quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Eleições nas capitais dão tendência da corrida presidencial

Embora 2024 mal tenha começado, os partidos há meses se preparam para as eleições municipais, que, pelo calendário político do país, servem de plataforma de lançamento para o pleito geral, daqui a dois anos. As legendas testam candidatos, lançam campanhas de filiação e articulam alianças. A importância da disputa de outubro pode ser medida pelo envolvimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do seu antecessor, Jair Bolsonaro — que se anunciam como fortes cabos eleitorais, a fim de preparar o terreno para 2026.

As maiores capitais — São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador — refletirão a tendência para o futuro e nas quatro se reproduzirá a polarização petismo x bolsonarismo. Os candidatos serão oficializados pelas legendas apenas depois das convenções partidárias, entre 20 de julho e 5 de agosto.

Em São Paulo, por ora os pré-candidatos mais fortes são o deputado federal Guilherme Boulos (PSol) e o atual prefeito, Ricardo Nunes — também se colocam no páreo os deputados federais Tábata Amaral (PSB), Kim Kataguiri (União) e Ricardo Salles (PL), além do senador Marcos Pontes (PL) e da economista Marina Helena Cunha (Novo).

Segundo levantamento do Paraná Pesquisas, Boulos lidera com 31,1%, seguido de Nunes com 25,4%, Tábata (8,9%), Salles (8,3%), Kataguiri (5,4%) e Marina (3,1%). O deputado do PSol tem o apoio do Palácio do Planalto e do PT, que desistiu de lançar candidato próprio. Além disso, ele atraiu o PDT e negocia com o Avante.

Nunes aposta nos apoios do governador, Tarcísio de Freitas, e de Bolsonaro — cujo partido, o PL, vive disputas internas. O ex-presidente força a candidatura de Ricardo Salles, seu ex-ministro do Meio Ambiente, mas o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, adiantou que apoiará a reeleição do prefeito. Tarcísio anunciou que seguirá a posição de Bolsonaro, o que enfraquece Nunes — que, por enquanto, tem como apoio de peso o PSD, presidido pelo seu secretário estadual de Governo e Relações Institucionais, Gilberto Kassab.

Em Belo Horizonte, o prefeito Fuad Noman (PSD) também deve buscar a reeleição. Surgem como adversários os deputados estaduais Bruno Engler (PL) e Mauro Tramonte (Republicanos), os federais Duda Salabert (PDT) e Rogério Correia (PT), além do senador Carlos Viana (Podemos). Tramonte, Engler e Viana mostram força nos levantamentos iniciais e se vislumbra, mais uma vez, a tendência é dar a vitória nas urnas ao conservadorismo.

No Rio, Eduardo Paes (PSB) desponta como favorito à reeleição. Conta com o apoio do Planalto, mas tenta agregar a direita ao tratar de temas como o combate às drogas e a segurança pública.

Seu principal adversário deve ser o deputado federal Alexandre Ramagem (PL), ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e que conta com apoio entusiasmado do clã Bolsonaro. Segundo sondagem do Paraná Pesquisas realizada em novembro, Paes lidera com 44,4% dos votos, com Ramagem em segundo (9,6%). Outros pré-candidatos são o vereador Pedro Duarte (Novo), os deputados federais Tarcísio Motta (PSol), Doutor Luizinho (PP) e Otoni de Paula (MDB-RJ), mais a deputada estadual Dani Balbi (PCdoB).

Em Salvador, o atual prefeito, Bruno Reis (União), demonstra que quer mais quatro anos de mandato — e é considerado, por enquanto, favorito na corrida. O Planalto jogará na disputa o vice-governador do estado, Geraldo Júnior (MDB). Ex-ministro da Cidadania de Bolsonaro, João Roma (PL) também é pré-candidato, mas o PL tende a apoiar Reis. Kleber Rosa (PSol), os deputados federais Robinson Almeida (PT) e Sargento Isidório (Avante) e a deputada estadual Olívia Santana (PCdoB) são nomes cogitados para a disputa.

•        Polarização

Analistas ouvidos pelo Correio destacam a importância das eleições municipais para os partidos pensando nas disputas nacionais, para a Presidência da República e o Congresso, daqui a dois anos. Os prefeitos são considerados cabos eleitorais estratégicos devido ao contato direito que têm com a população e, além disso, o número de prefeituras que forem conquistadas em outubro será um importante indicador da força de cada legenda.

Embora as capitais, especialmente São Paulo, tenham uma grande conexão com Brasília, na grande maioria dos municípios o que vale são as demandas e personalidades locais — o chamado "voto carismático".

Para o professor de Ciência Política da UDF André Rosa, "a gente não precisa esperar uma polarização entre PT e PL, entre Lula e Bolsonaro. É uma eleição (nos municípios) totalmente diferente. Às vezes, o poder da legenda não dita o ritmo", explicou.

Entre os fatores que mais influenciam a disputa estão as igrejas e os empresários locais, e não o programa de cada partido. "O eleitor quer saber se o candidato é honesto, se foi bem recomendado", emenda Rosa.

Mesmo assim, o resultado interessa muito às legendas. O Nordeste, por exemplo, foi essencial para a vitória de Lula, em 2022, e terá atenção especial dos partidos. Nas maiores capitais, a influência de Lula e Bolsonaro empurra a disputa para a nacionalização. Uma prefeitura como a de São Paulo explica a movimentação dos dois maiores cabos eleitorais.

A professora de Ciência Política da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Luciana Santana considera que Brasília influenciará as disputas municipais de forma indireta, com a aprovação de políticas no Congresso e a liberação de emendas para as bases eleitorais dos parlamentares.

 

       Em ano de eleições municipais, Lula tenta atrair eleitores de Bolsonaro

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai buscar, neste segundo ano do mandato, dialogar com eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A decisão foi tomada após pesquisas de opinião apontarem dificuldade do presidente em aumentar sua popularidade.

O Palácio do Planalto tem consciência da dificuldade da missão. Acredita, no entanto, que o impacto de políticas públicas voltadas para setores que outrora apoiaram Bolsonaro pode ser o grande trunfo da gestão petista.

A estratégia mira evangélicos, setores do agronegócio e integrantes das forças de segurança e das Forças Armadas. Outro público-alvo são os chamados trabalhadores “precarizados”, como motoristas de aplicativos.

Em ano de eleição municipal, os aliados de Lula apostam também em discursos contra a polarização e defesa da unificação do país.

Nesse sentido, o governo lançou em dezembro a campanha “O Brasil é um Só Povo”. A peça publicitária divulgou ações com referências ao eleitorado bolsonarista.

Há trechos de vídeos em que atores comemoram as iniciativas com frases típicas, por exemplo, do público evangélico. Pesquisas internas identificam resistência especial por parte desse grupo.

Na propaganda sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma mulher comemora que um familiar conseguiu um emprego em obras do programa: “Graça alcançada, Senhor”, diz.

O agradecimento cristão também é utilizado em um vídeo sobre o Bolsa Família. A atriz agradece o benefício dizendo: “Graças a Deus”.

Na propaganda sobre o Minha Casa, Minha Vida, um pai de família celebra que um vizinho conseguiu a casa própria: “Ô, glória!”

As peças se encerram com a seguinte frase: “Querer o melhor para nossos filhos, isso é o que nos une”.

Outra demonstração da tentativa de aproximação foi percebida em viagem do presidente ao Espírito Santo em dezembro, quando Lula falou diretamente aos evangélicos.

“Se preparem, porque a gente vai provar que o que resolve o problema de um povo não é a instigação ao ódio, utilizando a boa-fé do povo evangélico para mentir, para dizer que a gente ia fechar igreja, que a gente ia fazer banheiro unissex. Eles têm que saber de uma coisa: se tem um cara nesse país que acredita em Deus, é esse que está vos falando aqui”, destacou.

Ainda no último mês de 2023, durante a Conferência Nacional do PT, Lula alertou aos integrantes do partido a necessidade de “aprender a construir um discurso” para os evangélicos.

Na ocasião, o presidente também falou aos militantes que a polarização vista na última eleição deve continuar no próximo ano.

“Vai ser outra vez Lula e Bolsonaro disputando as eleições nos municípios”, apontou.

 

       Haddad diz que candidatura de Lula à reeleição em 2026 é “consenso” no PT

 

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) admitiu nesta terça-feira (2) que há consenso dentro do PT para a reeleição do presidente Lula (PT) em 2026.

O QUE HADDAD DISSE

Durante a campanha, Lula repetiu por diversas vezes que não concorreria à reeleição. Os principais argumentos eram a idade -ele terá 81 anos ao fim do pleito- e a vontade de se aposentar com a primeira-dama Janja da Silva, mas desde que assumiu tem revisto a posição.

Acredito que existe consenso dentro do PT e da base aliada sobre a candidatura do presidente Lula em 2026. Na minha opinião, é uma coisa que está bem pacificada. Não se discute. - Fernando Haddad, sobre 2026

“O Lula foi três vezes presidente. Provavelmente, será uma quarta”, disse o ministro, em entrevista ao jornal O Globo publicada nesta terça-feira (2). “Porque a natureza da liderança do Lula é diferente da de outros fenômenos eleitorais. O bolsonarismo tem uma dinâmica muito diferente.”

Ele disse não participar de reuniões internas do partido, mas assumiu não haver, ainda, um substituto e que não pensa em ser ele. “Excluído 2026, o fato é que a questão [de um sucessor] vai se colocar. E penso que deveria haver uma certa preocupação com isso.”

 

Fonte: Correio Braziliense/FolhaPress/CNN Brasil

 

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