sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Mais de 85% da população total de Gaza está deslocada, diz ONU

A Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (Acnur) divulgou nesta quinta-feira (04/01) que, desde a intensificação dos ataques israelenses contra o povo palestino, em 7 de outubro, mais de 1.9 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar internamente em busca de segurança. O número corresponde a mais de 85% da população total da Faixa de Gaza.

Ainda de acordo com a organização, quase 1.4 milhões de pessoas nesta condição estão abrigadas em 155 instalações da própria agência, espalhadas por cinco províncias da região.

Rafah é uma delas, e é a que se tornou o principal refúgio para os deslocados, concentrando mais de um milhão de palestinos. A área recebeu um número massivo de refugiados principalmente após a intensificação das operações militares israelenses em Khan Younis e Deir al Balah.

‘A lei internacional proíbe transferência forçada’

Nesta quinta-feira (04/01), a agência da ONU para Direitos Humanos comunicou o repúdio do alto comissário do órgão, Volker Türk, que afirmou estar “perturbado pelas declarações de altos funcionários israelenses sobre os planos de deslocamento de civis de Gaza para países terceiros”, mencionando que a “lei internacional proíbe a transferência forçada”:

Isso porque no domingo (31/12), o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, e o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, deram declarações que chegaram a ser condenadas pela comunidade internacional, incluindo países ocidentais como Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e França.

Em entrevista ao canal israelense Channel 12, as autoridades do governo de extrema direita de Benjamin Netanyahu expressaram apoio ao que chamaram de “migração voluntária” de palestinos na Faixa de Gaza, orientando os países em torno a acolherem os deslocados.

"Encorajar a migração de centenas de milhares de pessoas de Gaza permitirá que os residentes [israelenses] regressem às suas casas [nos limites de Gaza] e vivam em segurança", disse Ben-Gvir na ocasião.

O número de deslocados internos na região norte de Gaza não é atualizado desde 12 de outubro, segundo a agência de notícias Wafa, uma vez que as restrições de acesso e a falta de segurança no território impedem a contagem por parte das equipes que atuam no local.

Mesmo nesse contexto, as agressões das forças israelenses continuam fazendo centenas de vítimas diariamente.

O Ministério da Saúde de Gaza contebilizou, nesta quinta-feira, ao menos 22.438 palestinos mortos pelos ataques do Estado judeu, enquanto mais de 57.614 se encontram feridos. Ainda segundo a pasta, cerca de 7 mil pessoas estão desaparecidas, muitas delas sob os escombros de estruturas destruídas pelos bombardeios israelenses.

·        Ataque aéreo em Bagdá mata alto oficial de milícia apoiada pelo Irã

Um atentado aéreo em Bagdá, no Iraque, matou nesta quinta-feira (04/01) ao menos três combatentes da milícia Hashd al-Shaabi, que é apoiada pelo Irã, incluindo o alto oficial de operações do grupo Abu Taqwa al-Saidi. Fontes de segurança iraquianas disseram que o ataque também feriu outros seis no leste de Bagdá. 

Segundo o portal iraquiano Iraqi News, nenhum grupo assumiu imediatamente a responsabilidade pelo ataque, mas a Hashd al-Shaabi e o governo do presidente Abdul Latif Rashid acusaram os Estados Unidos ou seus aliados de conduzirem o ataque.

No comunicado do governo iraquiano, o porta-voz do Exército, Yehia Rasool, qualificou o ataque como uma “agressão e violação flagrante da soberania e segurança do Iraque”. “Vemos esta ação como uma perigosa escalada do conflito ao Iraque, divergente do espírito e da missão para a qual a Coligação Global foi estabelecida”, disse.

O ataque atingiu o quartel general da 12ª Brigada da Hashd al-Shaabi, perto do edifício do Ministério do Interior iraquiano. O grupo paramilitar é ligado ao Harakat Hezbollah al-Nujaba.

Autoridades da polícia iraquiana comunicaram que aguardam uma investigação governamental antes de fornecer mais informações sobre quem poderia ter executado o ataque.

Os Estados Unidos lançaram contra-ataques no Iraque em dezembro passado como resposta a um ataque aéreo perpetrado por insurgentes ligados ao Irã que feriu gravemente militares norte-americanos. 

Desde a eclosão da guerra entre Israel e a Palestina, em outubro de 2023, as forças norte-americanas e da coligação internacional no Iraque e na Síria foram atacadas mais de 100 vezes, na maioria por uma combinação de mísseis e drones de ataque unidirecional.

A Opera Mundi, o professor e pesquisador em relações internacionais na PUC-SP Rodrigo Amaral afirmou que o Irã é o principal ator externo que atualmente influencia diretamente na política interna do Iraque. "O Irã tem uma conexão extremamente próxima com alguns partidos políticos xiitas islâmicos no Iraque e a coligação mais ativa são as forças Hashd al-Shaabi, grupo guarda-chuva que contêm mais de 40 partidos com capacidade paramilitar", disse.

Em 2016, o governo do Iraque reconheceu a formalidade desses grupos, incluso a ação paramilitar. Segundo Amaral, as autoridades iraquianas tiveram este posicionamento devido aos combates contra o Estado Islâmico. O Hashd al-Shaabi possui grande popularidade informal e formal no Parlamento do país. 

"30 cadeiras do Parlamento no Iraque são compostas por membros desse grupo", afirmou o especialista. 

·        Israel prepara tropas para encarar possíveis retaliações após ataque que matou número dois do Hamas

O porta-voz das Forças Armadas de Israel (IDF), Daniel Hagari, disse em pronunciamento nesta quarta-feira (03/01) que o país disponibilizou tropas para ficarem de prontidão no caso de que o Hamas realize ações de retaliação pelo assassinato de Saleh al-Arouri.

“Estamos prontos para qualquer cenário”, assegurou Hagari diante de questionamentos acerca se o país está preparado para possível reação do Hamas ao ataque explosivo com drone realizado na terça-feira (02/01) em Beirute, que matou al-Arouri, considerado o número dois do comitê político do movimento de resistência palestina.

Embora Israel não tenha assumido a responsabilidade pelo ataque em Beirute, a importância de al-Arouri como figura de liderança do Hamas é usada como desculpa para justificar os preparativos para uma possível retaliação.

Al-Arouri era o braço direito de Ismail Haniyeh e liderava as ações do Hamas na Cisjordânia. Ele também foi um importante contato com o grupo xiita libanês Hezbollah.

Além disso, o Departamento de Estado norte-americano classificava o líder palestino como “terrorista" e oferecia uma recompensa de US$ 5 milhões por informações sobre ele.

·        Reação do Hamas

A morte de al-Arouri levou o principal líder do Hamas, Ismail Haniyeh, a fazer um pronunciamento, no qual disse que “um movimento cujos líderes e fundadores caem como mártires pela dignidade do nosso povo e da nossa nação nunca será derrotado”.

Haniyeh também ressaltou que considera o ataque que matou o al-Arouri como uma ação realizada por Israel, que esta configura “uma violação da soberania do Líbano” e que deve resultar em uma “expansão regional” da guerra em curso na Faixa de Gaza.

Nesta quarta-feira, as cidades de Nablus e Ramallah registraram manifestações recordando o falecido líder do Hamas, atendendo a um apelo da Autoridade Palestina.

O jornal libanês L’Orient Le Jour noticiou que em Arura, uma pequena aldeia ao norte de Ramallah, de onde Saleh al-Arouri era natural, a bandeira verde do Hamas tremulou acima da casa da família.

·        Risco de expansão do conflito

Um comunicado difundido pelo Hezbollah noite de terça-feira, horas depois do assassinato de al-Arouri, afirma que o grupo xiita libanês considera que a ação foi “uma agressão grave contra o Líbano” e também “uma séria escalada na guerra entre o inimigo e o ‘eixo de resistência’”.

A expressão “eixo de resistência” costuma ser usada pelo Hezbollah para designar a aliança que reúne o próprio grupo, o Irã e outros movimentos regionais que lutam contra as ações de Israel.

“Este crime não ficará sem resposta nem impune”, acrescentou o comunicado.

Segundo a imprensa libanesa, o secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, deve difundir um discurso na noite desta quarta-feira, com uma posição mais clara do grupo sobre a morte de al-Arouri e suas consequências.

 

Ø  Israel cogita advogado de escândalos sexuais para defesa contra denúncia de genocídio na Corte de Haia

 

O premiê israelense Benjamin Netanyahu está cogitando a contratação do advogado norte-americano Alan Dershowitz para realizar a defesa de Tel Aviv na Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, diante da denúncia apresentada pela África do Sul por possível crime de genocídio contra os palestinos residentes em Gaza.

A informação sobre a sondagem a Dershowitz foi divulgada pelo jornalista israelense Barak Ravid em suas redes sociais.

“Autoridades israelenses dizem que Netanyahu quer que Alan Dershowitz represente Israel na audiência da CIJ, na próxima semana sobre a acusação da África do Sul de estar conduzindo um genocídio em Gaza. Liguei para o Alan, que não negou e disse: ‘não posso comentar sobre isso neste momento’”, afirma a publicação de Ravid, que também é analista da rede de notícias norte-americana CNN.

Caso aceite o convite, o jurista terá que enfrentar a afirmação de Pretória de que Tel Aviv violou suas obrigações com a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio. O processo pede a condenação do governo israelense e a suspensão das operações militares na Faixa de Gaza.

Advogado de Trump e criminosos sexuais

Professor aposentado da Faculdade de Direito de Harvard, Alan Dershowitz, é conhecido por ser um contumaz defensor do regime sionista em Israel, sendo autor de diversos livros e também de artigos publicados sobre o tema na imprensa norte-americana.

Porém, como advogado, seus casos mais notórios nos últimos anos foram como defensor de criminosos sexuais condenados pela Justiça dos Estados Unidos.

Em um dos seus trabalhos mais emblemáticos, o advogado atuou a favor do megaespeculador Jeffrey Epstein, condenado em 2008 por ter criado uma rede de prostituição de menores de idade.

Anos depois, Dershowitz defendeu o produtor de cinema Harvey Weinstein, sentenciado em 2017 por assédio sexual contra dezenas de atrizes de Hollywood – em três casos, também foi considerado culpado de estupro –, incluindo nomes como Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Mira Sorvino, Rosanna Arquette, Cara Delevingne, Ashley Judd e Heather Graham, entre outras.

O último caso de grande repercussão no qual o defensor atuou o processo de impeachment de Donald Trump, em 2020, no qual ele foi bem sucedido: o Senado norte-americano considerou improcedente a denúncia de que o ex-presidente teria solicitado ajuda da Ucrânia para interferir na eleição presidencial daquele ano para favorecer sua candidatura à reeleição.

 

Ø  Crise do mar Vermelho é um reflexo direto da violência em Gaza, diz enviado russo à ONU

 

O Conselho de Segurança da ONU realizou uma reunião sobre a escalada no mar Vermelho em meio às hostilidades em curso na Faixa de Gaza. O representante permanente da Rússia nas Nações Unidas, Vasily Nebenzya, culpou os EUA por fecharem os olhos às operações israelenses e questionou a legitimidade de suas ações.

Os acontecimentos no mar Vermelho são um reflexo direto da violência na Faixa de Gaza, disse o enviado da Rússia às Nações Unidas, Vasily Nebenzya, durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU (CSNU).

"O problema da liberdade de navegação no mar Vermelho e no golfo de Áden está evoluindo de uma forma drástica, não no vácuo. Penso que nenhum dos nossos colegas negará que os acontecimentos no mar Vermelho são o reflexo direto da violência em Gaza, onde a feroz operação de Israel já dura há três meses", disse Nebenzya.

O enviado explicou que os EUA apoiam as ações israelenses e impedem uma resolução de cessar-fogo – uma posição que agrava as hostilidades.

"Não é segredo que a região do Oriente Médio está extremamente desiludida com o fato de os EUA, que apoiam constantemente a ação israelense, manterem como reféns outros membros do Conselho de Segurança e impedirem a adoção de uma resolução que exigiria um cessar-fogo imediato. Repetidamente, usando o poder de veto, Washington mina todos os esforços para fornecer ajuda humanitária aos palestinos", sublinhou Nebenzya.

Ele lamentou que as resoluções do CSNU sobre a crise no Oriente Médio e a Palestina, adotadas desde o início das hostilidades, permaneçam de fato não implementadas devido às ações dos EUA.

O diplomata russo explicou que a política de Washington provoca indignação no Oriente Médio, que por vezes se manifesta de forma violenta, referindo-se às ações de Ansar Allah no mar Vermelho.

"Torna-se mais difícil para os governos do Oriente Médio gerir o sentimento público e, no caso em que intervenientes não estatais sobem ao palco, torna-se quase impossível", disse Nebenzya.

·        Legitimidade da coalizão do mar Vermelho é questionável

A legitimidade das ações da coalizão apoiada pelos EUA no mar Vermelho levantou dúvidas do ponto de vista do direito internacional, disse Nebenzya.

Ele sublinhou que "apesar de um nome pretensioso", a coalizão marítima internacional "consiste maioritariamente em navios de guerra dos EUA e a legitimidade das suas ações em termos do direito internacional levanta sérias dúvidas".

"É por isso que o nosso trabalho de hoje não é apenas confirmar a mensagem coletiva ao Ansar Allah, que foi acordada em 1º de dezembro, sobre a inadmissibilidade das suas ações, mas também dar água fria aos 'cabeças quentes' em Washington que olham para outro conflito no Oriente Médio como parte do seu próprio jogo geopolítico", destacou Nebenzya.

·        Rússia condena ataques a navios civis e insta houthis a mostrar moderação

Os líderes do movimento Ansar Allah deveriam parar de ameaçar os navios comerciais no mar Vermelho e no golfo de Áden, sublinhou o enviado russo na ONU.

Nebenzya explicou que a crise do mar Vermelho preocupa seriamente Moscou, uma vez que as rotas comerciais na região são vitais para o comércio internacional e para a estabilidade da economia global.

"A navegação livre e segura na região é uma pedra angular dos embarques sustentáveis de cargas comerciais e humanitárias. Condenamos veementemente os ataques a embarcações civis que ameaçam não só a liberdade e segurança da navegação, mas também a vida e a saúde dos tripulantes", sublinhou o diplomata russo.

Ele acrescentou que a Rússia "exige a libertação imediata da embarcação Galaxy Leader e da sua tripulação", acrescentando que os líderes houthis devem exercer moderação e se comportar de forma responsável.

Em meados de novembro, o movimento xiita Ansar Allah avisou que atacaria quaisquer navios no mar Vermelho relacionados com Israel. Em 19 de novembro, combatentes houthis apreenderam o navio Galaxy Leader e sua tripulação. Em resposta, os EUA — juntamente com outros países — declararam o início de uma operação naval supostamente destinada a proteger a navegação no mar Vermelho.

 

Fonte: Opera Mundi/Sputnik Brasil

 

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