Na pandemia, Brasil teve até 22% da população com dificuldade para obter
uma alimentação saudável, diz ONU
O número de brasileiros que têm dificuldades em
manter uma alimentação saudável aumentou, conforme relatório divulgado pela
Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de seis
agências especializadas.
Os dados são referentes ao ano de 2021, quando a
pandemia de Covid-19 ainda assolava o país, e apontam que 48,1 milhões de
brasileiros não conseguiram ter acesso a uma alimentação que garantisse as
necessidades energéticas de uma pessoa, o que representa 22,4% da população
total do país.
No ano anterior, em 2020, esta situação atingia
27,1 milhões de brasileiros (12,7% da população). Mais de 20 milhões de pessoas
no país passaram a consumir alimentação sem a quantidade necessária de
nutrientes para o bem-estar e a saúde.
Já em 2017, cerca de 41 milhões de pessoas,
correspondendo a 19,6% da população, tinham acesso a uma dieta considerada
saudável. No ano seguinte, em 2018, esse número diminuiu para 38,9 milhões,
representando 18,5% da população. No entanto, houve um aumento em 2019, com
39,9 milhões de pessoas (18,8% da população) desfrutando de uma dieta
saudável (veja gráfico abaixo).
O número tratado no relatório da ONU é
diferente das estatísticas da fome. No Brasil, um milhão e meio de pessoas
entraram para as estatísticas da fome crônica nos últimos três anos e sofrem
com a desnutrição. Ao todo, são mais de 10 milhões de pessoas que fazem parte
das estatísticas da subalimentação (fome) no Brasil, o que representa quase 5%
por cento da população.
·
Custo da alimentação
A medida em que o número de pessoas se alimentando
mal aumenta no Brasil, outra estatística também cresce. O custo para acessar
uma dieta balanceada, por pessoa, por dia, também aumentou e vem crescendo
desde 2018.
Em 2020, uma alimentação diária que levasse em
consideração o peso e a idade do indivíduo, assim como os nutrientes
necessários, custava US$ 3,08 por dia.
Já em 2021, o preço saltou para US$ 3,35. Na
cotação atual, seriam R$ 16,43 por dia, ou seja, R$ 495,9 por mês, segundo
cotação atual do dólar.
O relatório foi publicado pela Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura/FAO, Organização Panamericana de
Saúde/OPS, Organização Mundial da Saúde/OMS, Programa Mundial de Alimentos/WFP,
Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola/Fida e Fundo das Nações Unidas
para a Infância/Unicef.
Para Rosana Salles, pesquisadora da Rede
Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede
PENSSAN), a complexidade do valor associado à alimentação saudável torna-se
evidente, especialmente em contextos de insegurança alimentar.
Ela diz que durante a pandemia, o Brasil enfrentou
cortes em políticas sociais, afetando a proteção alimentar para a população
mais vulnerável, enquanto a falta de controle nos preços dos alimentos e a
ausência de uma política governamental eficaz contribuíram para desafios
adicionais.
Se olharmos alimentação como um todo, não havia um
controle. Os preços não tinham controle. E o Brasil não possuía naquele momento
uma política de governo que pudesse controlar o abastecimento dos alimentos
diante de um momento de crise sanitária que vivíamos. — Rosana Salles,
pesquisadora da Rede PENSSAN
·
Mundo
O Brasil está na contramão do mundo, quando o
assunto é o acesso à dieta balanceada. Isso porque o número de pessoas que
conseguiram acesso, a nível global, diminuiu, ainda que pouco.
Em 2021, 3.139,5 bilhões de pessoas não conseguiram
acessar uma dieta saudável no planeta, 42,2% de toda a população.
No ano anterior, o mais afetado pela pandemia, eram
3.191,9 bilhões de pessoas nesta situação. (43,3% da população).
Em contrapartida, no mundo, a alimentação saudável
também ficou mais cara de 2020 para 2021. O preço por pessoa passou de US$ 3,51
para US$ 3,66 por dia.
Por isso, Mario Lubetkin, representante regional da
FAO/ONU para América Latina e Caribe, diz que combater a fome é algo que vai
além de simplesmente alimentar a população.
"É um pilar fundamental para erradicar a
pobreza, diminuir as desigualdades, alcançar um mundo mais pacífico e,
sobretudo, para avançar o caminho rumo ao desenvolvimento sustentável dos
nossos países", afirma.
·
América Latina e Caribe
Já em toda América Latina e Caribe, 133,4 milhões
de pessoas não tiveram acesso a uma dieta saudável, representando 22,7% da
população.
A estatística também aumentou, na comparação com o
ano de 2020, quando 121,9 milhões de pessoas estavam nesta situação (20,9%).
Em 2021, o custo de uma dieta saudável na região
foi de US$ 4,08, enquanto em 2020, para ter acesso, cada indivíduo tinha de
gastar US$ 3,87 por dia.
De acordo com a ONU, a região tem o custo mais
elevado de uma alimentação saudável em comparação com outras regiões do mundo e
está acima da média mundial.
O aumento, segundo as agências, está relacionado
com o aumento da inflação alimentar em 2021, bem como com as consequências da
pandemia de Covid-19, uma vez que ocorreram problemas no funcionamento da
cadeia de abastecimento global e aumento dos preços internacionais dos
alimentos. A guerra entre Rússia e Ucrânia também são justificativas para os
aumentos.
·
América do Sul
A tendência na América do Sul, também é de aumento.
De 2020 para 2021, mais de 15 milhões de sul-americanos passaram a não ter
acesso a uma alimentação saudável. Eram 83,8 milhões em 2021 (20,6%) e 68,4
milhões (17%) em 2020.
O aumento da dificuldade de acesso foi maior na
América do Sul (22,5%) que no Caribe (4,1%), segundo o relatório.
O custo dessa alimentação ficou mais caro na
América do Sul. Foi de US$ 3,58 em 2020, por dia, para US$ 3,81 por dia em
2021.
A América do Sul a região que registrou o maior
aumento, com 6,5%; seguido pelo Caribe, com 5%; e América Central, com 4,1%.
·
Insegurança alimentar é maior entre mulheres
A ONU já havia divulgado o número de brasileiros
que passam fome ou vivem em situação de insegurança alimentar no Brasil e no
mundo em julho, no relatório sobre o Estado da Segurança Alimentar e Nutrição
no Mundo (SOFI).
Agora, no Panorama Regional, foram divulgados os
dados de acordo com o gênero, e, no Brasil, as mulheres são a maioria.
De acordo com os dados da insegurança alimentar,
que é quando falta ou há dificuldade em adquirir alimentos e refeições, no
Brasil, 70 milhões de pessoas nem sempre tiveram o que comer em quantidade
suficiente; pularam refeições; trocaram alimentos por outros de pior qualidade
(insegurança alimentar moderada ou grave).
Dessas, 21 milhões ficaram sem comer por um dia ou
mais, ou 10% por cento da população. São estas as pessoas que enfrentam a
insegurança alimentar grave, que também é um indicador de fome. Entraram para
esta estatística, desde o último levantamento, quase 6 milhões de brasileiros
(5,9).
Entre os anos de 2020 e 2022, 38,7% da população em
situação de insegurança alimentar (moderada ou grave/70 milhões) eram mulheres.
Realidade que aumentou 17,6 pontos percentuais, na comparação com os anos de
2014 a 2016.
No período, 26,9% eram homens. O número também
aumentou entre os relatórios divulgados, uma vez que de 2014 a 2016, os homens
representavam 15,6% do total de pessoas em situação de insegurança alimentar
moderada ou grave.
A insegurança alimentar, de acordo com a ONU, afeta
de forma desigual diferentes grupos da população, sendo as mulheres e os
residentes das zonas rurais os mais vulneráveis.
De modo geral, as mulheres enfrentam maior
insegurança alimentar do que os homens, com uma disparidade de 9,1 pontos
percentuais e acima da disparidade global, na América Latina e Caribe.
Além disso, o relatório explica que, a insegurança
alimentar aumenta à medida que o nível de urbanização diminui. Populações
rurais e periurbanas têm maior prevalência de insegurança alimentar moderada ou
grave do que aquelas que vivem em áreas urbanas.
Fonte: g1
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