Matías Ferrari: Quanto tempo durará a lua de mel de Javier Milei?
Na Casa Rosada, há o reconhecimento de
que se aproximam “meses difíceis”, que serão vistos nos números de aceitação da
gestão e da figura presidencial. Nesta última, tem como base a tática de
se queimar os navios na largada. Para uma ala do governo libertário, abril
e maio podem ser meses cruciais.
Os meses de abril e maio estão marcados de vermelho
no calendário do Governo. Pelo cálculo feito por um setor do gabinete,
nesta época do ano os efeitos negativos sobre os bolsos trazidos
pela combinação do ajuste brutal e da desvalorização anunciada nas
primeiras semanas de governo deveriam começar a ser revertidos. “Entre
abril e maio a economia deverá começar a se recuperar, tendo deixado o pior
para trás”, especulam na Casa Rosada. Ou seja, nessas datas deverá ocorrer a
famosa “recuperação” da economia, na qual apostam, acrescentando uma suposta
estabilidade em questões inflacionárias. A imagem presidencial, entendem,
estará em grande parte ligada a esse destino, e pelo menos numa ala da Casa
Rosada não deixam de olhar com desconfiança para a possibilidade de uma
ruptura abrupta da lua-de-mel caso as coisas não corram como
previsto. “Temos que estar atentos à forma de sustentar o apoio popular
com que começamos, até que se percebam os primeiros sinais de melhoria”,
afirmam.
Segundo as sondagens que chegam a Rosada, o
presidente ainda mantém os números de aprovação com que iniciou a
gestão. Em todo o caso, pelo menos um setor do governo pede “humildade” e
dá como exemplo o colapso da imagem positiva que Alberto Fernández
sofreu. Principalmente, receiam o calor dos efeitos negativos que a
motosserra terá sobre a classe média e os setores populares. “Temos alguns
meses muito maus pela frente”, reconhecem, e asseguram que o Governo terá de
trabalhar para sustentar a imagem presidencial até que a economia recupere e a
inflação baixe a partir de abril e maio”, insistem.
Em outro setor da administração libertária, também
estavam de olho no que chamam de um “verão quente”, em referência a
mobilizações de rua como a que a CGT liderará durante a greve geral convocada
para 24 de janeiro. Este grupo dentro do governo está empenhado em
construir um diálogo que permita negociações com os atores sociais e políticos
da oposição, o que teria para Milei o benefício de arrefecer as ruas e não
adicionar mais lenha ao fogo da crise econômica. Neste contexto, admitem
que declarações do presidente, como aquelas em que acusou os legisladores da
oposição de “quererem cobrar subornos” não ajudam a construir
pontes. “Isso gerou raiva”, reconhecem.
Além dos números que a Casa Rosada administra
-alguns dão a Milei uma imagem 75% positiva-, outras pesquisas publicadas no
final do ano, como a de Zuban e Córdoba, mostram uma queda sistemática no
apoio popular ao presidente. De acordo com essa pesquisa, Milei sofre
um declínio diário que o levou a ter uma imagem negativa de 55% após 20
dias de governo. As causas da deterioração vão desde as consequências das
primeiras medidas econômicas até a subjugação das instituições democráticas que
levaram ao decreto 70/23, que varreu os direitos laborais e do consumidor, e a
“Lei Ônibus” que o Congresso começa a discutir esta semana. Segundo os
autores do relatório, será “a perda de diferencial positivo mais acelerada que
já registamos”. “Ousamos até dizer que é provavelmente a mais acelerada de
toda a história da região. Nunca se viu uma queda tão pronunciada em tão pouco
tempo”, acrescentaram. Esta
posição é compartilhada por vários pesquisadores.
·
Avançando antes da tempestade
Neste contexto, o governo não parece disposto a
recuar em nenhuma das medidas que geram maior resistência. A mensagem que
se ouve é que será “tudo ou
nada”. A ideia de Milei é clara: os pacotes tinham que ser enviados
todos juntos antes que as quedas dos quadros econômicos impactem a imagem
presidencial e percam o consenso.
Segundo fontes da Casa Rosada, o apoio que
acreditam ter as medidas do DNU baseia-se no seu caráter
“anti-corporativo”. Em todo o caso, admitem que nem todas têm os mesmos
graus de consenso, razão pela qual muitas medidas foram mesmo adiadas para uma
segunda fase. O próprio Federico Sturzenegger – neste momento um
ministro sem pasta – avançou algo neste sentido, quando disse que em breve
haverá novos DNUs. Especula-se que alguns conteriam artigos com as medidas
contidas na Mega-Lei que não passam pelo filtro do Congresso.
“O presidente quer que todo o pacote seja aprovado
porque expressa a direção que quer dar à sua administração”, repetem na Rosada
e insistem que “tudo foi enviado de uma vez para dar um sinal claro de onde
acreditamos que o governo tem ir, e pela situação de emergência em que nos
encontramos.”
No governo, insistem que há medidas “que nos dão
uma imagem 75% positiva do presidente”, semelhante à que Alberto Fernández
tinha no início do seu mandato. Os principais responsáveis por apoiá-lo são o chamado Grupo Marlboro, que inclui
o conselheiro estrela Santiago Caputo,
mas também a irmã do presidente, Karina Milei. Resta saber se estes números sobreviverão ao turbilhão social de cortes com recessão que o próprio governo admite que chegará.
Ø COMEÇOU
CEDO: Porta-voz posta “passagens pagas por Milei”, mas erro crasso indica
“fraude”
Com uma de suas bravatas de campanha o novo
presidente argentino, Javier Milei, se meteu numa enrascada sozinho e gerou o
primeiro escândalo de mentiras em apenas três semanas na cadeira. Sempre com um
discurso austero e demagógico, ele passou anos dizendo que não usaria de
dinheiro do Estado se chegasse à presidência, e foi o que alegou, sem ninguém
perguntar nada, quando viajou para Mar del Plata, na sexta-feira (29), para
assistir à estreia de um espetáculo de sua namorada, a humorista Fátima Florez.
Milei chegou acompanhado de mais de 100
guarda-costas, com veículos blindados, e se hospedou num hotel de luxo da
cidade litorânea, mas fez questão de propagar a história que ele e sua irmã,
Karina Milei, que é secretária-geral da Presidência, voaram para lá pagando as
passagens aéreas do próprio bolso. Inclusive, na noite de ontem (30), seu
porta-voz divulgou os prints com a tal compra. Só que a mentira tem perna
curta.
Nas imagens disponibilizadas pelo “vocero”,
como é chamado o cargo de porta-voz em língua espanhola, a agência em que os
bilhetes foram comprados é a ‘Optar’, uma empresa estatal que não vende
passagens a pessoas físicas nem jurídicas de nenhum tipo. Ela tem como cliente
exclusivo o governo argentino, que é o único no sistema que pode efetuar a
compra, faturação e emissão de passagens.
Não há nenhum problema em Milei realizar uma agenda
privada sendo presidente da nação e ter os custos bancados pelo Estado. É
absolutamente legal e normal, mas sua sanha de usar um verniz moralista pode
custar caro à sua imagem. Desde que a história de “arcar com os custos” da ida
a Mar del Plata começou, peronistas, jornalistas e outros analistas políticos
já estavam achando tudo muito estranho, uma vez que fontes internadas do
governo, sob anonimato, já tinham dito que a compra tinha sido realizada da forma
habitual, com o valor sendo pago pelos cofres públicos. “Foi um exagero
desnecessário”, disse uma fonte peronista à imprensa argentina.
Funcionários que já trabalharam com o sistema de
emissão de passagens compradas pela estatal ‘Optar’ também confirmaram, sem se
identificarem, que é impossível efetuar uma compra no sistema da empresa
pagando com recursos de uma pessoa física, o que endossa que os prints
divulgados são uma fraude.
Ø Maduro
afirma que Venezuela tentará ingressar no Brics em 2024 no lugar da Argentina
Ao destacar a importância
do Brics para "o futuro da humanidade", o presidente da
Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou que tentará incorporar seu país como membro
permanente do bloco durante a cúpula da Rússia, que será realizada em outubro
deste ano.
As declarações foram dadas durante uma entrevista
concedida ao jornalista espanhol Ignacio Ramonet, nesta segunda-feira (01/01),
publicada pelo diário mexicano La Jornada, após o presidente
ultradireitista da Argentina, Javier Milei, ter recusado o convite para aderir
ao grupo.
O mandatário venezuelano indicou que seu país
“aposta” no organismo “como parte desse novo mundo, do novo equilíbrio, do
conceito geopolítico bolivariano de um mundo de equilíbrio, um mundo de
iguais”. Além disso, enfatizou o papel da humanidade “para o desenvolvimento
dos investimentos do Brics na Venezuela, de grandes mercados para os produtos
venezuelanos e das relações diversificadas culturalmente, politicamente,
institucionalmente, socialmente”.
Ao mencionar as cinco nações que fazem parte do
bloco econômico — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — o presidente
do país bolivariano afirmou que o grupo “já é uma potência econômica
definitiva”.
Ele ainda reforçou seu "bom
relacionamento" com os países-membros, chegando a mencionar um encontro
que teve com Dilma Rousseff, atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento
(NBD), em setembro de 2023, em Xangai, e também ao citar que seu país já foi
aceito como parceiro, em agosto, durante uma reunião na África do Sul, deixando
claro que a Venezuela quer se integrar ao bloco.
"E espero que, na próxima cúpula russa [...] a
Venezuela se junte ao Brics+ como membro permanente", declarou.
·
'Milei age contra os argentinos'
Maduro também criticou a renúncia
do presidente argentino, Javier Milei, à adesão do bloco.
“Ao retirar a Argentina do Brics você está agindo
contra os argentinos, contra o trabalhador argentino, contra o empresário
argentino”, declarou o venezuelano, ao classificar a decisão do novo chefe de
Estado um retrocesso e “uma das coisas mais desajeitadas e imbecis”.
Maduro deu fortes declarações em relação ao que
denominou de “projeto Milei”, afirmando ser “uma construção” para tirar a
Argentina “do mundo multipolar” e “transformá-lo em um vassalo do mundo
imperial unipolar”.
No primeiro dia de 2024, cinco novos países
aderiram ao Brics: Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes
Unidos. O bloco também chamou a Argentina, mas o mandatário ultradireitista
recusou o convite uma vez que pretende fortalecer as relações de Buenos Aires
com os países do Ocidente, pelo que especialistas avaliam como um “olhar
geopoliticamente elitista”.
Javier Milei também declarou, por meio de uma carta
enviada aos dirigentes do bloco, que a incorporação no Brics “não é adequada”
pois “a marca da política externa” do atual governo “difere em muitos casos do
governo anterior”.
Fonte: Página 12/Fórum/La Jornada/Opera Mundi
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