Eleições nas capitais dão tendência da corrida presidencial
Embora 2024 mal tenha começado, os partidos há
meses se preparam para as eleições municipais, que, pelo calendário político do
país, servem de plataforma de lançamento para o pleito geral, daqui a dois
anos. As legendas testam candidatos, lançam campanhas de filiação e articulam
alianças. A importância da disputa de outubro pode ser medida pelo envolvimento
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do seu antecessor, Jair Bolsonaro —
que se anunciam como fortes cabos eleitorais, a fim de preparar o terreno para
2026.
As maiores capitais — São Paulo, Rio de Janeiro,
Belo Horizonte e Salvador — refletirão a tendência para o futuro e nas quatro
se reproduzirá a polarização petismo x bolsonarismo. Os candidatos serão
oficializados pelas legendas apenas depois das convenções partidárias, entre 20
de julho e 5 de agosto.
Em São Paulo, por ora os pré-candidatos mais fortes
são o deputado federal Guilherme Boulos (PSol) e o atual prefeito, Ricardo
Nunes — também se colocam no páreo os deputados federais Tábata Amaral (PSB),
Kim Kataguiri (União) e Ricardo Salles (PL), além do senador Marcos Pontes (PL)
e da economista Marina Helena Cunha (Novo).
Segundo levantamento do Paraná Pesquisas, Boulos
lidera com 31,1%, seguido de Nunes com 25,4%, Tábata (8,9%), Salles (8,3%),
Kataguiri (5,4%) e Marina (3,1%). O deputado do PSol tem o apoio do Palácio do
Planalto e do PT, que desistiu de lançar candidato próprio. Além disso, ele
atraiu o PDT e negocia com o Avante.
Nunes aposta nos apoios do governador, Tarcísio de
Freitas, e de Bolsonaro — cujo partido, o PL, vive disputas internas. O
ex-presidente força a candidatura de Ricardo Salles, seu ex-ministro do Meio
Ambiente, mas o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, adiantou que
apoiará a reeleição do prefeito. Tarcísio anunciou que seguirá a posição de
Bolsonaro, o que enfraquece Nunes — que, por enquanto, tem como apoio de peso o
PSD, presidido pelo seu secretário estadual de Governo e Relações Institucionais,
Gilberto Kassab.
Em Belo Horizonte, o prefeito Fuad Noman (PSD)
também deve buscar a reeleição. Surgem como adversários os deputados estaduais
Bruno Engler (PL) e Mauro Tramonte (Republicanos), os federais Duda Salabert
(PDT) e Rogério Correia (PT), além do senador Carlos Viana (Podemos). Tramonte,
Engler e Viana mostram força nos levantamentos iniciais e se vislumbra, mais
uma vez, a tendência é dar a vitória nas urnas ao conservadorismo.
No Rio, Eduardo Paes (PSB) desponta como favorito à
reeleição. Conta com o apoio do Planalto, mas tenta agregar a direita ao tratar
de temas como o combate às drogas e a segurança pública.
Seu principal adversário deve ser o deputado
federal Alexandre Ramagem (PL), ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência
(Abin) e que conta com apoio entusiasmado do clã Bolsonaro. Segundo sondagem do
Paraná Pesquisas realizada em novembro, Paes lidera com 44,4% dos votos, com
Ramagem em segundo (9,6%). Outros pré-candidatos são o vereador Pedro Duarte
(Novo), os deputados federais Tarcísio Motta (PSol), Doutor Luizinho (PP) e
Otoni de Paula (MDB-RJ), mais a deputada estadual Dani Balbi (PCdoB).
Em Salvador, o atual prefeito, Bruno Reis (União),
demonstra que quer mais quatro anos de mandato — e é considerado, por enquanto,
favorito na corrida. O Planalto jogará na disputa o vice-governador do estado,
Geraldo Júnior (MDB). Ex-ministro da Cidadania de Bolsonaro, João Roma (PL)
também é pré-candidato, mas o PL tende a apoiar Reis. Kleber Rosa (PSol), os
deputados federais Robinson Almeida (PT) e Sargento Isidório (Avante) e a
deputada estadual Olívia Santana (PCdoB) são nomes cogitados para a disputa.
• Polarização
Analistas ouvidos pelo Correio destacam a
importância das eleições municipais para os partidos pensando nas disputas
nacionais, para a Presidência da República e o Congresso, daqui a dois anos. Os
prefeitos são considerados cabos eleitorais estratégicos devido ao contato
direito que têm com a população e, além disso, o número de prefeituras que
forem conquistadas em outubro será um importante indicador da força de cada
legenda.
Embora as capitais, especialmente São Paulo, tenham
uma grande conexão com Brasília, na grande maioria dos municípios o que vale
são as demandas e personalidades locais — o chamado "voto
carismático".
Para o professor de Ciência Política da UDF André
Rosa, "a gente não precisa esperar uma polarização entre PT e PL, entre
Lula e Bolsonaro. É uma eleição (nos municípios) totalmente diferente. Às
vezes, o poder da legenda não dita o ritmo", explicou.
Entre os fatores que mais influenciam a disputa
estão as igrejas e os empresários locais, e não o programa de cada partido.
"O eleitor quer saber se o candidato é honesto, se foi bem
recomendado", emenda Rosa.
Mesmo assim, o resultado interessa muito às
legendas. O Nordeste, por exemplo, foi essencial para a vitória de Lula, em
2022, e terá atenção especial dos partidos. Nas maiores capitais, a influência
de Lula e Bolsonaro empurra a disputa para a nacionalização. Uma prefeitura
como a de São Paulo explica a movimentação dos dois maiores cabos eleitorais.
A professora de Ciência Política da Universidade
Federal de Alagoas (UFAL) Luciana Santana considera que Brasília influenciará
as disputas municipais de forma indireta, com a aprovação de políticas no
Congresso e a liberação de emendas para as bases eleitorais dos parlamentares.
Em ano
de eleições municipais, Lula tenta atrair eleitores de Bolsonaro
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai
buscar, neste segundo ano do mandato, dialogar com eleitores do ex-presidente
Jair Bolsonaro (PL). A decisão foi tomada após pesquisas de opinião apontarem
dificuldade do presidente em aumentar sua popularidade.
O Palácio do Planalto tem consciência da dificuldade
da missão. Acredita, no entanto, que o impacto de políticas públicas voltadas
para setores que outrora apoiaram Bolsonaro pode ser o grande trunfo da gestão
petista.
A estratégia mira evangélicos, setores do
agronegócio e integrantes das forças de segurança e das Forças Armadas. Outro
público-alvo são os chamados trabalhadores “precarizados”, como motoristas de
aplicativos.
Em ano de eleição municipal, os aliados de Lula
apostam também em discursos contra a polarização e defesa da unificação do
país.
Nesse sentido, o governo lançou em dezembro a
campanha “O Brasil é um Só Povo”. A peça publicitária divulgou ações com
referências ao eleitorado bolsonarista.
Há trechos de vídeos em que atores comemoram as
iniciativas com frases típicas, por exemplo, do público evangélico. Pesquisas
internas identificam resistência especial por parte desse grupo.
Na propaganda sobre o Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), uma mulher comemora que um familiar conseguiu um emprego em
obras do programa: “Graça alcançada, Senhor”, diz.
O agradecimento cristão também é utilizado em um
vídeo sobre o Bolsa Família. A atriz agradece o benefício dizendo: “Graças a
Deus”.
Na propaganda sobre o Minha Casa, Minha Vida, um
pai de família celebra que um vizinho conseguiu a casa própria: “Ô, glória!”
As peças se encerram com a seguinte frase: “Querer
o melhor para nossos filhos, isso é o que nos une”.
Outra demonstração da tentativa de aproximação foi
percebida em viagem do presidente ao Espírito Santo em dezembro, quando Lula
falou diretamente aos evangélicos.
“Se preparem, porque a gente vai provar que o que
resolve o problema de um povo não é a instigação ao ódio, utilizando a boa-fé
do povo evangélico para mentir, para dizer que a gente ia fechar igreja, que a
gente ia fazer banheiro unissex. Eles têm que saber de uma coisa: se tem um
cara nesse país que acredita em Deus, é esse que está vos falando aqui”,
destacou.
Ainda no último mês de 2023, durante a Conferência
Nacional do PT, Lula alertou aos integrantes do partido a necessidade de
“aprender a construir um discurso” para os evangélicos.
Na ocasião, o presidente também falou aos
militantes que a polarização vista na última eleição deve continuar no próximo
ano.
“Vai ser outra vez Lula e Bolsonaro disputando as
eleições nos municípios”, apontou.
Haddad
diz que candidatura de Lula à reeleição em 2026 é “consenso” no PT
O ministro Fernando Haddad (Fazenda) admitiu nesta
terça-feira (2) que há consenso dentro do PT para a reeleição do presidente
Lula (PT) em 2026.
O QUE HADDAD DISSE
Durante a campanha, Lula repetiu por diversas vezes
que não concorreria à reeleição. Os principais argumentos eram a idade -ele
terá 81 anos ao fim do pleito- e a vontade de se aposentar com a primeira-dama
Janja da Silva, mas desde que assumiu tem revisto a posição.
Acredito que existe consenso dentro do PT e da base
aliada sobre a candidatura do presidente Lula em 2026. Na minha opinião, é uma
coisa que está bem pacificada. Não se discute. - Fernando Haddad, sobre 2026
“O Lula foi três vezes presidente. Provavelmente,
será uma quarta”, disse o ministro, em entrevista ao jornal O Globo publicada
nesta terça-feira (2). “Porque a natureza da liderança do Lula é diferente da
de outros fenômenos eleitorais. O bolsonarismo tem uma dinâmica muito
diferente.”
Ele disse não participar de reuniões internas do
partido, mas assumiu não haver, ainda, um substituto e que não pensa em ser
ele. “Excluído 2026, o fato é que a questão [de um sucessor] vai se colocar. E
penso que deveria haver uma certa preocupação com isso.”
Fonte: Correio Braziliense/FolhaPress/CNN Brasil
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