sábado, 1 de junho de 2024

Leite nomeia bolsonarista negacionista para nova Secretaria da Reconstrução do RS

A reconstrução do Rio Grande do Sul no âmbito do governo estadual do neoliberal Eduardo Leite (PSDB) será liderada pelo bolsonarista Pedro Capeluppi. O ex-assessor de Paulo Guedes, ministro da Economia e "Posto Ipiranga" do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ficará à frente da recém-criada Secretaria da Reconstrução Gaúcha.

A criação da nova pasta foi aprovada pela Assembleia Legislativa do estado na noite desta quarta-feira (29). A pasta foi anunciada pelo governador Eduardo Leite em 17 de maio para acelerar e organizar processos de reconstrução do Rio Grande do Sul, atingido por uma tragédia humanitária e climática depois de intensas chuvas e inundações.

O deputado estadual Matheus Gomes (Psol) alerta que a medida de Leite aprovada pelo legislativo gaúcho "vai aprofundar o neoliberalismo e entregar a reconstrução do Rio Grande do Sul para um ex-assessor de Bolsonaro".

O parlamentar fez uma postagem no X (antigo Twitter) nesta quinta-feira (30) para explicar o motivo pelo qual votou contra a criação da nova secretaria.

"Leite propôs uma secretaria pra reconstruir o RS que, na verdade, é um 'copia e cola' da sua antiga Secretaria de Parcerias e Concessões, responsável pelas privatizações. Quem coordenava essa pasta no governo estadual era Pedro Capeluppi, ex-assessor de Bolsonaro e Paulo Guedes, agora alçado a líder da reconstrução", escreveu o deputado

Gomes afirma que, ao invés de reordenar a estrutura atual do governo, diante da mudança de prioridades gerada pela tragédia climática, Leite e Capeluppi vão nomear mais de 30 cargos comissionados que custarão milhões aos cofres públicos anualmente.

Os cargos comissionados (CCs) são posições de confiança que podem ser ocupadas sem a necessidade de concurso público. Isso permite ao governo de Leite nomear pessoas para funções específicas de acordo com critérios de confiança e alinhamento político-administrativo.

•        Desmonte neoliberal do RS

Gomes é contrário a essa medida e opina que o momento requer a reorganização da inteligência do estado gaúcho que, na análise dele, foi perdida com a extinção das fundações estratégicas, ao longo dos governos de Ivo Sartori (MDB), governador gaúcho entre 2015 e 2018; e o atual gestor estadual Leite.

O governo Sartori extinguiu nove órgãos estratégicos:

1.       Fundação Zoobotânica (FZB), responsável pelo Jardim Botânico e Museu de Ciências Naturais;

2.       Fundação de Economia e Estatística (FEE), que fornecia análises econômicas e estatísticas essenciais para o estado

3.       Fundação Piratini, mantenedora da TVE e da FM Cultura

4.       Fundação de Ciência e Tecnologia (Cientec), envolvida em pesquisas científicas e tecnológicas

5.       Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), que atuava na pesquisa agropecuária

6.       Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (FEPPS), que realizava pesquisas em saúde pública

7.       Fundação para o Desenvolvimento de Recursos Humanos (FDRH), focada na capacitação e desenvolvimento de servidores públicos.

8.       Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan), que planejava o desenvolvimento urbano e regional.

9.       Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH), que administrava os portos e hidrovias do estado

O governo Leite deu continuidade a essas políticas e também explorou a incorporação de algumas fundações extintas em outras instituições, como a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs).

Gomes observa que esses órgãos extintos pelos governos neoliberais de Sartori e Leite pensavam a longo prazo a economia, a infraestrutura, o planejamento urbano e ambiental e precisam ser reorganizados. Ele também sugere a criação de convênios com as universidades públicas, comunitárias e particulares, os institutos de pesquisa e a comunidade científica local.

"Tudo isso poderia ser comandado por um gabinete de crise que integrasse diferentes secretarias e, na minha opinião, deveria se subordinar diretamente ao gabinete do governador. Mas Leite quer terceirizar a tarefa, literalmente, pois vai entregar a reconstrução aos interesses da minoria que representa o mercado financeiro e o agronegócio", sugere.

O deputado alerta que o que se desenha no Rio Grande do Sul "é o início de um tenebroso laboratório de aprofundamento do neoliberalismo."

"Por isso, insisto que Leite é um negacionista climático: não teremos mudança no modelo de econômico que orientou a fragilização da legislação ambiental, a devastação do Bioma Pampa, não preveniu os desastres, não preparou a Defesa Civil e privatizou áreas estratégicas", afirma.

O parlamentar gaúcho diz ainda lamentar que PT e PCdoB tenham votado a favor da proposta. Ele argumenta que, uma coisa é o governo federal, que responde pelo Brasil e necessita de um ministério específico para cuidar do nosso estado. Outra é o que Leite propôs.

"O que cabe a oposição de esquerda é apresentar um novo projeto de Rio Grande do Sul: um modelo econômico que respeite o meio ambiente, desconcentre a riqueza e combata a desigualdade social; uma cultura de prevenção de longo prazo que mobilize toda a sociedade para frear as mudanças climáticas; instituições públicas fortes, desburocratizadas e conectadas com o povo; um orçamento que oriente a arrecadação pública ao bem comum e a ampliação de direitos sociais, aproveitando o hiato de não pagamento da dívida. Eduardo Leite não merece nenhum voto de confiança!", finalizou.

•        Nova secretaria neoliberal de Leite

A criação da nova Secretaria da Reconstrução Gaúcha foi aprovada por foram 39 votos favoráveis e 13 contrários. A pasta atuará de forma transversal e dialogará com os demais poderes e setores da sociedade, engajados na retomada do Rio do Grande do Sul após a catástrofe meteorológica.

A nova secretaria terá quatro subsecretarias: Projetos de Reconstrução, Projetos Estruturantes, Inteligência Mercadológica e Parcerias e Concessões (até então uma secretaria, que foi extinta e terá seus projetos absorvidos pela nova pasta), mais a Assessoria Especial de Gestão de Riscos.

Conforme justificativa encaminhada pelo Executivo para o parlamento, "diante de todo contexto calamitoso que o Estado vem enfrentando, é preciso criar estratégias e mecanismos que deem uma resposta efetiva e rápida para sua reconstrução".

Entre as competências da Secretaria da Reconstrução Gaúcha, está a atuação para propor diretrizes para a captação de recursos visando ao financiamento da reconstrução do Estado, bem como a coordenação do Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs) e demais fundos públicos eventualmente criados para o enfrentamento das consequências da catástrofe meteorológica.

•        Secretário bolsonarista

O secretário será Pedro Capeluppi, que liderava a pasta de Parcerias e Concessões do RS. Funcionário de carreira da Secretaria do Tesouro Nacional (STN). Economista formado pela Universidade de Brasília (UnB), Capeluppi tem pós-graduação em Finanças, Investimentos e Banking pela Pontifícia Univesidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Capeluppi teve uma ligação significativa com o governo Bolsonaro, onde atuou em diversos cargos importantes dentro do Ministério da Economia. Ele foi nomeado secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados, secretário especial adjunto e secretário de Desenvolvimento da Infraestrutura do Ministério da Economia chefiado por Guedes.

Nesses cargos, Capeluppi exerceu funções estratégicas para implementar políticas de desestatização e outras reformas econômicas durante a administração de Bolsonaro. No papel de assessores do "Posto Ipiranga", contribuiu para a agenda econômica ultraliberal do governo de extrema direita, que incluía privatizações e cortes de gastos públicos. Sua atuação foi parte integrante dos esforços do governo em reduzir o tamanho do estado e aumentar a participação do setor privado na economia.

•        Pimenta “perde a paciência” com Eduardo Leite: "liga pro Lula"

Desde que o presidente Lula (PT) nomeou Paulo Pimenta como o ministro da Reconstrução do Rio Grande do Sul, uma série de matérias surgiram, todas em off, claro, que apontavam para um certo "desconforto" do governador Eduardo Leite (PSDB) com a indicação de Pimenta e de que o gestor teria se queixado com os seus pares tucanos.

Durante uma edição do programa Edição das 18h, na Globo News, as apresentadoras Daniela Lima e Ana Flor gastaram todo um bloco para criticar a cor (vermelha) da blusa usada por Pimenta durante o evento de sua nomeação para atuar no Rio Grande do Sul.

"Em política, gente, a imagem fala muito, eu chamo a sua atenção para o casaco de Paulo Pimenta. Poderia ter usado um tom neutro, um tom que remetesse à Defesa Civil, como faz o governador Eduardo Leite, que está com uma cara de poucos amigos e em nenhum momento aplaude [...] estava lá (Paulo Pimenta) com a partidária, com a cor do PT e é criticado por isso", disse Daniela Lima.

A jornalista Ana Flor vai além: "Vejam a Maria do Rosário, que é pré-candidata à prefeitura de Porto Alegre, que está de cor neutra".

Paulo Pimenta já dava sinais de impaciência com a trama em torno de seu nome. Um dos auges foi durante evento no Rio Grande do Sul, na semana passada, quando um jornalista pediu que ele comentasse críticas feitas ao seu nome pelo deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG). "Aécio Neves? Não conheço", declarou o irônico Pimenta, tirando risos dos presentes.

E nesta quarta-feira (29), Paulo Pimenta, com o seu conhecido estilo despachado e irônico, voltou a comentar sobre as tramas que afirmam que o seu nome e sua presença são "incômodos" ao governador Eduardo Leite. Pimenta, em tom irônico, disparou: "pode ligar pro Lula e pedir outra pessoa para o meu lugar".

"O dia em que o governador [Eduardo Leite] não tiver a liberdade, a confiança [...] de saber que ele pode confiar na pessoa que o presidente Lula colocou aqui, o governador tem todo o direito de ligar para o presidente Lula e dizer, 'olha, bota outra pessoa, porque esse representante que tu colocou aqui, não serve para unir o trabalho dos ministros e ele não está ajudando o governo do estado como precisa", disparou Paulo Pimenta.

 

•        Empresários do RS correm contra o tempo para salvar negócios após enchente baixar

A hamburgueria do empresário Pedro Albeche, 30, tinha apenas um mês de operações quando a cheia do lago Guaíba engoliu, no início de maio, parte do centro de Porto Alegre. O Mercado Público, onde o restaurante foi montado, não escapou da enchente de proporções históricas.

Na manhã desta quinta-feira (30), quase um mês após o início da tragédia climática, Albeche era um dos empresários que retornaram ao prédio histórico para limpar a sujeira.

Ele descartava alimentos e equipamentos da hamburgueria, cujo prejuízo é estimado em pelo menos R$ 300 mil. "É uma corrida contra o relógio agora", diz Albeche, que é pai de uma criança de três meses.

Após os estragos da enchente, empresários gaúchos que não perderam totalmente as suas empresas tentam retomar as atividades para atenuar os prejuízos e salvar os negócios.

Com as incertezas trazidas pela crise, eles pedem que medidas de auxílio já prometidas por governantes, como linhas de crédito com juros baixos, cheguem rapidamente até a ponta.

"Precisamos começar a reconstrução agora, e não em um mês", afirma Albeche.

O empresário João Danilo Grechi, 66, também foi afetado pela enchente do Guaíba. Ele calcula em quase R$ 1 milhão o prejuízo em suas duas lojas que vendem roupas e itens de bazar com preço máximo de R$ 20 no centro de Porto Alegre.

Nesta quinta, ainda era possível ver a marca da água barrenta em parte da área interna e no lado de fora de uma das unidades. Para driblar a falta de luz e limpar os espaços, Grechi comprou um gerador de energia elétrica e organizou uma força-tarefa.

"Cada um se vira como pode", diz. "Até 15 ou 20 de junho a gente tem de estar funcionando."

O empresário indica que, até o momento, não encontrou condições atrativas de crédito para retomar as atividades. "Um banco até ligou oferecendo, mas uma loja que vende produtos de no máximo R$ 20 não tem como pagar aquele juro", afirma.

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou na quarta-feira (29) medidas financeiras para reconstrução do Rio Grande do Sul, incluindo R$ 15 bilhões em três linhas de crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Em seu discurso, o presidente disse que a determinação é para que não haja empecilhos burocráticos no auxílio.

"Temos consciência de que muitas vezes o governo anunciou medidas, foi cheio de boa vontade, depois passa um tempo, medidas não acontecem, dinheiro não chega, obras não acontecem. Nossa preocupação é fazer com que não haja empecilho burocrático que atrapalhe decisões do governo de acontecer na ponta", disse Lula.

O economista Ely José de Mattos, professor da Escola de Negócios da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), avalia que ações de socorro a empresas precisam ser implementadas "para ontem" devido à gravidade da situação gaúcha.

Isso, porém, não pode pular processos, nem deixar de lado critérios bem definidos, diz o professor. Ele ressalta que o impacto das enchentes varia de empresa para empresa.

"A União é grande, mas não é infinita. Não tem como chegar aqui e dizer 'toma aqui R$ 2 trilhões'", afirma.

Ao longo dos últimos dias, donos de negócios fizeram mutirões de limpeza em regiões de Porto Alegre onde o nível da enchente diminuiu.

No centro, é constante o barulho de lava-jatos e motores de equipamentos usados para expulsar a água dos prédios. Ainda havia lama e trechos de alagamentos em parte das vias nesta quinta.

No Mercado Público, um dos principais pontos turísticos da capital gaúcha, era possível ver equipes limpando o barro e descartando produtos perdidos -o acesso à área interna não estava liberado para jornalistas.

Inaugurado em 1869, o mercado conta com cerca de 120 bancas (operações) e gera de 1.400 a 1.500 empregos diretos e indiretos, conforme o secretário municipal de Administração e Patrimônio de Porto Alegre, André Barbosa.

Ele estima que, em um dia normal, o faturamento no local seja de R$ 500 mil a R$ 600 mil. Com o fechamento durante a enchente, o prejuízo projetado já fica na casa de R$ 15 milhões, diz o secretário.

Ainda de acordo com Barbosa, a prefeitura estuda medidas como isenções para ajudar comerciantes impactados pela catástrofe climática.

"A gente precisa preservar o pequeno e o médio empreendedor para que ele consiga se reerguer. O grande vai se reerguer de alguma forma, o pequeno e o médio precisam de ajuda", afirma.

 

Fonte: Fórum/FolhaPress

 

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