sábado, 15 de junho de 2024

Kharkiv: o quotidiano no front da guerra da Ucrânia

A primeira coisa que chama a atenção na cidade de Kharkiv, localizada no nordeste da Ucrânia, é o grande número de bandeiras nacionais alinhadas nas ruas: há mais aqui do que na capital Kiev.

Os carros passam e os bondes velhos e empoeirados chacoalham em seus trilhos, mas a primeira impressão de calma e tranquilidade não dura muito. O visitante logo se dá conta dos muitos pontos de controle, obstáculos contra tanques e prédios demolidos, lembretes da guerra da Rússia na Ucrânia, agora em seu terceiro ano, e do papel de Kharkiv como uma cidade na linha de frente.

·        Ataques aéreos russos

Em meados de 2024, a segunda maior cidade ucraniana é como uma ferida aberta, que a Rússia continua a atacarcom mísseis, drones e bombas quase diariamente. A paisagem urbana é marcada por janelas fechadas com tábuas, nas ruas principais numerosos prédios tiveram seus andares superiores destruídos.

Uma casa seriamente danificada e queimada ainda guarda um resquício de como a vida deve ter sido antes da guerra: Uma placa amigável que diz: "Entre para tomar um café".

A maior parte dessa destruição ocorreu durante o primeiro ano da guerra, quando as Forças Armadas russas avançaram pela primeira vez para os arredores de Kharkiv, antes de serem forçadas a recuar. As ruínas de uma escola que oferecia aulas avançadas de alemão são cicatrizes do início de 2022, quando as unidades especiais russas foram expulsas com armamento pesado.

Uma placa em alemão e ucraniano ainda está pendurada acima da antiga entrada da escola: "Sucesso no aprendizado, sucesso na vida". Essa é uma das muitas escolas de Kharkiv que se tornaram alvo de guerra.

·        Bombardeio "de acordo com o planejado"

Muitas das lojas, cafés e bares da cidade foram reabertos, embora os fregueses e clientes continuem sendo raros. Muitos edifícios têm placas indicando que estão à venda ou para alugar. As ruas se esvaziam ao cair da noite. O metrô só funciona até 21h30, e o toque de recolher começa às 23h00, uma hora mais cedo do que na capital.

Os bombardeios russos geralmente começam por volta da meia-noite. Segundo os moradores, a cidade está sendo atacada sistematicamente e "de acordo com o plano".

No entanto, desde o início de junho o bombardeio diminuiu consideravelmente. A maioria aqui acredita que isso se deve ao fato de os Estados Unidos e outros aliados ocidentais terem permitido à Ucrânia disparar as armas que eles fornecem contra alvos em solo russo próximo à fronteira da Ucrânia.

A mídia ocidental noticiou que a Ucrânia já usou as armas contra a cidade russa de Belgorod, atingindo uma bateria de defesa aérea russa S-300, um tipo de sistema em geral usado para lançar mísseis.

·        'Cemitério de foguetes russos'

Restos desses sistemas podem ser encontrados no "cemitério de foguetes russos". Kharkiv abriga o maior cemitério de foguetes da Ucrânia, com destroços de mais de mil mísseis, que tem atraído a atenção internacional. Os visitantes podem ver cilindros dos sistemas russos de lançamento múltiplo de foguetes Smerch  e Uragan, os sistemas de mísseis S-300 e Iskander e outros armamentos que a Rússia usou contra a região.

Guardas vigiam o depósito, só permitindo a entrada a quem venha acompanhado por um representante do promotor público local. Os cerca de mil projéteis coletados aqui têm o objetivo de servir como prova das atrocidades russas em julgamentos na Ucrânia e no exterior.

"Todos os foguetes aqui, incluindo os mísseis de cruzeiro, custam milhões de dólares", explica Dmytro Chubenko, porta-voz da promotoria regional de Kharkiv. As marcações e abreviações ainda existentes poderiam ajudar a provar a participação da Rússia na construção e disparo das armas. Além disso, elas contêm informações codificadas sobre o modelo, a fábrica e a unidade militar de onde se originaram, acrescenta Chubenko.

·        Por que ficar em Kharkiv?

Como a Rússia destruiu quase toda a infraestrutura de energia de Kharkiv, os habitantes da cidade e da região dependem de geradores a diesel.

Pelas ruas, se vê pouca gente, há mais estudantes que aparentemente se preparam para se matricular. No entanto é difícil acreditar que a cidade abrigue mais de 1 milhão, tanto residentes quanto deslocados internos da zona de guerra.

Como muitos dos homens da cidade lutam na linha de frente, a cidade precisa de trabalhadores. Na entrada de uma estação de metrô, uma placa anuncia: "Kharkiv precisa de motoristas para os transportes públicos". Os futuros funcionários são atraídos com a promessa de não serem convocados para o Exército, embora na prática não haja cem por cento de garantia.

Os moradores de Kharkiv dizem que se acostumaram com os ataques aéreos, os bombardeios e as constantes ameaças às suas vidas. Poucos acreditam que será bem-sucedida a ofensiva mais recente da Rússia na região, que garantiu duas posições ao longo da linha de frente para as Forças Armadas russas. Mas eles admitem que as linhas de defesa da Ucrânia foram pegas despreparadas.

Alguns permanecem na cidade para cuidar dos pais idosos; outros se recusam a deixar suas casas e todos os objetos pessoais que juntaram ao longo dos anos. Outros, ainda, querem ficar para ajudar as Forças Armadas ucranianas na região.

Um homem de 25 anos conta que se mudou recentemente para a cidade a trabalho: "Gosto da gente de Kharkiv, ela é especial." Ao mesmo tempo, admite que, devido ao constante bombardeio russo, ele se pergunta se todos os seus colegas vão aparecer para trabalhar, a cada manhã.

Sua acompanhante relata que retornou a Kharkiv depois de ter fugido em 2022. Em sua opinião, o maior obstáculo atual é a exaustão mental, passados três anos de guerra.

·        "Cidade de heróis"

Muitos  admitem que o medo domina Kharkiv, mas ressalvam que um espírito de desafio impede que se embora. Uma vendedora aponta para os escombros de um prédio demolido numa rua próxima: "Fechamos às 15h30 e, há alguns dias, um míssil atingiu o local às 16h."

O espírito de resistência de Kharkiv se expressa em seus parques bem cuidados e praças limpas, ou nas tábuas cuidadosamente pintadas nas janelas das casas e nas placas que dizem: "Estamos trabalhando". Para onde quer que se olhe, os moradores provam que não vão desistir de sua cidade.

"Quando um míssil atinge a cidade, a gente se agacha, sacude a poeira e continua", conta a vendedora. Sua loja vende doces, entre os quais caixas de chocolates decoradas com uma vista da cidade, a bandeira ucraniana e os dizeres: "Kharkiv, cidade de heróis".

<><> A invasão russa da Ucrânia

Em 24 de fevereiro de 2022, Moscou invadiu o território ucraniano por terra, ar e mar, lançou foguetes e destruiu instalações militares em diferentes partes do país vizinho. Em pânico, cidadãos tentaram fugir.

·        Ucranianos em pânico

Uma manhã dramática na Ucrânia. Depois que a Rússia iniciou um ataque ao país vizinho. e se ouviram as primeiras explosões – inclusive na capital, Kiev –, muitos fugiram. Veículos militares circulavam pelas ruas da cidade, enquanto residentes faziam as malas e tentavam deixar o local.

·        Filas de carros em Kiev

O desespero dos civis ucranianos gerou um enorme congestionamento na principal avenida em direção ao oeste de Kiev. O ataque foi anunciado pelo presidente russo, Vladimir Putin, num pronunciamento, alegando ter iniciado uma operação militar contra a Ucrânia para de "desmilitarizar" o país e eliminar supostas "ameaças" contra Moscou.

·        Ataques aéreos

Explosões foram ouvidas alguns minutos depois do fim do pronunciamento de Putin. Nesta foto, vê-se um outdoor aparentemente destruído por um míssel, em Kiev. O governo ucraniano falou de uma "invasão em grande escala" de seu território, assegurando que o país "se defenderá e vencerá".

·        Tropas ucranianas se mobilizam

Tanques ucranianos se deslocam para a cidade portuária de Mariupol, no sudeste do país. As Forças Armadas ucranianas são as segundas maiores da região, porém a Rússia as supera em todas as áreas, exceto no número de soldados na ativa.

·        Explosões em várias partes do país

Soldados examinam os restos de um foguete numa praça da capital ucraniana. Além de Kiev, explosões atingiram várias cidades próximas à fronteira com a Rússia. O mesmo ocorreu nas regiões costeiras, bem como na cidade portuária de Odessa, próxima à Península da Crimeia, ocupada por Moscou.

·        Rússia destrói instalações militares

Algumas partes da Ucrânia ficaram cobertas por fumaça preta após as explosões. A coluna de fumaça nesta foto parte de um aeroporto militar que teria sido atingido por bombardeios, perto da cidade de Kharkiv, no leste do país.

·        Ameaça à população

O Ministério da Defesa russo afirma que não visa cidades e "não há ameaça à população civil". A Agência de Segurança da Aviação da União Europeia descreveu o espaço aéreo ucraniano como "zona de conflito ativo". Os metrôs de Kiev foram liberados ao público e muitos civis se abrigaram nas estações, como mostra esta foto.

·        Explosões em áreas residenciais

Apesar do que diz o governo russo, há relatos de explosões em áreas residenciais. Bombeiros tentam conter um incêndio num bloco de apartamentos após um suposto ataque aéreo na localidade de Chuhuiv, perto de Kharkiv, no leste do país.

·        Invasão por terra

A invasão russa à Ucrânia ocorre também por mar e terra. Esta foto capturada por uma câmera de vigilância e publicada pelas autoridades fronteiriças da Ucrânia mostraria veículos militares russos cruzando a fronteira na Crimeia, em direção à Ucrânia. Essa península foi anexada pela Rússia em março de 2014.

·        Alguns fogem, outros se preparam

Os efeitos dos ataques podem ser observados em todo o país. Na cidade de Lviv, de 700 mil habitantes, no extremo oeste da Ucrânia, longas filas se formaram em caixas eletrônicos O mesmo ocorreu em supermercados e lojas, na esperança de estocar alimentos e água. Enquanto alguns tentavam fugir, outros pareciam se preparar para se isolar.

 

¨      Venezuela chama presidente da Guiana de 'Zelensky do Caribe' diante de 'ânimo belicista' na região

A vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, alertou nesta sexta-feira (14) sobre a ameaça representada para a paz na região diante do ânimo belicista do presidente da Guiana, Irfaan Ali, a quem considerou uma versão caribenha do ucraniano Vladimir Zelensky.

"A Venezuela repudia o ânimo belicista de Irfaan Ali, que se ergue como o Zelensky do Caribe ao ameaçar a tranquilidade e a paz de nossa região para agradar a seus mestres norte-americanos e à ExxonMobil", afirmou nas redes sociais.

A declaração da vice-presidente venezuelana é dada após o lançamento pelo governo da Guiana do navio-patrulha "GDFS Shahoud". Na ocasião, Ali também anunciou um aumento no orçamento militar do país para a compra de barcos e aviões com o apoio de seus parceiros internacionais.

Conforme o presidente do país, o principal objetivo é salvaguardar a soberania e a integridade territorial, incluindo a região de Essequibo, em disputa entre as duas nações caribenhas.

Diante disso, a Venezuela reiterou na última terça (11) o apelo à Guiana para dialogar e alcançar um acordo "efetivo" entre as partes sobre a controvérsia territorial na região.

O pronunciamento foi feito pelo representante permanente da Venezuela na Organização das Nações Unidas (ONU), Samuel Moncada, após a Corte Internacional de Justiça (CIJ) convocar uma reunião para discutir os próximos passos do processo movido pela Guiana.

·        Exploração de petróleo por empresa norte-americana

As tensões entre Caracas e Georgetown aumentaram depois que a Guiana recebeu ofertas por 8 dos 14 blocos petrolíferos que foram licitados em dezembro de 2022, incluindo a empresa ExxonMobil.

Para a Venezuela, a situação foi gerada por uma conspiração dos Estados Unidos com a ExxonMobil para privar o país de seus direitos sobre o território.

Há mais de 100 anos, Venezuela e Guiana mantêm uma disputa sobre a soberania de Essequibo, que tem cerca de 160 mil quilômetros quadrados e possui grandes reservas de petróleo. Além disso, a região corresponde a quase dois terços do território da Guiana.

Em 1966, os países assinaram um acordo para buscar uma solução pacífica para a disputa, mas a Guiana entrou em 2018 com uma ação na Corte Internacional de Justiça na qual solicita ao tribunal validar um laudo arbitral de 1899 que lhe dá controle absoluto sobre o território.

 

Fonte: Deutsche Welle/Sputnik Brasil

 

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