sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

ONG Repórteres Sem Fronteiras culpa Israel pela morte de um terço dos jornalistas mortos em 2024

Israel é responsável pela morte de cerca de um terço dos jornalistas mortos em 2024, de acordo com um relatório da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), reconhecendo a região a mais perigosa para o jornalismo neste ano.

A organização observa "uma alarmante intensificação dos ataques contra jornalistas" no ano de 2024, principalmente em zonas de conflito, que atinge um nível recorde durante os últimos cinco anos.

"A Palestina é o país mais perigoso para os jornalistas. [...] Mais de 145 jornalistas foram mortos por Israel desde outubro de 2023, sendo pelo menos 35 visados ou mortos no cumprimento de suas atribuições", diz o relatório da RSF.

No total, em 2024, 54 jornalistas foram mortos, dos quais 31 foram assassinados em zonas de conflito. Elas incluem:

Oriente Médio;

Iraque;

Sudão;

Birmânia;

Ucrânia.

A segunda região mais perigosa, de acordo com a RSF, é a Ásia, com várias áreas de perturbação do Paquistão até Bangladesh.

A organização também observa que 550 jornalistas continuam presos por todo o mundo. Esse número aumentou em 7,2% em 2024.

Outros 55 profissionais da mídia são mantidos como reféns, 70% deles na Síria, e 95 jornalistas estão desaparecidos.

"O México se destaca tristemente como o país com o maior número de desaparecimentos de jornalistas. O país concentra mais de 30% dos casos de jornalistas desaparecidos", informa o relatório.

Anteriormente, foi publicado um relatório no site da UNESCO, no qual, no Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, a UNESCO conclama todos os países a cumprirem seus compromissos para acabar com a impunidade pelo assassinato de jornalistas.

De acordo com o novo relatório da UNESCO, a impunidade continua alta, chegando a 85%. Esse número caiu apenas 4% em seis anos.

 

¨      Líbano tenta se reerguer em meio a frágil cessar-fogo

Quando Bassam Khawand, um apicultor de 55 anos do vilarejo de Saidun, no sul do Líbano, voltou para suas colmeias após o fim da guerra entre Israel e o Hezbollah, encontrou algumas de suas abelhas mortas. Os bombardeios israelenses durante o conflito de 13 meses o prenderam em seu vilarejo, incapaz de cuidar de sua criação.

Mas agora, com o cessar-fogo em vigor desde 27 de novembro, Khawand pôde finalmente voltar a cuidar de suas abelhas, sua fonte de mel e de renda. "Era muito perigoso deixar o vilarejo porque trabalhamos na floresta, onde, a qualquer momento, você pode ser atingido por um drone", disse à DW.

Parte de suas abelhas morreu por falta de alimento e outras foram queimadas nos incêndios provocados pelos ataques aéreos israelenses. As vendas de mel caíram porque "ninguém quer mel como antes", e ele não conseguia produzir o suficiente nem treinar apicultores, o que é fundamental para seu negócio.

Mas agora, Khawand está concentrado na reconstrução, em cuidar de suas abelhas, aumentar a produção de mel e treinar outros apicultores novamente.

A guerra de Israel com o Hezbollah no Líbano matou cerca de 4.000 pessoas e deixou mais de 16 mil feridos, de acordo com o Ministério da Saúde libanês. Mais de 1 milhão de pessoas ficaram desabrigadas, e a economia do país foi devastada.

Setor agrícola duramente atingido 

Os incêndios destruíram até 65 mil oliveiras e danificaram 6.000 hectares de terras agrícolas, de acordo com o ministro da Agricultura libanês, Abbas Hajj Hassan, que chamou o uso de munições de fósforo por Israel de "um ato de ecocídio", no canal árabe de notícias Al Jazeera.

Rose Bechara, fundadora da premiada empresa de azeite de oliva Darmmess, no vilarejo de Deir Mimas, no sul do Líbano, disse à DW que, durante os bombardeios de Israel, ela teve que transferir a produção para uma outra instalação, em um vilarejo mais distante da fronteira.

Apesar da devastação, há um vislumbre de esperança, disse Bechara, pois análises feitas antes da colheita confirmaram que o solo de Deir Mimas permanece livre de metais pesados e fósforo, o que promete potencial para produção futura.

Ainda assim, o custo do conflito para os agricultores do sul do Líbano é impressionante. Estima-se que 60% deles não puderam colher este ano devido à guerra. Bechara, por exemplo, enfrentou perdas de cerca de 500 mil dólares (aproximadamente R$ 2,9 milhões) em equipamentos e capacidade de produção.

Enquanto as terras férteis que antes sustentavam a vida agora carregam as cicatrizes da guerra, o Líbano começa a enfrentar os desafios da reconstrução e da renovação em meio a um frágil cessar-fogo.

·        O desafio da reconstrução

A economia do Líbano já estava em crise antes da guerra devido a uma desaceleração econômica que começou em 2019. A alta inflação, a desvalorização da moeda e o aumento dos preços levaram 82% da população a viver em "pobreza multidimensional", de acordo com a Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para a Ásia Ocidental (UNESCWA). 

A guerra com Israel aprofundou ainda mais a crise, segundo dados recentemente compilados pelo Banco Mundial.

Mais de 99 mil unidades habitacionais, além de instalações públicas vitais, como hospitais e infraestruturas, foram danificadas ou destruídas. O custo dos danos físicos e das perdas econômicas é estimado em 8,5 bilhões de dólares (em torno de R$ 50,8 bilhões), enquanto uma força-tarefa independente prevê que o impacto econômico pode ultrapassar 20 bilhões de dólares (R$ 119,6 bilhões).

Sami Atallah, diretor fundador do think tank The Policy Initiative, sediado em Beirute, afirma que o conflito não apenas sufocou ainda mais a economia, mas eliminou um setor bancário funcional para apoiar os esforços de reconstrução. "Diferentemente da guerra de 2006, desta vez Israel também atacou propriedades privadas, piorando a economia do Líbano, pois as economias das pessoas acabaram e a renda despencou", disse à DW.

·        Garantir financiamento é essencial

Embora vários países tenham fornecido milhões em ajuda aos deslocados durante a guerra, a reconstrução do país requer recursos mais substanciais. Após esse cessar-fogo, o Irã prometeu apoio, enquanto as autoridades do Hezbollah prometeram compensação, e o Iraque declarou que ajudará tanto o Líbano quanto Gaza.

Em outubro, uma conferência internacional de ajuda em Paris mobilizou a promessa de arrecadação de 1 bilhão de dólares (R$ 5,9 bilhões), incluindo financiamento para as Forças Armadas libanesas, que serão cruciais para a aplicação do cessar-fogo.

Leila Dagher, professora associada de economia da Universidade Americana Libanesa, acredita que a reconstrução do Líbano depende de financiamento internacional, sendo que um pacote do Fundo Monetário Internacional (FMI) é crucial para desbloquear o apoio de doadores globais. "O desafio está em garantir que o financiamento esteja vinculado a mecanismos transparentes e orientados para a reforma, a fim de evitar a má administração e reconstruir a confiança na governança do Líbano", afirmou.

Segundo Atallah, o financiamento para reconstrução enfrenta grandes obstáculos, pois as nações do Golfo demonstram menos interesse, o apoio do Irã permanece incerto e os países ocidentais, embora defendam o movimento, contribuem com armas para Israel. Os riscos de corrupção também persistem, com empresas com ligações políticas dominando os contratos, muitas vezes com a cumplicidade dos doadores. "É essencial que haja maior responsabilidade tanto das autoridades libanesas quanto dos doadores internacionais", disse ele.

Com o esgotamento dos recursos internos do Estado libanês e um plano de reconstrução concreto ainda a ser desenvolvido, Dagher espera que o governo "priorize políticas de reconstrução transparentes e responsáveis, aprendendo com as crises passadas". Um banco de dados público online para rastrear a ajuda e o progresso, segundo ela, é "essencial para promover a confiança e minimizar a corrupção".

·        Vácuo político

O Líbano está sem presidente desde outubro de 2022, e o governo interino não tem poder total. O presidente do Parlamento, Nabih Berri, agendou uma sessão para a eleição presidencial em 9 de janeiro de 2025.

Esse vácuo político alimenta a desconfiança entre os doadores internacionais, já cautelosos com o histórico de corrupção e má administração do Líbano, com o atual governo visto como disfuncional e ineficaz.

"O Estado libanês deve supervisionar a reconstrução para evitar uma abordagem fragmentada, e os partidos políticos não devem interferir no processo de reconstrução, pois sua influência prejudica a capacidade do Estado de funcionar de forma eficaz", disse Atallah.

Dagher acredita que um governo voltado para a reforma é crucial para a reconstrução da confiança do povo libanês e da comunidade internacional. "Para liberar o financiamento internacional, o Líbano precisa urgentemente eleger um presidente e um primeiro-ministro com mentalidade reformista e comprometidos com a transparência e a responsabilidade", disse ela.

Entretanto, a reconstrução e as reformas estão intimamente ligadas a um cessar-fogo duradouro. Os libaneses permanecem cautelosos, vivendo no presente, já que a situação pode se desfazer a qualquer momento.

Uma fonte da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) disse à CNN que Israel violou o acordo de cessar-fogo cerca de 100 vezes desde que a trégua entrou em vigor na semana passada, enquanto o Hezbollah respondeu com ataques de foguetes.

Rose Bechara acredita que os planos para o futuro ainda não podem ser feitos, pois não está claro se o cessar-fogo será mantido. "Não podemos dizer nada até que tenhamos uma visão clara da situação. Ninguém está pronto para continuar a guerra, mas ainda não nos sentimos seguros o suficiente para voltar", disse ela.

E o apicultor Bassam Khawand espera que o cessar-fogo dure. "Temos danos suficientes, mas temos um vizinho com o qual não é fácil trabalhar."

 

¨      Como a queda de Assad afeta o status quo militar da Rússia

Está em aberto se a vitória dos rebeldes sunitas e a fuga do ditador Bashar al Assad acarretará para a Rússia a perda de suas bases militares na Síria. Na segunda-feira (09/12), o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, declarou que seria "prematuro" falar do assunto. Portanto não há nenhuma decisão rápida à vista.

A Rússia mantém duas bases no país: uma marítima em Tartus, no Mar Mediterrâneo – herança da era soviética –, e desde 2015, uma aérea, em Hmeimim. A mídia do país afirma que os rebeldes agora no poder garantiram a Moscou a segurança de ambas. Embora não haja confirmação de outras fontes, os fatos parecem confirmar essa informação.

Nesta semana, embarcações navais russas parecem ter deixado temporariamente seu principal porto na Síria, segundo imagens de satélite analisadas pela rede BBC, em meio à incerteza após a queda de seu aliado, Bashar al-Assad.

Imagens registradas em 10 de dezembro mostram que alguns navios deixaram a base naval de Tartus desde domingo e estão atualmente manobrando em alto-mar no Mar Mediterrâneo. Enquanto isso, outras fotos tiradas no mesmo dia mostram que a atividade continua na principal base aérea de, Hmeimim, com jatos claramente visíveis na pista.om

"Até agora se vê, de fato, atividade de máquinas de transporte em Hmeimim, mas não na proporção que permita se falar de uma evacuação total", comenta o ex-analista do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR) Gustav Gressel.

"Eu avalio que, nos bastidores, a Rússia esteja negociando para manter as bases no país. Se tivesse renunciado a elas, haveria realmente uma evacuação em curso."

<><> De "terroristas" a "rebeldes": Moscou abranda o tom

O historiador militar austríaco coronel Markus Reisner acredita que a base marítima em Tartus seja "mais importante estrategicamente" para a Rússia, a qual, "a partir de lá, pode projetar forças militares Mediterrâneo adentro". A base aérea de Hmeimim foi necessária para Moscou apoiar o regime de Assad contra os rebeldes liderados pela organização islamista Hayat Tahrir al Sham (HTS), "mas isso passou".

O cientista político britânico Mark Galeotti, autor de Putin's wars: From Chechnya to Ukraine (As guerras de Putin: Da Tchetchênia à Ucrânia) crê, antes, que ambas as bases sejam "muito importantes para as atividades russas no Mediterrâneo e na África".

Ele acha "interessante a rapidez com que a Rússia tentou chegar a um acerto com o HTS": até pouco tempo atrás, o ministro do Exterior Sergei Lavrov tachava o grupo de "terroristas", mas no fim de semana da tomada de poder eles passaram a ser chamados de "rebeldes". Antes mesmo da queda do regime Assad, o tom dos russos para com os fundamentalistas islâmicos já se tornara "muito mais educado", frisa o politólogo.

<><> O que Moscou tem a oferecer aos rebeldes?

"A Rússia provavelmente espera fazer um acordo com o HTS", observa Galeotti. Mas o que Moscou tem a oferecer? Os rebeldes são até apoiados pela Turquia mas "não querem ser proxy, meros peões turcos, eles precisam de aliados, conexões". E é aí que a Rússia entra na história: "Os russos são bastante cínicos e pragmáticos, isso poderia ajudar o HTS a diversificar sua dependência de Ancara." Nesse contexto, Galeotti recorda que Moscou não só está presente na Síria no âmbito militar, mas também mantém relações comerciais estreitas com ela.

A especialista em Oriente Médio Burcu Ozcelik, do think tank britânico Rusi, não está convencida de que os rebeldes vão aquiescer rapidamente à vontade do Kremlin: "É altamente duvidoso que o HTS vá se apressar em ser percebido como aliado de [presidente russo, Vladimir] Putin, ou a dar sinal verde para uma presença militar russa duradoura no litoral mediterrâneo sírio."

A ressalva é especialmente pertinente "considerando-se que Assad obteve asilo em território russo". Ozcelik prevê longas negociações, em que os protagonistas regionais Rússia e Irã "tentarão adaptar sua política externa para com a Síria".

Caso os militares russos tenham que deixar a Síria, mesmo que parceladamente, "eles não têm boas opções" para onde ir, avalia Mark Galeotti Pois a Síria sob Assad era fortemente dependente de Moscou, e na região não nenhum outro país oferece as mesmas condições.

A Líbia está entre as alternativas possíveis mencionadas com mais frequência. Lá, a Rússia mantém contatos com o general Khalifa Belqasim Haftar, que tem mercenários russos do Grupo Wagner lutando a seu lado. A imprensa ocidental noticia sobre intenções russas de montar uma base marítima na Líbia. Markus Reisner supõe que possa se tratar de Tobruk.

Para Galeotti, não será fácil concretizar essa opção, por falta de infraestrutura disponível no local. O mesmo se aplica ao Sudão, com cujo governo os russos vêm negociando há anos a instalação de uma base no Mar Vermelho. Contudo, "aonde quer que eles vão – Líbia, Mali, Sudão –, não vão encontrar uma situação como na Síria", conclui o politólogo e historiador.

O que Ucrânia pode lucrar com a nova situação?

Nesse contexto, discute-se ainda uma outra questão: se a Rússia retirar suas tropas da Síria, o que isso significa para a guerra que ela trava na Ucrânia desde 24 de fevereiro de 2022. "Sinceramente, o impacto é negligenciável", afirma Galeotti, classificando como insignificante o número de soldados russos que poderiam ser mobilizados para o front ucraniano.

Gressel concorda: "Para a Ucrânia, as boas notícias [a partir da Síria] são restritas." O Kremlin não tem capacidade, nem desejo, de abrir uma nova frente de combate enquanto guerreia com todos os meios possíveis no país vizinho.

"A Ucrânia tampouco vai se beneficiar de modo sensível da debilitação do Irã por Israel", sugere o o ex-analista do ECFR. A única consequência palpável para Kiev poderia ser que "alguns no Ocidente ganhem mais coragem" e que "a fragilidade de Putin possa impressionar Donald Trump". Essa, porém, é mais uma questão em aberto.

 

Fonte: Sputnik Brasil/DW Brasil

 

Nenhum comentário: