cerca de R$25 bilhões em recuperação de áreas públicas e privadas.

Os dados estão por todas as partes, e os relatos também. O problema das chuvas, infelizmente, já entrou no calendário brasileiro. Sabendo que, de dezembro a março, pessoas vão sofrer e morrer com esse tipo de impasse, muito pouco no sentido de engenharia de infraestrutura tem sido feito para erradicar o problema. Não adianta colocar a culpa nas pessoas que moram em áreas de risco, pois o imbróglio é muito maior e respinga nos planos diretores de cada município.

Então, o que fazer? Implementar políticas públicas efetivas é o primeiro passo. Mas, do ponto de vista de engenharia, é preciso inovar os aparatos técnicos para que se possa ter resultados mais efetivos na implementação dessas tecnologias. Apenas dessa forma será possível analisar qualitativa e quantitativamente os riscos geológicos, geotécnicos e hidrológicos de cada região do país e, para além disso, tomar medidas definitivas de redução de riscos. 

Nesse sentido, a engenharia tem papel fundamental ao implementar projetos e obras de drenagem e de redução de risco (contenções), além de adotar sistemas de monitoramento remoto e automatizado com alerta automático nos casos de risco iminente de deslizamento de terra ou enchentes. Também é sua tarefa traçar planos de evacuação definidos com a população treinada, aumentando, assim, a segurança das pessoas, bem como a qualidade de vida de quem sofre ano após ano com as chuvas. Quando pensamos em cidades resilientes, estamos falando exatamente dessas mudanças estruturais e estruturantes, aplicando o conhecimento e as tecnologias para proteger as pessoas antes que os eventos climáticos e as tragédias sejam irreversíveis.

O caminho é longo, mas, quando já sabemos o que fazer, o próximo passo é implementar, fazer os projetos e as obras, botar a mão na massa. Não podemos ficar reféns de um problema que já sabemos que irá acontecer. Nas próximas chuvas de verão, sonho que nenhuma pessoa mais será vítima dessas catástrofes.


O que são as Cidades Resilientes?


As últimas décadas foram marcadas por grandes mudanças que impactaram muito a vida das pessoas, uma delas foi o deslocamento da população das áreas rurais para as regiões urbanas. De acordo com a ONU-HABITAT, mais de 70% da população mundial viverá em cidades até 2050, logo o número de habitantes nas cidades promete aumentar consideravelmente nas próximas décadas. 

A dúvida é: como as cidades podem se preparar para esse cenário?

Algumas cidades já estão ficando sem espaço e trabalham no desenvolvimento de projetos que permita a elas “crescerem” para cima, como é o caso de Estocolmo. Porém, a maioria não está pensando nisso ainda, então como elas vão suportar mais moradores em um futuro nem tão distante?

Assim como as pessoas, as cidades precisam ter resiliência. Se você ainda não sabe o que são e as cidades resilientes, esse artigo veio para te ajudar. Vamos lá! 

Cidades Resilientes: O que são?

As cidades resilientes são cidades que possuem a capacidade de se adaptar para prever desastres naturais e trabalham se preparando para lidar com eles, absorvendo o conhecimento do que houve no passado e criando planos de ação que possam ser usados no futuro.

Ou seja, são cidades que conseguem retornar a sua forma natural após passar por situações drásticas. Quanto mais pessoas uma cidade receber sem estar preparada para ter resiliência, mais vulnerável essa população estará.

Por isso, além de trabalharem para minimizar o impacto dos desastres naturais, as cidades resilientes fornecem para os habitantes residências adequadas e regulares, que seguem os padrões e normas de segurança. O local dessas construções é escolhido para correr os menores riscos, por essa razão, as casas não ficam próximas a planícies, onde possam ocorrer inundações, nem a encostas íngremes, que podem acontecer deslizamentos de terra.

Os governos locais trabalham de forma competente e transparente, se preocupando com o desenvolvimento sustentável na região. Além disso, esses governos investem em tecnologia para o monitoramento dos desastres naturais e no planejamento para antecipar e amenizar os danos causados por eles.

Já a população se sente empoderada, pois vê que há pessoas se preocupando com o os seus interesses e participa das tomadas de decisão do setor público. 

O mais importante dentro do ambiente das cidades resilientes é que todos tenham qualidade de vida e segurança, a parceria entre o cidadão e gestão pública é crucial para que esse resultado seja alcançado.

Os 10 passos essenciais para uma Cidade Resiliente

O Escritório das Nações Unidas para Redução de Risco de Desastres (UNISDR) lançou em 2010 a campanha Construindo Cidades Resilientes: Minha Cidade Está se Preparando! para engajar e conscientizar os gestores públicos sobre a importância da resiliência nas cidades.

>>>> De acordo com a campanha, os dez passos essenciais para uma cidade resiliente são:

1)  Praticar ações de organização e coordenação para compreender e aplicar ferramentas de redução de riscos de desastres, com base na participação de grupos de cidadãos e da sociedade civil e na construção de alianças locais. Assegure que todos os departamentos compreendam o seu papel na redução de risco de desastres e preparação;

2) Atribua um orçamento para a redução de riscos de desastres e forneça incentivos para proprietários em áreas de risco, famílias de baixa renda, comunidades, empresas e setor público para investir na redução dos riscos que enfrentam;

3) Mantenha os dados sobre os riscos e vulnerabilidades atualizados. Prepare as avaliações de risco para usá-las como base para planos de desenvolvimento urbano e tomadas de decisão. Certifique-se de que essa informação e os planos para a resiliência da cidade estejam prontamente disponíveis ao público e totalmente discutidos com eles;

4) Invista em manter uma infraestrutura para redução de risco, com enfoque estrutural, e, conforme necessário, invista também em ações que auxiliem na adaptação às mudanças climáticas; 

5) Avalie a segurança de todas as escolas e centros de saúde e atualizar tais avaliações conforme necessário; 

6) Aplique e imponha regulamentos realistas, compatíveis com o risco de construção e princípios de planejamento do uso do solo. É importante identificar quais são as áreas seguras para cidadãos de baixa renda e trabalhar na urbanização de assentamentos informais;

7) Certifique-se de que programas de educação e treinamento sobre a redução de riscos de desastres estejam em vigor nas escolas e comunidades;

8) Proteja os ecossistemas e barreiras naturais para evitar inundações, tempestades e outros perigos a que a cidade seja vulnerável. A adaptação às mudanças climáticas pode acontecer por meio da construção de boas práticas de redução de risco;

9) Instale sistemas de alerta e alarme, e capacidades de gestão de emergências em seu município. Realizar regularmente exercícios públicos de preparação também é uma boa prática; 

10) Após quaisquer desastres, assegurar que as necessidades dos sobreviventes estejam no centro da reconstrução, por meio do apoio direto e por organizações comunitárias, de modo a projetar e ajudar a implementar ações de resposta e recuperação, incluindo a reconstrução de casas e de meios de subsistência.

Ser resiliente é uma necessidade para todas as cidades, principalmente das que já estão grandes demais. A melhor forma de se preparar para o aumento populacional de 2050 é trabalhando para se ter uma cidade resiliente.  

 

Fonte: Por Luciano Machado, em Le Monde/Colab


 

Nenhum comentário: