Por que mais pessoas votarão em 2024 do que em qualquer outro momento da
história
Nunca tantas pessoas votaram em um mesmo ano quanto
votarão em 2024.
Segundo o Centro para o Progresso Americano, um
instituto de pesquisa nos Estados
Unidos, mais de 2 bilhões de pessoas vão às urnas em eleições gerais ou
municipais nos próximos 12 meses.
Oito dos dez países mais populosos do mundo
realizarão eleições em 2024: Bangladesh, Brasil, Índia,
Indonésia, México,
Paquistão, Rússia e
Estados Unidos. As 27 nações da União
Europeia também escolherão seus novos representantes no Parlamento Europeu
em junho.
E se consideradas as populações totais dos quase 80
países com pleitos previstos, os processos envolverão pouco mais da metade da
população mundial, de acordo com o think tank Council on Foreign Relations.
Nem todas essas eleições devem ser realizadas de
forma livre e justa, mas ainda assim devem ter um grande impacto na política
mundial dos próximos anos.
Dos Estados Unidos à pequena ilha de Taiwan,
confira a seguir algumas das eleições que serão decisivas no mundo em 2024.
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Estados Unidos
Nenhuma outra eleição de 2024 deve produzir um
impacto tão grande no mundo quanto a dos Estados Unidos.
Os eleitores americanos vão votar em 5 de novembro
para escolher seu novo presidente, um terço dos membros do Senado e todos os
integrantes da Câmara dos Deputados.
Os partidos Republicano e Democrata ainda
realizarão suas primárias, mas tudo indica que a corrida presidencial será uma
reprise de 2020, com Joe Biden enfrentando Donald
Trump.
Biden quer um segundo mandato apesar de que, se
eleito, terminará o período com 86 anos.
Já Trump, se sair vencedor, igualará o feito de
Grover Cleveland, o único presidente americano a cumprir dois mandatos não
consecutivos (e também terminaria o mandato como presidente americano mais
velho da história, aos 82 anos e 7 meses).
Essa eleição atrai interesse pelos temores de que
possa representar mais uma rachadura na democracia americana, diante das
constantes alegações infundadas de Trump de fraudes no pleito de 2020.
Mas também é importante pela forma como o resultado
pode impactar o mundo todo.
O próximo presidente americano pode definir o
futuro do apoio à Ucrânia, o papel do país no Oriente Médio e as relações com
adversários importantes como a China - além de dar as cartas em outros temas
importantes como economia e combate às mudanças climáticas.
·
Rússia
Em março, é a vez dos russos irem às urnas.
A vitória de Vladimir
Putin é vista por muitos como praticamente certa. Ele está no poder há
mais de 20 anos e, segundo seu governo, vai se reeleger porque conta com apoio
majoritário no país.
Mas organizações de direitos humanos e adversários
políticos denunciam que qualquer tipo de oposição genuína é barrada no país.
Além disso, como a mídia independente foi quase
toda expulsa do país, o ambiente de informações livres é bastante limitado.
No fim de dezembro, a ex-jornalista de TV
Yekaterina Duntsova foi impedida de concorrer pela comissão eleitoral.
Defensora do fim da guerra na Ucrânia, ela recorreu
à Suprema Corte, afirmando que havia sido desqualificada injustamente, mas o
tribunal manteve a decisão.
Mas por mais que o resultado do pleito seja
bastante previsível e não haja grandes esperanças de que possa impactar no atual
conflito com a Ucrânia, analistas dizem que uma participação popular
menor do que em anos anteriores pode ser um golpe para Putin, já que o voto não
é obrigatório no país.
A previsão era que a Ucrânia também elegesse seu
novo presidente em março de 2024, mas há um grande debate no país sobre
realizar ou não o pleito em meio a uma guerra.
Todas as eleições – incluindo as presidenciais –
foram proibidas pela lei marcial em vigor no país, imposta depois da invasão da
Rússia em fevereiro de 2022.
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Brasil
O Brasil também está na lista, pois 2024 é ano de
eleições municipais para definir prefeitos e vereadores.
O primeiro turno está marcado para 6 de outubro e,
apesar de não se tratar de uma eleição geral, cerca de 150 milhões de
brasileiros devem estar aptos a votar, segundo dados do último pleito nacional.
Há quem diga que essas eleições podem ser uma
espécie de terceiro turno das presidenciais de 2022, quando o atual mandatário Luiz Inácio
Lula da Silva derrotou o ex-presidente Jair Bolsonaro.
"Esta eleição, eu não sei se ela será
municipalizada, estadualizada ou nacionalizada. Eu, sinceramente, acho que,
nessa eleição, vai acontecer um fenômeno: vai ser outra vez Lula e
Bolsonaro", disse Lula em uma conferência eleitoral do PT em dezembro.
Em algumas metrópoles essa disputa tende a ficar
mais clara. No Rio de Janeiro, por exemplo, Bolsonaro tem apoiado o deputado
Alexandre Ramagem, do PL, em contraponto ao atual prefeito Eduardo Paes, aliado
de Lula do PSD.
Já em São Paulo o petista tem o deputado Guilherme
Boulos, do PSOL, como seu pré-candidato, enquanto Bolsonaro apoia a campanha de
reeleição de Ricardo Nunes, do MDB.
Mas alguns analistas dizem que, apesar da
polarização persistir no Brasil, questões locais tendem a ser bastantes
significativas nestas eleições, especialmente nos municípios menores.
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Reino Unido
Rishi
Sunak, atual primeiro-ministro do Reino Unido, deve
enfrentar um grande desafio em 2024.
O Partido Conservador, que ele representa, perdeu
profundamente o apoio desde que conquistou uma grande vitória nas eleições em
2019.
Sunak já é o terceiro líder da legenda nesse curto
período de tempo - e escândalos políticos e instabilidade partidária voltaram
os eleitores contra o partido.
Ainda não há uma data certa para a eleição
parlamentar, já que ela deve ser convocada pelo próprio governo e a lei permite
que isso aconteça até janeiro de 2025. Mas a expectativa é que a votação
aconteça ainda neste ano.
Porém, alguns pleitos locais no Reino Unido já
estão marcados, como a eleição para a Prefeitura de Londres, em maio.
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Taiwan
Em Taiwan, a eleição
que definirá o novo presidente em 13 de janeiro mobilizará os cerca de 23
milhões de habitantes da ilha. Mas apesar de pequeno, o pleito
pode ter grande impacto.
O território se considera uma nação soberana, mas é
historicamente reivindicado pela China, que o vê como uma província rebelde.
Ao mesmo tempo, a ilha tem nos Estados Unidos o seu
maior aliado. Uma lei americana, inclusive, determina que Washington deve
ajudar Taiwan a se defender em caso de ataque estrangeiro.
Os eleitores vão decidir entre o Partido
Democrático Progressista (PDP), que defende a maior independência da China e
está no poder atualmente, e o Kuomintang (KMT), mais próximo de Pequim.
A atual presidente da ilha, Tsai
Ing-wen, está deixando o cargo após oito anos no poder.
Por sua defesa da soberania de Taiwan, ela é
profundamente malvista por Pequim. Mas o homem que concorre para substituí-la,
o atual vice-presidente William Lai, pode ser ainda pior aos olhos do governo
chinês.
Apesar de dizer que não fará nada para mudar o
status quo, Lai é visto pela China como defensor da independência formal de
Taiwan.
Seu adversário do Kuomintang é Hou Yu-ih. As
pesquisas de opinião mostram um cenário bastante apertado, com os dois partidos
basicamente empatados.
E o resultado promete afetar o balanço de poder
entre as duas maiores potências do mundo, que tem Taiwan como um tema
extremamente sensível.
A escalada na tensão entre Estados Unidos e a China
ocorre em um momento em que Pequim envia
cada vez mais aviões militares para a zona de defesa aérea de Taiwan,
enquanto Washington desloca navios de guerra para as águas da
ilha.
·
Índia
Uma das eleições que mobilizará o maior contingente
populacional será realizada na Índia em abril.
Apesar de o voto não ser obrigatório, o país
atingiu a marca de mais populoso do mundo, com 1,42 bilhões de habitantes.
Nas eleições de 2019, 879 milhões de pessoas
estavam elegíveis para votar. Esse total é mais do que o quádruplo da atual
população brasileira.
O país também tem as segundas eleições mais caras
do mundo, depois dos Estados Unidos.
O atual primeiro ministro, Narendra
Modi, chega ao pleito como um líder poderoso e de popularidade generalizada.
Mas ele também é visto por alguns como uma figura
divisiva, acusado de promover medidas que marginalizam e agridem a minoria
muçulmana no país.
"Provavelmente, o populista mais
bem sucedido do mundo no momento – pelo menos, eleitoralmente e em termos de
consolidação do poder – é o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi",
afirmou à BBC Benjamin Moffitt, professor de política da Universidade Católica
da Austrália e autor do livro Populism: Key Concepts in Political Theory
("Populismo: os principais conceitos da teoria política", em tradução
livre).
"Toda a política indiana gira em torno de
Modi. Ele conseguiu construir uma divisão entre as pessoas e a elite que
atingiu conotações religiosas entre os hindus como as 'pessoas reais', de forma
que existe um sentimento nativista acontecendo ali."
Modi agora espera se tornar um dos poucos líderes
da história indiana a governar por três mandatos seguidos.
·
África do Sul
Já na África do
Sul, o presidente Cyril Ramaphosa e o seu partido Congresso Nacional
Africano (ANC) podem enfrentar seu maior desafio até hoje.
O partido está no poder de forma contínua há 30
anos e venceu todas as eleições desde o fim do Apartheid.
Mas o pleito deste ano deve acontecer sob a
regência de novas leis eleitorais, que facilitam a mudança do status quo –
entre outras coisas, candidatos agora podem concorrer a cargos públicos de
forma independente.
Além disso, a economia está sofrendo com altas
taxas de desemprego e crime. Uma crise energética de longa duração, que está
causando apagões, e acusações de corrupção também prejudicam o atual governo.
O apoio ao ANC caiu para menos de 50% pela primeira
vez desde as eleições de 2021 e, em uma reviravolta, o ex-presidente Jacob
Zuma, antecessor de Ramaphosa pelo ANC, declarou que não irá apoiar o partido.
Mas o ANC dominou tanto a política do país nos
últimos anos que provavelmente não perderá o poder completamente. Analistas
preveem que o partido possa ser obrigado a fazer acordos com outras legendas ou
negociar uma coalizão.
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México
No início de junho é a vez de o México ir às urnas.
O país provavelmente terá sua primeira
presidente do sexo feminino, já que as duas principais
candidatas são mulheres.
A Constituição mexicana impede o atual presidente,
Andrés Manuel López Obrador, de buscar a reeleição, apesar da sua popularidade.
Por isso ele está apoiando a sua aliada de longa
data e ex-prefeita da Cidade do México, Claudia Sheinbaum.
Os principais partidos da oposição se uniram sob
uma única bandeira e apresentaram a ex-senadora Xochitl Gálvez como candidata.
A representante do governo aparece com uma vantagem
confortável nas pesquisas, beneficiada pela queda nas taxas de pobreza e
inflação e pelo crescimento econômico conquistados por López Obrador.
Mas o crime e a violência, muito ligados aos
cartéis de drogas, continuam sendo um problema para a atual administração.
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Venezuela
As eleições na Venezuela foram
marcadas para o segundo semestre de 2024 após um acordo entre Nicolás
Maduro e a oposição para estabelecer garantias eleitorais.
Em troca dos esforços do atual governo para
negociar o pacto, os Estados Unidos suspenderam temporariamente suas sanções ao
petróleo, gás e ouro venezuelanos.
Mas vários candidatos da oposição foram desclassificados,
incluindo María
Corina Machado, a favorita à vitória, que teve seus direitos políticos
cassados por 15 anos.
A oposição afirma que as desqualificações de
potenciais adversários são ilegais, mas o governo Maduro tem se mostrado
inflexível até o momento.
Em entrevista
à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, Machado disse que segue confiando nas
negociações com os Estados Unidos para lhe dar oportunidade de concorrer contra
Maduro.
A instabilidade da política local, porém, torna o
futuro eleitoral da Venezuela uma grande incógnita.
Fonte: BBC News Mundo
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