Ricardo Nêggo Tom: CPI das igrejas
evangélicas já!
“E, quando Jesus ia
saindo do templo, aproximaram-se dele os seus discípulos para lhe mostrarem a
estrutura do templo. 2 Jesus, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em
verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada.
” Eis um trecho do capítulo do evangelho de Mateus, onde Jesus anuncia
profeticamente a destruição do templo de Jerusalém, e enumera outras coisas que
iriam acontecer como prenúncio do fim. Entre elas, o surgimento de falsos
profetas que viriam em seu nome para enganar os incautos e desavisados. Em se
tratando da “igreja de Cristo” no Brasil, eu incluiria a essa lista de
intempéries sócio religiosas uma CPI que investiga os abusos financeiros
cometidos por boa parte das igrejas evangélicas brasileiras, sob a bênção de um
Estado omisso que ainda garante a essas instituições religiosas o beneplácito
da imunidade tributária, estendendo a renúncia fiscal para outras associações
supostamente beneficentes ligadas a elas. Sem falar nas prebendas, o salário
dos pastores, que foram isentas de imposto de renda numa canetada dada pelo
governo Bolsonaro.
Uma CPI sobre essas
igrejas evangélicas não deixaria pedras de Hebron sobre pedras de Hebron. As
mesmas que foram transportadas em toneladas para a construção do Templo de
Salomão, de propriedade do empresário da fé Edir Macedo, sem que a receita
federal pudesse cobrar um centavo sequer de impostos sobre a importação.
Justiça seja feita, em 1997 a Receita Federal já havia tentado enquadrar a
Igreja Universal cobrando impostos devidos e não pagos, sob a pertinente
afirmação de que a referida instituição religiosa praticava atividades visando
lucros, se aproveitando da imunidade tributária que a constituição oferece às
igrejas. Na época, os valores devidos foram estimados em R$ 98,360 milhões e
uma notificação foi entregue à igreja. A autuação resultou de meses de
investigação onde a Receita identificou atividades comerciais suspeitas
realizadas pela IURD nos anos de 1991, 1992, 1993 e 1994, o auge do
charlatanismo de Edir Macedo no Brasil. Período onde a sua empresa faturou rios
jordões de dinheiro com dízimos, doações e outras estripulias ungidas. Donde
concluiu-se que a igreja atuava como um banco e usava seus recursos para fazer
empréstimos para vários de seus dirigentes.
O custo para a
construção do suntuoso e farisaico Templo de Salomão, em São Paulo, foi
avaliado em R$ 400 milhões e, mais uma vez, chamou a atenção da Receita Federal
que em 2013 foi cobrar os impostos referentes a importação de materiais
utilizados no adorno do castelo de Macedo. Foi calculado um débito total de 1,8
milhão de reais que seriam devidos no recolhimento do ICMS por esses produtos e
615.000 reais em outros impostos, como o IPI. Se fizermos uma pesquisa mais
detalhada, perceberemos que líderes religiosos de igrejas evangélicas estão
entre os maiores sonegadores e devedores de impostos do país. Silas Malafaia e
sua voz nauseante que parece eclodir de um gargalo entupido, mantém uma dívida
de R$ 4,6 milhões em impostos com a União, segundo matéria do UOL de 2021,
cujas informações foram obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação. Segundo
outra matéria do UOL, também de 2021, a Igreja Internacional da Graça de Deus,
empresa de propriedade de R.R Soares, cunhado de Edir Macedo, possui débitos inscritos
na dívida ativa da União de R$ 162 milhões, de acordo com dados da
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Algo que o deputado federal David
Soares (DEM-SP), filho de R.R, cuidou de resolver criando o PL 1581/2020, uma
emenda que regulamenta o acordo direto para pagamento com desconto ou parcelado
de precatórios federais.
Outro homem de Deus
que está enrolado em dívidas com a União é o apóstolo Valdemiro Santiago,
aquele que gosta de usar chapéu de fazendeiro. As dívidas de impostos da Igreja
Mundial do Poder de Deus, empresa de sua propriedade, triplicaram entre
dezembro de 2018 e setembro de 2021, saltando de R$ 48,66 milhões para R$ 171,6
milhões. A maioria das pendências está relacionada com a folha de pagamento da
igreja, como contribuições previdenciárias e imposto de renda retido na fonte
de FGTS. Ou seja, o ungido do senhor está dando calote nos direitos
trabalhistas dos seus funcionários. Não por acaso, sua empresa foi surpreendida
por uma greve onde os colaboradores cobravam os seus direitos. Vale lembrar que
Valdemiro foi o primeiro a ser vítima de uma facada que o transformaria em
mártir do evangelho de Cristo. Por pouco não vira presidente da república.
Marco Feliciano, o pastor deputado dos dentes de ouro, devia R$ 47.582,69 ao
INSS em 2017, segundo matéria do site Repórter Brasil. Uma dívida que também
deve ter aumentado consideravelmente, tendo em vista que o governo Bolsonaro do
qual o sorriso mais caro do Brasil era apoiador, não cobrou essa fatura.
São apenas alguns dados que demonstram o
porquê que não devemos ter líderes religiosos ocupando cargos públicos. A
bancada evangélica no Congresso foi a responsável pela derrubada do veto
presidencial ao dispositivo que concedia anistia aos tributos devidos por
igrejas, que totaliza mais de R$ 1 bilhão em dívidas registradas com a União.
Curiosamente, a derrubada do veto teve o apoio de quem o havia determinado, o
então presidente Jair Bolsonaro. Na Câmara, 439 deputados votaram pela
derrubada do vetado, enquanto que no Senado 71 parlamentares ratificaram a
decisão imoral. Uma demonstração de força de um segmento religiosos que
pretende exercer o poder no país em todas as esferas, contando com a covardia
de um Estado cada dia menos laico e com o bundamolismo do povo brasileiro que
assiste passivamente a essa orgia abençoada pelo dinheiro público. Qual é o
nosso medo diante dessa patifaria? Será que acreditamos que Deus está ao lado
dessa gente hipócrita e desonesta? Será que tememos Jesus voltar e nos castigar
por ter feito os seus representantes comerciais pagarem os impostos que eles
deviam?
Aliás, se esses
mandriões da fé pregam a volta de Jesus, é porque eles não acreditam que ele
esteja presente em suas igrejas. Se é a presença espiritual de Jesus que eles
invocam para fazer os milagres que alardeiam, ele já deve estar entre nós. Não
seria a sua presença física que iria alterar o curso de seus “projetos”. A não
ser que ele volte para destruir essa igreja que está corrompendo a fé das
pessoas, sonegando impostos que poderiam ser utilizados em políticas públicas e
projetos sociais em assistência aos mais pobres e vulneráveis – como Jesus
pregava – e enriquecendo seus líderes em detrimento das necessidades de seus
fiéis. Tenho a certeza de que Jesus Cristo seria o primeiro a assinar essa CPI
para investigar as igrejas evangélicas. Se Pilatos lavou as mãos diante da
inocência do seu sangue, Malafaia, Macedo, Feliciano e afins, podem estar
lavando dinheiro em troca do mesmo sangue. Acabar com a imunidade tributária
das igrejas, proibir que líderes religiosos exerçam cargos políticos e punir
judicialmente instituições religiosas que fazem campanha política em seus
templos sob a égide de um culto a um deus verdadeiro, é o novo evangelho de
Cristo para esta nação. O ideal de igreja sem partido deve ser propagado em
nome de Jesus por todos aqueles que, independentemente de credo religioso, já
estão fartos de verem o nome de alguém que nunca esteve envolvido em
pilantragem, chafurdar na lama ungida por falsos profetas e doutores da lei
religiosa deste tempo. O sinédrio de hoje precisa pagar pelo que o sinédrio de
ontem fez há dois mil anos. E vai pagar!
Ø O
que Hitler quis dizer com "minta até que seja verdade"?
Ironicamente, não
existem elementos para atribuir essa frase a Hitler, nem tampouco a Goebbels.
De fato, Goebbels se presentava como ou acreditava ser um combatente da Verdade
contra as mentiras estrangeiras.
As traduções sobre a
frase de Pseudo-Goebbels tenderam a figurá-la, o "original" é
bastante claro.
Eine Lüge muss nur oft genug wiederholt werden. Dann wird sie geglaubt.
Uma mentira
simplesmente se tem que repetir o suficiente, então será crida.
Outra versão é um
discurso ainda mais longo e claro, que aparentemente vem do inglês, depois
traduzido ao alemão:
Wenn man eine große Lüge erzählt und sie oft genug wiederholt, dann
werden die Leute sie am Ende glauben. Man kann die Lüge so lange behaupten, wie
es dem Staat gelingt, die Menschen von den politischen, wirtschaftlichen und
militärischen Konsequenzen der Lüge abzuschirmen. Deshalb ist es von lebenswichtiger
Bedeutung für den Staat, seine gesamte Macht für die Unterdrückung abweichender
Meinungen einzusetzen. Die Wahrheit ist der Todfeind der Lüge, und daher ist
die Wahrheit der größte Feind des Staates.
Quando alguém conta
uma grande mentira e a repete o suficiente, então a gente acaba por acreditar.
Um pode manter essa mentira por tanto tempo quanto o Estado possa proteger às
pessoas das consequências políticas, económicas e militares dela. Por isso é de
importância suprema para o Estado colocar todo seu poder para a repressão de
opiniões divergentes. A verdade é o inimigo mortal da mentira, por isso a
verdade é o inimigo mais grande do Estado.
Sim é verdade que
Hitler e Goebbels acreditavam que as massas precisavam da repetição de
propaganda para que tivesse efeitos, essa é uma doutrina que vem de Le Bon e
sua psicologia das massas. No diário de Goebbels, 29 de Janeiro, 1942:
Ich kann wieder sehr
viel lernen; vor allem, daß das Volk meistens viel primitiver ist, als wir uns
das vorstellen. Das
Wesen der Propaganda ist deshalb die Einfachheit und die Wiederholung. Nur wer
die Probleme auf die einfachste Formel bringen kann, und den Mut hat, sie auch
gegen die Einsprüche der Intellektuellen ewig in dieser vereinfachten Form zu
wiederholen, der wird auf die Dauer zu grundlegenden Erfolgen in der
Beeinflussung der öffentlichen Meinung kommen. Wer einen anderen Weg
einschlägt, mag den oder jenen labilen Intellektuellenkreis beeinflussen, das
Volk ist er nicht einmal an der Oberfläche zu ritzen in der Lage.
Ainda posso aprender
muito; sobre tudo que o povo é mais primitivo do que pensamos. Então a essência
da propaganda é simplicidade e repetição. Somente quando os problemas são
levados às formas mais simples e temos o caráter para repetir essas simplificações,
também apesar das críticas dos intelectuais, então no longo prazo terão êxito
influindo à opinião pública. Quem toma o outro caminho, poderá influir em tal
ou qual instável círculo de intelectuais, o povo não será tocado nem
superficialmente por ele.
Também das ideias de
Nietzsche sobre a fabricação da moral. O tópico da verdade e a falsidade na
cultura alemã foi importante desde a época do romantismo.
Ø
Por que a maioria das pessoas não achava os
estilos de discurso histriônicos, melodramáticos de Hitler e Mussolini
totalmente ridículos?
Dado que a pergunta é
sobre o "histriônico" infiro que se refere à gestualidade.
Isso era comum e
continuou até tempos muito recentes. O orador tinha que representar as paixões
que queria inspirar, acreditavam em um efeito de identificação e catársis, como
na teoria clássica da tragédia. Os braços e a mirada servem a obter uma sensação
de cercania com o público e involucrá-lo. Hitler, particularmente, explorava
isso: quando falava de algo que envolvia ao público ou à "nação
alemã" apontava sobre seu próprio corpo e fazia movimentos de abraço de
afora para adentro. Particularmente para os nazistas e fascistas esse código
tinha uma justificação ideológica, mostrava a paixão e vitalidade até níveis de
violência — um valor positivo para eles.
A maioria das pessoas
não o achava esquisito porque muitos oradores faziam algo disso e se entendia
que o momento do discurso era especial, um espetáculo, quase uma obra de teatro
— artes dramática ao vivo eram muito mais populares nesse momento — ou uma
misa. Alguns políticos, como Mussolini, tinham sua imagem meticulosamente
planificada baixo a teoria de Gustave Le Bon sobre a psicologia das massas,
segundo a qual era necessário elaborar e representar histórias e associações
poéticas de coisas, pois massas não entendem razões.
Alguns exemplos de
políticos gestuais que não foram fascistas são:
# Theodore Roosevelt;
# Eva Perón, semelha
uma Mussolini fêmea; alguns elementos lembram ao paternalismo, maternalismo
aqui, do fascismo;
# De Gaulle com uma retórica bem dependente da
gestualidade;
# Martin Luther King
já tinha uma proxêmica contida, como os de certos políticos de outra corrente
que já comento, mas destacou por seu discurso de prosódia recitativa e marcadas
pausas nos períodos junto com figurações ingeniosas.
Prosódia é a entonação
dos enunciados. Períodos são as frases entre pausas, o largo dos períodos
permite diversas prosódias e volumes. King vem da tradição retórica
protestante, muito importante até nossos dias. Certamente a mais florida da
atualidade, colocando toda sua calidez e paixão que não tem nem na arquitetura
nem nas costumes na palavra, com os pastores evangélicos ou Cornel West:
Há inúmeros exemplos
mais. Na atualidade, políticos se decantaram por adotar a comunicação própria
dos futebolistas — essas quando acabam os partidos onde falam e não dizem nada
— ou das estrelas midiáticas. Adotaram sistemas de "reality show",
como Bolsonaro gravando suas reações ao assistir à TV ou gravando sua própria
imagem ante os jornalistas fazendo banana. Outros adotam imitações grosseiras
da retórica passada e se colocam a falar por horas — Chávez — ou até ficar
afônicos de tanto gritar sem técnica nenhuma de respiração e recitado. Trump é
um caso aparte, ele usa os braços, marca períodos, usa figurações que ficam no
público, adjetiva muito — e pobremente — ; ele é como um David de Miguel Ângelo
feito de plástico.
Claro, não todos
tinham esse estilo de proxêmica. Alguns se limitavam ao recitado, como Franklin
Roosevelt.
Stalin tampouco era
gestual. Ele tinha uma retórica de professor aborrecido: prosódia regular,
períodos algo marcados, perguntas retóricas, repetições, corpo com movimentos
suaves e breves, rostro inexpressivo. Cria uma imagem de "realismo" e
sinceridade, aparentemente despojado de arte. Até os dias de hoje os
funcionários chineses utilizam esses códigos.
Isso nos leva ao ponto
final. A proxêmica foi, é, também uma forma de marcar as orientações
ideológicas até construir contrastes tão marcados como os de Mussolini e
Churchill ou Hitler e Stalin em forma de oposições de ser, existenciais. Não é
a ideologia propriamente, senão a forma de marcá-la, representá-la. Para
pessoas que estavam de acordo com uma ideologia militarista e entusiasta da
violência como associada ao movimento e progresso, à vitalidade; a exageração
máxima do repertório clássico era uma boa marca. Para os que estavam com
o common sense, o estado das coisas, ficava bem o english
humour. Para os que se presentavam como funcionários trabalhando para
o bem do povo naturalmente o tom de um comunicado desapaixonado, mas cordial
era o adequado.
Fonte: Brasil 247/Quora
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