ONG Repórteres Sem
Fronteiras culpa Israel pela morte de um terço dos jornalistas mortos em 2024
Israel é responsável
pela morte de cerca de um terço dos jornalistas mortos em 2024, de acordo com
um relatório da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), reconhecendo a região a
mais perigosa para o jornalismo neste ano.
A organização observa "uma
alarmante intensificação dos ataques contra jornalistas" no ano de 2024,
principalmente em zonas de conflito, que atinge um nível recorde durante os
últimos cinco anos.
"A Palestina é
o país mais perigoso para os jornalistas. [...] Mais de 145 jornalistas foram
mortos por Israel desde outubro de 2023, sendo pelo menos 35 visados ou mortos
no cumprimento de suas
atribuições",
diz o relatório da RSF.
No total, em 2024,
54 jornalistas foram mortos, dos quais 31 foram assassinados em zonas de
conflito. Elas incluem:
Oriente Médio;
Iraque;
Sudão;
Birmânia;
Ucrânia.
A segunda região
mais perigosa, de acordo com a RSF, é a Ásia, com várias áreas de
perturbação do Paquistão até Bangladesh.
A organização
também observa que 550 jornalistas continuam presos por todo o mundo. Esse número
aumentou em 7,2% em 2024.
Outros 55 profissionais da
mídia são
mantidos como reféns, 70% deles na Síria, e 95 jornalistas estão desaparecidos.
"O México se
destaca tristemente como o país com o maior número de desaparecimentos de
jornalistas. O país concentra mais de 30% dos casos de jornalistas
desaparecidos", informa o relatório.
Anteriormente, foi
publicado um relatório no site da UNESCO, no qual, no Dia Internacional pelo
Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, a UNESCO conclama todos os
países a cumprirem seus compromissos para acabar com a impunidade pelo
assassinato de jornalistas.
De acordo com o
novo relatório da UNESCO, a impunidade continua alta, chegando
a 85%. Esse número caiu apenas 4% em seis anos.
¨ Líbano
tenta se reerguer em meio a frágil cessar-fogo
Quando Bassam Khawand, um
apicultor de 55 anos do vilarejo de Saidun, no sul do Líbano, voltou para suas colmeias após o fim da guerra entre Israel e o Hezbollah, encontrou algumas de suas abelhas mortas. Os bombardeios israelenses
durante o conflito de 13 meses o prenderam em seu vilarejo, incapaz de cuidar
de sua criação.
Mas agora, com o cessar-fogo em vigor
desde 27 de novembro, Khawand pôde finalmente voltar a cuidar de suas abelhas,
sua fonte de mel e de renda. "Era muito perigoso deixar o vilarejo porque
trabalhamos na floresta, onde, a qualquer momento, você pode ser atingido por
um drone", disse à DW.
Parte de suas abelhas
morreu por falta de alimento e outras foram queimadas nos incêndios
provocados pelos ataques aéreos israelenses. As vendas de mel caíram porque
"ninguém quer mel como antes", e ele não conseguia produzir o
suficiente nem treinar apicultores, o que é fundamental para seu negócio.
Mas agora, Khawand está
concentrado na reconstrução, em cuidar de suas abelhas, aumentar a produção de
mel e treinar outros apicultores novamente.
A guerra de Israel com o
Hezbollah no Líbano matou cerca de 4.000 pessoas e deixou mais de 16 mil
feridos, de acordo com o Ministério da Saúde libanês. Mais de 1 milhão de
pessoas ficaram desabrigadas, e a economia do país foi devastada.
Setor agrícola duramente
atingido
Os incêndios destruíram até
65 mil oliveiras e danificaram 6.000 hectares de terras agrícolas, de acordo
com o ministro da Agricultura libanês, Abbas Hajj Hassan, que chamou o uso de
munições de fósforo por Israel de "um ato de ecocídio", no canal
árabe de notícias Al Jazeera.
Rose Bechara, fundadora da
premiada empresa de azeite de oliva Darmmess, no vilarejo de Deir Mimas, no sul
do Líbano, disse à DW que, durante os bombardeios de Israel, ela teve que
transferir a produção para uma outra instalação, em um vilarejo mais distante
da fronteira.
Apesar da devastação, há um
vislumbre de esperança, disse Bechara, pois análises feitas antes da colheita
confirmaram que o solo de Deir Mimas permanece livre de metais pesados e
fósforo, o que promete potencial para produção futura.
Ainda assim, o custo do
conflito para os agricultores do sul do Líbano é impressionante. Estima-se que
60% deles não puderam colher este ano devido à guerra. Bechara, por exemplo,
enfrentou perdas de cerca de 500 mil dólares (aproximadamente R$ 2,9 milhões)
em equipamentos e capacidade de produção.
Enquanto as terras férteis
que antes sustentavam a vida agora carregam as cicatrizes da guerra, o Líbano
começa a enfrentar os desafios da reconstrução e da renovação em meio a um
frágil cessar-fogo.
·
O desafio da reconstrução
A economia do Líbano já estava em crise antes da guerra devido a uma desaceleração econômica que começou em 2019. A alta
inflação, a desvalorização da moeda e o aumento dos preços levaram 82% da
população a viver em "pobreza multidimensional", de acordo com a
Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para a Ásia Ocidental
(UNESCWA).
A guerra com Israel aprofundou
ainda mais a crise, segundo dados recentemente compilados pelo Banco Mundial.
Mais de 99 mil unidades
habitacionais, além de instalações públicas vitais, como hospitais e
infraestruturas, foram danificadas ou destruídas. O custo dos danos físicos e
das perdas econômicas é estimado em 8,5 bilhões de dólares (em torno de R$ 50,8
bilhões), enquanto uma força-tarefa independente prevê que o impacto econômico
pode ultrapassar 20 bilhões de dólares (R$ 119,6 bilhões).
Sami Atallah, diretor
fundador do think tank The Policy Initiative, sediado em Beirute, afirma que o
conflito não apenas sufocou ainda mais a economia, mas eliminou um setor bancário funcional para apoiar os esforços de reconstrução. "Diferentemente da
guerra de 2006, desta vez Israel também atacou propriedades privadas, piorando
a economia do Líbano, pois as economias das pessoas acabaram e a renda
despencou", disse à DW.
·
Garantir financiamento é essencial
Embora vários países tenham
fornecido milhões em ajuda aos deslocados durante a guerra, a reconstrução do
país requer recursos mais substanciais. Após esse cessar-fogo, o Irã prometeu apoio, enquanto as autoridades do Hezbollah prometeram
compensação, e o Iraque declarou que ajudará tanto o Líbano quanto Gaza.
Em outubro, uma conferência
internacional de ajuda em Paris mobilizou a promessa de arrecadação de 1 bilhão
de dólares (R$ 5,9 bilhões), incluindo financiamento para as Forças Armadas
libanesas, que serão cruciais para a aplicação do cessar-fogo.
Leila Dagher, professora
associada de economia da Universidade Americana Libanesa, acredita que a
reconstrução do Líbano depende de financiamento internacional, sendo que um
pacote do Fundo Monetário Internacional (FMI) é crucial para desbloquear o
apoio de doadores globais. "O desafio está em garantir que o financiamento
esteja vinculado a mecanismos transparentes e orientados para a reforma, a fim
de evitar a má administração e reconstruir a confiança na governança do
Líbano", afirmou.
Segundo Atallah, o
financiamento para reconstrução enfrenta grandes obstáculos, pois as nações do
Golfo demonstram menos interesse, o apoio do Irã permanece incerto e os países
ocidentais, embora defendam o movimento, contribuem com armas para Israel. Os
riscos de corrupção também persistem, com empresas com ligações políticas
dominando os contratos, muitas vezes com a cumplicidade dos doadores. "É
essencial que haja maior responsabilidade tanto das autoridades libanesas
quanto dos doadores internacionais", disse ele.
Com o esgotamento dos
recursos internos do Estado libanês e um plano de reconstrução concreto ainda a
ser desenvolvido, Dagher espera que o governo "priorize políticas de
reconstrução transparentes e responsáveis, aprendendo com as crises
passadas". Um banco de dados público online para rastrear a ajuda e o
progresso, segundo ela, é "essencial para promover a confiança e minimizar
a corrupção".
·
Vácuo político
O Líbano está sem presidente
desde outubro de 2022, e o governo interino não tem poder total. O presidente
do Parlamento, Nabih Berri, agendou uma sessão para a eleição presidencial em 9
de janeiro de 2025.
Esse vácuo político alimenta
a desconfiança entre os doadores internacionais, já cautelosos com o histórico
de corrupção e má administração do Líbano, com o atual governo visto como
disfuncional e ineficaz.
"O Estado libanês deve
supervisionar a reconstrução para evitar uma abordagem fragmentada, e os
partidos políticos não devem interferir no processo de reconstrução, pois sua
influência prejudica a capacidade do Estado de funcionar de forma eficaz",
disse Atallah.
Dagher acredita que um
governo voltado para a reforma é crucial para a reconstrução da confiança do
povo libanês e da comunidade internacional. "Para liberar o financiamento
internacional, o Líbano precisa urgentemente eleger um presidente e um
primeiro-ministro com mentalidade reformista e comprometidos com a
transparência e a responsabilidade", disse ela.
Entretanto, a reconstrução e
as reformas estão intimamente ligadas a um cessar-fogo duradouro. Os libaneses
permanecem cautelosos, vivendo no presente, já que a situação pode se desfazer
a qualquer momento.
Uma fonte da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) disse à CNN que Israel violou o acordo de cessar-fogo cerca de 100
vezes desde que a trégua entrou em vigor na semana passada, enquanto o
Hezbollah respondeu com ataques de foguetes.
Rose Bechara acredita que os
planos para o futuro ainda não podem ser feitos, pois não está claro se o
cessar-fogo será mantido. "Não podemos dizer nada até que tenhamos uma
visão clara da situação. Ninguém está pronto para continuar a guerra, mas ainda
não nos sentimos seguros o suficiente para voltar", disse ela.
E o apicultor Bassam Khawand
espera que o cessar-fogo dure. "Temos danos suficientes, mas temos um
vizinho com o qual não é fácil trabalhar."
¨ Como a
queda de Assad afeta o status quo militar da Rússia
Está em aberto se a vitória dos rebeldes sunitas e a fuga do ditador Bashar al Assad acarretará
para a Rússia a perda de suas bases militares na Síria. Na segunda-feira (09/12), o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov,
declarou que seria "prematuro" falar do assunto. Portanto não há
nenhuma decisão rápida à vista.
A Rússia mantém duas bases
no país: uma marítima em Tartus, no Mar Mediterrâneo – herança da era soviética
–, e desde 2015, uma aérea, em Hmeimim. A mídia do país afirma que os rebeldes
agora no poder garantiram a Moscou a segurança de ambas. Embora não haja
confirmação de outras fontes, os fatos parecem confirmar essa informação.
Nesta
semana, embarcações navais russas parecem ter deixado temporariamente seu
principal porto na Síria, segundo imagens de satélite analisadas pela rede BBC,
em meio à incerteza após a queda de seu aliado, Bashar al-Assad.
Imagens registradas em 10 de
dezembro mostram que alguns navios deixaram a base naval de Tartus desde
domingo e estão atualmente manobrando em alto-mar no Mar Mediterrâneo. Enquanto
isso, outras fotos tiradas no mesmo dia mostram que a atividade continua na
principal base aérea de, Hmeimim, com jatos claramente visíveis na pista.om
"Até agora se vê, de
fato, atividade de máquinas de transporte em Hmeimim, mas não na proporção que
permita se falar de uma evacuação total", comenta o ex-analista do
Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR) Gustav Gressel.
"Eu avalio que, nos
bastidores, a Rússia esteja negociando para manter as bases no país. Se tivesse
renunciado a elas, haveria realmente uma evacuação em curso."
<><> De
"terroristas" a "rebeldes": Moscou abranda o tom
O historiador militar
austríaco coronel Markus Reisner acredita que a base marítima em Tartus seja
"mais importante estrategicamente" para a Rússia, a qual, "a
partir de lá, pode projetar forças militares Mediterrâneo adentro". A base
aérea de Hmeimim foi necessária para Moscou apoiar o regime de Assad contra os
rebeldes liderados pela organização islamista Hayat Tahrir al Sham (HTS),
"mas isso passou".
O cientista político
britânico Mark Galeotti, autor de Putin's
wars: From Chechnya to Ukraine (As guerras de Putin: Da
Tchetchênia à Ucrânia) crê, antes, que ambas as bases sejam "muito
importantes para as atividades russas no Mediterrâneo e na África".
Ele acha "interessante
a rapidez com que a Rússia tentou chegar a um acerto com o HTS": até pouco
tempo atrás, o ministro do Exterior Sergei Lavrov tachava o grupo de
"terroristas", mas no fim de semana da tomada de poder eles passaram
a ser chamados de "rebeldes". Antes mesmo da queda do regime Assad, o
tom dos russos para com os fundamentalistas islâmicos já se tornara "muito
mais educado", frisa o politólogo.
<><> O que
Moscou tem a oferecer aos rebeldes?
"A Rússia provavelmente
espera fazer um acordo com o HTS", observa Galeotti. Mas o que Moscou tem
a oferecer? Os rebeldes são até apoiados pela Turquia mas "não querem ser
proxy, meros peões turcos, eles precisam de aliados, conexões". E é aí que
a Rússia entra na história: "Os russos são bastante cínicos e pragmáticos,
isso poderia ajudar o HTS a diversificar sua dependência de Ancara." Nesse
contexto, Galeotti recorda que Moscou não só está presente na Síria no âmbito
militar, mas também mantém relações comerciais estreitas com ela.
A especialista em Oriente
Médio Burcu Ozcelik, do think tank britânico Rusi, não está convencida de que
os rebeldes vão aquiescer rapidamente à vontade do Kremlin: "É altamente
duvidoso que o HTS vá se apressar em ser percebido como aliado de [presidente
russo, Vladimir] Putin, ou a dar sinal verde para uma presença militar russa
duradoura no litoral mediterrâneo sírio."
A ressalva é especialmente
pertinente "considerando-se que Assad obteve asilo em território
russo". Ozcelik prevê longas negociações, em que os protagonistas
regionais Rússia e Irã "tentarão adaptar sua política externa para com a
Síria".
Caso os militares russos
tenham que deixar a Síria, mesmo que parceladamente, "eles não têm boas
opções" para onde ir, avalia Mark Galeotti Pois a Síria sob Assad era
fortemente dependente de Moscou, e na região não nenhum outro país oferece as
mesmas condições.
A Líbia está entre as
alternativas possíveis mencionadas com mais frequência. Lá, a Rússia mantém
contatos com o general Khalifa Belqasim Haftar, que tem mercenários russos do
Grupo Wagner lutando a seu lado. A imprensa ocidental noticia sobre intenções
russas de montar uma base marítima na Líbia. Markus Reisner supõe que possa se
tratar de Tobruk.
Para Galeotti, não será
fácil concretizar essa opção, por falta de infraestrutura disponível no local.
O mesmo se aplica ao Sudão, com cujo governo os russos vêm negociando há anos a
instalação de uma base no Mar Vermelho. Contudo, "aonde quer que eles vão
– Líbia, Mali, Sudão –, não vão encontrar uma situação como na Síria",
conclui o politólogo e historiador.
O que Ucrânia pode lucrar
com a nova situação?
Nesse contexto, discute-se
ainda uma outra questão: se a Rússia retirar suas tropas da Síria, o que isso
significa para a guerra que ela trava na Ucrânia desde 24 de fevereiro de 2022. "Sinceramente, o impacto
é negligenciável", afirma
Galeotti, classificando como insignificante o número de soldados russos que
poderiam ser mobilizados para o front ucraniano.
Gressel concorda: "Para
a Ucrânia, as boas notícias [a partir da Síria] são restritas." O Kremlin
não tem capacidade, nem desejo, de abrir uma nova frente de combate enquanto
guerreia com todos os meios possíveis no país vizinho.
"A Ucrânia tampouco vai
se beneficiar de modo sensível da debilitação do Irã por Israel", sugere o
o ex-analista do ECFR. A única consequência palpável para Kiev poderia ser que
"alguns no Ocidente ganhem mais coragem" e que "a fragilidade de
Putin possa impressionar Donald Trump". Essa, porém, é mais uma questão em
aberto.
Fonte: Sputnik
Brasil/DW Brasil
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