Kharkiv: o
quotidiano no front da guerra da Ucrânia
A
primeira coisa que chama a atenção na cidade de Kharkiv, localizada no
nordeste da Ucrânia, é o grande número de bandeiras nacionais alinhadas nas ruas:
há mais aqui do que na capital Kiev.
Os
carros passam e os bondes velhos e empoeirados chacoalham em seus trilhos, mas
a primeira impressão de calma e tranquilidade não dura muito. O visitante logo
se dá conta dos muitos pontos de controle, obstáculos contra tanques e prédios
demolidos, lembretes da guerra da Rússia na Ucrânia, agora em seu terceiro ano, e do papel de Kharkiv como uma
cidade na linha de frente.
·
Ataques aéreos russos
Em
meados de 2024, a segunda maior cidade ucraniana é como uma ferida
aberta, que a Rússia continua a atacarcom
mísseis, drones e bombas quase diariamente. A paisagem urbana é marcada
por janelas fechadas com tábuas, nas ruas principais numerosos
prédios tiveram seus andares superiores destruídos.
Uma
casa seriamente danificada e queimada ainda guarda um resquício de como a vida
deve ter sido antes da guerra: Uma placa amigável que diz: "Entre para
tomar um café".
A
maior parte dessa destruição ocorreu durante o primeiro ano da guerra, quando
as Forças Armadas russas avançaram pela primeira vez para os arredores de
Kharkiv, antes de serem forçadas a recuar. As ruínas de uma escola que oferecia
aulas avançadas de alemão são cicatrizes do início de 2022, quando as unidades
especiais russas foram expulsas com armamento pesado.
Uma
placa em alemão e ucraniano ainda está pendurada acima da antiga entrada da
escola: "Sucesso no aprendizado, sucesso na vida". Essa é uma das
muitas escolas de Kharkiv que se tornaram alvo de guerra.
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Bombardeio "de acordo com o
planejado"
Muitas
das lojas, cafés e bares da cidade foram reabertos, embora os fregueses e
clientes continuem sendo raros. Muitos edifícios têm placas indicando que estão
à venda ou para alugar. As ruas se esvaziam ao cair da noite. O metrô só
funciona até 21h30, e o toque de recolher começa às 23h00, uma hora mais cedo
do que na capital.
Os
bombardeios russos geralmente começam por volta da meia-noite. Segundo os
moradores, a cidade está sendo atacada sistematicamente e "de acordo com o
plano".
No
entanto, desde o início de junho o bombardeio diminuiu consideravelmente.
A maioria aqui acredita que isso se deve ao fato de os Estados Unidos e
outros aliados ocidentais terem permitido à Ucrânia disparar as armas que eles fornecem contra alvos em solo russo próximo à fronteira da Ucrânia.
A
mídia ocidental noticiou que a Ucrânia já usou as armas contra a cidade russa
de Belgorod, atingindo uma bateria de defesa aérea russa S-300, um tipo de
sistema em geral usado para lançar mísseis.
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'Cemitério de foguetes russos'
Restos
desses sistemas podem ser encontrados no "cemitério de foguetes
russos". Kharkiv abriga o maior cemitério de foguetes da Ucrânia, com
destroços de mais de mil mísseis, que tem atraído a atenção internacional. Os
visitantes podem ver cilindros dos sistemas russos de lançamento múltiplo de
foguetes Smerch e Uragan, os sistemas de mísseis S-300 e Iskander e
outros armamentos que a Rússia usou contra a região.
Guardas
vigiam o depósito, só permitindo a entrada a quem venha acompanhado por um
representante do promotor público local. Os cerca de mil projéteis coletados
aqui têm o objetivo de servir como prova das atrocidades russas em julgamentos
na Ucrânia e no exterior.
"Todos
os foguetes aqui, incluindo os mísseis de cruzeiro, custam milhões de
dólares", explica Dmytro Chubenko, porta-voz da promotoria regional de
Kharkiv. As marcações e abreviações ainda existentes poderiam ajudar a
provar a participação da Rússia na construção e disparo das armas. Além disso,
elas contêm informações codificadas sobre o modelo, a fábrica e a
unidade militar de onde se originaram, acrescenta Chubenko.
·
Por que ficar em Kharkiv?
Como
a Rússia destruiu quase toda a infraestrutura
de energia de Kharkiv, os habitantes da cidade e da região dependem de
geradores a diesel.
Pelas
ruas, se vê pouca gente, há mais estudantes que aparentemente se
preparam para se matricular. No entanto é difícil acreditar que a cidade
abrigue mais de 1 milhão, tanto residentes quanto deslocados
internos da zona de guerra.
Como
muitos dos homens da cidade lutam na linha de frente, a cidade precisa de
trabalhadores. Na entrada de uma estação de metrô, uma placa anuncia:
"Kharkiv precisa de motoristas para os transportes públicos". Os
futuros funcionários são atraídos com a promessa de não serem convocados para o
Exército, embora na prática não haja cem por cento de garantia.
Os
moradores de Kharkiv dizem que se acostumaram com os ataques aéreos, os
bombardeios e as constantes ameaças às suas vidas. Poucos acreditam que será
bem-sucedida a ofensiva mais recente da Rússia na região, que garantiu duas
posições ao longo da linha de frente para as Forças Armadas russas. Mas eles
admitem que as linhas de defesa da Ucrânia foram pegas despreparadas.
Alguns
permanecem na cidade para cuidar dos pais idosos; outros se recusam a deixar
suas casas e todos os objetos pessoais que juntaram ao longo dos anos. Outros,
ainda, querem ficar para ajudar as Forças Armadas ucranianas na região.
Um
homem de 25 anos conta que se mudou recentemente para a cidade a trabalho:
"Gosto da gente de Kharkiv, ela é especial." Ao mesmo
tempo, admite que, devido ao constante bombardeio russo, ele se
pergunta se todos os seus colegas vão aparecer para trabalhar, a cada
manhã.
Sua
acompanhante relata que retornou a Kharkiv depois de ter fugido em 2022.
Em sua opinião, o maior obstáculo atual é a exaustão mental, passados três
anos de guerra.
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"Cidade de heróis"
Muitos
admitem que o medo domina Kharkiv, mas ressalvam que um espírito de
desafio impede que se embora. Uma vendedora aponta para os escombros de um
prédio demolido numa rua próxima: "Fechamos às 15h30 e, há alguns dias, um
míssil atingiu o local às 16h."
O
espírito de resistência de Kharkiv se expressa em seus parques bem cuidados e
praças limpas, ou nas tábuas cuidadosamente pintadas nas janelas das casas e
nas placas que dizem: "Estamos trabalhando". Para onde quer que
se olhe, os moradores provam que não vão desistir de sua cidade.
"Quando
um míssil atinge a cidade, a gente se agacha, sacude a poeira e
continua", conta a vendedora. Sua loja vende doces, entre os quais
caixas de chocolates decoradas com uma vista da cidade, a bandeira ucraniana e
os dizeres: "Kharkiv, cidade de heróis".
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A invasão russa da Ucrânia
Em
24 de fevereiro de 2022, Moscou invadiu o território ucraniano por terra, ar e
mar, lançou foguetes e destruiu instalações militares em diferentes partes do
país vizinho. Em pânico, cidadãos tentaram fugir.
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Ucranianos em pânico
Uma
manhã dramática na Ucrânia. Depois que a Rússia iniciou um ataque ao país
vizinho. e se ouviram as primeiras explosões – inclusive na capital, Kiev –,
muitos fugiram. Veículos militares circulavam pelas ruas da cidade, enquanto
residentes faziam as malas e tentavam deixar o local.
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Filas de carros em
Kiev
O
desespero dos civis ucranianos gerou um enorme congestionamento na principal
avenida em direção ao oeste de Kiev. O ataque foi anunciado pelo presidente
russo, Vladimir Putin, num pronunciamento, alegando ter iniciado uma operação
militar contra a Ucrânia para de "desmilitarizar" o país e eliminar
supostas "ameaças" contra Moscou.
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Ataques aéreos
Explosões
foram ouvidas alguns minutos depois do fim do pronunciamento de Putin. Nesta
foto, vê-se um outdoor aparentemente destruído por um míssel, em Kiev. O
governo ucraniano falou de uma "invasão em grande escala" de seu
território, assegurando que o país "se defenderá e vencerá".
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Tropas ucranianas se
mobilizam
Tanques
ucranianos se deslocam para a cidade portuária de Mariupol, no sudeste do país.
As Forças Armadas ucranianas são as segundas maiores da região, porém a Rússia
as supera em todas as áreas, exceto no número de soldados na ativa.
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Explosões em várias
partes do país
Soldados
examinam os restos de um foguete numa praça da capital ucraniana. Além de Kiev,
explosões atingiram várias cidades próximas à fronteira com a Rússia. O mesmo
ocorreu nas regiões costeiras, bem como na cidade portuária de Odessa, próxima
à Península da Crimeia, ocupada por Moscou.
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Rússia destrói
instalações militares
Algumas
partes da Ucrânia ficaram cobertas por fumaça preta após as explosões. A coluna
de fumaça nesta foto parte de um aeroporto militar que teria sido atingido por
bombardeios, perto da cidade de Kharkiv, no leste do país.
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Ameaça à população
O
Ministério da Defesa russo afirma que não visa cidades e "não há ameaça à
população civil". A Agência de Segurança da Aviação da União Europeia
descreveu o espaço aéreo ucraniano como "zona de conflito ativo". Os
metrôs de Kiev foram liberados ao público e muitos civis se abrigaram nas
estações, como mostra esta foto.
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Explosões em áreas
residenciais
Apesar
do que diz o governo russo, há relatos de explosões em áreas residenciais.
Bombeiros tentam conter um incêndio num bloco de apartamentos após um suposto
ataque aéreo na localidade de Chuhuiv, perto de Kharkiv, no leste do país.
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Invasão por terra
A
invasão russa à Ucrânia ocorre também por mar e terra. Esta foto capturada por
uma câmera de vigilância e publicada pelas autoridades fronteiriças da Ucrânia
mostraria veículos militares russos cruzando a fronteira na Crimeia, em direção
à Ucrânia. Essa península foi anexada pela Rússia em março de 2014.
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Alguns fogem, outros
se preparam
Os
efeitos dos ataques podem ser observados em todo o país. Na cidade de Lviv, de
700 mil habitantes, no extremo oeste da Ucrânia, longas filas se formaram em
caixas eletrônicos O mesmo ocorreu em supermercados e lojas, na esperança de
estocar alimentos e água. Enquanto alguns tentavam fugir, outros pareciam se
preparar para se isolar.
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Venezuela chama
presidente da Guiana de 'Zelensky do Caribe' diante de 'ânimo belicista' na
região
A
vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, alertou nesta sexta-feira (14)
sobre a ameaça representada para a paz na região diante do ânimo belicista do
presidente da Guiana, Irfaan Ali, a quem considerou uma versão caribenha do
ucraniano Vladimir Zelensky.
"A
Venezuela repudia o ânimo belicista de Irfaan Ali, que se ergue como o Zelensky
do Caribe ao ameaçar a tranquilidade e a paz de nossa região para agradar a
seus mestres norte-americanos e à ExxonMobil", afirmou nas redes sociais.
A
declaração da vice-presidente venezuelana é dada após o lançamento pelo governo
da Guiana do navio-patrulha "GDFS Shahoud". Na ocasião, Ali também
anunciou um aumento no orçamento militar do país para a compra de barcos e
aviões com o apoio de seus parceiros internacionais.
Conforme
o presidente do país, o principal objetivo é salvaguardar a soberania e a
integridade territorial, incluindo a região de Essequibo, em disputa entre as
duas nações caribenhas.
Diante
disso, a Venezuela reiterou na última terça (11) o apelo à Guiana para dialogar
e alcançar um acordo "efetivo" entre as partes sobre a controvérsia
territorial na região.
O
pronunciamento foi feito pelo representante permanente da Venezuela na
Organização das Nações Unidas (ONU), Samuel Moncada, após a Corte Internacional
de Justiça (CIJ) convocar uma reunião para discutir os próximos passos do
processo movido pela Guiana.
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Exploração de petróleo por empresa
norte-americana
As
tensões entre Caracas e Georgetown aumentaram depois que a Guiana recebeu
ofertas por 8 dos 14 blocos petrolíferos que foram licitados em dezembro de
2022, incluindo a empresa ExxonMobil.
Para
a Venezuela, a situação foi gerada por uma conspiração dos Estados Unidos com a
ExxonMobil para privar o país de seus direitos sobre o território.
Há
mais de 100 anos, Venezuela e Guiana mantêm uma disputa sobre a soberania de
Essequibo, que tem cerca de 160 mil quilômetros quadrados e possui grandes
reservas de petróleo. Além disso, a região corresponde a quase dois terços do
território da Guiana.
Em
1966, os países assinaram um acordo para buscar uma solução pacífica para a disputa,
mas a Guiana entrou em 2018 com uma ação na Corte Internacional de Justiça na
qual solicita ao tribunal validar um laudo arbitral de 1899 que lhe dá controle
absoluto sobre o território.
Fonte:
Deutsche Welle/Sputnik Brasil
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