PL do
estupro tem potencial de levar ‘Fora Lira’ às ruas e é chance para o governo
sair das cordas
Na
noite desta quinta-feira (13), liderados pelas mulheres, manifestantes ocuparam
a Cinelândia, no Rio de Janeiro, e a Avenida Paulista, na altura do Masp. Não
foram manifestações multitudinárias, mas bastante relevantes e aguerridas.
Juntou-se a elas, um imenso buzz nas redes pedindo a retirada do PL do Estupro
da pauta do Congresso.
Artistas
que não costumam se posicionar, como Angélica, foram pra cima de Lira, o
presidente da Câmara Federal que resolveu dar uma trucada no governo dando
caráter de urgência a pautas da extrema-direita para mostrar sua força no
Congresso.
Lira
estava conseguindo ter vantagem nesse jogo de chantagem. A mídia já apontava
Lula encurralado e sem força para reagir.
Alguns
mais açodados já viam Lula 3 no ritmo de Dilma 2. Até a possibilidade de mais
um impeachment já começava a ser debatida por deputados bolsonaristas.
Mas
quando a sede é muita, a água pode sufocar. E Lira ontem engasgou feio e teve
que meter uma marcha ré que não estava nos seus planos.
O
presidente da Câmara já fala em tirar o caráter de urgência do PL e em colocar
(pasmem!) para relatá-lo a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que é
evangélica.
O
recuo pode ser desmobilizador. Mas o fato é que duas pautas bombas anti-Lira já
quicaram e tem potencial de levar parte da população para as ruas pedindo sua
saída da presidência do Congresso: a da privatização das praias e a do PL do
estupro.
As
mulheres mostraram que podem liderar essa resistência. Neste sentido, é hora
dos movimentos sociais aceitarem que elas sejam as protagonistas e se juntarem
nas ruas para uma grande manifestação que deveria ser chamada se possível para
no máximo o próximo domingo (23/6) nas principais cidades do país.
Uma
grande manifestação que mostrasse força do campo democrático e progressista
para lutar contra bandeiras da extrema direita no Brasil e ao mesmo tempo dar
fôlego para Lula poder esgrimar contra Lira até o final do seu mandato na mesa
diretora da Câmara, sem ter que ficar sendo humilhado por um coronel sem votos,
acusado de agredir sua ex-mulher, mas que detém poder entre os deputados por
conta do balcão de negócios que se tornou a presidência da casa legislativa.
O
momento é este. O governo precisa aproveitá-lo politicamente para dar um passo
adiante. Mas não é o governo que tem que colocar povo na rua e pedir o Fora
Lira. Somos nós. Aqueles que defendemos um país laico, democrático e
socialmente mais justo.
Os
movimentos sociais tão com boas pautas nas mãos. Agora é ir à luta. E gritar
Fora Lira.
• Em votação popular no site da Câmara,
87% rejeitam PL do Aborto
Uma
enquete popular no site da Câmara dos Deputados mostra que 87% “discordam
totalmente” do Projeto de Lei (PL) nº 1.904/24, que equipara o aborto de
gestação acima de 22 semanas ao homicídio, incluindo casos de estupro de
crianças e mulheres. O montante representa 616.298 votos.
São
13% os que dizem “concordar totalmente” com a proposta, representando 87.476
votos. Os números foram contabilizados pelo Metrópoles até às 11h10min (horário
de Brasília). A votação segue disponível.
Na
quarta (12/6), a Câmara dos Deputados aprovou, “às escuras”, o requerimento de
urgência do texto. A votação ocorreu de forma simbólica, ou seja: sem
identificar os votos. A deliberação também não foi anunciada em plenário.
A
repercussão imediatamente tomou as redes sociais. Na quinta-feira (13/6), a
reação ganhou as ruas. As manifestações foram registradas nas capitais do país,
o que inclui São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife e Florianópolis, por
exemplo.
O
protesto também foi marcado por gritos contra o presidente da Câmara, Arthur
Lira (PP-AL), responsável por pautar a urgência do texto. “Ô, Lira, você vai
ver. Quem derrubou o Cunha vai derrubar você”, gritaram os presentes no Rio de
Janeiro (RJ), fazendo menção ao ex-deputado Eduardo Cunha, que teve o mandato
cassado em 2016.
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Em
São Paulo, também foram registradas manifestações contra Lira. Cartazes contra
o presidente da Câmara diziam “Fora”. Os dizeres de “Criança não é mãe” também
apareceram.
• Após repercussão negativa, Lira vai
esperar poeira baixar para pautar projeto
Após
a repercussão negativa em relação ao PL 1904/2024, apelidado de PL dos
Estupradores, o presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL) resolveu
nesta quinta-feira (13) que irá esperar a poeira baixar para então voltar a
pautar o texto. De acordo com a coluna do Igor Gadelha, no portal Metrópoles,
Lira avisou a interlocutores e deputados federais acerca da decisão.
O
presidente da Câmara aprovou a urgência do projeto no apagar das luzes da
sessão da última quarta-feira (12), em contexto de ataques ao Governo Lula em
que a oposição bolsonarista nada de braçada num Congresso Nacional
completamente rebaixado pela presença da extrema direita.
A
repercussão foi enorme. A Comissão Arns de Direitos Humanos emitiu uma nota
pública indignada contra o texto, que obteve uma rejeição de 70% em enquete
lançada pela própria Câmara. A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, apontou
que o projeto revitimiza mulheres e crianças e até a apresentadora Angélica
entrou no debate e fez publicações duras contra o projeto nas redes sociais. Na
noite dessa quinta-feira, manifestações populares ainda tomaram algumas grandes
cidades brasileiras, como São Paulo, em protesto contra o projeto.
Ainda
segundo a coluna, a ideia do parlamentar é discutir o texto nas próximas
semanas. Lira também teria em mente colocar uma deputada, mulher, na relatoria.
O pré-requisito, no entanto, é de que seja de algum partido do chamado
‘centrão’ e esteja à margem dos embates entre governistas e bolsonaristas.
O
autor do projeto, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), estaria ciente da
decisão de Lira e prevê uma espera de no mínimo duas semanas. Sua expectativa é
de que o texto seja pautado em julho.
O
projeto equipara um aborto após 22 semanas a um homicídio e prevê penas maiores
às meninas que abortarem do que a um eventual estuprador que as tenha
engravidado. Após a péssima repercussão, Sóstenes pretende mudar o texto,
incluindo um artigo que aumente as penas para estupro de 10 para 30 anos. Seu
objetivo é retirar do projeto a pecha de “PL dos Estupradores”.
O
movimento seria apoiado por Lira que defendeu o projeto em entrevista para a
jornalista Andreia Sadi, da Globo News, e revelou que pretende “amadurecer o
texto” antes de colocá-lo em pauta.
• Lira sente pressão e nome de Benedita
da Silva ganha força para relatoria do projeto sobre aborto, que pode ser
arquivado
O
presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), enfrenta pressão após
a repercussão negativa do Projeto de Lei 1904/2024, uma proposta que
criminaliza ainda mais mulheres e meninas que precisam recorrer ao aborto
apelidado de "PL dos Estupradores" e "PL da Gravidez
Infantil". Lira estaria considerando alternativas para aprovar o texto,
mesmo que com modificações. Uma das possibilidades é indicar a deputada
Benedita da Silva (PT-RJ) para relatar o projeto.
Ele
aprovou a urgência do projeto em uma manobra no final da sessão da última
quarta-feira (12). A aceleração da tramitação do PL, que equipara um aborto
após 22 semanas a um homicídio e prevê penas maiores para meninas que abortarem
do que para um eventual estuprador que as tenha engravidado, gerou revolta no
país, levando milhares às ruas para protestar.
Com
manifestações contrárias, inclusive de membros do governo Lula, e mais de 70%
da população dizendo "não" ao projeto em enquete no site da Câmara, o
presidente da casa legislativa teria decidido "esperar a poeira
baixar" antes de colocar a proposta em votação. Para "acalmar os
ânimos", ele revelou que pretende escolher uma mulher para ser a relatora
do projeto, de preferência uma mulher do "centrão".
Ao
site Valor, Lira afirmou que, após a votação da urgência do projeto, conversou
com Benedita da Silva, coordenadora da bancada feminina, para que o colegiado
indique uma relatora para a proposta.
“Sugeri
à Benedita que a bancada feminina escolha uma mulher moderada, porque elas
mesmas estão divididas. O que a lei já permite hoje ninguém vai mexer. O que o
texto fala vai ser moderado (...) Vamos fazer seminário, fazer discussão para a
proposta amadurecer”, declarou Lira.
Após
a conversa com Benedita da Silva, Lira estaria cogitando indicar a própria
deputada do PT como relatora do projeto, segundo informações divulgadas pela
jornalista Eliane Cantanhêde, da GloboNews. Essa seria uma 'jogada' de Lira
para colocar Benedita, que é evangélica, em uma 'sinuca de bico', já que a
maioria dos evangélicos é favorável à maior criminalização do aborto, enquanto
a ala majoritária do PT, partido da deputada, é contra.
Benedita
da Silva, contudo, já se manifestou em várias ocasiões contra a criminalização
das mulheres que recorrem ao aborto. Em 2015, por exemplo, votou contra um
projeto do ex-deputado Eduardo Cunha que visava dificultar o acesso ao aborto
legal em caso de estupro.
Caso
Benedita aceite relatar o PL que equipara o aborto ao crime de homicídio, ela
pode fazer modificações ou mesmo rejeitar totalmente o texto, sugerindo seu
arquivamento. A deputada ainda não se manifestou publicamente sobre a
possibilidade.
• Pacheco desafia Lira sobre PL dos
Estupradores e deve frear sanha de evangélicos
O
presidente do Senado da República, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), desafiou de
maneira clara e inequívoca o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira
(PP-AL), na noite desta quinta-feira (13) ao tratar sobre o PL 1904, uma
iniciativa medieval patrocinada pela bancada evangélica bolsonarista que
pretende colocar na cadeia por 20 anos mulheres que realizarem um aborto legal
com mais de 22 semanas de gestação, equiparando a prática ao crime de
homicídio.
Lira
liberou a pauta em caráter e urgência, na quarta-feira (12), sem qualquer
debate com as comissões da Casa e com a sociedade civil, como um tema deste
tipo merecer, e como é sempre feito, por tradição democrática. Pacheco “colocou
água na sopa” do parlamentar alagoana que dirige a Câmara e avisou que o PL
1904 “não é prioridade”, que se um dia fora analisado no Senado passará pelas
comissões, e ouvirá senadoras, e que “há diferença evidente entre um aborto,
que já é crime, e matar alguém”.
“Eu
devo dizer que, com matéria dessa natureza, jamais, por exemplo, iria direto ao
plenário do Senado Federal. Ela deve ser submetida às comissões próprias. É
muito importante ouvir, inclusive, as mulheres do Senado, que são legítimas
representantes das mulheres brasileiras, para saber qual é a posição delas em
relação a isso... Aborto é considerado um crime doloso contra a vida. Está lá
no Código Penal e ele é naturalmente diferente do homicídio. Há uma diferença
evidente entre matar alguém”, disparou o presidente do Senado, num tom claro de
confrontação às posturas ultrarreacionárias de Lira e seu flerte com os setores
do fanatismo evangélico.
Nesta
quinta, o assunto explodiu nas redes sociais, na imprensa e na sociedade. O
tema foi parar nos termos mais utilizados em diferentes redes sociais e
milhares de mulheres foram às ruas de várias cidades brasileiras protestar
contra uma das maiores ameaças aos seus direitos já perpetradas na História do
Brasil.
• “Não contem com o governo”, diz
Padilha sobre avanço de PL do Aborto
O
ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou nesta
sexta-feira (14/6) que o governo não vai atuar para mudar a legislação que
trata de aborto no país.
A
declaração vem em um momento em que avança no Congresso Nacional um projeto de
lei que equipara a interrupção da gestação acima de 22 semanas ao homicídio.
“O
governo do presidente Lula, até atendendo solicitações de lideranças
religiosas, de parte da sociedade, sempre disse que nunca ia fazer nada para
mudar a legislação atual do aborto no país. Nunca faria nenhum gesto, nenhuma
ação para mudar a legislação de interrupção da gravidez no país”, pontuou o
ministro.
Ele
enfatizou: “Não contem com o governo para mudar a legislação de aborto no país,
ainda mais para mudar para um projeto que estabelece que a mulher estuprada vai
ter uma pena duas vezes mais do que o estuprador. Não contem com o governo para
essa barbaridade.”
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Outras reações, além de Padilha
A
ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, também comentou o tema nesta tarde.
De
saída do Palácio do Planalto, ela disse: “É um tema complexo e delicado na
sociedade brasileira. Eu, pessoalmente, sou contra o aborto, mas eu acho que é
uma atitude altamente desrespeitosa e desumana com as mulheres achar que o
estuprador deve ter pena menor do que a mulher estuprada e que não teve
condição de ter acesso dentro do tempo para fazer uso da lei que lhe assegura o
direito ao aborto legal”.
De
manhã, a primeira-dama do Brasil, Janja Lula da Silva, falou: “Os propositores
do PL parecem desconhecer as batalhas que mulheres, meninas e suas famílias
enfrentam para exercer seu direito ao aborto legal e seguro no Brasil”.
Para
a ministra Anielle Franco, da Igualdade Racial, o PL “representa retrocesso e
desprezo pela vida das mulheres. Esse não é o Brasil que queremos”.
Já
o ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, chamou o texto de
“materialização jurídica do ódio que parte da sociedade sente em relação às
mulheres”.
Fonte:
Fórum
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