Guerra
Ucrânia-Rússia e a paz em línguas diferentes
A
Conferência sobre a Paz na Ucrânia, que se reuniu nos dias 15 e 16 de junho no
centro hoteleiro de Bürgenstock, a vinte quilômetros da cidade de Lucerna, na
Suíça, deixou um sentimento ambivalente. Embora tenha havido consenso de que a
busca de uma solução negociada é essencial, ela não pode ser alcançada deixando
de lado um dos protagonistas do conflito. E, aliás, sem contar com o apoio de
importantes atores da comunidade internacional, que não apoiaram esse conclave
que aconteceu em terras suíças.
“Pela
primeira vez, falamos ao mais alto nível de paz na Ucrânia”, disse a presidente
suíça, Viola Amherd, no domingo, 16, no final da Conferência, classificando-a
como um evento com um “bom resultado”. No entanto, reconheceu que a
questão-chave é: “como e quando envolver a Rússia”, uma questão que permanece
em aberto.
Ficaram
para trás dois dias de intensas reflexões, nos quais participaram uma centena
de delegações que atenderam aos 160 convites que foram emitidos. Principalmente
instituições internacionais e delegados da Europa estavam presentes, embora
também houvesse alguns representantes da África e da América Latina. 57 das
delegações foram encabeçadas por chefes de Estado ou de governo, em um chamado
que alcançou relativo sucesso, não fossem as ausências de peso. Entre eles, em
primeiro lugar, a própria Rússia. O documento final foi
assinado por 82 representantes com ausências significativas: China e membros do
BRICS+, como o Brasil, a Índia, a África do Sul, etc.
O
documento final insiste no direito da Ucrânia à integridade territorial, embora
o conceito de “agressão russa” não apareça nele. Recorda as várias resoluções
da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre esse conflito que sangra o coração
da Europa. E sublinha: “Acreditamos que alcançar a paz requer a participação e
o diálogo entre todas as partes”. Por conseguinte, decide-se tomar medidas
concretas no futuro para assegurar uma maior participação futura. Segundo o
documento, “a Carta das Nações Unidas, incluindo os princípios de respeito à
integridade territorial e à soberania de todos os Estados, pode servir e
servirá de base para alcançar uma paz integral, justa e duradoura na Ucrânia”.
·
Os objetivos
anteriores à Conferência
Segundo
o governo suíço, na qualidade de anfitrião, “o objetivo da reunião a nível de
chefes de Estado e de Governo é desenvolver um entendimento comum sobre um
possível caminho para uma paz justa e duradoura na Ucrânia”.
O
conclave, cujo custo variou entre 10 e 15 milhões de francos suíços (quase o
mesmo valor em euros), pretendia proporcionar “uma plataforma de diálogo sobre
caminhos para uma paz integral, justa e duradoura para a Ucrânia, com base no
direito internacional e na Carta das Nações Unidas; desenvolver um entendimento
comum sobre um possível quadro para alcançar esse objetivo”. Buscava definir,
por consenso, um roteiro para integrar ambas as partes num futuro processo de
paz.
O Comunicado oficial anterior à
Conferência referia-se ao quadro de referência que se baseia nas “discussões
dos últimos meses, em particular sobre a fórmula de paz ucraniana e outras
propostas baseadas na Carta das Nações Unidas e nos princípios fundamentais do
direito internacional.
Enquanto,
no início, durante a fase de preparação desse conclave, a aposta da Ucrânia era
promover como base, de forma integral, o seu próprio Plano de Paz de 10 pontos,
lançado em agosto de 2023, a agenda de Bürgenstock concentrou-se em um número
menor de temas com o objetivo de garantir um apoio mais amplo. Incluía a troca
de prisioneiros de guerra, deportados e crianças em cativeiro; a segurança
nuclear, especialmente em termos da proteção das centrais nucleares situadas em
zonas de conflito, bem como a problemática da segurança alimentar, dado que
vários portos de exportação e zonas de trânsito de cereais e de outros produtos
estão localizados em regiões fortemente militarizadas ou devastadas pela
guerra.
·
O que está pendente é
mais complexo e complicado
O
ponto chave que dificulta qualquer prognóstico sobre a eficácia da Conferência
de Bürgenstock é a não participação da Rússia nela. Assim como a ausência de
atores de alto nível na atual geopolítica planetária.
As
autoridades suíças afirmam que, desde o início, informaram Moscou sobre essa
iniciativa em curso. Que a primeira resposta dos seus homólogos russos foi a de
não participar. E então, dado o risco de que uma possível participação de
representantes russos constituísse a causa para que Kiev não participasse, eles
priorizaram a fórmula de convocação, sem a Rússia. Foi essa a fórmula que, no
final, prevaleceu. Eles dizem que, na próxima fase, a presença russa será
essencial para avançar em direção a uma solução negociada. A ausência da
Rússia, por outro lado, significou que outros grandes players globais
–particularmente do Sul Global– não participassem ou assinassem o documento
final da Bürgenstock.
Nos
espaços diplomáticos já se falava na noite de domingo sobre a continuação desse
processo num próximo conclave internacional, com o objetivo de tentar avançar
com os pontos pendentes, facilitando a presença russa. A Suíça se ofereceu para
sediar o evento novamente. A Turquia, a Arábia Saudita e o Qatar também se
ofereceram para sediar o segundo encontro. Tudo está em aberto e esse passo
dado em Bürgenstock, com efeitos mitigados, pode ganhar força se o consenso for
ampliado e todos os envolvidos diretamente no conflito participarem. Nada será
automático. Por enquanto, Ucrânia e Rússia continuam falando línguas diferentes
e exigindo reivindicações que são inaceitáveis uma para a outra. A Ucrânia
condiciona quaisquer negociações a respeito de sua integridade territorial e de
suas fronteiras antes de fevereiro de 2022. A Rússia aceitaria assinar a paz
amanhã, mas com base no novo mapa, desenhado agora, após 28 meses de uma guerra
que beneficia a poucos – alguns monopólios de armas – e que atinge bruscamente
a vida cotidiana dos povos da Europa e de outros mais.
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Total de ucranianos
que se opõe a compromissos com a Rússia diminui, mostra pesquisa de Kiev
A
oposição dos ucranianos às concessões nas negociações com a Rússia diminuiu nos
últimos dois anos, apontou uma nova pesquisa conduzida pelo Instituto
Internacional de Sociologia de Kiev.
A
maioria dos ucranianos ainda resiste à possibilidade de fazer compromissos nas
negociações, mas a porcentagem diminuiu de 80%, em maio de 2022, para 58%
agora, de acordo com o inquérito realizado pelo instituto de 26 de maio a 1º de
junho.
Um
total de 30% dos entrevistados não concordou com a ideia de se opor a
compromissos com Moscou para um cessar-fogo, mostrou o estudo que entrevistou
2.011 ucranianos por telefone. Já 65% indicaram ser a favor de um referendo
sobre quaisquer possíveis termos de um acordo.
Ao
mesmo tempo, uma minoria de 34% apoiou a recente lei que torna mais rigorosas
as regras para o recrutamento.
Embora
a Ucrânia tenha garantido milhares de milhões de dólares em nova ajuda
ocidental, as forças russas têm mirado o setor energético ucraniano, e um
esforço de Vladimir Zelensky para obter mais apoio internacional no fim de
semana, na cúpula na Suíça, ficou aquém dos seus objetivos.
Ao
mesmo tempo, recentemente, as tropas russas obtiveram avanços significativos no
campo de batalha.
O
atual líder ucraniano, que encerrou seu mandato eleito como chefe de Estado em
maio, tem rejeitado consistentemente as propostas feitas por Moscou para a
rendição de territórios desde o início do conflito, em fevereiro de 2022.
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Macron está 'nas
cordas' com impacto político do apoio ao conflito na Ucrânia, diz analista
O
presidente francês tem sido criticado por convocar eleições antecipadas, o que,
segundo observadores, poderia elevar o controverso partido de Marine Le Pen ao
poder.
O
ex-líder francês Nicolas Sarkozy alertou que o país pode mergulhar no
"caos" enquanto o presidente Emmanuel Macron tenta afastar a direita
nas próximas eleições antecipadas.
A
disputa eleitoral, anunciada por Macron depois de o seu partido centrista ter
sido derrotado nas eleições parlamentares da União Europeia (UE) no início
deste mês, ameaça ver o Reagrupamento Nacional de Marine Le Pen assumir o poder
legislativo. As pesquisas mostram atualmente que o partido de Le Pen lidera as
pesquisas com o apoio de 35% do eleitorado, com o partido centrista
Renascimento de Macron em terceiro lugar, com apenas 19%.
"Isso
poderia mergulhá-lo no caos, do qual terá maior dificuldade em sair",
disse Sarkozy sobre a decisão de Macron de realizar eleições antecipadas, que
ele disse serem "um grande risco".
"Dar
a palavra ao povo francês para justificar a dissolução é um argumento curioso,
pois foi precisamente isso que mais de 25 milhões de franceses acabaram de
fazer nas urnas", disse o ex-presidente, que serviu de 2007 a 2012, a um
jornal francês. "O risco é grande [de que] eles confirmem sua raiva em vez
de revertê-la."
O
colunista e cartunista político Ted Rall falou à Sputnik na segunda-feira (17)
para discutir o desenvolvimento, o mais recente de uma série de controvérsias
políticas para Macron.
"Não
há Jordan Bardella sem Marine Le Pen", disse Rall, referindo-se ao líder
do partido que se tornaria primeiro-ministro caso o Reagrupamento Nacional
prevaleça no final deste mês.
Le
Pen continua a ser uma figura altamente controversa na França. A política de 55
anos herdou a liderança do seu partido, anteriormente conhecido como Frente
Nacional, do seu pai, Jean-Marie Le Pen, uma figura de direita conhecida por
declarações que criticam a imigração e minimizam o Holocausto nazista.
O
chocante avanço do velho Le Pen para o segundo turno das eleições presidenciais
francesas de 2002 provocou uma vitória de 82% do seu adversário Jacques Chirac,
enquanto os eleitores compareciam às urnas para evitar uma vitória da direita.
As
eleições de 2017 e 2022, nas quais Marine Le Pen avançou para o segundo turno,
também levaram a uma vitória de Macron, embora com uma margem cada vez menor.
Os 41% dos votos de Le Pen em 2022 representaram o ponto alto do seu partido
nacionalista. Os observadores temem que ela esteja preparada para vencer na
próxima vez que concorrer.
"Os
franceses não têm apetite para o recrutamento ou mesmo para guerras de
escolha", disse Rall, dizendo que as declarações provocativas de Macron,
sugerindo que tropas francesas poderiam ser enviadas para lutar na Ucrânia,
diminuíram a sua popularidade.
"Eles
não se envolvem [em uma guerra] há muito, muito tempo", continuou ele.
"A Ucrânia é uma guerra quente. É uma verdadeira guerra. Não é como uma
ação policial, como reprimir os nativos da Nova Caledônia. Isso é muito sério.
Os franceses voltarão em sacos para cadáveres da Ucrânia", pontuou.
"E
é um conflito sobre o qual muitos franceses estão profundamente divididos. A
política é ruim para Macron. Não sei por que ele está tão determinado a
promover essa narrativa, porque na verdade ele, sua administração e seu legado
estão realmente na corda bamba neste momento. E a última coisa de que ele
precisa é de uma política controversa ou impopular, o que, penso eu, é."
Atualmente
em segundo lugar nas sondagens, uma aliança de esquerda conhecida como Nova
Frente Popular alcançou 25% de apoio entre o público. O antigo membro da
Assembleia Nacional, Jean-Luc Mélenchon, lidera o bloco de partidos
progressistas, incluindo o Partido Socialista, o Partido Comunista Francês,
grupos pró-ambientais e a França Insubmissa de Mélenchon.
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Suíça analisa permitir
exportações de armas para países em guerra, informa Parlamento do país
O
Parlamento suíço informou nesta terça-feira (18) que está examinando alterações
na legislação sobre reexportação de armas, sob as quais seria possível enviar
armas à Ucrânia.
A
lei que vigora no país proíbe a reexportação de armas suíças para um país
beligerante, independentemente das condições, devido à neutralidade do país.
No
entanto, deputados do Comitê de Política de Segurança querem permitir a
reexportação para países beligerantes se estes "exercerem o seu legítimo
direito à autodefesa, não violarem os direitos humanos e não usarem essas armas
contra civis", segundo um documento divulgado pela Assembleia Federal, o
Parlamento suíço, nesta terça-feira (18).
O
documento esclarece que 10 deputados votaram a favor da proposta, 10 contra e 4
se abstiveram.
Consequentemente,
a proposta foi aprovada pelo presidente do comitê, de acordo com o procedimento
em vigor no Parlamento. Deputados e senadores suíços deverão votar a proposta
no futuro, no entanto nenhum prazo foi especificado.
As
autoridades suíças iniciaram consultas em maio e seguirão nelas até setembro,
para poderem levantar a proibição da exportação de armas para as principais
operações militares do país em "circunstâncias excepcionais" e
"sem violar o direito à neutralidade".
Em
dezembro passado, o embaixador russo na Suíça, Sergei Garmonin, disse que Berna
enfrentaria uma série de consequências econômicas se decidisse enviar armas à
Ucrânia e que o estatuto geoeconômico do país seria perdido.
Fonte:
Por Sergio Ferrari | Tradução: Rose Lima para Outras Palavras/Sputnik Brasil
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