'Reações hostis do Ocidente': por que a
Rússia não aderiu à OTAN?
Domingo (31) marca o
70º aniversário de uma proposta diplomática soviética pouco conhecida de adesão
à OTAN que encerraria rapidamente a competição de segurança da Guerra Fria na
Europa. A medida se tornaria uma das três ocasiões em que Moscou insinuou as
suas aspirações de adesão ao bloco. Por que foi rejeitada todas as vezes?
Sputnik explica.
Em 31 de março de
1954, o ministro das Relações Exteriores soviético, Vyacheslav Molotov, chocou
os seus homólogos norte-americano, francês e britânico com uma nota diplomática
expressando a disponibilidade de Moscou para aderir à Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN).
Se a URSS aderisse,
dizia a nota, "a Organização do Tratado do Atlântico Norte deixaria de ser
um agrupamento militar fechado de Estados" e, abrindo as suas portas a
outras potências europeias, facilitaria a criação de "um sistema eficaz de
segurança coletiva na Europa, o que seria de extrema importância para o
fortalecimento da paz universal".
Refletindo sobre a
chocante proposta soviética durante mais de um mês, Washington finalmente
respondeu, enviando a Moscou uma nota em 7 de maio de 1954, citando a
"natureza irrealista de tal proposta" e enfatizando que "ela
contradiz os próprios princípios sobre os quais o sistema de defesa e segurança
dos Estados ocidentais dependem."
Fundada em abril de
1949, os objetivos oficiais da OTAN se centravam em "dissuadir o
expansionismo soviético" através da defesa coletiva dos seus membros, que
originalmente contavam com 12 países. Nos bastidores, a arquitetura de
segurança do pós-guerra criada pelos Estados Unidos tinha outros objetivos,
incluindo o controle dos assuntos internos dos países europeus. Como disse
certa vez lord Hastings Ismay, o primeiro secretário-geral da aliança, o
objetivo da OTAN era "manter a União Soviética fora, os norte-americanos
dentro e os alemães abaixo".
Antes de enviar a nota
de março de 1954, os diplomatas soviéticos fizeram várias outras tentativas
para transmitir a Washington o interesse da URSS em aderir à OTAN como
mecanismo para a segurança coletiva europeia.
Como disse o veterano
diplomata soviético Andrei Gromyko em 1951, "se este pacto fosse contra a
restauração da agressão alemã, a URSS aderiria à OTAN".
Em 1952, o líder
soviético Joseph Stalin teria dito ao embaixador francês Louis Joxe que se a
OTAN fosse a organização pacífica e cumpridora da Carta da ONU que o presidente
Charles De Gaulle descreveu, a URSS poderia considerar sua adesão. No mesmo
ano, Stalin enviou às potências ocidentais uma série de telegramas diplomáticos
propondo a reunificação da Alemanha como uma potência neutra no centro da
Europa, separando os blocos de Leste e Ocidental. A Áustria se tornou um desses
países em 1955, com a URSS retirando as tropas em troca de um compromisso de
Viena de neutralidade (que, aliás, continua a manter até hoje).
No período pós-Guerra
Fria, tanto no início da década de 1990 como no início da década de 2000, a
Rússia que emergiu das cinzas da URSS expressaria novamente o seu interesse em
ser membro, ou pelo menos em parceria, com a aliança ocidental, no interesse geral
de paz e segurança na Europa.
O presidente Boris
Yeltsin e o seu primeiro ministro das Relações Exteriores, Andrei Kozyrev, que
ficou famoso por ter dito que a Rússia "não tem interesses nacionais"
para além dos abstratos "valores humanos universais", mantiveram intensas
negociações com a administração Clinton durante o início e meados da década de
1990 sobre as perspectivas de adesão da Rússia à aliança ocidental.
Depois de se tornar
presidente, Vladimir Putin também decidiu investigar as intenções dos EUA em
relação à Rússia no alvorecer do século XXI, recordando na sua recente
entrevista com Tucker Carlson que perguntou diretamente a Clinton o que ele
pensava sobre a ideia de a Rússia aderir à OTAN.
"Me tornei
presidente em 2000. Pensei: tudo bem, a questão iugoslava acabou, mas devemos
tentar restabelecer as relações. Vamos reabrir a porta pela qual a Rússia
tentou passar [...]. Em uma reunião aqui no Kremlin com o presidente cessante
Bill Clinton, aqui mesmo na sala ao lado, lhe perguntei: 'Bill, se a Rússia
pedir para aderir à OTAN, você acha que isso aconteceria?' De repente, ele
disse: 'Sabe, é interessante, acho que sim'", lembrou Putin. "Mas à
noite, quando jantamos, ele disse: 'Sabe, conversei com minha equipe, não, não,
não é possível agora.'"
"Se ele tivesse
dito sim, o processo de reaproximação teria começado e, posteriormente poderia
ter acontecido se tivéssemos visto algum desejo sincero por parte dos nossos
parceiros. Mas isso não aconteceu. Bem, não significa não, ok, tudo bem",
disse Putin.
·
Ideologia, Estado profundo ou rivalidades
antigas?
A OTAN não poderia ter
aceitado a URSS na aliança na década de 1950 "por causa da mentalidade de
Guerra Fria" prevalecente no Ocidente na época, diz Michael Maloof, antigo
analista sênior de política de segurança no Pentágono.
Em todas as tentativas
de aproximação, a OTAN conseguiu usar a desculpa de ideologias incompatíveis
para rejeitar os avanços de Moscou, disse Maloof, que vão desde preocupações
sobre a propagação do comunismo durante a Guerra Fria até à suposta incompatibilidade
do sistema político da Rússia pós-soviética com o Ocidente.
Para o analista, o
fator do Estado profundo permanente em Washington, especificamente o
"movimento neoconservador contra a Rússia, anteriormente a União
Soviética", se manifesta em pessoas como a antiga vice-secretária de
Estado, Victoria Nuland, cujas ambições sempre foram e continuam sendo
"conter, se não cortar, a Rússia".
Parte da animosidade
se resume a antigas rixas de sangue ocultas, acredita Maloof.
"Tomemos, por
exemplo, Victoria Nuland. Antes de deixar [o seu trabalho no Departamento de
Estado], ela liderava todo o 'esforço ucraniano'. Por quê? Qual era o fanatismo
dela? Acontece que a família dela era do oeste da Ucrânia. Ela só queria 'sua propriedade'
de volta, 'sua terra' de volta. Você pode ver que essas rivalidades antigas
continuam indefinidamente", disse o observador. É também por isso que
"os poloneses [estão] tão fascinados pela Ucrânia", sugeriu Maloof,
apontando para a conquista por Varsóvia de grande parte do que é a Ucrânia
moderna, que remonta ao século XIV.
"Essas pressões
nunca morrem. Tornam-se adormecidas e depois ressurgem novamente em um
determinado momento da história – particularmente durante condições econômicas
difíceis ou durante um período de guerra", destacou o analista.
Outra razão pela qual
a Rússia nunca poderia aderir à aliança gira em torno do fato de Moscou sempre
ter se considerado uma grande potência, uma nação que merece o direito de ser
tratada com igualdade de condições, segundo Maloof.
"Percebemos isso,
especialmente nas negociações que levaram às exigências de Putin em dezembro de
2021, quando ele disse 'é preciso parar esta expansão da OTAN, inclusive na
Ucrânia' e que 'esta é uma linha vermelha para nós'[...]. A reação [do Ocidente]
foi 'bem, na verdade vamos fazer o que quisermos'. Eles não o levaram a sério.
E os russos sentiram que os EUA estavam a falar com arrogância para a
Rússia", disse o observador.
Seja em 1954, no
início da década de 1990 ou no início da década de 2000, Moscou nunca teve a
oportunidade de aderir à aliança ocidental. Se a URSS e/ou a Rússia tivessem
aderido, isso poderia ter proporcionado uma oportunidade para criar "um
sistema eficaz de segurança coletiva na Europa", como Molotov imaginou em
1954.
Por outro lado, dado o
histórico de agressões da aliança em todo o mundo, desde os Bálcãs e o Oriente
Médio até a Ásia Ocidental e o Norte de África, parece ser melhor que a Rússia
nunca tenha tido a oportunidade de se tornar membro do bloco ocidental.
¨
Congressista dos EUA diz que foi mal
interpretado ao comparar 'situação na Ucrânia com Hiroshima'
O congressista
republicano Tim Walberg teve que se justificar por comparar Gaza e Ucrânia com
Hiroshima e Nagasaki, cidades japonesas em que os Estados Unidos lançaram
bombas atômicas durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo o político, a
"metáfora" foi supostamente tirada de contexto.
"Como uma criança
que cresceu durante a Guerra Fria', a última coisa que eu apoiaria é o uso de
armas nucleares. No vídeo editado, eu usei uma metáfora para expressar a
necessidade de Israel e Ucrânia vencerem rapidamente suas guerras sem colocar
em risco os militares dos EUA", dizia a declaração divulgada pelo
legislador.
Segundo a mídia
norte-americana, no início da semana, durante uma reunião com eleitores,
Walberg, ao ser questionado sobre os gastos dos Estados Unidos com Israel,
declarou: "deve ser como em Nagasaki e Hiroshima, resolver isso
rapidamente", e depois acrescentou: "isso também se aplica à
Ucrânia".
Após as publicações na
imprensa, o legislador, em uma declaração especial, rebateu as críticas e
reforçou que quis dizer o oposto do que está sendo relatado. "Quanto mais
rápido essas guerras terminarem, menos vidas inocentes serão afetadas pelo fogo
cruzado", observou o congressista.
"A exclusão dessa
metáfora do contexto distorceu a mensagem, mas eu mantenho minhas convicções e
com nossos aliados", acrescentou ele.
Principal fiador da
Ucrânia no conflito com a Rússia, os Estados Unidos já enviaram em recursos até
o fim do ano passado mais de US$ 100 bilhões (R$ 486,8 bilhões) desde fevereiro
de 2022, em meio às denúncias de corrupção do governo de Vladimir Zelensky e a
falta de efetividade em campo de batalha.
Ø
Rússia entra no Top 5 dos países com maior
crescimento econômico no G20
A Sputnik estudou os
dados de serviços nacionais de estatística dos 20 países com maiores economias
no mundo, e viu que somente Índia, China, Indonésia e Turquia tiveram melhor
dinâmica do que a Rússia em 2023.
Em 2023, a Rússia se
tornou a quinta economia com crescimento mais rápido no G20, revela uma análise
da Sputnik com base em dados dos serviços nacionais de estatística.
A economia russa
cresceu 3,6% nesse ano, compensando totalmente o declínio de 1,2% em 2022.
A economia da Índia
teve o crescimento mais forte, com o ritmo acelerando de 7,2% para 7,3%. Em
seguida vem a China, com crescimento de 5,2%, após 3,0% no ano anterior. Em
terceiro lugar está a Indonésia, que contou com um aumento no PIB de 5,1%
contra 5,3% em 2022. O crescimento econômico da Turquia desacelerou de 5,5%
para 4,5% em 2023.
Entre os outros países
do G20, as taxas de crescimento do PIB aceleraram entre 2022 e 2023 nos EUA, de
1,9% para 2,5%, e no Japão, de 1,0% para 1,9%.
No restante dos
países, a desaceleração foi maior entre os países do G7: no Reino Unido em 43
vezes, para 0,1%; na Itália em quatro vezes, para 0,9%; e na França e no Canadá
em três vezes, para 0,9% e 1,1%, respectivamente.
No México, o PIB subiu
3,2%, contra 3,9% em 2022, na Austrália, 2,7%, contra 3,7%, e na Coreia do Sul,
1,4%, contra 2,6%. Enquanto isso, na União Europeia, que também é membro do
G20, o crescimento econômico caiu de 3,4% para 0,4%.
Os outros dois membros
do BRICS, Brasil e África do Sul, viram suas economias crescerem, com o
primeiro crescendo 2,9% contra 3,0% no ano anterior. Já o país africano viu seu
crescimento diminuir de 1,9% para 0,6%.
A Argentina foi o
último país do G20 a divulgar os dados do PIB para 2023, e registrou uma
contração de 1,6% em comparação com um crescimento de 5,0% um ano antes. A
Arábia Saudita e a Alemanha também registraram quedas, de 0,8% e 0,3%,
respectivamente, após incrementos de 7,5% e 1,8%, respectivamente, no ano
anterior.
Fonte: Sputnik Brasil
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