quinta-feira, 25 de abril de 2024

Estudo mostra desconfiança no mundo em relação à democracia

Um estudo global sobre as percepções a respeito da democracia no mundo publicado neste mês pinta um quadro de alta desconfiança com os processos eleitorais, além da preferência por líderes antidemocráticos. De forma geral, eleitores de 19 países se mostraram céticos em relação ao fato de as eleições serem livres e justas.

Segundo a pesquisa Perceptions of Democracy, que avalia o que as pessoas pensam sobre o sistema político, os dados deixam claro que as instituições democráticas estão aquém das expectativas. O levantamento foi feito pela organização intergovernamental International Idea (Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral, na sigla em inglês).

Em muitos casos, as avaliações públicas das instituições fundamentais dos sistemas democráticos são fracas, com dúvidas sobre a legitimidade dos processos eleitorais, o acesso livre e igualitário à Justiça e a capacidade de as pessoas expressarem livremente as suas crenças. "Neste contexto, não é surpreendente que as pessoas tendam a estar insatisfeitas com o desempenho dos seus governos", diz o relatório.

Para desenvolver o entendimento sobre a imagem da democracia no mundo, os pesquisadores selecionaram um conjunto diversificado de 19 países e fizeram cerca de 1.500 entrevistas em cada um deles tanto online quanto por telefone. Para incluir uma vasta gama de contextos geográficos, econômicos e políticos, os países analisados incluem três das maiores democracias do mundo (Brasil, Índia e Estados Unidos), além de Chile, Colômbia, Dinamarca, Gâmbia, Iraque, Itália, Líbano, Lituânia, Paquistão, Romênia, Senegal, Serra Leoa, Ilhas Salomão, Coreia do Sul, Taiwan, Tanzânia.

Em 17 dos países analisados, menos da metade da população está satisfeita com os seus governos. Essa postura leva a um risco para o sistema democrático, segundo o estudo, o que é reforçado pelos dados a respeito da percepção sobre lideranças autoritárias. Em oito países, "mais pessoas têm opiniões favoráveis sobre 'um líder forte que não tem de se preocupar com o Parlamento ou eleições'", afirma o relatório.

O estudo destaca que em nenhum dos países analisados houve uma rejeição marcante em relação a líderes autoritários. O apoio a lideranças fortes é maior em países como Índia, Tanzânia e Iraque, mas mesmo em países como a Dinamarca, a Coreia do Sul e os Estados Unidos, a visão sobre governantes não democráticos é favorável para mais de um quarto da população.

Os dados são evidentes em relação à confiança nos sistemas de votação. Em 11 dos 19 países onde a pesquisa foi feita, menos da metade dos entrevistados expressaram confiança nas eleições mais recentes. A proporção é mais baixa em países como Colômbia, Índia, Paquistão, Iraque e mesmo em Taiwan e nos EUA. Em países como Brasil, Dinamarca e Chile, mais da metade da população disse confiar no pleito.

Em relação ao acesso à Justiça, os entrevistados de forma geral expressaram muita insatisfação com os tribunais. Apenas na Dinamarca, entre os 19 países, a maioria das pessoas sente que as cortes frequentemente ou sempre fornecem acesso igualitário. Na maioria dos países, menos de um terço dos entrevistados pensa dessa maneira.

O estudo avaliou ainda a percepção sobre progresso intergeracional, e apontou que as pessoas estão bastante pessimistas sobre o quanto as coisas melhoraram ao longo do tempo. Em apenas quatro países a maioria dos entrevistados acredita que a vida está melhor do que na época dos seus pais.

Os dados são mais positivos em relação à percepção de liberdade de expressão. A maioria dos entrevistados sente que geralmente ou sempre tem liberdade para dizer o que pensa publicamente. As exceções são Colômbia, Paquistão, Romênia e Senegal. No Brasil, metade dos entrevistados diz sentir que pode falar livremente.

Além da análise geral sobre a desconfiança dos eleitores em relação ao desempenho das suas instituições políticas e do acesso a elas, o estudo ressalta que as minorias, as mulheres e as populações mais pobres tendem a perceber mais obstáculos ao acesso e geralmente duvidam mais do desempenho institucional.

Outro ponto importante é que as opiniões dos especialistas e as percepções populares sobre o desempenho das instituições políticas nem sempre estão alinhadas. As pessoas geralmente são muito mais céticas do que os especialistas.

Com sede em Estocolmo, na Suécia, a International Idea foi fundada em 1995 com o objetivo de identificar diferenças importantes, mas muitas vezes negligenciadas, entre as avaliações e atitudes de vários grupos em relação à democracia.

O estudo alega que os dados levantam questões importantes sobre quem decide como a democracia está se saindo e quem, em última análise, tem o poder de conceder legitimidade (ou não) às instituições e governos. O relatório ressalta que "a saúde de uma democracia depende em grande parte das percepções das pessoas", e por isso é importante entender essas visões de mundo para buscar formas de aprimorar o funcionamento da democracia e a maneira como ela é vista.

 

¨      Tarcísio diz que STF e Congresso têm que ‘descomprimir’ para polarização no País chegar ao fim

 

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou nesta segunda-feira, 22, que a responsabilidade de acabar com a polarização no Brasil não cabe apenas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas também ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Congresso Nacional e à imprensa.

“Essa responsabilidade é do Judiciário, do Parlamento e da mídia. Todo mundo tem que começar a fazer gestos e descomprimir”, declarou Tarcísio a empresários, em um evento promovido pela Esfera Brasil. “A gente tem que ter uma porta da saída, não podemos mais conviver com a pressão que existe. Está na hora de descomprimir, de ser razoável. Se todo mundo não fizer sua parte, não vamos sair da polarização.”

O governador também criticou o avanço do Legislativo sobre as prerrogativas do Executivo no orçamento. “A gente tem um Congresso com cada vez mais poder e menos responsabilidade”, afirmou. Ele comparou o presidencialismo brasileiro a um parlamentarismo não oficial. “Existe uma disciplina no que diz respeito à atribuição de emendas, principalmente em projetos estruturantes, que a gente precisa estabelecer”.

Tarcísio de Freitas participou de um painel com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). Segundo o goiano, o problema da captura do orçamento se resolve com “pulso e credibilidade”. Assim como o governador de São Paulo, Caiado é um dos possíveis beneficiários do espólio político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível, em 2026. Ele disse aos jornalistas após o evento que nunca escondeu seu desejo de ser presidente da República e que, quando chegar o momento, colocará seu nome à disposição do União Brasil.

Ambos participaram de manifestação convocada por Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, no final de fevereiro, mas estiveram ausentes no protesto realizado na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, neste domingo, 21.

Os dois desconversaram sobre a possibilidade de prisão do ex-presidente e assinalaram que, para eles, Bolsonaro é o principal líder político do Brasil atualmente. “Ninguém tem a capacidade de fazer o que Bolsonaro, mesmo depois de não ter direito a um futuro mandato, fez na Paulista, em Copacabana”, afirmou Caiado. “Ninguém consegue arrastar uma multidão e tem tanto carisma como Bolsonaro”, acrescentou Tarcísio.

Na saída, em conversa com jornalistas, Caiado também minimizou a ausência no ato de Copacabana, dizendo que esteve ao lado de Bolsonaro “no momento mais difícil”, na Avenida Paulista. Tarcísio não conversou com a imprensa. Ele fez uma postagem de apoio nas redes sociais.

·        ‘Prévia’ da centro-direita nas eleições 2026

Em alguns momentos, o painel se assemelhou a um debate eleitoral — os dois governadores tratavam dos mesmos temas, orientados à direita, ou centro-direita, como preferiram os organizadores, mas pontuando méritos das duas gestões em Goiás e em São Paulo.

Caiado investiu nas frases de efeito, como ao comentar que, por lá, “ou o bandido muda de profissão ou de Estado” e na crítica à política de segurança pública baseada em “muita teoria e pouca prática”. Tarcísio, por sua vez, deu maior destaque à questão fiscal, disse que o Brasil está preso a uma “armadilha de baixo crescimento” por não cortar despesas e defendeu melhorias na qualidade do gasto público.

O governador de Goiás alfinetou ainda, indiretamente, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, que mais cedo, no mesmo evento, defendeu constitucionalizar um Sistema Único de Segurança Pública e a criação de um fundo próprio de financiamento. “Política única no País é bobagem. A Força Nacional está aí para mostrar isso”, declarou o goiano, que também mirou na pauta econômica, notadamente a reforma tributária e o arcabouço fiscal.

Se por um lado Caiado ressaltou a experiência política como um trunfo para capitalizar os votos da direita nas próximas eleições presidenciais, Tarcísio ganhou afagos públicos mais cedo de Gilberto Kassab, secretário de governo na sua gestão em São Paulo e presidente do PSD.

Ao comentar o peso do apoio à reeleição do prefeito paulistano Ricardo Nunes (MDB), Kassab disse que Tarcísio foi a “única grande novidade” do pleito passado. O PSD, no entanto, defende a candidatura de outro político de centro-direita em 2026: o governador do Paraná, Ratinho Júnior.

Ø  Deputado que pediu ‘liberdade’ em inglês no ato de Bolsonaro responde a imprensa com receita de bolo

O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) defendeu a “liberdade” e a “democracia” em um discurso em inglês no ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) neste domingo, 21. No dia a dia do trabalho no Congresso, o parlamentar costuma responder aos pedidos de informação feitos pela imprensa e solicitações de prestação de contas sobre seu trabalho com receitas de bolo.

O Estadão procurou a assessoria do parlamentar nesta segunda, 22, mas também obteve como resposta uma mensagem com ingredientes culinários.

O parlamentar, que é pré-candidato à prefeitura de Goiânia, disse que discursou em outra língua porque o empresário Elon Musk, dono da rede social X, estaria “olhando” a manifestação realizada na Praia de Copacabana, no Rio. Gayer era professor de inglês antes de se eleger para a Câmara.

“É uma mensagem para o mundo. Olhem o que está acontecendo no Brasil hoje. O que vocês veem aqui são pessoas que amam a liberdade lutando por democracia. São pessoas que amam a liberdade e não desistem, que não se curvam à ditadura. São pessoas dispostas a dar as suas vidas e que nunca vão desistir. Nós seremos a esperança do mundo”, disse o aliado de Bolsonaro.

Desde que assumiu o mandato de deputado federal, em fevereiro do ano passado, Gayer envia receitas de bolo perante qualquer questionamento da imprensa, que envolvem atuação parlamentar, questões no Judiciário e até mesmo a pré-candidatura dele nas eleições deste ano. A medida remete ao período da ditadura militar (1964-1985), quando as receitas substituíam as matérias censuradas pelo governo.

Na época, reportagens que relatavam acontecimentos sobre a política nacional eram trocadas por receitas de bolo ou poemas literários nos jornais. A prática era uma forma de os veículos de imprensa protestarem contra o cerceamento da liberdade de informação.

No final de junho, Gayer relacionou a existência de ditaduras em países da África à falta de “capacidade cognitiva” da população do continente. Respondendo ao apresentador de um podcast que afirmou que o QI dos africanos era menor que o de macacos, o parlamentar disse que o “Brasil está emburrecido” e “segue o mesmo caminho das nações africanas”.

Na época, o Estadão entrou em contato com o parlamentar para apurar a sua versão sobre o ocorrido, mas ele enviou outra receita de bolo. Em vídeo no X, Gayer negou ter dito frases racistas e disse que a repercussão da declaração no podcast foi motivado por uma “distorção” feita pela imprensa.

A declaração motivou um pedido de cassação do parlamentar por racismo no Conselho de Ética da Câmara. A proposta não chegou a ser votada pelo colegiado. Em novembro, a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou denúncia no STF pedindo a condenação de Gayer por injúria e racismo e a cassação do mandato dele, em caso de pena superior a quatro anos de prisão. O caso está no gabinete da relatora, ministra Cármen Lúcia, e ainda não foi concluído.

 

Fonte: FolhaPress/Agencia Estado

 

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