"CPI
das Igrejas já": PL dos Estupradores mobiliza sociedade, que pede
investigação
Após
a Câmara dos Deputados aprovar a urgência do projeto de lei (PL 1904/2024) que
equipara o aborto após a 22ª semana de gestação ao crime de homicídio na
quarta-feira (12) e a sociedade se mobilizar contra a proposta, a hashtag
"CPI das Igrejas Já" ganhou força nas redes sociais.
Nesta
sexta-feira (14), internautas utilizaram o X, antigo Twitter, para pedir a
abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra as igrejas
evangélicas pela suspeita da acelerada aprovação de urgência da PL pelo
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e forte apoio da bancada evangélica
do Congresso à proposta.
Mas
para além disso, também há uma onda silenciosa de crimes sexuais contra menores
praticados por pastores evangélicos no país. Casos como o da Igreja Bola de
Neve, o do pastor da Igreja Evangélica Assembleia do Reino de Deus em Goiás e
do líder evangélico Sinval Ferreira são apenas alguns dos crimes tornados
públicos no último mês e pouco falados.
• PL dos Estupradores
O
projeto de lei encabeçado pelo deputado Sóstenes Cavalcante e assinado por
outros parlamentares fundamentalistas equipara o aborto realizado após a 22ª
semana de gestação ao crime de homicídio, até em casos de estupro. Atualmente,
a legislação sobre o aborto permite a realização do procedimento em três
situações: estupro, risco de vida para a mãe e anencefalia do feto - e não
estabelece prazo máximo para o aborto legal.
A
proposta do projeto é equiparar o aborto realizado em caso de estupro após 22
semanas ao crime de homicídio, alterando o Código Penal para que a pena imposta
seja de 20 anos. A lei estabelece, hoje, pena de um a três anos quando
provocado pela gestante ou com seu consentimento, e de três a dez anos, quando
feito sem o consentimento da gestante.
• Saiba quem são os deputados que
propuseram o PL da Gravidez Infantil
O
projeto foi proposto pelo deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e
assinado por outros 31 deputados. A maioria deles são do Partido Liberal, o
mesmo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
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Quem são eles?
#
PL: Carla Zambelli (SP), Delegado Paulo Bilynskyj (SP), Mario Frias (SP),
Eduardo Bolsonaro (SP), Abilio Brunini (MT), Coronel Fernanda (MT), Delegado
Ramagem (RJ), Bia Kicis (DF), Pastor Eurico (PE), Capitão Alden (BA), Julia
Zanatta (SC), Nikolas Ferreira (MG), Junio Amaral (MG), Eli Borges (TO), Gilvan
da Federal (ES), Filipe Martins (TO) e Bibo Nunes (RS).
#
MDB: Delegado Palumbo (SP), Simone Marquetto (SP), Renilce Nicodemos (PA) e
Pezenti (SC).
#
União Brasil: Cristiane Lopes (RO) e Dayany Bittencourt (CE).
#
Republicanos: Ely Santos (SP) e Franciane Bayer (RS).
#
Partido Progressistas: Evair Vieira de Melo (ES) e Luiz Ovando (MS).
# E
de outros partidos: Dr. Frederico (PRD/MG), Greyce Elias (Avante/MG), Lêda
Borges (PSDB/GO) e Cezinha de Madureira (PSD/SP).
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Votação relâmpago
O
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pautou a votação do requerimento de
urgência, apresentado pelo deputado Eli Borges (PL-TO), sem aviso e sem
anunciar o número do projeto.
Lira
pediu orientação de bancada ao deputado carioca Pastor Henrique Vieira
[vice-líder do Psol], que não respondeu, e considerou a urgência aprovada em
votação simbólica – sem registro do voto de cada deputado no painel eletrônico
– que durou apenas 23 segundos. Em geral, a votação simbólica ocorre quando já
existe acordo entre os parlamentares sobre o tema em pauta.
Nas
redes sociais, a deputada Natália Bonavides (PT-RN) escreveu que Lira deu “um
golpe contra o direito das mulheres” ao aprovar “um requerimento de urgência
sem sequer anunciar a votação. O requerimento permite que seja votado o projeto
que obriga meninas e mulheres que sofrerem violência sexual a terem filho de
estuprador".
A
proposta acrescenta artigos ao Código Penal para equiparar as penas previstas
para homicídio simples àquelas para abortos realizados após 22 semanas de
gestação, mesmo nos casos em que a prática é prevista legalmente. O projeto
também proíbe o aborto mesmo em casos de gravidez decorrentes de estupro, se
houver viabilidade fetal.
Atualmente,
a legislação permite que o aborto seja realizado em três ocasiões: estupro,
risco de morte à mulher e anencefalia do feto.
• PL do Estupro revitimiza essas
mulheres e crianças, afirma Cida Gonçalves
A
ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, se manifestou nesta quinta-feira (13)
sobre o PL 1904/2024, chamado de "PL da Gravidez Infantil" e "PL
do Estupro", e afirmou que o projeto revitimiza mulheres e crianças
vítimas de um dos crimes mais crueis contra as mulheres, que é o estupro.
A
declaração da ministra veio após a Câmara dos Deputados aprovar o pedido de
urgência para o PL, que não precisava mais passar pelas Comissões da Casa e
pode ser votado diretamente no plenário.
De
acordo com a ministra, "não é por acaso que os movimentos feministas e de
mulheres vêm intitulando o Projeto de Lei 1.904/2024 de ‘PL da Gravidez
Infantil'". Dados do Sistema Único de Saúde (SUS) revelam que, em média,
38 meninas de até 14 anos se tornam mães a cada dia no Brasil, o que mostra o
desafio que é para uma menina acessar o direito ao aborto legal. Em 2022, foram
mais de 14 mil gravidezes entre meninas com idade até 14 anos no país.
Seja
por desinformação sobre direitos e como acessá-los; exigências desnecessárias
como boletim de ocorrência ou autorização judicial; ou pela escassez de
serviços de referência e profissionais capacitados, o Brasil delega a
maternidade forçada a essas meninas vítimas de estupro, prejudicando não apenas
o futuro social e econômico delas, como também a saúde física e psicológica. Ou
seja, perpetua ciclos de pobreza e vulnerabilidade, como o abandono escolar.
Esse
cenário irá se agravar ainda mais caso o PL 1904/2024 seja aprovado, segundo a
ministra, uma vez que o país vive uma "epidemia de abuso sexual
infantil". Somente em 2022, foram registrados 75 mil casos de estupro – o
maior número da série histórica, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança
Pública. Do total, seis em cada dez vítimas eram crianças de até 13 anos.
Além
disso, a ministra ainda ressaltou outras realidades crueis desse crime: 68% dos
estupros ocorreram na residência das vítimas e, em 64% dos casos, os autores
eram familiares das vítimas. "Ou seja, as principais vítimas de estupro no
Brasil são meninas menores de 14 anos, abusadas por seus familiares, como pais,
avôs e tios. São essas meninas que mais precisam do serviço do aborto legal, e
as que menos têm acesso a esse direito garantido desde 1940 pela legislação
brasileira", acrescentou a ministra.
Outro
ponto que a ministra considera "estarrecedor" do PL é a alteração do
tempo de pena para mulheres que realizarem o aborto após 22 semanas de
gestação, passando a ser de 6 a 20 anos de prisão - enquanto a do estuprador é
de 6 a 10 anos. "Portanto, a mulher que optar pelo aborto legal em caso de
estupro poderá passar na prisão até o dobro do tempo de seu estuprador",
pontua.
Por
fim, a ministra ressalta que "criança não é para ser mãe, é para ter
infância, é para ser criança e estar na escola".
Janja
se pronuncia sobre PL dos Estupradores e parte para cima de autores
bolsonaristas
A
socióloga Rosângela Silva, a Janja, se pronunciou na manhã desta sexta-feira
(14) sobre o PL 1.904/2024, que prevê a equiparação do aborto ao homicídio caso
a gestação já esteja com mais de 22 semanas, e partiu para cima dos autores do
projeto: 32 deputados bolsonaristas capitaneados por Sóstenes Cavalcante
(PL-RJ), "poste" de Silas Malafaia na Câmara Federal.
"Os
propositores do PL parecem desconhecer as batalhas que mulheres, meninas e suas
famílias enfrentam para exercer seu direito ao aborto legal e seguro no
Brasil", afirma Janja.
Segundo
ela, a mudança no Código Penal para equiparar o aborto após 22 semanas de
gestação ao crime de homicídio, quando a gestação for fruto de estupro ou
representar risco de vida para a mãe "ataca a dignidade das mulheres e
meninas, garantida pela Constituição Cidadã. É um absurdo e retrocede em nossos
direitos".
"A
cada 8 minutos uma mulher é estuprada no Brasil. O congresso poderia e deveria
trabalhar para garantir as condições e a agilidade no acesso ao aborto legal e
seguro pelo SUS. Não podemos revitimizar e criminalizar essas mulheres e
meninas, amparadas pela lei. Precisamos protegê-las e acolhê-las",
escreveu a socióloga, esposa de Lula.
"Seguimos
juntas, lutando por nossos direitos", concluiu Janja, compartilhando a
hashtag #MeninaNãoÉMãe.
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Nas ruas e nas redes
Milhares
de mulheres ocuparam as ruas em várias cidades do Brasil na noite desta
quinta-feira (13) para se manifestar contra o Projeto de Lei 1904/24. Foram
registradas passeatas em São Paulo, Florianópolis, Brasília e no Rio de
Janeiro. Cabe destacar que outros atos contra o "PL do Estupro" estão
marcados para acontecer nos próximos dias.
Após
a sociedade se mobilizar contra a proposta, a hashtag "CPI das Igrejas
Já" ganhou força nas redes sociais.
Nesta
sexta-feira (14), internautas utilizaram o X, antigo Twitter, para pedir a
abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra as igrejas
evangélicas pela suspeita da acelerada aprovação de urgência da PL pelo
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e forte apoio da bancada evangélica
do Congresso à proposta.
Mas
para além disso, também há uma onda silenciosa de crimes sexuais contra menores
praticados por pastores evangélicos no país. Casos como o da Igreja Bola de
Neve, o do pastor da Igreja Evangélica Assembleia do Reino de Deus em Goiás e
do líder evangélico Sinval Ferreira são apenas alguns dos crimes tornados
públicos no último mês e pouco falados
• Bolsonaristas querem prender mulheres
estupradas e soltar criminosos e golpistas
Três
Projetos de Lei em discussão na Câmara dos Deputados servem para traçar bem o
perfil dos bolsonaristas: o PL dos Estupradores, o PL de Anistia aos Golpistas
de 8 de janeiro e o PL do Fim das Delações Premiadas de criminosos. Todos
apoiados entusiasticamente pelos seguidores de Bolsonaro e pelo próprio
ex-presidente.
Resumidamente,
o primeiro criminaliza e põe na prisão, condenadas a até 20 anos de cadeia,
mulheres e meninas estupradas. Especialmente estas, a grande maioria das
vítimas de estupro no país.
Os
outros dois visam libertar criminosos:
• O primeiro, os golpistas de 8 de
janeiro. É relatado pelo deputado bolsonarista Rodrigo Valadares.
• O segundo, impossibilitar delações
premiadas e tentar anular as feitas, como as do ajudante de ordens Mauro Cid,
por exemplo. Mas também a de Ronnie Lessa, que indicou os mandantes dos
assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes.
Ambos
com o objetivo de livrar golpistas e criminosos de prestar contas à Justiça.
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O PL dos Estupradores
O
Projeto de Lei 1904/24 prevê que o aborto realizado acima de 22 semanas de
gestação, em qualquer situação, passará a ser considerado homicídio, inclusive
no caso de gravidez resultante de estupro.
Além
de criminalizar as mulheres vítimas de estupro, a lei as enquadra em penas que
podem chegar a 20 anos de prisão. A pena máxima para o estuprador é de dez
anos.
<><> O PL da Anistia aos Golpistas
de 8 de janeiro
O
PL 2858/2022, de autoria do ex-deputado Major Vitor Hugo, “concede anistia a
todos os que tenham participado de manifestações em qualquer lugar do
território nacional do dia 30 de outubro de 2022”.
O
projeto de lei do Major Vitor Hugo, datado de 2022, portanto anterior aos atos
de 8 de janeiro, possui outros seis projetos apensados por versarem sobre o
mesmo tema: anistia a manifestantes. Um dos textos, apresentado pelo deputado
Cabo Gilberto Silva (PL-PB), é direto em relação a conceder a anistia aos
participantes e réus pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.
“Concede
anistia aos acusados e condenados pelos crimes definidos nos arts. 359-L e
359-M do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, em
razão das manifestações ocorridas em Brasília, na Praça dos Três Poderes, no
dia 08 de janeiro de 2023.”, diz a ementa do projeto.
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O PL do Fim das Delações Criminosas
A urgência do PL 4.372 de 2016, que proíbe que
pessoas presas façam delação premiada, foi aprovada nessa quarta-feira (13) na
Câmara dos Deputados, assim como o PL dos Estupradores, em votação simbólica,
quando os parlamentares não precisam registrar o voto no painel eletrônico.
O
objetivo evidente dos bolsonaristas é anular as delações de Mauro Cid e Ronnie
Lessa para livrar Jair Bolsonaro e milicianos.
Os
três projetos traçam um retrato sem retoques do bolsonarismo: criminalização
das mulheres estupradas e liberdade para criminosos e golpistas.
Fonte:
Fórum/Brasil de Fato
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