terça-feira, 2 de abril de 2024

Atrativo do turismo gastronômico, café da Chapada Diamantina ganha o mundo

Os cafés especiais cultivados em fazendas ou sítios da Chapada Diamantina vêm atraindo a atenção dos visitantes e impulsionando a economia local, sendo exportado para outros estados e países, como Noruega, Dinamarca, EUA, Austrália, Japão e Coreia do Sul. A produção de grãos do fruto do cafeeiro na região – em especial nos municípios de Piatã e Mucugê – já virou case de sucesso em festivais e concursos nacionais e internacionais. Em 2023, 11 marcas de cafés cultivadas na Chapada integraram a lista dos 30 melhores cafés do Brasil, conforme pesquisa da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), realizada junto à Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos e à Alliance for Coffee Excellence.

A antiga paixão dos brasileiros pelo “cafezinho” segue inabalada. Mas, digamos, que muitos adeptos da bebida estão mais exigentes, optando pelos cafés produzidos na Chapada Diamantina – que vêm conquistando posição de destaque na competição nacional Cup of Excellence, o “Oscar“ dos cafés especiais, promovida pela BSCA. Segundo o diretor-conselheiro da entidade, Sílvio Leite, estima-se que, do total da produção brasileira de café, 20% correspondem a de cafés especiais. “Na Bahia, por conta dos cafés finos produzidos na Chapada, este percentual pode ser um pouco maior”, acredita, destacando que a exportação brasileira de café gera U$ 6 bilhões por ano.

Embora esteja na quarta posição nacional em produção de café, a Bahia vem ganhando destaque internacional pela sua qualidade. A diferenciação dos cafés especiais, de acordo com a BSCA, está nos manejos específicos e no processamento, no caso feito de modo que em cada etapa seja preservada, ao máximo, a qualidade potencial dos grãos. “Os melhores cafés têm grãos perfeitos, têm torra média-escura e são torrados com técnica especial”, pontua Sílvio Leite. Todo esse processo pode ser conhecido através da Rota do Café, em fazendas, como a Riacho da Tapera, em Piatã, que recebem visitantes, apresentam suas plantações de cafés e mostram a arte da torra, que é a etapa mais importante de todo o ciclo para se garantir a qualidade e o sabor do produto.

O município de Piatã origina a maioria das marcas baianas de café especial não só pelo seu clima favorável por ser a cidade com a altitude mais elevada do Nordeste (1.260 metros acima do nível do mar). Mas, sobretudo, pelo profissionalismo do plantio, da colheita e da torra, graças ao aprimoramento de técnicas dos pequenos produtores, que contam com o apoio de órgãos como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O apoio da Sebrae tem sido importante, por exemplo, para o cafeicultor Silvaldo Silva Luz, em Ibicoara. Em 2022, ele comemorou a segunda colocação na competição nacional Melhor Café Torrado para Expresso, com o Café Canjerana. “A ajuda de consultorias oferecidas pelo Sebrae foi fundamental para a melhoria da torra e impactou efetivamente nos resultados positivos”, relatou na época.

Um dos cafés especiais da Chapada Diamantina de maior sucesso, o Café Rigno, produzido na Fazenda Tijuco, em Piatã, é tetracampeão no Cup of Excellence, tendo conquistado o troféu de “Melhor Café” nas edições de 2009, 2014, 2015 e 2022. O Sítio Bonilha, no mesmo município, também tem se destacado na premiação, levando o 2º lugar na última edição. Os cafés das fazendas Gerais; Divino Espirito Santo; Capão; Cerca de Pedras São Benedito; Ouro Verde; e Campo Alegre, bem como dos sítios São Sebastião; Entre Vales; e Córrego Seco, também já foram listados. “Nesses 23 anos do concurso, a Bahia detém 19% dos cafés vencedores, sendo que Piatã e Mucugê são os maiores produtores do Estado”, enfatiza Sílvio Leite, informando que o Brasil possui 300 mil fazendas produtoras de café, envolvendo em torno de 8,7 milhões pessoas no setor.

·        “Diamante negro”

Antonio Rigno, proprietário da Fazenda Tijuco, revela como chegou no patamar de um dos maiores produtores de cafés especiais da Chapada. “Costumo dizer que nasci debaixo do pé de café. Meu pai foi um produtor de café e foi dele que herdei o amor pelo grão e, desde então, sempre estive ligado ao mundo do ‘diamante negro’. Há 20 anos vi uma oportunidade de sair do commodities e adentrar no universo dos cafés especiais, me tornando pioneiro na área em Piatã. Começamos a ganhar prêmios e reconhecimento e sempre incentivei os demais produtores a investirem no café especial. Hoje, Piatã é reconhecida mundialmente como produtora de grãos especiais e sinto muito orgulho disso”.

Com uma produção média de duas mil sacas por ano de café 100% arábica, da variedade Catuaí, o dono da Fazenda Tijuco trabalha, principalmente, com a exportação para regiões como Japão, Canadá, Austrália e Noruega. “Aqui, em Piatã, temos uma torrefação que distribui para alguns lugares do país e temos, também, outra torrefação em Piatã e Vitória da Conquista, onde temos também uma cafeteria. Todo esse processo está nas mãos de nossa família”, conta.

O produtor Maridalton Silva Santana também vem de uma família que atravessa gerações no plantio do café. O Sítio Bonilha, em Piatã, pertenceu aos seus bisavôs e, depois, aos seus pais. No município, onde estão as suas origens, ele diz se beneficiar de um dos climas mais propícios para a produção de café especial. “O meu interesse em seguir com o legado da família me levou a buscar conhecimento nessa cultura. Chegar até aqui foi muito difícil, tive muitos erros e acertos. Mas, graças a Deus, estou conseguindo bons resultados na minha trajetória”, diz. O produtor, que tem seu café vendido para várias cafeteiras espalhadas pelo Brasil e exportado para outros países, ainda não tem marca registrada e vende os grãos crus em sacas de 30 ou 60 kg, tendo uma produção anual de cerca de 200 sacas. Para isso, ele conta com a esposa e os filhos, que o ajudam principalmente na despolpa do café e no cuidado dos grãos no pátio.

 

Ø  Rio de Contas produz 1º azeite extravirgem do Nordeste

 

Iguaria da Chapada Diamantina, o azeite Rio de Contas tem conquistado paladares e se destacado no cenário gastronômico mundial como um produto de qualidade rara. Produzido a mais de um mil metros de altitude, este azeite extravirgem, o primeiro do Nordeste, é marcado por sabores tropicais e já conquistou prêmio em um concurso internacional de Paris.

Com um processo de produção cuidadoso e artesanal, o azeite Rio de Contas é extraído de azeitonas selecionadas, cultivadas de forma sustentável em terras férteis e sob condições climáticas que remetem a um terroir de tipo mediterrâneo. Fruto de um projeto familiar, as oliveiras do tipo ‘arbequina’ produziram o primeiro azeite de oliva da história do Nordeste, que conquistou a medalha de ouro no concurso Olio Nuovo Days de Paris, em 2021.

Segundo o produtor Christophe Chinchilla, o plantio das oliveiras foi realizado em uma fazenda experimental do município de Rio de Contas, há cerca de quinze anos. A primeira colheita, ainda modesta, aconteceu em 2018, sem a produção de azeite. Três anos mais tarde, e depois de algumas adaptações agronômicas, a nova colheita rendeu uma safra histórica, que inaugurou a Bahia e o Nordeste como terras de produção de azeite de oliva.

‘‘Por volta de 2005, meu pai resolveu começar um novo empreendimento, algo um pouco inovador. Naquele momento, o Brasil não produzia azeite, era praticamente tudo importado de Portugal, Argentina e Chile. Então, ele resolveu buscar um lugar que tivesse condições climáticas parecidas com as de sua terra natal, no sul da França. Em Rio de Contas, ele se sentiu em casa e decidiu tentar a aventura’’, contou.

O cuidado com cada etapa da produção do azeite, desde o cultivo em condições de biodinâmica à extração, resultou, no ano de 2021, em um produto final com sabor e aroma inéditos. Com notas frutadas, essa foi a primeira vez que uma região da Bahia produziu azeitonas em quantidade e qualidade suficientes para a produção de azeite.

Ainda de acordo com o empresário, apesar do destaque, o olivar ainda se encontra em fase experimental, necessitando de investimento em pesquisa e aprimoramento, visto que ainda não foi possível produzir uma quantidade de azeitonas que fosse sustentável de um ponto de vista econômico.

‘‘Aqui, no nosso pomar, metade das árvores nunca produziu e a outra metade produz uma vez a cada três anos. A gente ainda está muito longe dos padrões alcançados no Rio Grande do Sul e na Europa, onde cada pé costuma produzir cerca de 20 kg de azeitona por ano. Além disso, ao invés de produzir todo ano, estamos produzindo uma vez a cada três anos. E, ao invés de 20 kg, estamos colhendo, em média, 5 kg por pé’’, ressaltou.

Em Rio de Contas, novos testes estão sendo conduzidos, incluindo a técnica do sombreamento. Conforme Chinchilla, duas oliveiras que tradicionalmente florescem e frutificam todos os anos estão localizadas à sombra de um pequizeiro de grandes proporções. Especula-se que essa condição possa estar influenciando dois aspectos cruciais: primeiro, o aumento da disponibilidade de frio, uma vez que ambientes sombreados tendem a ser mais frescos; e segundo, a mitigação da seca, que na Chapada Diamantina coincide com o início da primavera.

De acordo com os observadores, as árvores só começam a florescer em setembro, momento em que o calor é mais intenso devido à falta de chuvas prolongadas, o que também aumenta o risco de incêndios. Como resultado, a floração muitas vezes é seguida por uma quebra na produção devido às altas temperaturas. A prática do sombreamento surge como uma possível solução para esses desafios, embora ainda não tenha sido comprovada por testes formais.

·        Perspectiva de futuro

Ainda de acordo com o empresário, o projeto visa estabelecer este ano uma parceria de pesquisa com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do Cerrado (Embrapa Cerrados), que obteve sucesso na adaptação da cultura da soja à vegetação local. Essa colaboração é considerada de grande importância do ponto de vista econômico, dada a reputação da Embrapa como referência no setor. “Estamos buscando trazer essa parceria de pesquisa para a Chapada, a fim de concluir esses testes”, destacou Chinchilla.

O compromisso com a qualidade e a tradição fazem do azeite Rio de Contas um tesouro da gastronomia brasileira, levando o sabor único da Chapada Diamantina para as mesas de todo o mundo. Além de ser uma excelente opção alimentar, o azeite também é reconhecido pelos seus benefícios à saúde. Rico em antioxidantes e ácidos graxos essenciais, como o ômega-3 e o ômega-6, esse elemento contribui para a prevenção de doenças cardiovasculares e promove o bem-estar de forma geral.

 

Fonte: A Tarde

 

Nenhum comentário: