sábado, 14 de dezembro de 2024

Consumir canela em pau pode evitar adulteração por chumbo

A canela, especiaria amplamente apreciada em todo o mundo por seu sabor e aroma inconfundíveis, tornou-se alvo de preocupações devido à presença de chumbo em alguns produtos. Investigação recente nos Estados Unidos revelou níveis alarmantes de contaminação, expondo consumidores a riscos à saúde que variam conforme a frequência e quantidade de consumo.

Produtos de canela adulterados com chumbo, detectados em marcas disponíveis no mercado, foram responsáveis por centenas de casos de níveis elevados de chumbo no sangue em 2023. Crianças, particularmente vulneráveis a essa exposição, sofreram consequências preocupantes devido ao impacto do metal em seu desenvolvimento. As investigações apontaram que práticas como a adição intencional de compostos de chumbo durante o processamento aumentam o peso ou a cor da especiaria, uma forma de adulteração alimentar que visa ganhos financeiros às custas da saúde pública.

Embora a canela em pau tenha apresentado níveis mais baixos de contaminação, a forma em pó, frequentemente usada em produtos assados e bebidas, mostrou-se mais propensa a conter quantidades significativas do metal pesado. O estudo conduzido pela Consumer Reports encontrou níveis variando de 0,02 a 3,52 partes por milhão (ppm) na canela moída vendida nos EUA. Esses valores, embora baixos em relação à canela claramente adulterada, podem ser suficientes para superar os limites de segurança estabelecidos para ingestão diária de chumbo, especialmente em populações em risco.

O chumbo é um metal cumulativo, o que significa que múltiplas exposições de fontes variadas, como alimentos, tintas antigas ou água encanada em sistemas obsoletos, podem somar-se a níveis tóxicos no corpo. O metal é absorvido pelo intestino delgado e compete com nutrientes essenciais como ferro, agravando deficiências nutricionais comuns entre crianças e mulheres grávidas. Estudos revelaram que 49% do chumbo ingerido pode ser absorvido pelo organismo, destacando a relevância de limitar a exposição alimentar.

Nos Estados Unidos, a ausência de diretrizes federais específicas para metais pesados em especiarias dificulta ações uniformes contra a contaminação. Nova York, no entanto, lidera iniciativas para reduzir os limites permitidos, visando aumentar a segurança alimentar. Enquanto isso, o FDA e organizações como a Consumer Reports continuam emitindo alertas para informar os consumidores sobre produtos potencialmente perigosos.

Para quem consome canela ocasionalmente, os riscos podem ser baixos. No entanto, em lares onde a especiaria é usada regularmente ou por indivíduos que a ingerem em grandes quantidades, a escolha de fornecedores confiáveis é essencial. Produtos importados de países como Indonésia, Vietnã e Índia, principais exportadores, podem estar mais expostos a práticas de cultivo em solos contaminados ou a adulterações durante o processamento.

Consumidores preocupados devem optar por canela em pau sempre que possível e considerar a aquisição de especiarias de grandes marcas conhecidas por seu controle de qualidade. Testes regulares de níveis de chumbo no sangue, especialmente em crianças e gestantes, são recomendados como medida preventiva, particularmente em regiões ou lares com maior exposição a fontes diversas de contaminação.

A segurança alimentar exige vigilância constante, e a canela, tão amplamente valorizada por seus benefícios culturais e culinários, não deve ser uma exceção. Com escolhas informadas, é possível continuar desfrutando das especiarias enquanto minimizamos os riscos à saúde.

 

¨         Estudo inédito revela como o mel pode mapear a poluição por metais tóxicos

De cada colherada de mel, além do sabor doce, pode emergir um retrato da poluição ao redor. Uma pesquisa recente da Universidade Tulane revelou que o mel, produzido por abelhas ao forragearem flores locais, pode ser uma ferramenta poderosa para identificar contaminantes ambientais, como metais tóxicos, em diferentes regiões.

Publicada na Environmental Pollution, a pesquisa analisou 260 amostras de mel de 48 estados norte-americanos, rastreando traços de seis metais pesados: arsênio, chumbo, cádmio, níquel, cromo e cobalto. Apesar das concentrações encontradas estarem dentro dos limites seguros para consumo, com base na ingestão diária de uma colher de sopa, o estudo expôs variações significativas entre as regiões.

Os méis do noroeste do Pacífico apresentaram níveis elevados de arsênio, enquanto o cobalto destacou-se no sudeste, em estados como Louisiana e Mississippi. Já as Carolinas registraram algumas das maiores concentrações de chumbo, levantando preocupações sobre os possíveis impactos das atividades humanas, como mineração, uso histórico de pesticidas e combustão de combustível de aviação.

Segundo os pesquisadores, as abelhas desempenham um papel duplo ao produzir mel e atuar como “amostradoras” ambientais. Durante a coleta de néctar e pólen, elas capturam partículas do solo, água e ar, incorporando no mel traços dos poluentes presentes nos ecossistemas. Essa característica transforma o mel em um indicador sensível da qualidade ambiental de uma região, com potencial para mapear tendências locais de contaminação.

Embora os dados forneçam um panorama inicial, a identificação das fontes exatas de poluição requer investigações mais aprofundadas. Os altos níveis de arsênio em estados como Washington e Oregon, por exemplo, podem estar associados ao uso histórico de pesticidas ou a resíduos industriais. Já o chumbo encontrado na Carolina do Norte pode estar relacionado ao solo contaminado por gasolina e tintas à base de chumbo.

A pesquisa representa a primeira iniciativa em larga escala para rastrear metais tóxicos no mel nos Estados Unidos. Usando apenas méis de origem única e claramente identificada, o estudo reforça a importância de entender como as atividades humanas afetam o ambiente natural e a saúde das comunidades.

Os resultados também abrem caminho para ampliar o uso de produtos das abelhas como indicadores ambientais. Além de oferecer um alimento seguro, o mel pode ajudar a mapear os riscos ecológicos e de saúde pública associados à poluição. As abelhas, ao que tudo indica, têm muito mais a revelar sobre os desafios ambientais do que sua reputação de polinizadoras pode sugerir.

 

Fonte: Scientific American/eCycle

 

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