Quando
usar 'porque', 'por que' 'porquê' e 'por quê'?
Uma
dúvida sobre o português frequente entre os leitores da BBC News Brasil é
quando usar as diferentes formas “porque”, “por que” “porquê” e “por quê”.
Para
responder a essa dúvida, consultamos o professor Pasquale Cipro Neto, que já
começa derrubando a ideia compartilhada por muitos de que o “por que” é usado
em todas as frases terminadas com ponto de interrogação.
“Isso
é o caminho para o naufrágio”, alerta.
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Confira, a seguir, dicas para não errar:
• 'Por que' separado
“O
‘por que’ separado sempre pode embutir a palavra ‘razão’ ou a palavra
‘motivo’”, explica o professor.
Isso
vale para perguntas diretas - “Por que você não foi?" vira "Por que
razão você não foi?" e "Por que você não pagou a conta?" vira
"Por que motivo você não pagou a conta?".
E
também para frases terminadas com ponto final - “Você sabe por que eu ajo
assim” vira “Você sabe por qual razão eu ajo assim” ou “Você sabe por qual
motivo eu ajo assim”.
“E
existe ainda um outro ‘por que’ separado", acrescenta Pasquale. “Lembra
aquela música? ‘Só eu sei as esquinas por que passei’, lembra?”.
Com
esse exemplo, ele explica que o “por que” também é separado quando equivale a
"pelo qual", "pela qual", "pelos quais",
"pelas quais".
No
caso da música, a letra também poderia ser: “Só eu sei as esquinas pelas quais
passei”.
• 'Porque' junto
O
“porque” junto é uma conjunção que indica causa, motivo, justificativa ou
explicação.
Um
exemplo: "Eu não fui porque estava doente".
De
acordo com o professor, "Porque estava doente" é a oração que indica
a razão pela qual ele não foi.
Nesses
casos, o “porque” é junto e sem acento.
Com
isso, é possível existir “porque” junto mesmo em frases que terminam com
interrogação, como esta: “Será que ela está chateada comigo porque eu não fui
ao aniversário dela?”
Alguns
professores recomendam tentar trocar o "porque" junto por
"pois". Se der certo, está correto o uso do "porque" junto.
• 'Por quê' separado com acento
O
“por quê” separado e com acento é um “por que” separado localizado antes de uma
pausa na fala ou na escrita.
“É
preciso que haja uma pausa, um ponto final, um ponto de interrogação..."
explica o professor Pasquale.
Exemplo:
“Por quê?”
Só
isso. É o mesmo que perguntar "Por qual razão?", "Por qual
motivo?".
De
acordo com o professor, esse "quê" vira tônico na entonação. Assim,
quando há um “por que” separado encerrando uma frase, ele ganha o acento e
passa a ser “por quê”.
• 'Porquê' junto com acento
Nesse
caso, o “porque” vira sinônimo da palavra "motivo".
O
professor exemplifica: “Qual é o porquê de tanta tristeza?".
É o
mesmo que perguntar “Qual é o motivo de tanta tristeza?".
• Quando usar o gerúndio?
O
gerúndio: quando se usa e quando não se usa?
Trata-se
da raiz do verbo acrescida da terminação “ndo”. Exemplos: pegando, dormindo,
estudando.
Nesta
série da BBC News Brasil sobre dúvidas de português, o professor Pasquale Cipro
Neto lembra que o uso excessivo do gerúndio até ganhou um nome: o
"gerundismo".
“Eu
imagino que isso tenha surgido das traduções literais quando começou a
importação, nos anos 90", conta.
"No
Brasil até então pouco se importava, a gente não tinha aqui grande quantidade
de produtos importados. Então vieram vários e vários produtos importados com os
manuais traduzidos, sabe Deus por quem, ao pé da letra”, explica o professor.
O
gerúndio em inglês foi então traduzido literalmente para o português, apesar de
eles cumprirem papéis diferentes.
“O
que em inglês é ‘I will be sending’, por exemplo, em português não é ‘Eu vou
estar enviando’, é ‘Eu vou enviar’”, diz Pasquale.
“Alguém
começou a traduzir isso ao pé da letra e, meu Deus do céu, isso infestou o
teleatendimento, virou um inferno, né?”
De
acordo com o professor, o gerúndio usado fora do lugar traz a ideia de uma
“coisa que não vai ser resolvida nunca”.
Exemplo
do que não se deve dizer: “O senhor vai ter que estar esperando”.
“Eu
não posso só esperar?”, pergunta o professor.
Outro
exemplo de gerúndio sem necessidade: “O senhor precisa estar pegando uma
senha”.
O
correto é: “O senhor precisa pegar uma senha".
De
acordo com Pasquale, o gerúndio pode ser empregado em ações contínuas, que têm
um curso. Exemplo: “Não me ligue nessa hora, porque eu vou estar dormindo”.
“Então
nada de condenar o gerúndio por si só, coitado. Gerúndio maldito, você veio ao
mundo para ser excomungado, amaldiçoado - nada disso”, afirma.
“O
gerúndio é da língua, é perfeito, não há nenhum problema. Desde que ele faça o
papel dele.”
Fonte:
BBC News Brasil
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