Você sente falta da liberdade de expressão?
Estudei na Holanda 6
anos, e a maior parte da minha vida adulta foi em Amesterdão.
A forma como se lida
com a liberdade de expressão é extremamente diferente daquilo que eu estava
habituado em Portugal.
Jamais me vou adaptar
à realidade da suposta liberdade portuguesa.
Deixa-me ver como eu
resumo. Na Holanda tu tens liberdade de dizer absolutamente tudo em qualquer
circunstância desde que tenha lógica. Não há nenhum tabu. Não há conversas que
não se tem. Não há dogmas. Não há nada dessas coisas. Em TODOS os contextos. Seja
na sala de aula ou a falar com o governo.
Por exemplo, é
totalmente normal falar de drogas ou sexo ou pessoas ricas ou traficantes ou
pessoas pobres ou emigrantes ou absolutamente tudo. Tudo. Tudo. Absolutamente
tudo.
Não há absolutamente
nada que não se possa dizer. Tudo se pode dizer, encontrar padrões, debater,
apontar o dedo. Aliás, como bom norte europeu é excelente que apontes o dedo.
Quando vejo discussões
em Portugal, e eu acompanho praticamente todos os investigadores e líderes de
comentário relevante é uma tristeza monumental. É um país totalmente de
terceiro mundo a nível de profunda liberdade de expressão.
Há muitos tabus, muita
coisa que não se diz, há muito respeito pelo status quo, há muita gente com
interesses por detrás, há muita gente que é comentadora sem estudos a favorecer
partidos mas ninguém o diz, há uma falta de falar de assuntos importantes, e
não há nenhum tipo de reflexão dos resultados obtidos. É tudo feito à sorte.
A coisa mais bela e
mais clara de liberdade de expressão é tentar falar de assuntos banais com
profundidade com a pessoa média. A coisa que eu mais sugiro é simplesmente ir a
um café.
Ir a um café é a coisa
mais típica do mundo. Vê alguém e tenta meter conversa. Só que tenta falar
sobre democracia. Tenta falar dos efeitos de uma guerra. Tenta falar sobre PIB
per capita. Tenta falar sobre salário. Tenta falar sobre algo que seja minimamente
mais do que o óbvio.
Em Portugal, 99% das
pessoas vão dizer coisas óbvias sem profundidade nenhuma e provavelmente
erradas. Na Holanda uns 99% das pessoas vão saber falar — isto é, ramificam,
consideram várias opções, dizem que há opções melhores que outras, explicam
potenciais conclusões e depois tomam ou não decisões. Isto não é só o cidadão
comum, é praticamente toda a população.
Tu tens que falar com
absoluta imacula honestidade o tempo todo, e ser extremamente ponderado.
Ponderado não no sentido de ter decisões “consensuais” e sim ponderado no
sentido de ser o mais racionalmente possível.
A liberdade de
expressão nota-se muito mais em assuntos profundos, porque em assuntos ligeiros
serve para que? Dizer quem morreu?
Portugal tem o pior
índice de analfabetismo financeiro da Europa, e aposto que tem o pior índice
intelectual, que infelizmente não há. Mas fale com as pessoas, ou veja o que
elas postam na internet.
Mas desde há 5 anos
tem havido uma mudança muito significa:
Hoje em dia, noto uma
diferença substancial desde há 5 anos. E isso vê-se no Quora.
Antes não podíamos
dizer que Portugal caminhava para um dos mais pobres da Europa.
Antes não podíamos
referir artigos científicos para apontar fosse o que fosse.
Antes não podíamos
falar que a comunicação social era muito comprada e sem profundidade nenhuma.
Antes não se podia
falar no status quo português.
Antes não se podia
falar de nada que seja profundo.
Portugal tem uma
cultura propícia aos ghettos de opinião, aos dogmas, a uma espécie de ditadura
da opinião. Factos não interessam. O que interessa é soar bem e ser moderado,
sem saber o que é moderado.
Em Portugal,
praticamente todos os meios de comunicações eram de uma superficialidade que
era de uma total infinito básico que simplesmente nem sequer observavam segundo
uma camada um pouquinho menos óbvia. Por isso, os Portugueses deixaram de
comprar os jornais. Deixaram completamente. E os jornais hoje sobrevivem graças
ao Estado. Não só o Jornal de notícias, e diário de notícias, mas também os
meios de comunicação do grupo Impresa, onde faz parte a Sic e expresso.
É impressionante a
quantidade de comentários genuinamente mentiroso nestes canais, é de uma
gigantesca felicidade que acabem. Não têm direito de constantemente mentir.
Quero que esses todos expludam. E por isso que o Observador tem tido tanto
destaque porque fala tudo de forma crua.
Hoje em dia está a
surgir claramente os movimentos de contra-cultura. Os Portugueses informados já
entenderam que os meios de comunicação estão comprados, que o país é governado
pelos betos, e que as altas esferas do estado têm extrema corrupção.
Infelizmente é como se
estivéssemos a viver um 25 de abril contínuo em silêncio, em que praticamente
todos os intelectuais são anti-PS. Há um confronto de ideias gigante. Nenhum
intelectual é PS. A não ser que seja pago por eles. Há uma ideia de rotura total.
De revolução. As pessoas dizem que votam num partido mas depois votam noutro.
As pessoas estão fartas, cansadas, querem que estes políticos se fodam
completamente.
A mim entristece-me
muito, e tenho perfeita noção que nos próximos 200 anos Portugal ainda estará
muito atrás em tudo, especialmente porque hoje em dia, é um país de idosos,
onde a média dos votantes é 58 anos.
Há uma ideia que temos
que ter um status quo onde uns entram e outros saem. Eu queria um Portugal como
a Holanda onde tudo se fala sempre. Mas sei que jamais vou ter isso.
É uma liberdade de
expressão? É uma vergonha. É mascarar a realidade. Uma liberdadezeca de
imbecis. De cornos.
Sinceramente, só
queria mostrar a verdade a Portugal, e nunca mais referir Portugal na minha
vida. Vergonha de país. Vergonha de eleitores. Vergonha de totais nojentos
cornos e velhos. Medricas.
Se querem ser merda,
uns medricas e últimos em tudo que sejam. Eu não serei.
O quão longe uma fake news pode chegar?
Vou contar a história
de como "fake news" matou muitos japoneses aqui no Brasil, após o fim
da Segunda Guerra.
Em 15 de agosto de
1945, o Japão assinava a sua rendição, colocando fim à Segunda Grande Guerra,
conflito que durou 6 anos e matou estimadas 60 milhões de pessoas no mundo
todo. Mas, no Brasil, começava uma outra guerra entre os imigrantes japoneses.
Após o anúncio da derrota japonesa, pronunciada pelo próprio imperador Hiroito,
os japoneses do Brasil se dividiram em dois grupos: os kachigumis (vitoristas,
nacionalistas, que não acreditavam na derrota japonesa e achavam que a Guerra
ainda estava ocorrendo) e os makegumis (derrotistas ou "corações
sujos", pessoas mais bem informadas, normalmente mais prósperas, que
admitiam a derrota japonesa).
Segundo os argumentos
dos kachigumis, em 5 mil anos, o Exército Imperial Japonês nunca fora derrotado
em uma guerra. Então, não seria possível esta ser a primeira derrota. Além
disso, se a derrota fosse verdadeira, o imperador, humilhado, teria se matado
e, na sequência, todo o povo japonês se mataria também pelo imperador. Como
nada disso aconteceu, parecia óbvio que a notícia da derrota era "fake
news" (este termo não existia na época, claro!)!
Inclusive, circulavam
versões "fake" de revistas e jornais, produzidas pelos kachigumis,
exaltando a vitória japonesa na Guerra e a rendição americana.
Os ânimos se exaltaram
até que um grupo mais radical dos kachigumis, chamado de Shindo Renmei, começou
a praticar assassinatos de membros dos makegumis, causando pânico na colônia
japonesa. As autoridades brasileiras "lavaram as mãos", pois diziam
que era "problema dos japoneses". Após alguns anos e 23 assassinatos
relatados, membros da Shindo Renmei foram presos e a comunidade japonesa fez de
tudo para esquecer estes episódios.
Estes eventos são
contados no livro "Corações Sujos", de Fernando Moraes, e no filme
homônimo, lançado em 2011.
Você acredita que há uma elite global que
controla nossa vida?
Não uma elite global,
mas várias elites locais em vários locais diferentes. E não controla a nossa
vida assim, no particular, determinando o que vamos comer, qual faculdade vamos
fazer, mas de uma forma geral, determinando que o acesso à educação e saúde não
será generalizado, que o salário vai ser abaixo do custo de vida para uma boa
parte da população, essas coisas.
Eles controlam de uma
forma mais genérica, aprovando leis e políticas, desfazendo direitos
conquistados, e agora, dizendo o que é verdade e o que é mentira à revelia dos
fatos, na forma de fake news.
Aliás, o grupo mais
controlado pela elite são os bolsonaristas. Eles estão sendo condicionados a
acreditar só no que certas fontes dizem ser verdade, e isso faz muita
diferença, a ponto de ter gente achando que gasolina a R$7 é mais barata que
gasolina a R$6.
A próxima narrativa
que estão preparando é que o PIX faz com que o preço das coisas aumente, já que
a maquininha que gera o código do PIX cobra uma taxa de alguns centavos por
pagamento PIX. Como se isso não acontecesse com as máquinas de cartão de crédito
e de débito que vieram depois.
Quando você controla o
que uma pessoa acredita, você efetivamente fez uma lavagem cerebral nela, ela
deixou de ser um agente independente, para se tornar uma massa de manobra, um
número de celular em um grupo de WhatsApp que vai fazer o que a elite mandar,
inclusive ir para a "festa da Selma", para depois pegar 10 anos de
cadeia por tentativa violenta de golpe na democracia.
Fonte: Por Gonçalo
Melo-Caraglio, para Quora
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