quinta-feira, 18 de abril de 2024

Corrupção! Moro criou processo secreto para movimentar dinheiro da Lava Jato sem prestar contas a ninguém

Na condição de juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, o hoje senador Sergio Moro foi o responsável por criar um esquema ultra secreto para movimentar verbas bilionárias angariadas com a ajuda da força-tarefa do Ministério Público Federal no Paraná, a partir de multas aplicadas nos acordos de leniência e delação premiada firmados com as empresas ou pessoas físicas investigadas na Operação Lava Jato.

A conta judicial que concentrava os recursos financeiros está associada ao procedimento criado por Moro nos autos do processo nº 5025605-98.2016.4.04.7000/PR, que por muitos anos ficou guardado a sete chaves, com “grau máximo de sigilo”. A partir desse procedimento secreto, Moro e depois a juíza Gabriela Hardt administravam e redistribuíam as verbas sem transparência ou prestação de contas.

Somente quando o Supremo Tribunal Federal lançou um olhar questionador sobre a tentativa do ex-procurador Deltan Dallagnol em usar os recursos de uma multa paga pela Petrobras nos Estados Unidos para criar uma fundação privada, é que juíza Gabriela Hardt decidiu levantar o sigilo.

As informações constam no documento em que o corregedor do Conselho Nacional de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão, decidiu afastar Hardt da magistratura a partir de 15 de abril de 2024. As apurações ocorreram no âmbito da correição extraordinária promovida pelo CNJ nos gabinetes da Lava Jato (13ª Vara e 8ª Turma do TRF-4). O GGN teve acesso à decisão de Salomão.

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Segundo o corregedor, a correição identificou que mais de 2 bilhões de reais passaram pela conta judicial secreta administrada por Sergio Moro. O valor total ainda não foi divulgado. A Corregedoria falou em “gestão caótica” dos recursos e ainda apontou “diversas irregularidades e ilegalidades ocorridas nos fluxos de trabalho desenvolvidos durante diversas investigações e ações penais que compuseram o que se denominou ‘Operação Lava Jato'”.

Salomão chamou atenção especial para os “mecanismos de controle e prestação de contas nos autos da representação criminal nº 5025605-98.2016.4.04.7000/PR, procedimento instaurado de ofício e com grau máximo de sigilo – só com acesso do juiz e Ministério Público-, referentes aos repasses de valores depositados em contas judiciais à Petrobras, decorrentes dos acordos de colaboração premiada e de leniência homologados pelo juízo da 13ª Vara, identificando uma correspondência com a subsequente homologação, em janeiro de 2019, de acordo de assunção de compromissos entre força-tarefa e a companhia [Petrobras].”

O acordo de assunção citado por Salomão foi homologado por Gabriela Hardt depois que Moro abandonou a magistratura para ser ministro do governo Bolsonaro. O acordo estabelecia as bases para a criação de uma fundação privada com dinheiro de uma multa paga pela Petrobras aos Estados Unidos.

·        Cash Back: O esquema de recirculação de valores

Salomão observou que a partir do procedimento secreto instaurado por Moro de ofício, criou-se na Lava Jato um esquema de “recirculação de valores”, que o ministro chamou também de esquema de “cash back”.

Na prática, o esquema consistia na aplicação de multas com valores exorbitantes aos investigados da Lava Jato. Essas multas constavam dos acordos de delação e leniência negociados com os réus pela turma de Deltan Dallagnol, e depois homologados por Moro ou pela juíza Gabriela Hardt.

As multas eram destinadas a ressarcir os cofres da Petrobras pelos “prejuízos” que ela sofreu em decorrência da corrupção praticada pelas empreiteiras ou ex-gestores. Salomão observou que a Lava Jato declarou a Petrobras a “vítima universal”, sem considerar que a União, como principal acionista, também teria interesse nas causas e direito ao ressarcimento.

Uma vez em posse dos valores recebidos a títulos de ressarcimento, a Petrobras poderia fazer frente à multa bilionária que recebeu de autoridades dos Estados Unidos justamente por conta das denúncias de corrupção forjadas no bojo da Lava Jato. Os EUA decidiram devolver uma parte da multa – cerca de 2,5 bilhões em valores da época – para as “autoridades brasileiras”. O time de Deltan Dallagnol tentou criar uma fundação privada para gerir os recursos. O acordo inconstitucional entre MPF e Petrobras chegou a ser homologado por Hardt – em juízo incompetente – em 2019.

Para Salomão, Moro criou as bases desse esquema, mas Hardt seguiu atuando “em processo autônomo (instaurado de ofício, com absoluto sigilo e sem a participação dos interessados) para suposto controle e destinação de valores oriundos de acordos de colaboração e leniência, inclusive referentes a ações penais sem sentença e, também, sem trânsito em julgado, estabelecendo critérios sem fundamentação legal, eivados de contradição e sem transparência, atingindo montantes superiores a 5 bilhões de reais.”

·        O fim do sigilo

“É de se ressaltar ainda que os autos 5002594-35.2019.4.04.7000/PR, instaurados justamente sob pretexto de controle da destinação dos vultosos valores depositados nos processos da Lava Jato, foram classificados com grau de sigilo 3 em sua instauração pela então diretora de secretaria da 13ª Vara Federal de Curitiba, assim permanecendo até 25 de julho de 2019, quando só então a juíza GABRIELA HARDT mudou para o nível 0 (sem sigilo)”, pontuou Salomão.

O corregedor frisou que o “esforço de dar transparência” só foi realizado após o Supremo Tribunal Federal anular a homologação do acordo que daria vida à Fundação Lava Jato, no âmbito do julgamento da ADPF 568.

“A mesma situação é identificada em relação à inclusão da Advocacia-Geral da União nos autos: o órgão recebeu sua primeira intimação para se manifestar na representação criminal no dia 21 de outubro de 2019, também após o questionamento do acordo pela PGR e em razão da primeira discordância da Petrobras em relação a um pedido da força-tarefa de destinação de R$ 35.288.641,94 para a União“, acrescentou.

Em sessão do CNJ na terça (16), a maioria dos conselheiros decidiu revogar o afastamento de Gabriela Hardt. O corregedor Luís Felipe Salomão propôs desmembrar todas as acusações envolvendo Moro e julgar primeiro a representação contra Hardt. Ele defendeu instauração de PAD (procedimento administrativo disciplinar). O CNJ retomará o julgamento nas próximas semanas.

 

Ø  Investigações devem abarcar além dos figurões da Lava Jato, mas tudo ligado à 13ª Vara

 

A correição do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) começa finalmente a passar a operação Lava Jato a limpo e o papel das figuras centrais que coordenavam esquemas de bilhões em prol de interesses privados. Em sessão desta terça, o envolvimento da juíza Gabriela Hardt foi uma das pautas que visou analisar o afastamento da magistrada alinhada com o ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União-PR), que também esteve na mira.

Ainda assim, as investigações devem abarcar além dos figurões – desembargadores e juizes – mas tudo o que diz respeito à 13ª Vara Federal de Curitiba, palco principal da famigerada operação. A perspectiva foi compartilhada pelo advogado criminalista Kakay, em entrevista ao jornalista Luís Nassif no programa TV GGN 20 Horas

“[Deve-se] Fazer investigações em coisas que não estão especificamente relacionadas a esses desembargadores, esse juiz [Moro], mas que dizem respeito à 13ª Vara. Por que o Tacla Duran não é ouvido? Não tem o direito de vir falar? Eu lembro que à época o próprio ministro Toffoli determinou que o juiz auxiliar o ouvisse. Mas é muito diferente. Terminando esse assunto, eu tenho pra mim que é uma hora de passar a limpo tudo que diz respeito à 13ª Vara, tudo o que nós sabemos de absurdo o que aconteceu”.

Tacla Duran denunciou o advogado Carlos Zucolotto (amigo e padrinho de casamento do juiz e também ex-sócio de Rosângela Wolff Moro) por lhe pedir alguns milhões como propina para negociar um acordo de delação dele, Duran, com os procuradores da Lava Jato, liderados por Deltan Dallagnol. Ainda, Rodrigo Tacla Duran foi um advogado impedido de delatar Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol.

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·        O julgamento no CNJ

Embora o CNJ não tenha jurisdição sobre processos criminais, as diligências do ministro Luís Felipe Salomão, corregedor, já apontam para uma série de transgressões e a possibilidade, cada vez mais evidente, de crimes terem sido perpetrados no âmbito da Fundação Lava Jato [entenda abaixo].

“Nós temos um processo contra a juíza [Hardt], um processo disciplinar, porque a CNJ não cuida de processo crime, mas o ministro Salomão que é o corregedor, ao fazer um despacho extremamente bem feito e técnico, ele coloca as coisas nos seus devidos lugares. Ou seja, ele afasta a juíza por uma série de excessos e levanta a hipótese de que ocorreram crimes efetivamente na questão da fundação privada”, expõe o penalista. 

Kakay refere-se à Fundação Lava Jato, uma tentativa de criar uma entidade privada utilizando parte da multa bilionária paga pela Petrobras nos Estados Unidos para encerrar processos judiciais no exterior – iniciativa organizada pela força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.

“Eles tiveram a ideia de fazer um conluio com o governo americano, com o departamento de Justiça americano, fizeram um acordo com a juíza, um acordo com a Petrobras e se apropriaram de bilhões de reais para uma fundação privada”, explica.

Em 2019, o acordo firmado entre a Petrobras e os procuradores da força-tarefa da Lava Jato foi impedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no entanto, o órgão judiciário ignorou contradições do MPF na ação que implodiu a Fundação Lava Jato e acabou por manter a nebulosidade em torno da cooperação com os norte-americanos. 

“Se não tivesse aquela liminar lá atrás que proibiu o Deltan de coordenar a fundação, eles estariam coordenando a fundação com milhões, bilhões, que foram vindo do dinheiro público. Inclusive, estou levantando uma pressão, até quero falar com o Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, sobre isso. A Petrobras tem que passar um pente-fino naquela época para descobrir quem é que ganhou dinheiro lá”. 

Durante o programa, Kakay também apontou que se analisado o voto do ministro Salomão, é possível concluir que a conduta de hipótese criminal de Hardt envolve peculato, corrupção e prevaricação o que faria sentido encaminhar o inquérito à procuradoria-geral da República, após decidida a questão administrativa.

No entanto, nesta terça, o ministro Luís Roberto Barroso Barroso anulou o afastamento de Gabriela Hardt e Danilo Pereira por considerar a decisão monocrática e arbitrária e pediu vista, mas manteve o afastamento dos desembargadores Loraci Flores e Thompson Flores.

 

Fonte: Jornal GGN

 

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