Mais de 85% da população total de Gaza está deslocada, diz ONU
A Agência das Nações Unidas para Refugiados
Palestinos (Acnur) divulgou nesta quinta-feira (04/01) que, desde a
intensificação dos ataques israelenses contra o povo palestino, em 7 de
outubro, mais de 1.9 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar
internamente em busca de segurança. O número corresponde a mais de 85% da
população total da Faixa de Gaza.
Ainda de acordo com a organização, quase 1.4
milhões de pessoas nesta condição estão abrigadas em 155 instalações da própria
agência, espalhadas por cinco províncias da região.
Rafah é uma delas, e é a que se tornou o principal
refúgio para os deslocados, concentrando mais de um milhão de palestinos. A
área recebeu um número massivo de refugiados principalmente após a
intensificação das operações militares israelenses em Khan Younis e Deir al
Balah.
‘A lei internacional proíbe transferência forçada’
Nesta quinta-feira (04/01), a agência da ONU para
Direitos Humanos comunicou o repúdio do alto comissário do órgão, Volker Türk,
que afirmou estar “perturbado pelas declarações de altos funcionários
israelenses sobre os planos de deslocamento de civis de Gaza para países
terceiros”, mencionando que a “lei internacional proíbe a transferência
forçada”:
Isso porque no domingo (31/12), o ministro da
Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, e o ministro das Finanças,
Bezalel Smotrich, deram declarações que chegaram a ser condenadas pela
comunidade internacional, incluindo países ocidentais como Estados Unidos,
Reino Unido, Alemanha e França.
Em entrevista ao canal israelense Channel
12, as autoridades do governo de extrema direita de Benjamin Netanyahu
expressaram apoio ao que chamaram de “migração voluntária” de palestinos na
Faixa de Gaza, orientando os países em torno a acolherem os deslocados.
"Encorajar a migração de centenas de milhares
de pessoas de Gaza permitirá que os residentes [israelenses] regressem às suas
casas [nos limites de Gaza] e vivam em segurança", disse Ben-Gvir na
ocasião.
O número de deslocados internos na região norte de
Gaza não é atualizado desde 12 de outubro, segundo a agência de notícias Wafa,
uma vez que as restrições de acesso e a falta de segurança no território
impedem a contagem por parte das equipes que atuam no local.
Mesmo nesse contexto, as agressões das forças
israelenses continuam fazendo centenas de vítimas diariamente.
O Ministério da Saúde de Gaza contebilizou, nesta
quinta-feira, ao menos 22.438 palestinos mortos pelos ataques do Estado judeu,
enquanto mais de 57.614 se encontram feridos. Ainda segundo a pasta, cerca de 7
mil pessoas estão desaparecidas, muitas delas sob os escombros de estruturas
destruídas pelos bombardeios israelenses.
·
Ataque aéreo em Bagdá mata alto oficial de milícia apoiada pelo Irã
Um atentado aéreo em Bagdá, no Iraque, matou nesta
quinta-feira (04/01) ao menos três combatentes da milícia Hashd al-Shaabi, que
é apoiada pelo Irã, incluindo
o alto oficial de operações do grupo Abu Taqwa al-Saidi. Fontes de segurança
iraquianas disseram que o ataque também feriu outros seis no leste de
Bagdá.
Segundo o portal iraquiano Iraqi
News, nenhum grupo assumiu imediatamente a responsabilidade pelo
ataque, mas a Hashd al-Shaabi e o governo do presidente Abdul Latif Rashid
acusaram os Estados Unidos ou seus aliados de conduzirem o ataque.
No comunicado do governo iraquiano, o porta-voz do
Exército, Yehia Rasool, qualificou o ataque como uma “agressão e violação
flagrante da soberania e segurança do Iraque”. “Vemos esta ação como uma
perigosa escalada do conflito ao Iraque, divergente do espírito e da missão
para a qual a Coligação Global foi estabelecida”, disse.
O ataque atingiu o quartel general da 12ª Brigada
da Hashd al-Shaabi, perto do edifício do Ministério do Interior iraquiano. O
grupo paramilitar é ligado ao Harakat Hezbollah al-Nujaba.
Autoridades da polícia iraquiana comunicaram que
aguardam uma investigação governamental antes de fornecer mais informações
sobre quem poderia ter executado o ataque.
Os Estados Unidos lançaram contra-ataques no Iraque
em dezembro passado como resposta a um ataque aéreo perpetrado por insurgentes
ligados ao Irã que feriu gravemente militares norte-americanos.
Desde a eclosão da guerra entre Israel e a
Palestina, em outubro de 2023, as forças norte-americanas e da coligação
internacional no Iraque e na Síria foram atacadas mais de 100 vezes, na maioria
por uma combinação de mísseis e drones de ataque unidirecional.
A Opera Mundi, o professor e pesquisador em
relações internacionais na PUC-SP Rodrigo Amaral afirmou que o Irã é o
principal ator externo que atualmente influencia diretamente na política
interna do Iraque. "O Irã tem uma conexão extremamente próxima com alguns
partidos políticos xiitas islâmicos no Iraque e a coligação mais ativa são as
forças Hashd al-Shaabi, grupo guarda-chuva que contêm mais de 40 partidos com
capacidade paramilitar", disse.
Em 2016, o governo do Iraque reconheceu a
formalidade desses grupos, incluso a ação paramilitar. Segundo Amaral, as
autoridades iraquianas tiveram este posicionamento devido aos combates contra o
Estado Islâmico. O Hashd al-Shaabi possui grande popularidade informal e formal
no Parlamento do país.
"30 cadeiras do Parlamento no Iraque são
compostas por membros desse grupo", afirmou o especialista.
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Israel prepara tropas para encarar possíveis retaliações após ataque que
matou número dois do Hamas
O porta-voz das Forças Armadas de Israel (IDF),
Daniel Hagari, disse em pronunciamento nesta quarta-feira (03/01) que o país
disponibilizou tropas para ficarem de prontidão no caso de que o Hamas realize
ações de retaliação pelo assassinato
de Saleh al-Arouri.
“Estamos prontos para qualquer cenário”, assegurou
Hagari diante de questionamentos acerca se o país está preparado para possível
reação do Hamas ao ataque explosivo com drone realizado na terça-feira (02/01)
em Beirute, que matou al-Arouri, considerado o número dois do comitê político
do movimento de resistência palestina.
Embora Israel não tenha assumido a responsabilidade
pelo ataque em Beirute, a importância de al-Arouri como figura de liderança do
Hamas é usada como desculpa para justificar os preparativos para uma possível
retaliação.
Al-Arouri era o braço direito de Ismail Haniyeh e
liderava as ações do Hamas na Cisjordânia. Ele também foi um importante contato
com o grupo xiita libanês Hezbollah.
Além disso, o Departamento de Estado
norte-americano classificava o líder palestino como “terrorista" e
oferecia uma recompensa de US$ 5 milhões por informações sobre ele.
·
Reação do Hamas
A morte de al-Arouri levou o principal líder do
Hamas, Ismail Haniyeh, a fazer um pronunciamento, no qual disse que “um
movimento cujos líderes e fundadores caem como mártires pela dignidade do nosso
povo e da nossa nação nunca será derrotado”.
Haniyeh também ressaltou que considera o ataque que
matou o al-Arouri como uma ação realizada por Israel, que esta configura “uma
violação da soberania do Líbano” e que deve resultar em uma
“expansão regional” da guerra em curso na Faixa de Gaza.
Nesta quarta-feira, as cidades de Nablus e Ramallah
registraram manifestações recordando o falecido líder do Hamas, atendendo a um
apelo da Autoridade Palestina.
O jornal libanês L’Orient Le Jour noticiou
que em Arura, uma pequena aldeia ao norte de Ramallah, de onde Saleh al-Arouri
era natural, a bandeira verde do Hamas tremulou acima da casa da família.
·
Risco de expansão do conflito
Um comunicado difundido pelo Hezbollah noite de
terça-feira, horas depois do assassinato de al-Arouri, afirma que o grupo xiita
libanês considera que a ação foi “uma agressão grave contra o Líbano” e também
“uma séria escalada na guerra entre o inimigo e o ‘eixo de resistência’”.
A expressão “eixo de resistência” costuma ser usada
pelo Hezbollah para designar a aliança que reúne o próprio grupo, o Irã e
outros movimentos regionais que lutam contra as ações de Israel.
“Este crime não ficará sem resposta nem impune”,
acrescentou o comunicado.
Segundo a imprensa libanesa, o secretário-geral do
Hezbollah, Hassan Nasrallah, deve difundir um discurso na noite desta
quarta-feira, com uma posição mais clara do grupo sobre a morte de al-Arouri e
suas consequências.
Ø Israel
cogita advogado de escândalos sexuais para defesa contra denúncia de genocídio
na Corte de Haia
O premiê israelense Benjamin Netanyahu está
cogitando a contratação do advogado norte-americano Alan Dershowitz para
realizar a defesa de Tel Aviv na Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia,
diante da denúncia
apresentada pela África do Sul por possível crime de genocídio
contra os palestinos residentes em Gaza.
A informação sobre a sondagem a Dershowitz foi
divulgada pelo jornalista israelense Barak Ravid em suas redes sociais.
“Autoridades israelenses dizem que Netanyahu quer
que Alan Dershowitz represente Israel na audiência da CIJ, na próxima semana
sobre a acusação da África do Sul de estar conduzindo um genocídio em Gaza.
Liguei para o Alan, que não negou e disse: ‘não posso comentar sobre isso neste
momento’”, afirma a publicação de Ravid, que também é analista da rede de
notícias norte-americana CNN.
Caso aceite o convite, o jurista terá que enfrentar
a afirmação de Pretória de que Tel Aviv violou suas obrigações com a Convenção
para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio. O processo pede a
condenação do governo israelense e a suspensão das operações militares na Faixa
de Gaza.
Advogado de Trump e criminosos sexuais
Professor aposentado da Faculdade de Direito de
Harvard, Alan Dershowitz, é conhecido por ser um contumaz defensor do regime
sionista em Israel, sendo autor de diversos livros e também de artigos
publicados sobre o tema na imprensa norte-americana.
Porém, como advogado, seus casos mais notórios nos
últimos anos foram como defensor de criminosos sexuais condenados pela Justiça
dos Estados Unidos.
Em um dos seus trabalhos mais emblemáticos, o
advogado atuou a favor do megaespeculador
Jeffrey Epstein, condenado em 2008 por ter criado uma rede de prostituição de menores
de idade.
Anos depois, Dershowitz defendeu o produtor de
cinema Harvey Weinstein, sentenciado em 2017 por assédio sexual contra
dezenas de atrizes de Hollywood – em três casos, também foi considerado culpado
de estupro –, incluindo nomes como Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Mira
Sorvino, Rosanna Arquette, Cara Delevingne, Ashley Judd e Heather Graham, entre
outras.
O último caso de grande repercussão no qual o
defensor atuou o processo de impeachment de Donald Trump, em 2020, no qual ele
foi bem sucedido: o Senado
norte-americano considerou improcedente a denúncia de
que o ex-presidente teria solicitado ajuda da Ucrânia para interferir na
eleição presidencial daquele ano para favorecer sua candidatura à reeleição.
Ø Crise do
mar Vermelho é um reflexo direto da violência em Gaza, diz enviado russo à ONU
O Conselho de Segurança da ONU realizou uma reunião
sobre a escalada no mar Vermelho em meio às hostilidades em curso na Faixa de
Gaza. O representante permanente da Rússia nas Nações Unidas, Vasily Nebenzya,
culpou os EUA por fecharem os olhos às operações israelenses e questionou a
legitimidade de suas ações.
Os acontecimentos no mar Vermelho são um reflexo
direto da violência na Faixa de Gaza, disse o enviado da Rússia às Nações
Unidas, Vasily Nebenzya, durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU
(CSNU).
"O problema da liberdade de navegação no mar
Vermelho e no golfo de Áden está evoluindo de uma forma drástica, não no vácuo.
Penso que nenhum dos nossos colegas negará que os acontecimentos no mar
Vermelho são o reflexo direto da violência em Gaza, onde a feroz operação de
Israel já dura há três meses", disse Nebenzya.
O enviado explicou que os EUA apoiam as ações
israelenses e impedem uma resolução de cessar-fogo – uma posição que agrava as
hostilidades.
"Não é segredo que a região do Oriente Médio
está extremamente desiludida com o fato de os EUA, que apoiam constantemente a
ação israelense, manterem como reféns outros membros do Conselho de Segurança e
impedirem a adoção de uma resolução que exigiria um cessar-fogo imediato.
Repetidamente, usando o poder de veto, Washington mina todos os esforços para
fornecer ajuda humanitária aos palestinos", sublinhou Nebenzya.
Ele lamentou que as resoluções do CSNU sobre a
crise no Oriente Médio e a Palestina, adotadas desde o início das hostilidades,
permaneçam de fato não implementadas devido às ações dos EUA.
O diplomata russo explicou que a política de
Washington provoca indignação no Oriente Médio, que por vezes se manifesta de
forma violenta, referindo-se às ações de Ansar Allah no mar Vermelho.
"Torna-se mais difícil para os governos do
Oriente Médio gerir o sentimento público e, no caso em que intervenientes não
estatais sobem ao palco, torna-se quase impossível", disse Nebenzya.
·
Legitimidade da coalizão do mar Vermelho é questionável
A legitimidade das ações da coalizão apoiada pelos
EUA no mar Vermelho levantou dúvidas do ponto de vista do direito
internacional, disse Nebenzya.
Ele sublinhou que "apesar de um nome
pretensioso", a coalizão marítima internacional "consiste
maioritariamente em navios de guerra dos EUA e a legitimidade das suas ações em
termos do direito internacional levanta sérias dúvidas".
"É por isso que o nosso trabalho de hoje não é
apenas confirmar a mensagem coletiva ao Ansar Allah, que foi acordada em 1º de
dezembro, sobre a inadmissibilidade das suas ações, mas também dar água fria
aos 'cabeças quentes' em Washington que olham para outro conflito no Oriente
Médio como parte do seu próprio jogo geopolítico", destacou Nebenzya.
·
Rússia condena ataques a navios civis e insta houthis a mostrar
moderação
Os líderes do movimento Ansar Allah deveriam parar
de ameaçar os navios comerciais no mar Vermelho e no golfo de Áden, sublinhou o
enviado russo na ONU.
Nebenzya explicou que a crise do mar Vermelho
preocupa seriamente Moscou, uma vez que as rotas comerciais na região são
vitais para o comércio internacional e para a estabilidade da economia global.
"A navegação livre e segura na região é uma
pedra angular dos embarques sustentáveis de cargas comerciais e humanitárias.
Condenamos veementemente os ataques a embarcações civis que ameaçam não só a
liberdade e segurança da navegação, mas também a vida e a saúde dos
tripulantes", sublinhou o diplomata russo.
Ele acrescentou que a Rússia "exige a
libertação imediata da embarcação Galaxy Leader e da sua tripulação",
acrescentando que os líderes houthis devem exercer moderação e se comportar de
forma responsável.
Em meados de novembro, o movimento xiita Ansar
Allah avisou que atacaria quaisquer navios no mar Vermelho relacionados com
Israel. Em 19 de novembro, combatentes houthis apreenderam o navio Galaxy
Leader e sua tripulação. Em resposta, os EUA — juntamente com outros países —
declararam o início de uma operação naval supostamente destinada a proteger a
navegação no mar Vermelho.
Fonte: Opera Mundi/Sputnik Brasil
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