Como funciona a
embolização da artéria meníngea
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) passou
por uma embolização da artéria meníngea, um procedimento complementar após a
cirurgia realizada na segunda-feira (9/12) para tratar a hemorragia
intracraniana.
Segundo o boletim
médico divulgado pelo Hospital Sírio-Libanês na quarta-feira (11/12), Lula, que
tem 79 anos, "permanece sob cuidados intensivos" e "passou o dia
bem, sem intercorrências".
Ele, inclusive,
realizou fisioterapia, caminhou e recebeu visitas de familiares.
O mesmo comunicado
destaca que o novo procedimento faz "parte da programação
terapêutica" e consiste num "procedimento endovascular", que
será realizado na manhã desta quinta-feira (12/12).
O objetivo da
embolização da artéria meníngea é estancar sangramentos e evitar a formação ou
o crescimento de hematomas na cabeça.
Entenda a seguir
como funciona essa intervenção e por que ela é necessária em casos como o de
Lula.
·
O
que é um procedimento endovascular
Em resumo, o termo
"procedimento endovascular" é usado para descrever qualquer
intervenção feita a partir do interior de vasos sanguíneos.
A ideia é utilizar
a rede de veias e artérias do corpo como "caminhos" para se chegar
até o local que apresenta algum problema, com o objetivo de corrigi-lo ou
tratá-lo.
Procedimentos do tipo
usam fios e cateteres, que são inseridos num vaso sanguíneo através da pele.
Geralmente, os
médicos fazem esse acesso pelo braço ou pela virilha.
Com ajuda de exames
de imagem (como a tomografia, a ressonância magnética e a radiografia), esses profissionais
de saúde guiam os
cateteres até a região que apresenta um determinado problema.
Quando chegam no
local desejado, eles podem "entupir" o vaso, para estancar uma
hemorragia, ou instalar uma rede metálica, caso a ideia seja restabelecer a
passagem de sangue ali.
Há também a
possibilidade de usar esse acesso para aplicar medicações ou outros tratamentos
específicos (como moléculas radioativas, calor ou frio).
Esses procedimentos
minimamente invasivos são usados na Medicina há pelo menos cinco décadas e
apresentam inúmeras vantagens.
As intervenções
muitas vezes podem ser feitas em ambulatórios, fora de centros cirúrgicos, e,
como precisam apenas de pequenos furos na pele (sem necessidade de grandes
cortes e suturas), têm uma recuperação muito mais rápida e com menos
complicações.
As técnicas e os
materiais utilizados evoluíram muito nos últimos anos e hoje são usados para
tratar uma série de condições — de infarto e AVC a dor,
inchaço na próstata e até câncer.
No caso de Lula, o
boletim médico mais recente destaca que ele passará por uma embolização de artéria
meníngea média.
Em outras palavras,
embolização significa justamente entupir um vaso sanguíneo — no caso do
presidente, a artéria meníngea média, que passa pela cabeça — para interromper
a passagem de sangue ali.
Os médicos costumam
usar substâncias químicas específicas ou calor para fazer o fechamento desse
tubo do sistema circulatório.
Esse bloqueio é
cuidadosamente avaliado por especialistas e não prejudica a chegada de
suprimentos (oxigênio e nutrientes) para as células da região.
·
Por
que Lula precisou de mais um procedimento?
Como explicado pelo
boletim do Hospital Sírio Libanês, o procedimento endovascular é um tratamento
complementar em casos como o do presidente.
Numa reportagem publicada
pela BBC News Brasil na terça-feira (10/12), a neurologista Sheila Martins,
professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, já havia antecipado a necessidade dessa nova intervenção.
Para entender essa
questão, precisamos recapitular pontos importantes do episódio.
No dia 19 outubro,
Lula bateu a cabeça ao sofrer um acidente doméstico no Palácio da Alvorada.
Desde então, ele
tem feito um acompanhamento com especialistas para avaliar se a pancada poderia
ter alguma consequência mais grave.
Na segunda-feira, 9
de dezembro, o presidente apresentou um mal-estar e se queixou de dores de cabeça.
Ao passar por uma
ressonância magnética em Brasília, os médicos diagnosticaram a hemorragia
intracraniana.
Esse acúmulo de
sangue aconteceu entre a dura mater (uma das meninges, as membranas que
protegem o sistema nervoso) e a superfície do cérebro.
Segundo
especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, esse quadro acontece frequentemente
com indivíduos que sofrem batidas na cabeça — e pode demorar semanas ou até
meses para dar sinais.
Após o choque,
alguns pequenos vasos sanguíneos se rompem e ficam gotejando sangue aos poucos.
O líquido vermelho
se acumula numa determinada região e forma um hematoma — que a partir de um
certo tamanho começa a pressionar o cérebro e gera incômodos (como dor de
cabeça).
Lula foi então
transferido para São Paulo, onde passou por uma craniotomia, um procedimento
para drenar o hematoma.
A cirurgia foi
considerada bem-sucedida pelos médicos e não houve qualquer sequela.
Mas a craniotomia
serve apenas para drenar o hematoma que se formou.
Os pequenos vasos
que se romperam após a pancada podem continuar a gotejar sangue — e gerar um
novo hematoma depois de algum tempo.
É por isso que,
nesses casos, os profissionais da saúde fazem o procedimento vascular para
fechar alguns desses tubos do sistema circulatório.
Assim, é possível
resolver o vazamento (a hemorragia) e evitar um novo acúmulo de sangue (o
hematoma) no futuro.
Fonte: BBC News
Brasil
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