terça-feira, 2 de abril de 2024

'Reações hostis do Ocidente': por que a Rússia não aderiu à OTAN?

Domingo (31) marca o 70º aniversário de uma proposta diplomática soviética pouco conhecida de adesão à OTAN que encerraria rapidamente a competição de segurança da Guerra Fria na Europa. A medida se tornaria uma das três ocasiões em que Moscou insinuou as suas aspirações de adesão ao bloco. Por que foi rejeitada todas as vezes? Sputnik explica.

Em 31 de março de 1954, o ministro das Relações Exteriores soviético, Vyacheslav Molotov, chocou os seus homólogos norte-americano, francês e britânico com uma nota diplomática expressando a disponibilidade de Moscou para aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Se a URSS aderisse, dizia a nota, "a Organização do Tratado do Atlântico Norte deixaria de ser um agrupamento militar fechado de Estados" e, abrindo as suas portas a outras potências europeias, facilitaria a criação de "um sistema eficaz de segurança coletiva na Europa, o que seria de extrema importância para o fortalecimento da paz universal".

Refletindo sobre a chocante proposta soviética durante mais de um mês, Washington finalmente respondeu, enviando a Moscou uma nota em 7 de maio de 1954, citando a "natureza irrealista de tal proposta" e enfatizando que "ela contradiz os próprios princípios sobre os quais o sistema de defesa e segurança dos Estados ocidentais dependem."

Fundada em abril de 1949, os objetivos oficiais da OTAN se centravam em "dissuadir o expansionismo soviético" através da defesa coletiva dos seus membros, que originalmente contavam com 12 países. Nos bastidores, a arquitetura de segurança do pós-guerra criada pelos Estados Unidos tinha outros objetivos, incluindo o controle dos assuntos internos dos países europeus. Como disse certa vez lord Hastings Ismay, o primeiro secretário-geral da aliança, o objetivo da OTAN era "manter a União Soviética fora, os norte-americanos dentro e os alemães abaixo".

Antes de enviar a nota de março de 1954, os diplomatas soviéticos fizeram várias outras tentativas para transmitir a Washington o interesse da URSS em aderir à OTAN como mecanismo para a segurança coletiva europeia.

Como disse o veterano diplomata soviético Andrei Gromyko em 1951, "se este pacto fosse contra a restauração da agressão alemã, a URSS aderiria à OTAN".

Em 1952, o líder soviético Joseph Stalin teria dito ao embaixador francês Louis Joxe que se a OTAN fosse a organização pacífica e cumpridora da Carta da ONU que o presidente Charles De Gaulle descreveu, a URSS poderia considerar sua adesão. No mesmo ano, Stalin enviou às potências ocidentais uma série de telegramas diplomáticos propondo a reunificação da Alemanha como uma potência neutra no centro da Europa, separando os blocos de Leste e Ocidental. A Áustria se tornou um desses países em 1955, com a URSS retirando as tropas em troca de um compromisso de Viena de neutralidade (que, aliás, continua a manter até hoje).

No período pós-Guerra Fria, tanto no início da década de 1990 como no início da década de 2000, a Rússia que emergiu das cinzas da URSS expressaria novamente o seu interesse em ser membro, ou pelo menos em parceria, com a aliança ocidental, no interesse geral de paz e segurança na Europa.

O presidente Boris Yeltsin e o seu primeiro ministro das Relações Exteriores, Andrei Kozyrev, que ficou famoso por ter dito que a Rússia "não tem interesses nacionais" para além dos abstratos "valores humanos universais", mantiveram intensas negociações com a administração Clinton durante o início e meados da década de 1990 sobre as perspectivas de adesão da Rússia à aliança ocidental.

Depois de se tornar presidente, Vladimir Putin também decidiu investigar as intenções dos EUA em relação à Rússia no alvorecer do século XXI, recordando na sua recente entrevista com Tucker Carlson que perguntou diretamente a Clinton o que ele pensava sobre a ideia de a Rússia aderir à OTAN.

"Me tornei presidente em 2000. Pensei: tudo bem, a questão iugoslava acabou, mas devemos tentar restabelecer as relações. Vamos reabrir a porta pela qual a Rússia tentou passar [...]. Em uma reunião aqui no Kremlin com o presidente cessante Bill Clinton, aqui mesmo na sala ao lado, lhe perguntei: 'Bill, se a Rússia pedir para aderir à OTAN, você acha que isso aconteceria?' De repente, ele disse: 'Sabe, é interessante, acho que sim'", lembrou Putin. "Mas à noite, quando jantamos, ele disse: 'Sabe, conversei com minha equipe, não, não, não é possível agora.'"

"Se ele tivesse dito sim, o processo de reaproximação teria começado e, posteriormente poderia ter acontecido se tivéssemos visto algum desejo sincero por parte dos nossos parceiros. Mas isso não aconteceu. Bem, não significa não, ok, tudo bem", disse Putin.

·        Ideologia, Estado profundo ou rivalidades antigas?

A OTAN não poderia ter aceitado a URSS na aliança na década de 1950 "por causa da mentalidade de Guerra Fria" prevalecente no Ocidente na época, diz Michael Maloof, antigo analista sênior de política de segurança no Pentágono.

Em todas as tentativas de aproximação, a OTAN conseguiu usar a desculpa de ideologias incompatíveis para rejeitar os avanços de Moscou, disse Maloof, que vão desde preocupações sobre a propagação do comunismo durante a Guerra Fria até à suposta incompatibilidade do sistema político da Rússia pós-soviética com o Ocidente.

Para o analista, o fator do Estado profundo permanente em Washington, especificamente o "movimento neoconservador contra a Rússia, anteriormente a União Soviética", se manifesta em pessoas como a antiga vice-secretária de Estado, Victoria Nuland, cujas ambições sempre foram e continuam sendo "conter, se não cortar, a Rússia".

Parte da animosidade se resume a antigas rixas de sangue ocultas, acredita Maloof.

"Tomemos, por exemplo, Victoria Nuland. Antes de deixar [o seu trabalho no Departamento de Estado], ela liderava todo o 'esforço ucraniano'. Por quê? Qual era o fanatismo dela? Acontece que a família dela era do oeste da Ucrânia. Ela só queria 'sua propriedade' de volta, 'sua terra' de volta. Você pode ver que essas rivalidades antigas continuam indefinidamente", disse o observador. É também por isso que "os poloneses [estão] tão fascinados pela Ucrânia", sugeriu Maloof, apontando para a conquista por Varsóvia de grande parte do que é a Ucrânia moderna, que remonta ao século XIV.

"Essas pressões nunca morrem. Tornam-se adormecidas e depois ressurgem novamente em um determinado momento da história – particularmente durante condições econômicas difíceis ou durante um período de guerra", destacou o analista.

Outra razão pela qual a Rússia nunca poderia aderir à aliança gira em torno do fato de Moscou sempre ter se considerado uma grande potência, uma nação que merece o direito de ser tratada com igualdade de condições, segundo Maloof.

"Percebemos isso, especialmente nas negociações que levaram às exigências de Putin em dezembro de 2021, quando ele disse 'é preciso parar esta expansão da OTAN, inclusive na Ucrânia' e que 'esta é uma linha vermelha para nós'[...]. A reação [do Ocidente] foi 'bem, na verdade vamos fazer o que quisermos'. Eles não o levaram a sério. E os russos sentiram que os EUA estavam a falar com arrogância para a Rússia", disse o observador.

Seja em 1954, no início da década de 1990 ou no início da década de 2000, Moscou nunca teve a oportunidade de aderir à aliança ocidental. Se a URSS e/ou a Rússia tivessem aderido, isso poderia ter proporcionado uma oportunidade para criar "um sistema eficaz de segurança coletiva na Europa", como Molotov imaginou em 1954.

Por outro lado, dado o histórico de agressões da aliança em todo o mundo, desde os Bálcãs e o Oriente Médio até a Ásia Ocidental e o Norte de África, parece ser melhor que a Rússia nunca tenha tido a oportunidade de se tornar membro do bloco ocidental.

¨      Congressista dos EUA diz que foi mal interpretado ao comparar 'situação na Ucrânia com Hiroshima'

O congressista republicano Tim Walberg teve que se justificar por comparar Gaza e Ucrânia com Hiroshima e Nagasaki, cidades japonesas em que os Estados Unidos lançaram bombas atômicas durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo o político, a "metáfora" foi supostamente tirada de contexto.

"Como uma criança que cresceu durante a Guerra Fria', a última coisa que eu apoiaria é o uso de armas nucleares. No vídeo editado, eu usei uma metáfora para expressar a necessidade de Israel e Ucrânia vencerem rapidamente suas guerras sem colocar em risco os militares dos EUA", dizia a declaração divulgada pelo legislador.

Segundo a mídia norte-americana, no início da semana, durante uma reunião com eleitores, Walberg, ao ser questionado sobre os gastos dos Estados Unidos com Israel, declarou: "deve ser como em Nagasaki e Hiroshima, resolver isso rapidamente", e depois acrescentou: "isso também se aplica à Ucrânia".

Após as publicações na imprensa, o legislador, em uma declaração especial, rebateu as críticas e reforçou que quis dizer o oposto do que está sendo relatado. "Quanto mais rápido essas guerras terminarem, menos vidas inocentes serão afetadas pelo fogo cruzado", observou o congressista.

"A exclusão dessa metáfora do contexto distorceu a mensagem, mas eu mantenho minhas convicções e com nossos aliados", acrescentou ele.

Principal fiador da Ucrânia no conflito com a Rússia, os Estados Unidos já enviaram em recursos até o fim do ano passado mais de US$ 100 bilhões (R$ 486,8 bilhões) desde fevereiro de 2022, em meio às denúncias de corrupção do governo de Vladimir Zelensky e a falta de efetividade em campo de batalha.

 

Ø  Rússia entra no Top 5 dos países com maior crescimento econômico no G20

 

A Sputnik estudou os dados de serviços nacionais de estatística dos 20 países com maiores economias no mundo, e viu que somente Índia, China, Indonésia e Turquia tiveram melhor dinâmica do que a Rússia em 2023.

Em 2023, a Rússia se tornou a quinta economia com crescimento mais rápido no G20, revela uma análise da Sputnik com base em dados dos serviços nacionais de estatística.

A economia russa cresceu 3,6% nesse ano, compensando totalmente o declínio de 1,2% em 2022.

A economia da Índia teve o crescimento mais forte, com o ritmo acelerando de 7,2% para 7,3%. Em seguida vem a China, com crescimento de 5,2%, após 3,0% no ano anterior. Em terceiro lugar está a Indonésia, que contou com um aumento no PIB de 5,1% contra 5,3% em 2022. O crescimento econômico da Turquia desacelerou de 5,5% para 4,5% em 2023.

Entre os outros países do G20, as taxas de crescimento do PIB aceleraram entre 2022 e 2023 nos EUA, de 1,9% para 2,5%, e no Japão, de 1,0% para 1,9%.

No restante dos países, a desaceleração foi maior entre os países do G7: no Reino Unido em 43 vezes, para 0,1%; na Itália em quatro vezes, para 0,9%; e na França e no Canadá em três vezes, para 0,9% e 1,1%, respectivamente.

No México, o PIB subiu 3,2%, contra 3,9% em 2022, na Austrália, 2,7%, contra 3,7%, e na Coreia do Sul, 1,4%, contra 2,6%. Enquanto isso, na União Europeia, que também é membro do G20, o crescimento econômico caiu de 3,4% para 0,4%.

Os outros dois membros do BRICS, Brasil e África do Sul, viram suas economias crescerem, com o primeiro crescendo 2,9% contra 3,0% no ano anterior. Já o país africano viu seu crescimento diminuir de 1,9% para 0,6%.

A Argentina foi o último país do G20 a divulgar os dados do PIB para 2023, e registrou uma contração de 1,6% em comparação com um crescimento de 5,0% um ano antes. A Arábia Saudita e a Alemanha também registraram quedas, de 0,8% e 0,3%, respectivamente, após incrementos de 7,5% e 1,8%, respectivamente, no ano anterior.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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