sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

João Carlos Loebens: Pacote Haddad - a injustiça está a nu

Os R$ 50 bilhões de corte de gastos públicos, em vez de serem cortados das despesas primárias que afetam milhões de pessoas de renda menor, poderiam ser cortados do R$ 1,7 trilhão apropriado anualmente pela parcela da sociedade de renda elevada, o próprio mercado.

O mercado está pressionando o governo por corte de gastos. Afinal, quais gastos devem ser cortados? Podemos agrupar os gastos públicos em três grandes grupos: gastos primários, gastos tributários e gastos com juros. Quais desses gastos devem ser cortados?

Os gastos primários referem-se à Saúde (SUS), Educação (universidades, escolas), Previdência, Benefícios Sociais (Seguro-desemprego), construção e manutenção de estradas, dentre outros, representando os serviços públicos mais usados e necessários para a população de menor renda.

Os gastos tributários referem-se aos recursos públicos, na forma de impostos, que o governo autoriza a ficarem com os empresários. Na prática, os empresários cobram os impostos dos consumidores e repassam ao governo. Nos gastos tributários, também denominados Renúncias, Incentivos ou Benefícios Fiscais, o governo autoriza os empresários a se apropriarem de parte ou do total de impostos pagos pelos consumidores. Dessa forma, esses gastos públicos também poderiam ser denominados Bolsa Empresário, e representam um serviço público mais usado por parcela da população com renda elevada.

Os gastos com juros são os valores pagos pelo governo a título de juros da Dívida Pública, valores que o governo toma emprestado do mercado, das pessoas que tem dinheiro sobrando para emprestar ou aplicar em títulos da Dívida. Os pagamentos de juros concentram-se em parcela da população com renda muito elevada. Essa parcela de pessoas com rendas elevadas são, na prática, o tal mercado

Qual desses gastos deve ser cortado? Ou a pressão do mercado é por corte nos três tipos gastos?

Embora tenhamos o novo arcabouço fiscal, a pressão pelo corte de gastos se origina na Emenda Constitucional 95/2016, denominada de Teto de Gastos, que na verdade resulta em Corte de Gastos. Por que a EC não foi denominada “Corte de Gastos”? Teto é um nome mais “aceitável” que Corte, mas o nome Teto acabou por esconder o Corte naquele momento. Nesse sentido, em vez de denominar a EC pelo nome de Teto de Gastos, o mais indicado seria denominá-la de Corte de Gastos, como está ocorrendo agora.

Na EC do Teto de Gastos, que na verdade é Corte de Gastos, quais dos três grupos de gastos citados acima (gastos primários, gastos tributários e gastos de juros) foram incluídos no Teto/Corte?

O normal é ninguém se fazer essa pergunta, porque parece ser uma pergunta absurda, descabida. É óbvio que (todos) os gastos estão no Teto/Corte! Deveria ser óbvio, mas não é. Somente os gastos primários foram incluídos no Teto/Corte, justamente os gastos públicos mais utilizados e necessários para população de baixa renda.

Os detentores de rendas elevadas mantiveram os gastos tributários (Bolsa Empresário) e gastos com juros intocados.  E quanto representam esses gastos públicos por ano com essa parcela da população com renda elevada?

Valor dos Gastos Tributários: em função da pressão do mercado pelo corte de gastos (gastos primários, óbvio), em sentido contrário ao programa de governo apresentado antes das eleições, o Ministério da Fazenda divulgou, pela primeira vez, o valor do Bolsa Empresário previsto para 2024: R$ 546 bilhões (gastos tributários, Renúncias, Incentivos ou Benefícios Fiscais). Escolho o termo Bolsa Empresário em conformidade ao termo Bolsa Família. Outra alternativa seria alterar o nome do Bolsa Família para Benefício Família, em conformidade ao termo Benefício Fiscal.

Já os gastos com juros em 2023 foram de R$ 614 bilhões, valor superior aos gastos em Saúde, Educação e Assistência Social somados.

Dessa forma, somando os gastos do governo com o Bolsa Empresário (R$ 546 bi) mais os gastos com juros (R$ 614 bi), chegamos a R$ 1,1 trilhão por ano.

A expectativa do mercado é de um corte de gastos em torno de R$ 50 bilhões. Se o corte de gastos exigido pelo mercado não fosse aplicado às despesas primárias e fosse aplicado ao Bolsa Empresário e aos gastos com juros, parece que seria mais fácil atingir o objetivo.

Além do Bolsa Empresário e do pagamento de juros, caberia levar em consideração o valor do desvio privado de recursos públicos (sonegação). Considerando que o consumidor paga o imposto no ato da compra, no caixa da empresa há recursos públicos (impostos). Se esse imposto existente no caixa da empresa não é recolhido ao Estado, constitui um desvio de recursos públicos, denominado de sonegação (maiores detalhes no artigo “Corrupção pública versus corrupção privada”).

O sonegômetro estima o valor do desvio privado de impostos em aproximadamente R$ 600 bilhões por ano, desvios que também se concentram em parcela da sociedade com renda elevada, em benefício próprio obviamente.

Resumindo: Bolsa Empresário (Renúncia fiscal) no valor de R$ 546 bilhões; juros da dívida no valor de R$ 614 bilhões e sonegação (desvio privado de recursos públicos) no valor de R$ 600 bilhões, totalizando aproximadamente R$ 1 trilhão e 700 bilhões por ano de recursos públicos. Esse enorme valor é apropriado por uma pequena parcela de pessoas com renda elevada, normalmente denominada elite econômica, e que na prática é o tal mercado. Como dinheiro é poder, também podem ser denominados pelo termo oligarcas.

Com esse nível de concentração de renda, fica difícil, para não dizer impossível, o Brasil crescer.

A ciranda é essa: no Bolsa Empresário se apropriam de R$ 546 bi, e no desvio privado de recursos públicos (sonegação) se apropriam de outros R$ 600 bi. Emprestam parte ao governo (que renunciou a essa receita), e se apropriam de mais R$ 614 bi na forma de juros pagos pelo ente público, com impostos pagos pelos demais. Ciranda fácil e prejudicial ao país.

Os R$ 50 bilhões de corte de gastos públicos, em vez de serem cortados das despesas primárias que afetam milhões de pessoas de renda menor, poderiam ser cortados dos R$ 1.700 bilhões de reais (R$ 1,7 trilhão) que são apropriados anualmente pela parcela da sociedade de renda elevada, o próprio mercado.

 

¨      Senado aprova projeto de regulamentação da reforma tributária com "trava" de 26,5% para alíquota máxima

O plenário do Senado aprovou nesta quinta-feira o primeiro projeto de regulamentação da reforma tributária sobre o consumo, que agora será enviado para nova análise da Câmara dos Deputados após o texto sofrer alterações.

Relatado pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM), o projeto regulamenta a emenda constitucional da reforma tributária, promulgada pelo Congresso no final do ano passado, que visa unificar impostos e simplificar o sistema tributário brasileiro.

A reforma cria dois tributos federais, a Contribuição Social sobre Bens e Serviços (CBS) e o Imposto Seletivo (IS), além do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), de competência compartilhada entre Estados, Distrito Federal e municípios.

O texto mantém a "trava" estabelecida pelos deputados à alíquota de referência para a nova tributação de forma que ela não ultrapasse os 26,5%, e também a previsão de uma primeira avaliação quinquenal da taxação padrão com base nos dados de 2030.

Após horas de debates e muita negociação, o relator da proposta decidiu acolher algumas das emendas apresentadas pelos colegas. Uma delas inclui serviços relacionados ao abastecimento e tratamento de água e esgoto no regime diferenciado, com redução de 60% das alíquotas do IBS e da CBS, equiparando-os a serviços de saúde.

Braga também incorporou ao texto emenda que retira as exportações de bens minerais do Imposto Seletivo, assim como combustíveis para fins de transporte. Outra alteração adotada deixa claro que o imposto seletivo irá incidir sobre os concursos de prognósticos -- as chamadas apostas esportivas.

Em relação às Sociedades Anônimas de Futebol (SAFs), que terão regime diferenciado, o relator reduziu a alíquota total de 8,5% em versão anterior do parecer para 5%. Além disso, nos cinco primeiros anos da constituição da SAF, receitas da cessão de direitos e da transferência de atletas para outro time ficarão excluídas da tributação.

No caso do cashback, instrumento já previsto pelo texto chancelado pela Câmara, Braga decidiu incluir os serviços de telecomunicações no mecanismo, que prevê a devolução de parte do tributo pago por famílias de baixa renda na aquisição de bens e serviços como botijão de gás, energia elétrica, água, gás natural e esgoto.

Também tramita no Senado um segundo projeto de regulamentação da reforma, tratando da criação do Comitê Gestor do Imposto sobre Bens e Serviços, responsável pela administração dos tributos destinados a Estados e municípios.

Como a proposta ainda não foi votada pelo Senado, Braga incorporou, a pedido do governo, parte dela ao seu parecer para que não haja "nenhum atraso" na instituição do comitê.

Pelo texto, será instituído um comitê para lidar com as questões referentes ao regulamento do IBS. O dispositivo terá validade até o fim de 2025, concedendo prazo para que o segundo projeto de regulamentação seja aprovado.

¨      PIB vai crescer 3,5% em 2024, assegura Haddad

Durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o chamado "Conselhão", realizada nesta quinta-feira (12), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), projetou um crescimento de 3,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2024. A estimativa supera a previsão oficial de 3,3% divulgada pela Secretaria de Política Econômica (SPE), lembra o Metrópoles.

Haddad ressaltou que o avanço econômico virá acompanhado de melhorias em indicadores sociais importantes. “Nós vamos ter um crescimento esse ano de cerca de 3,5% do PIB, com a menor taxa de desemprego da série histórica, com a menor taxa de miséria da série histórica, com o menor [número de] nem-nens, que é um nome que eu nem gosto, da série histórica”, afirmou o ministro.

Pouco depois da divulgação do PIB do terceiro trimestre, que registrou um crescimento de 0,9%, a Secretaria de Política Econômica (SPE) anunciou que revisará novamente a projeção do PIB brasileiro para o acumulado de 2024. Nesse cenário, a declaração do ministro pode ser vista como uma antecipação do anúncio oficial sobre as expectativas de crescimento do país.

 

¨      A última tacada de Campos Neto, o Flautista de Hamelin. Por Luís Nassif

Não há diferença entre o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o Centrão.

O Centrão conseguiu se apossar do orçamento e fazer maioria. Com a maioria, eterniza as emendas parlamentares garantindo a reeleição dos atuais e o aumento da bancada. Com isso, perpetua esse desequilíbrio para as próximas gestões.

No Banco Central, Campos Neto alimentou a instabilidade monetária com suas declarações, conseguiu elevar a Selic a níveis inimagináveis e, com esse movimento, perpetua o desequilíbrio fiscal, a manutenção da Selic em níveis absurdamente elevados, no esforço para inviabilizar o governo Lula.

A decisão de ontem do Copom provavelmente não foi unânime – a ata nada fala sobre isso. Mas amarra a próxima gestão a elevações sucessivas da Selic pelo menos até meados do ano que vem. Com isso, matará o crescimento econômico em 2025 e 2026, abrindo espaço para o candidato de Campos Neto nas eleições presidenciais.

A conta é simples:

Há dois álibis para a elevação da Selic: a inflação futura e a situação fiscal. A projeção do próprio mercado é do IPCA ser um pouco acima do limite superior da meta inflacionária.

Com a elevação da Selic em 1 ponto agora e mais 2 pontos nas duas próximas reuniões, qual o efeito fiscal?

No plano fiscal:

Aumentará a relação dívida/PIB em níveis impossíveis de serem compensados por cortes fiscais.

Muitas grandes empresas, que recorreram a créditos de mercado (amarrados à CDI), terão enormes dificuldades em honrar seus compromissos, provocando um aumento ainda maior nas recuperações judiciais. Haverá impacto sobre a arrecadação fiscal do varejo e, por consequência, da indústria.

Haverá outro aumento da inadimplência das pessoas físicas, reduzindo ainda mais o potencial de demanda do mercado de consumo.

No plano inflacionário:

A incapacidade de atender às novas exigências fiscais continuará pressionando o dólar, com impacto direto da inflação.

O impacto na inflação reforçará o ciclo de alta da Selic.

Não há a menor lógica nessa loucura. Então porque o mercado endossa as medidas? Porque mercados têm a síndrome do Flautista de Hamelin – o flautista que, com sua música, atraía todos os ratos da cidade e os jogava ao mar.

Não se pense que uso a imagem do rato como depreciativo do mercado. Uso como representativo dos estudos de Skinner – o cientista que estudava a maneira como choques condicionam o comportamento dos roedores.

Não interessa ao mercado saber o que é bom ou não para a economia, o que leva ou não para o desastre. O papel do gestor é ganhar dinheiro para si ou para os clientes. E a maneira de ganhar dinheiro é acertar o que o BC iria fazer. Se o BC cometer um grande erro, ganha dinheiro quem acertar qual o erro cometido, pouco importa se levará a economia e o país para o buraco ou para um desastre próximo ou distante.

Aliás, grandes desastres são ótimas oportunidades para ganhar, se conseguir acompanhar os movimentos do cartel da Faria Lima.

Não há diferenças entre o presidente da Câmara Arthur Lira, e o presidente do BC, Roberto Campos. Aliás, há uma diferença: Lira quer sua parte à vista; já a parte de Campos consiste na inviabilização do governo Lula, para a volta dos seus amigos bolsonaristas.

Ontem o mercado fechou com investimentos externos com 3.714.661 contratos em juros futuros. É o famoso bife a cavalo, em que o investidor é o ovo e a população o cavalo.

¨      CNI critica o Banco Central, de Roberto Campos Neto: aumento da Selic é 'incompreensível e injustificado'

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou, em nota, que o aumento da taxa de juros de 11,25% para 12,25%, anunciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom), é "incompreensível e totalmente injustificado". Segundo a entidade, "manter o ciclo de alta da Selic iniciado em setembro já configuraria um erro do Banco Central".

"Intensificar esse ritmo, como a autoridade monetária escolheu, não faz sentido no atual contexto econômico, marcado pela desaceleração da inflação em novembro e pelo pacote efetivo de corte de gastos apresentado pelo governo federal", acrescentou a CNI.

O atual ciclo de alta dos juros teve início no mês de setembro, com alta de 0,25 ponto, fazendo a taxa ir para 10,75%. Em novembro, o Copom anunciou aumento de 0,5 ponto percentual - 11,25%.

O comitê é ligado ao Banco Central, presidido por Roberto Campos Neto. A confederação também criticou o fato de o BC "ignorar a tendência de redução de juros nas principais economias globais, como os Estados Unidos, que partem para o terceiro corte seguido nas taxas na próxima semana".

"Para investir, os empresários precisam estar confiantes, o que depende, entre outros fatores, de um ambiente econômico positivo, para o qual a política monetária não tem contribuído", ressaltou a entidade.

Indicado por Jair Bolsonaro (PL), Campos Neto segue à frente do Banco Central até o final de seu mandato, em 31 de dezembro de 2024. Em 2025, a presidência da autoridade monetária será assumida pelo economista Gabriel Galípolo, que foi aprovado pelo Senado em outubro, com 66 votos a favor e 5 contrários. O mandato de Galípolo será válido até 2028.

Pacote fiscal do governo

A CNI também comentou o pacote fiscal apresentado pelo governo federal ao Congresso neste mês. Segundo a confederação, "as medidas de redução de despesas propostas pelo governo contribuem para a sustentabilidade do novo arcabouço e melhoram a sintonia entre as políticas fiscal e monetária".

A confederação destacou ainda aspectos estruturais do pacote, como os ajustes em despesas significativas, incluindo o salário mínimo, o abono salarial e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). "A reação inicial ao pacote, com desvalorização da taxa de câmbio e alta nos juros futuros, foi exagerada e deve ser interpretada com cautela", afirmou.

De acordo com estimativas do Executivo, o pacote fiscal deve gerar uma economia superior a R$ 72 bilhões em dois anos (2025-2026) e mais de R$ 327 bilhões até 2030.

A proposta enviada ao Congresso abrange pelo menos seis pontos principais: salário mínimo, aposentadoria de militares, Benefício de Prestação Continuada (BPC), abono salarial, Bolsa Família, supersalários de servidores e emendas parlamentares.

¨      Febraban: juros altos contrariam interesse do setor bancário

O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, criticou nesta quinta-feira (12) a alta dos juros no Brasil. O Comitê de Política Monetária (Copom), ligado ao Banco Central, aumentou a Selic de 11,25% para 12,25% ao ano, o que prejudica o acesso ao crédito, o poder de compras e o crescimento da economia.

"A questão crucial não é se temos juros altos e sim porque chegamos nesse nível e o que precisamos fazer para que os patamares do spread e dos juros possam efetivamente baixar", disse.

O spread é um conceito que diz respeito à diferença entre o preço da compra e o preço da venda nas transações financeiras. "Propusemos ao governo, que acolheu a criação desse fórum para apresentar propostas com racionalidade econômica", afirmou Sidney, acrescentando ser necessário identificar "os custos que mais pesam na intermediação financeira".

 

Fonte: Outras Palavras/Reuters/Brasil 247

 

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