terça-feira, 2 de abril de 2024

Vinho incentiva turismo e impulsiona economia na Chapada Diamantina

A frutífera produção vinícola na Chapada Diamantina tem estimulado o surgimento de diversos projetos enogastronômicos e enoturísticos que, somados aos encantos naturais da região, promovem o turismo e impulsionam a economia local. Nesse paraíso de 150 mil hectares de montanhas, vales, cânions, cachoeiras e trilhas se encontra um novo e crescente polo de vinícolas, como a Vaz, a Reconvexo e a UVVA, que vêm protagonizando estratégias visando avançar, cada vez mais, o mercado da uva e do vinho na Bahia.

O crescimento do número de visitantes nas vinícolas é reflexo de iniciativas a exemplo da Rota Enogastronômica Sensorial de Morro do Chapéu. Trata-se de um roteiro turístico viabilizado por meio de uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Morro de Chapéu, o Governo do Estado e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que reúne empresários e produtores locais de vinhos, queijos, embutidos, cervejas, orgânicos, cafés e óleos essenciais. Segundo o sócio da Vinícola Reconvexo, Rafael Bezerra de Araújo, esse projeto tem contribuído para a chegada de novos restaurantes e hotéis no município, visando atender à crescente demanda turística.

As vinícolas da região têm seus atrativos à parte. A Reconvexo, por exemplo, oferece a opção enogastronômica em parceria com o Chef Lino, em seu Wine Garden, com restaurante e opções para almoço. “Oferecemos, também, a opção enoturística, com equipe constantemente desenvolvida para acolhimento, realização de tour e degustação de nossos vinhos de forma guiada ou serviço de vinho. Desde o seu primeiro plantio, em 2019, a Reconvexo busca contribuir com o crescimento da enogastronomia e do enoturismo”, destaca Rafael.

Desse modo, a Reconvexo, localizada em Morro do Chapéu, passou a oferecer serviços e produtos artesanais, como tour com degustação de vinhos; degustação de vinhos guiada; consumação no Wine Garden dos vinhos, acompanhados de tábuas de queijos e frios; restaurante aos finais de semana e feriados; e hospedagem. “Oferecemos, ainda, o curso gratuito ‘Introdução à viticultura e enologia’, que tem como público-alvo as comunidades de Morro do Chapéu. A proposta é desenvolver e apresentar o mercado da uva e do vinho e despertar as pessoas para esse universo”, acrescenta o sócio da vinícola, que recebe uma média de 600 visitantes mensais.

A Associação Empresarial do Agroturismo de Morro do Chapéu (Agrotur), criada há dois anos, vem cumprindo o papel de “difundir essas possibilidades turísticas que envolvem a Rota Enogastronômica Sensorial, alinhando padrão de atendimento e serviços”, como destaca Rafael, que integra a diretoria da entidade presidida por Jairo Vaz, dono da Vinícola Vaz, também em Morro do Chapéu. Para atrair visitantes, a melhor estratégia encontrada pelo proprietário da Vaz foi apresentar ao público o dia a dia da atividade vitivinícola. “Abrimos a nossa vinícola com entrada franca para aqueles que desejam apenas conhecer, como também para os que desejam uma experiência mais intensa”.

Como atração máxima, a Vinícola Vaz criou a Festa da Vindima, que acontece duas vezes por ano: no Carnaval e em agosto. “É uma oportunidade de desfrutar do ambiente da Vindima com a colheita, a pisa das uvas e o início do processo de vinificação. Tudo isso regado a muito vinho, espumantes, gastronomia e música, sendo que, este ano, inovamos com a pisa da uva ao ritmo do forró nordestino”, relata Jairo Vaz.

·        Visitas e degustações

O empresário conta que a Vaz nasceu com o desafio de produzir vinhos e espumantes na Chapada Diamantina para compartilhar as experiências do prazer que a vida no campo proporciona por meio da vitivinicultura. Foi com este propósito que concebeu o projeto Enoturístico da Vinícola, permitindo os visitantes conhecerem e participarem das atividades vitícolas, com visitas guiadas e degustações de vinhos harmonizado com queijos, embutidos e frutas da região.

“No mundo do vinho se diz que é muito fácil se implantar uma vinícola, basta escolher bem as cepas e plantá-las e que o difícil são só os 200 primeiros anos”, brinca o proprietário da Vaz que, no ano passado, contabilizou uma média de 1.200 visitantes mensais. “Estamos ampliando a nossa capacidade de produção e implantando uma nova atração turística, com chalés de charme em forma de barricas e pipas, dentro da proposta de uma hospedagem temática e muito romântica, em meio aos nossos vinhedos”, destaca. Ele adianta que estão previstos, ainda este ano, a abertura de um restaurante/bistrô e o lançamento, em 2025, do Condomínio Vitivinícola, bem como um hotel com 24 apartamentos.

Já a Vinícola UVVA, criada em 2012, vem buscando introduzir um novo nível de turismo e gastronomia no mundo dos vinhos, visando “usufruir da oportunidade de apresentar um novo terroir”, conforme o CEO da empresa, Fabiano Borré. “Entendemos que a nossa função com o enoturismo é agregar conhecimento e entusiasmo aos visitantes, abrindo mão dos tours tradicionais e nos dedicando a fazer uma entrega mais profunda, que, de fato, conecte as pessoas com o vinho; com a região e com nossos sonhos para este novo terroir”, considera. A gastronomia, completa o representante da UVVA, está presente na vinícola através das degustações harmonizadas nos tours e no Restaurante Arenito, a cargo do chef André Chequer, cuja proposta é unir a culinária contemporânea e leituras locais.

Nesses dois anos abertos ao público, a UVVA alcançou a marca de 15 mil visitantes e já teve seus 12 rótulos de vinho (tintos, brancos e espumantes) agraciados com 26 premiações, entre nacionais e internacionais. “Quem visita a região de Mucugê tem na nossa vinícola a oportunidade de uma experiência que só acontece aqui, que é a junção de natureza, paisagem exuberante, arquitetura, gastronomia e, claro, nossos vinhos”, ressalta Borré. A empresa oferece três modalidades de tours, que variam em tempo de duração e o nível de profundidade que o visitante pretende usufruir, todos conduzidos pelos enólogos da equipe”. Outros dois atrativos são a exposição de arte do artista Marcos Zacariades e as programações da Vindima, que acontecem em datas específicas de junho e julho, incluindo gastronomia, colheita e processamento das uvas.

 

Ø  Ecoturismo é uma vocação natural de cidades chapadeiras

 

A vocação para o turismo é natural na vastidão de terras recortadas em bela geografia, o que leva a uma crescente organização interna, notadamente nos municípios chapadeiros que valorizam a atividade. Além da formação de profissionais para postos diretos e indiretos, preservação do meio ambiente, valorização e apoio aos empreendimentos, eles participam da organização de eventos e colaboram na divulgação dos seus atrativos.

Encantadora pela beleza, cultura, gastronomia dentre outros atributos, a Chapada Diamantina tem mais que paisagens famosas como o Morro do Pai Inácio, um dos principais cartões-postais da região, na margem da BR 242, município de Palmeiras. Conta com redutos como a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Lagoa da Velha, em Morro do Chapéu, que guarda bem conservado um Sitio Arqueológico com pinturas rupestres, apontado como de grande importância para o estado, ainda pouco conhecido e com acesso restrito.

Embora sem números específicos sobre quanto a atividade turística gera em impostos e qual a sua participação do total arrecadado, municípios como Itaberaba, Lençóis e Morro do Chapéu destacam ser de suma relevância o movimento gerado direta e indiretamente, pois o dinheiro circula nas comunidades e atinge o comércio e serviços.

Anualmente o turismo injeta milhões de reais na economia de Lençóis, contribuindo para a geração de empregos e o desenvolvimento econômico do município, segundo informa a secretária de Turismo, Laura Garcia. Ela diz que “calcula-se que o setor seja responsável pela criação de mais de dois mil empregos diretos e indiretos. A estimativa da administração local é de que cerca de 70% dos recursos arrecadados provêm das atividades turísticas, evidenciando sua importância para o desenvolvimento econômico local.

O município tem investido em programas de capacitação e qualificação profissional, visando preparar a população para atender às demandas crescentes do setor turístico, como a capacitação ‘Como atender bem o turista LGBTQIAPN’, sobre Turismo de Observação de Aves e Estratégias de Negócios.

Com mais de cinco mil leitos de diversos padrões de hospedagem, a cidade oferece mais de 90 opções entre bares, restaurantes, bistrôs e cafeterias com variada culinária. Destaque para as comidas típicas do garimpo e os cafés especiais da Chapada. A cidade é um destino consolidado, de onde partem as caravanas para boa parte das trilhas e passeios aos atrativos da região.

Em Morro do Chapéu, o Festival de Inverno e a Feira Agropecuária são os principais eventos que servem como vitrine na atração maciça de turistas. De acordo com a prefeita Juliana Araújo, no ano passado a feira atraiu 90 mil pessoas e movimentou cerca de R$ 7 milhões, enquanto que o festival reuniu mais de 70 mil pessoas gerando cerca de R$ 9 milhões.

A gestora destacou que o turismo é atividade fundamental e gera impactos positivos na economia. Entre as principais modalidades exploradas ela cita o ufológico, o ecológico, rural, gastronômico e o enoturismo, com visitações para conhecer a produção de uvas e do vinho. “Temos hoje quatro vinícolas em operação e outras três em fase de implantação”, disse. Vale destacar que o município também atrai visitantes para pesquisas acadêmicas e em busca de flores e mudas diversas.

O movimento na cidade com eventos e a atração de turistas durante o ano representam milhares de empregos diretos e indiretos no comércio e serviços, geração de renda, abertura de novos negócios e o próprio desenvolvimento do município. Entre outras medidas para promover o desenvolvimento está a qualificação da mão de obra com foco também em outras áreas, a exemplo do de energia eólica, que tem crescido muito e gerado centenas de empregos.

Ø  Locais históricos

Portal de entrada da Chapada Diamantina para quem chega pela BR 242, vindo do litoral, Itaberaba tem um Plano de Turismo com valorização de locais históricos na cidade e zona rural, como o povoado de Alagoas que atrai romeiros e fomenta o turismo religioso. O turismo de eventos se revela nas festas de São João, dos Vaqueiros e aniversário de emancipação.

“Os eventos potencializam a economia, geram emprego e renda, contribuem para fortalecer e manter viva a cultura local”, enfatizou o secretário municipal de Cultura, Turismo e Economia Criativa, Ramon Moraes. Ele acrescentou que embora sem dados exatos, as diferentes modalidades de turismo compõem um dos pilares da economia municipal, com grande apelo para o ecoturismo, assim como o restante da Chapada.

É destaque entre os atrativos naturais a Pedra de Itibiriba, imponente bloco de granito de 220m, guarda herança deixada em pinturas rupestres, atualmente foco de estudos acadêmicos, salientou Moraes.

Para o turismo ecológico o município oferece aos visitantes a oportunidade de explorar a rica biodiversidade da região. A Serra do Orobó, uma Área de Revelante Interesse Ambiental (Arie), cuja maior parte está no município de Itaberaba, possui a Cachoeira do Fascínio com 17m de queda d’água, é um ótimo destino para quem gosta de aventura e belas paisagens.

No centro urbano se sobressai o Monte do Bom Jesus da Lapa, de onde se avista a cidade e o Açude Juracy Magalhães. Como município pólo regional, o secretário citou que em Itaberaba também são relevantes “o turismo de negócios, saúde e Bem-estar, contribuindo direta e indiretamente no desenvolvimento social e econômico”.

Com programas de formação da mão de obra em parceria com órgãos como Sebrae. Senac e Senai, tem ainda iniciativas para conservar os recursos naturais e um projeto em andamento para a recuperação florestal do Parque Juracy Magalhães e construção da orla do açude de mesmo nome, com perspectiva de ser um novo atrativo e área de lazer para moradores e visitantes.

 

Fonte: A Tarde

 

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