Repercute negativamente articulação para instalar CPI contra padre Julio
Lancellotti
Uma onda de apoio ao padre Julio Lancellotti ocupou
as redes sociais nesta quarta-feira (3), depois que o vereador Rubinho Nunes (União Brasil) anunciou que
articula a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que tem
como um dos alvos a liderança religiosa.
Em seu perfil no X/Twitter, o parlamentar associou
Lancellotti, que atua há décadas em prol da população em situação de rua em São
Paulo, a uma "máfia da miséria" ao comentar a instalação da CPI.
Na imagem publicada, uma caricatura do padre carrega um rato nos ombros.
Lancellotti afirmou, em seu perfil no Instagram,
que não pertence a nenhuma organização da sociedade civil ou não governamental
que possui convênio com a Prefeitura de São Paulo. A atividade da Pastoral de
Rua, cujo coordenador é a liderança religiosa, é "uma ação pastoral da
Arquidiocese de São Paulo, que por sua vez, não se encontra vinculada de
nenhuma forma, as atividades que constituem o objetivo do requerimento aprovado
para criação da CPI em questão".
Não é a primeira vez que Lancellotti é alvo de
setores conservadores da Câmara Municipal de São Paulo e de movimentos de
extrema direita. Em outubro de 2020, Arthur do Val, colega de Rubinho Nunes dentro do Movimento Brasil Livre
(MBL), foi condenado pela Justiça após chamar Lancellotti de
"cafetão da miséria".
A Justiça também condenou, em agosto de 2022, o bolsonarista Luciano Hang por chamar o padre Julio de
"hipócrita" e o acusá-lo de "defender bandidos".
"É da turma do Lula. Hipocrisia pura. Temos que ensinar a pescar, e não
dar o peixe. Cada dia que passa é mais malandro vivendo nas costas de quem
trabalha", disse Hang. "Quem defende bandido, bandido é",
acrescentou.
A CPI, se instalada, terá como objetivo declarado
investigar organizações não governamentais (ONGs) que supostamente fornecem
alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento aos grupos
de usuários que frequentam a Cracolândia.
O pedido de abertura da CPI foi protocolado na
Câmara Municipal em 6 de dezembro do ano passado. De acordo com apuração do
jornal Folha de S.Paulo, o vereador Rubinho Nunes trabalha numa
articulação para que a comissão seja instalada em fevereiro, após o fim do
recesso parlamentar.
"Já tem as assinaturas. Eu protocolei a CPI
com 25 assinaturas que eu coletei em 30 minutos no plenário, mas já tem o apoio
de mais de 30 vereadores na Câmara e também tenho construído com as lideranças
a abertura da CPI já no início do ano legislativa, em fevereiro”, disse Nunes
à CNN Brasil.
O Brasil de Fato tentou contato com o
vereador, mas não obteve retorno. O espaço está aberto para
posicionamento.
·
Repercussão
Nas redes, a reação à notícia da articulação para a
instalação da CPI foi negativa. O X/Twitter registrou, até o fim da tarde desta
quarta-feira, mais de 70 mil posts sobre o assunto.
o ministro das Relações Institucionais do governo
Lula (PT), Alexandre Padilha, manifestou apoio e solidariedade ao padre Julio e
classificou a proposta da CPI como "inacreditável". "A proposta
de uma CPI contra o padre Julio Lancellotti é inacreditável e parece uma
tentativa de perseguição a defensores da justiça social. Manifesto total
solidariedade e apoio ao padre Julio, conhecido mundialmente por suas ações de
caridade", escreveu.
Um dos coordenadores do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile, foi na mesma linha e afirmou a
"instalação de uma CPI que é nitidamente uma tentativa de perseguição
política ao padre Julio Lancellotti e todos aqueles que lutam pela justiça
social".
A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) disse que
é "inadmissível que a Câmara de Vereadores de São Paulo tente instalar uma
CPI contra o padre Julio Lancellotti". "Enquanto a cidade está ao
léu, tentam perseguir quem está ao lado da população, lutando por moradia
digna, comida e políticas públicas efetivas", escreveu em seu perfil no
X/Twitter.
Fernanda Melchionna, deputada pelo PSOL do Rio
Grande do Sul, escreveu que a "extrema direita, liderada por um dos
fundadores do MBL" tenta instaurar "uma absurda CPI na Câmara de
São Paulo para perseguir e tentar criminalizar o padre Julio".
"Os ataques contra Julio Lancellotti são de
uma baixeza sem tamanho, perseguem uma pessoa que dedica a vida aos mais pobres
e ao combate às injustiças. Fomentam o ódio contra quem oferece o pão e
trata com dignidade a população de rua", disse a parlamentar.
O ator e humorista Marcelo Adnet também se
posicionou em solidariedade ao padre Julio Lancellotti. Em seu perfil no X, ele
disse que "o neofascismo avançou tanto no Brasil que hoje, em nome da
morte, perseguimos aqueles que seguem os passos de Jesus Cristo".
·
Craco Resiste
Outro alvo da CPI é o Movimento Craco Resiste, que
também atua com as pessoas em situação de vulnerabilidade no centro de São
Paulo. Daniel Mello, membro do movimento, classificou a CPI como uma tentativa
de tirar o foco da política municipal para tratar da Cracolândia.
"É toda uma tentativa de intimidação, de tirar
o foco da discussão. Desde o início da gestão [João] Doria, passando por [Bruno] Covas e
Tarcísio [de Freitas, atual governador de São Paulo], está se apostando numa
política de violência policial associada à internação, que é uma gastança de
dinheiro público sem resultado para ninguém, que só piora a situação das
pessoas pobres e do bairro, porque acirra um clima de conflito, violência e
caos", afirma Mello.
"O tráfico não diminuiu, a quantidade de pessoas em situação de
rua só aumentou nesse período, e ficam tentando tirar o foco da transferência
principalmente recursos públicos para entidades privadas, clínicas e
comunidades terapêuticas", afirma. "Uma tentativa de tirar o foco da
ineficiência do governo em cuidar e melhorar as condições de vida para o
conjunto da população, atacando os movimentos sociais. A questão é se manter
essa política de perfeição às pessoas pobres, usando de bodes criatórios os
movimentos sociais." A despeito da tentativa de instalar a CPI, a
expectativa do movimento é que isso não aconteça. "A gente pensa que o
conjunto da Câmara de Vereadores vai entender que a cidade tem outras
prioridades, vai buscar agir com mínima seriedade. Não tem nenhum fundamento. A
gente acredita, ainda que tenha um perfil conservador, a Câmara, a gente espera
que se trabalhe com o mínimo de fundamento, com o mínimo de seriedade",
afirma.
·
Thammy Miranda assina CPI contra Padre Júlio, que o defendeu num sermão
de ataques de bolsonaristas
A Câmara Municipal de São Paulo vai abrir uma CPI
para investigar ONGs que trabalham com pessoas em situação de rua. Um dos alvos
da investigação é o padre Júlio Lancellotti, vitima de uma perseguição
cafajeste do vereador Rubinho Nunes (União), um dos fundadores do deplorável
MBL.
Nunes jactou-se de já ter conseguido 25 assinaturas
para essa canalhice. A ideia é pegar Boulos, candidato a prefeito, através do
padre Júlio, já que os dois são muito próximos.
Entre os nomes que estão se prestando a essa
palhaçada está o de Thammy Miranda (PL).
Em 2020, Miranda, que é trans, sofreu ataques
pesados de bolsonaristas por estrelar uma campanha do Dia dos Pais promovida
pela empresa de cosméticos Natura.
Quem saiu em sua defesa, veja só, foi o padre
Júlio. Durante uma missa na paróquia São Miguel Arcanjo, ele provocou os fiéis.
“O que ofende a tal moral cristã? O pai trans que
cuida de seu filho? Ou o abandono, a fome, o desrespeito, o veto ao Auxílio
Emergencial às mães que criam seus filhos sozinhas?”, questionou.
“Não vou me definir como comunista, nem
conservador, nem nada. Sou progressista”, disse Thammy, na época, enquanto era
massacrado por gente como Eduardo Bolsonaro.
“Use a cabeça. Não seja gado. Seja pessoa. Leia”,
disse Lancelotti no sermão.
Está em Timóteo: “Os homens serão egoístas,
avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais,
ingratos, ímpios”.
Ø Arquidiocese
de SP diz estar “perplexa” com CPI contra padre Júlio
A Arquidiocese de São Paulo expressou, nesta
quarta-feira (3), sua “perplexidade” diante das notícias relacionadas à
possível instalação da CPI das ONGs pela Câmara Municipal de São Paulo. A
instituição destaca que esta CPI parece ser, na prática, uma comissão
direcionada ao Padre Júlio Lancellotti, ao movimento A Craco Resiste e ao
Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto.
A Arquidiocese ressaltou o relevante trabalho
desempenhado pelo Padre Júlio Lancellotti como Vigário Episcopal para a
Pastoral do Povo da Rua. Ele coordena, articula e anima diversos serviços
pastorais dedicados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação
de rua na cidade.
“Reiteramos a importância de que, em nome da
Igreja, continuem a ser realizadas as obras de misericórdia junto aos mais
pobres e sofredores da sociedade”, destacou a Arquidiocese.
O pedido de abertura da CPI foi apresentado em 6 de
dezembro pelo vereador Rubinho Nunes (União), ex-membro do Movimento Brasil
Livre (MBL). Nesta legislatura, há mais de 40 solicitações de comissões
parlamentares, exigindo um acordo para priorização.
No requerimento, Nunes justifica a CPI tem
“finalidade de investigar as Organizações Não Governamentais (ONGs) que
fornecem alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento
aos grupos de usuários que frequentam a região da Cracolândia”.
De acordo com o vereador, “a atuação dessas ONGs
não está isenta de fiscalização, sendo necessária a criação de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI), até porque, algumas delas frequentemente
recebem financiamento público para realizar suas atividades”.
“As CPIS são instrumentos legítimos do Poder
Legislativo, que tem toda a autoridade e prerrogativa para implantá-las segundo
o ritual de cada esfera do poder. Mas elas têm que ter um fim, um foco
específico que, no caso, são as ONGS que prestam assistência à população da
Cracolândia. Eu não faço parte de nenhuma ONG. Então, quem tem que ser
investigado é o poder público e as ONGs com as quais se estabelece convênios”,
completou.
Ø Padre Júlio
usa vídeo de bispo chamado de "comunista" pela Ditadura e se antecipa
à CPI
Alvo de perseguição do vereador Rubinho Nunes (União), um dos fundadores do Movimento
Brasil Livre (MBL), que articulou junto à cúpula da Câmara Municipal de São Paulo a
instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), padre Júlio Lancellotti resgatou um vídeo antigo de Dom
Hélder Câmara para se antecipar sobre a explicação que terá que prestar sobre
sua atuação junto ao povo pobre que vive na região central da capital paulista.
Lancellotti vem sendo perseguido pelo fundador do
MBL, Rubinho Nunes, que tenta levar o trabalho feito pelo padre para o centro
dos debates das eleições municipais.
Partido de Rubinho, o União já decidiu apoiar o
atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), na tentativa à reeleição. A legenda ainda
tem como pré-candidato o deputado federal Kim Kataguiri (União-SP), também
fundador do MBL.
Para responder ao questionamento do vereador, que
já conseguiu apoiar para instalar a CPI em fevereiro, Lancellotti relembrou as
palavras de Dom Hélder, um dos fundadores da Confederação Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB) e símbolo de resistência ao regime militar.
Dom Hélder foi classificado como
"demagogo" e "comunistas" dias após o golpe, quando
divulgou um manifesto apoiando a ação católica operária no Recife. O bispo
também foi proibido de dar entrevistas e a mídia liberal, alinhada aos militares,
não podiam sequer falar no nome do religioso.
Em entrevista em 1987, após a redemocratização, Dom
Helder, explicou os motivos do ódio que a Ditadura nutria contra ele.
"Houve um tempo em que aqui, no Brasil, era
assim: se um leigo, uma religiosa, um padre, um bispo trabalhava diretamente
com o povo, 'meu Deus é um santo', 'é uma santa religiosa'", disse.
"Mas, quando a pessoa mesmo continuando a
ajudar o pobre tinha a audácia de falar em justiça. Já viu palavra mais
perigosa: justiça. Falar em promoção humana. Imediatamente era chamado de
comunista", emenda o bispo.
Dom Hélder, no entanto, errou ao colocar dizer que
isso teria ficado no passado. "Hoje isto é ridículo", disse o
religioso, sem saber que mais adiante o mesmo discurso seria ressuscitado por
adoradores da mesma Ditadura.
Fonte: Brasil de Fato/DCM/Fórum
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