sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

'Decidindo os destinos do mundo': 2024 como o ano eleitoral mais importante do século

2024 promete ser o ano eleitoral mais importante do século XXI. Diversas corridas presidenciais acontecerão em países-chave do tabuleiro internacional, suscitando questões importantes a respeito dos impactos para o futuro da ordem mundial.

Em termos numéricos, mais de 40 países, ou quase metade da população global, se preparam para votar em 2024, incluindo potências regionais e grandes potências nos quatro cantos do planeta.

Comecemos então por Taiwan. Tsai Ing-wen, atual presidente da ilha, completará dois mandatos consecutivos e, de acordo com a lei, não poderá concorrer novamente nesse ano. A disputa pela presidência da ilha, por sua vez, estará no foco das atenções políticas no continente asiático. Afinal, as eleições em Taiwan serão cruciais para os cálculos de poder tanto da China como dos Estados Unidos, as duas principais superpotências do século XXI. O atual partido no poder, o Partido Democrático Progressista, é a favor da manutenção do status quo de Taiwan e da soberania da ilha perante a China. Do outro lado, o Kuomintang é favorável ao estreitamento de laços com Pequim, até mesmo para evitar o acirramento das disputas geopolíticas em torno de Taiwan nos últimos tempos.

No sul da Ásia, o Paquistão, uma potência nuclear regional cujos últimos primeiros-ministros tiveram dificuldade para terminar seus mandatos, tinha eleições programadas para acontecer em 2023, o que acabou não acontecendo devido a problemas domésticos envolvendo uma grave crise econômica e social. As próximas eleições gerais, portanto, estão programadas para ocorrer no início desse ano, o que promete trazer impactos para sua relação com a – também potência nuclear – Índia. A Índia, por sua vez, busca um relacionamento mais estável com o Paquistão de modo a diminuir as tensões no sul da Ásia, tarefa essa que não será nada fácil independentemente do resultado eleitoral no país vizinho.

Ainda em se tratando de Ásia, faz-se necessário mencionar também as eleições de fevereiro na Indonésia, maior país muçulmano do mundo, no qual mais de 200 milhões de eleitores poderão tomar parte nas próximas votações. A Indonésia, aliás, trata-se de um dos possíveis candidatos a ingressar no BRICS, o que inauguraria a presença do grupo no Sudeste Asiático.

Já na metade do ano, em junho, deverá ocorrer a eleição para a presidência da União Europeia, eleições essas que detêm um caráter verdadeiramente transfronteiriço, podendo envolver mais de 400 milhões de eleitores diretos. Vale lembrar que o vindouro pleito dentro do bloco será crucial do ponto de vista não somente ambiental, por impactar o futuro do Pacto Ecológico Europeu e suas políticas climáticas, como também do ponto de vista geopolítico, dado que a União Europeia está profundamente envolvida na guerra por procuração do Ocidente contra a Rússia na Ucrânia.

No mais, a eleição mais aguardada do mundo ocorrerá exatamente em novembro, nos Estados Unidos, na qual estarão em jogo os rumos da política externa da superpotência. Apesar de numerosos candidatos à cadeira presidencial, os principais concorrentes ao posto terminarão sendo o atual presidente americano Joe Biden e o ex-presidente Donald Trump. Fato é que a relação entre o resultado das eleições nos Estados Unidos e seu impacto no mundo não pode ser negligenciada. Isso porque desde a Segunda Guerra Mundial, os americanos abandonaram sua – até então – política internacional isolacionista em favor de se tornarem uma espécie de "policial do mundo", intervindo militarmente nos mais diversos teatros globais a fim de promover sua hegemonia.

Diante desse cenário, a depender de quem será o próximo presidente em Washington, a postura dos Estados Unidos poderá alterar-se ligeiramente tanto em relação ao conflito na Ucrânia, como com relação ao seu antagonismo perante Rússia e China. A princípio, independentemente de Biden ou Trump vencerem as eleições, para a Casa Branca, Rússia e China continuarão a representar uma ameaça ao poder, à influência e aos interesses americanos no mundo.

Com Trump, no entanto, a ênfase desse antagonismo será mais firmemente direcionada contra a China, ao passo que com Biden ela será direcionada mais firmemente contra a Rússia. Ambos os candidatos, todavia, tentarão prejudicar quaisquer países que procurem conduzir uma política externa independente e que desafiem a supremacia americana no mundo.

Por um lado, se Trump vencer, a pressão sobre Zelensky aumentará significativamente, pelo fato de a Ucrânia representar lá a maior das prioridades para o republicano. Afinal, Trump se incomoda muito mais com a ascensão da China no cenário internacional, que enxerga como o principal adversário da primazia militar e econômica estadunidense. Em entrevistas, Trump inclusive prometeu que, se voltar à presidência, seria capaz de findar o conflito na Ucrânia de forma rápida, o que provocaria um verdadeiro alvoroço em Kiev. Se Biden vencer, por outro lado, o financiamento e a ajuda militar à Ucrânia continuarão, caso o conflito ainda esteja em curso até novembro desse ano.

Na Rússia, a expectativa é de que Vladimir Putin obtenha nova vitória no pleito eleitoral a ser realizado no país em março, confirmando assim sua permanência no comando do Estado até 2030. A vitória de Putin implicará a continuação de uma política externa independente por parte de Moscou e a continuidade de sua cooperação militar, econômica e geoestratégica com países como China, Índia e o BRICS. Aliás, a cúpula do grupo nesse ano acontecerá na cidade de Kazan, na Rússia, e poderá resultar na entrada de novos membros ao BRICS, além dos já confirmados Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Arabia Saudita e Irã.

2024 será, portanto, um ano pivotal do ponto de vista das relações internacionais contemporâneas, por englobar diversos processos eleitorais em países e regiões importantes do planeta, trazendo efeitos imediatos para o balanço de poder global. Do Sudeste Asiático à América do Norte, os destinos do mundo vão tomando novos contornos, enquanto a disputa pelo poder entre as grandes potências continua acontecendo a todo o vapor.

 

Ø  Mídia: processo de 'desocidentalização' do mundo pode acelerar ainda mais em 2024

 

A continuação das derrotas na Ucrânia e o conflito em Gaza representam um perigo de fracasso geopolítico global entre as nações do Ocidente no que diz respeito à imposição da sua agenda, diz um artigo publicado pela mídia francesa.

O artigo publicado no Le Figaro destaca que "o processo de desocidentalização do mundo tem acelerado rapidamente há vários meses" e poderá continuar a avançar em 2024, uma vez que os conflitos apoiados pelo Ocidente "não produzem vitórias há muito tempo".

"Fala-se cada vez mais de um fracasso na Ucrânia e de um impasse em torno de Israel e Gaza. O ano de 2024 e o possível adiamento das eleições ucranianas, a realização de eleições europeias, americanas, russas e talvez israelenses, serão claramente consideradas as principais cartas da política mundial", diz o texto assinado pelo pesquisador em relações internacionais Sébastien Boussois.

O especialista prevê que 2024 vai enfraquecer o Ocidente pelo número de eleições estratégicas, ou pela recusa de alguns governos em realizá-las, como poderá ser o caso da Ucrânia, onde o presidente Vladimir Zelensky já anunciou que não poderá haver eleições devido ao conflito com a Rússia.

Em relação à Rússia, Boussois acredita que o presidente Vladimir Putin poderá se fortalecer neste ano depois de anunciar a sua candidatura. Uma eventual mudança de comando na Casa Branca e nas eleições europeias, o que presumivelmente enfraquecerá o apoio econômico e militar que a Ucrânia tem recebido até agora, pode ser um trunfo para a Rússia.

"Um antigo membro do Parlamento Europeu confirmou: a Rússia tem uma força que nem os EUA nem a Europa têm [...]. Os europeus e os norte-americanos já não serão capazes de apoiar materialmente a Ucrânia e terão de pressioná-la de volta à mesa de negociações", escreveu.

Boussois assegura que, neste momento, quando se aproximam os primeiros dois anos do início da operação especial militar russa, a opinião pública começa a cansar-se do conflito na Ucrânia e do custo que o seu apoio acarreta para norte-americanos e europeus.

Já em relação a Israel, que continua a bombardear Gaza, o pesquisador sublinha que os EUA seguem apoiando os israelenses enquanto a opinião pública se levanta contra Tel Aviv, o que enfraquece a posição dos norte-americanos, que se verão cada vez mais isolados no futuro.

 

Ø  Ex-presidente do Bundestag alemão quer proibir partido que mais cresce na Alemanha

 

O ex-presidente do Bundestag, câmara baixa do Legislativo, e o deputado do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD, na sigla em alemão) Wolfgang Thierse apelaram ao governo alemão para proibir o cada vez mais popular partido de direita Alternativa para a Alemanha (AfD).

"Se os departamentos de proteção constitucional dos três Estados federais classificaram a AfD como um partido extremista de direita, então o Estado é obrigado a verificar a possibilidade de proibir a AfD (a nível federal)", disse o político em entrevista ao Tagesspiegel.

Ao mesmo tempo, Wolfgang Thierse observa que na Alemanha é difícil proibir um partido e que o procedimento pode levar muitos anos, e a AfD, na opinião dele, pode se apresentar como uma "vítima" e usar isso para fins de propaganda.

Anteriormente, a co-presidente do SPD, Saskia Esken, também não descartou a proibição da AfD no futuro.

Em 2023, o Gabinete Federal para a Proteção da Constituição (BfV, na sigla em alemão) reconheceu as filiais da AfD na Saxônia, Turíngia e Saxônia-Anhalt como extremistas de direita. Essa decisão permitirá que as autoridades federais expandam o seu arsenal de ferramentas de vigilância sobre a organização.

No nível federal, o partido é "suspeito de extremismo", o que é considerado uma ameaça menor. Em junho do ano passado, o Instituto Alemão de Direitos Humanos publicou um relatório no qual afirmava que as condições para a proibição da AfD estavam reunidas.

A AfD ganhou popularidade acentuadamente nos últimos seis meses: de acordo com as pesquisas, sua classificação oscila na faixa de 18-23%, o que o torna o segundo partido mais popular depois do bloco de oposição da União Democrata Cristã (CDU, na sigla em alemão) e da União Social Cristã (CSU, na sigla em alemão).

Durante o ano passado, a AfD nomeou dois presidentes de assembleias no leste do país. O partido, entre outras coisas, defende ativamente a limitação do fluxo de migrantes e a necessidade de iniciar negociações de paz na Ucrânia. Os opositores do partido o acusam frequentemente de ter laços estreitos com a Rússia.

Em setembro, serão realizadas eleições em três estados da Alemanha Oriental — Saxônia, Turíngia e Brandemburgo. A AfD lidera as pesquisas de opinião nos três estados, à frente de todos os outros partidos.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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