sábado, 27 de janeiro de 2024

Gustavo Petro diz que capitalismo é 'responsável' por construir muros e lançar bombas

O discurso com as mais fortes críticas ao sistema capitalista entre os chefes de Estado que se apresentaram no Fórum Econômico Mundial, na cidade suíça de Davos, foi, sem nenhuma dúvida, o do presidente da Colômbia, Gustavo Petro.

Participante do painel “Enfrentando o Cisma Norte-Sul”, o presidente colombiano utilizou a expressão “policrise” para definir o atual cenário geopolítico, atormentado por diversos conflitos regionais e desafios de grande complexidade – citando como exemplos a crise climática, a pandemia de covid e o brutal aumento da desigualdade de renda –, e deu a entender que considera o sistema capitalista como principal responsável por esses problemas.

Petro descreveu o sistema econômico atual como um “capitalismo de fortaleza, que constrói muros e lança bombas” e utilizou o conflito em Gaza como exemplo para essa analogia.

“Estamos em um mundo pior, pois passamos da guerra ao genocídio, passamos a bombardear crianças”, criticou o presidente colombiano, numa alusão ao massacre dos palestinos em Gaza, vítimas da ofensiva militar de Israel, que já matou mais de 24 mil civis, entre os quais pelo menos 10 mil são crianças, segundo entidades defensoras dos direitos humanos que atuam no território.

Em seguida, Petro mencionou os países do Ocidente como responsáveis por essa transição “da guerra ao genocídio”, ao afirmar que “a Europa e os Estados Unidos votaram contra uma política para resolver o problema dos palestinos”. Efetivamente, Washington vetou ao menos duas resoluções no Conselho de Segurança da ONU que propunham um cessar-fogo em Gaza.

·        Importância do Sul Global

O Conselho de Segurança, principal entidade da Organização das Nações Unidas, também foi alvo dos questionamentos de Petro, por “manter uma estrutura que evidencia uma separação política entre o Ocidente e o Sul Global”.

Nesse sentido, o mandatário colombiano criticou o uso do termo “cooperação” por parte de autoridades europeias e norte-americanas, por considerar que ele “parte do conceito de um norte muito rico e um sul muito pobre, que recebe esmolas do norte em forma de ajuda”.

Para defender essa tese, Petro enfatizou a questão da crise climática e os US$ 100 bilhões investidos anualmente desde 2020 para ajudar as economias emergentes a enfrentar as consequências das alterações no clima do planeta, valor estipulado pelo Acordo de Paris, em 2015. “Esse valor já não significa nada. O montante necessário a cada ano é 30 vezes maior e isso implica uma mudança no sistema financeiro global”, acrescentou o líder colombiano.

“A Colômbia paga um prêmio porque é considerada uma economia arriscada, como o Brasil, o Equador, a Venezuela, como todos os países da floresta amazônica. O que é arriscado hoje não são os países que têm a floresta amazônica, são os países do norte”, insistiu Petro.

O mandatário aproveitou para repudiar “este conceito de cooperação que se choca com a realidade da crise civilizatória global. O Sul Global tem uma importância essencial para o processo de transformação econômica e tecnológica que os próprios países do norte precisam enfrentar para sustentar a vida no planeta e superar os desafios da crise climática”.

·        Crise civilizatória

Ao concluir seu discurso, Petro reforçou sua visão sobre o cenário mundial atual, desta vez caracterizando-o como uma “crise civilizatória” e defendendo uma reestruturação dos sistemas globais de representação entre os países.

“[As tragédias climáticas] serão um ponto de inflexão para a humanidade, por dependendo de como as enfrentaremos, podemos nos encaminhar para um novo pacto democrático, ou para a barbárie”.

No mesmo painel em que Petro esteve presente também discursaram o primeiro-ministro dos Países Baixos, Mark Rutte, o presidente de Ruanda, Paul Kagame, e o cofundador da Microsoft, Bill Gates.

 

Ø  Em Davos, Javier Milei diz ver mundo atual ‘mais pacífico graças ao capitalismo’

 

Uma suposta “ameaça socialista” foi o elemento central do discurso de Javier Milei no Fórum Econômico Social. Em tom alarmista, o presidente argentino afirmou no evento realizado em Davos na Suíça, ser o “o guardião dos valores ocidentais", e afirmou categoricamente que “o Ocidente está em perigo”.

“Aqueles que supostamente deveriam defender os valores ocidentais” trabalham com “uma visão do mundo que conduz ao socialismo e à pobreza”, declarou Milei, direcionando suas palavras aos principais líderes da comunidade internacional, incluindo representantes das maiores potências globais. 

Antes mesmo de sua chegada à Suíça, o portal argentino Infobae havia revelado que o chefe de Estado chegou a classificar a cúpula como um espaço “contaminado pela agenda socialista de 2030” e que, portanto, pretendia "plantar ideais de liberdade".

A declaração ignora o fato de que o evento reúne as maiores autoridades do mundo capitalista e donos de algumas das maiores empresas privadas do planeta.  

·        Elogios ao capitalismo, críticas ao socialismo

O pronunciamento de Milei foi marcado por fortes ataques a políticas defendidas por setores progressistas – aos que ele se refere como “coletivistas” – e pelo repúdio à participação do Estado na economia, ao mesmo tempo em que exagerava em elogios ao livre mercado e ao que ele chama de “modelo libertário”.

Porém, a defesa desse conceito causou certa polêmica após o mandatário sul-americano dizer que “quando a Argentina adotou o modelo libertário em 1860, tornou-se a primeira potência mundial”.

Milei seguiu com seu discurso culpando as “ideias do coletivismo” como supostas responsáveis pelo empobrecimento e consequente crise econômica em seu país. Além disso, acusou os líderes do Ocidente de “ceder às visões de socialismo e abandonar o modelo de liberdade”.

Outro momento que gerou controvérsia foi quando o líder argentino disse considerar o mundo atual “mais pacífico”, enaltecendo o capitalismo como responsável por essa suposta façanha.

“Graças ao capitalismo de livre mercado, o mundo está no seu melhor [momento]: é mais livre, mais rico, mais pacífico e mais próspero do que em qualquer momento da história”, declarou o ultradireitista.

·        Valores contra justiça social e feminismo

Alvo de massivos protestos nas principais ruas da Argentina, mesmo tendo apenas 38 dias de mandato, Milei também criticou o conceito de justiça social, alegando que a ideia não contribui para o bem-estar das pessoas, e a qualificou como “intrinsecamente injusta porque é violenta e leva o Estado a se financiar por meio de impostos, ou seja, por meio da coação”.

As críticas à justiça social logo foram emendadas com ataques ao aborto e o “feminismo radical”, classificado como “ridículo e antinatural” pelo presidente argentino. 

Ao concluir seu discurso, Milei pediu às autoridades participantes do Fórum de Davos que “não se deixem intimidar pela casta política ou pelos parasitas que vivem do Estado”, e chamou de “heróis” os representantes das multinacionais mais ricas do mundo, presentes no evento.

 

Ø  Chanceler do Equador atribuiu aumento da criminalidade à 'falta de oportunidades' para sociedade

 

A ministra das Relações Exteriores do Equador, Gabriela Sommerfeld, discursou no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, destacando os problemas ligados à crise da criminalidade que atravessa seu país.

Segundo ela, a insegurança afetou a população civil, razão pela qual “o país ficou paralisado pelo medo e pela falta de oportunidades".

Sommerfeld abordou a crise social enfrentada por grande parte da população equatoriana, com apenas sete em cada dez pessoas com pleno emprego e poucas oportunidades de trabalho para os jovens. 

Neste contexto socioeconômico, a chanceler argumentou que os índices de criminalidade aumentaram “tremendamente” na sociedade, o que “ enfraqueceu todas as instituições que têm a ver com a segurança e o sistema de Justiça". 

Sommerfeld destacou que 40 mil empresas equatorianas fecharam em 2022 e apontou para o problema das chamadas 'vacunas', pagamentos exigidos pelo crime organizado para os pequenos empresários se manterem ativos.

"O primeiro gerador de trabalho são os pequenos negócios. Se estamos a afetando a base produtiva, o que podemos esperar? Obviamente que cada vez mais pessoas se juntem a este crime organizado", concluiu a ministra nomeada pelo presidente equatoriano, Daniel Noboa. 

A chefe das Relações Exteriores contou como o governo, em conjunto com o Ministério Público, lançou uma operação em dezembro passado que levou a “muitos movimentos violentos profundos".

Sommerfeld fez referência ao decreto emitido por Noboa em 8 de janeiro, estabelecendo o Estado de emergência no país, e em sequência, o segundo decreto, de 9 de janeiro, reconhecendo um conflito armado e identificando "22 grupos terroristas" no país, segundo ela. 

Em final de seu discurso, Sommerfeld agradeceu o apoio internacional enviado ao Equador, afirmando que esses problemas "não correspondem apenas ao nosso país, porque o crime organizado é alimentado pelo tráfico de drogas e pela mineração ilegal”, sublinhou.

 

Ø  Nísia Trindade defende fórmula global para combater pandemias

 

O enfrentamento a pandemias deve contar com áreas de atuação que vão além da saúde, envolvendo também o ambiente político, de forma a dar celeridade às medidas emergenciais. É também fundamental que esse enfrentamento seja feito de forma compartilhada entre países, inclusive para viabilizar a criação de sistemas de proteção social e complexos industriais que viabilizem a fabricação de insumos em quantidade suficiente para abastecer países com menor poderio econômico.

Essas foram as medidas defendidas pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, em Davos, na Suíça, em uma mesa de debates sobre como o mundo deve se preparar para lidar com futuras pandemias. A ministra participa do 54º Fórum Econômico Mundial.

·        Resposta política

Nísia Trindade disse que, antes de tudo, é necessário fortalecer o setor de saúde, mas que essa medida deve vir acompanhada da inclusão de outros setores internos e externos aos países. “Além de fatores ligados à organização das condições estruturais visando um sistema de saúde resiliente, há [um fator] que é o do tempo da resposta política. Isso tanto a nível Nacional quanto em uma situação de pandemia em nível global”, disse.

Ela explicou que, no caso específico do Brasil, o governo que enfrentou a pandemia de covid-19 apresentou uma resposta muito negativa, diante da capacidade do sistema de saúde. “O país falhou na resposta a essa pandemia, apresentando, entre outros indicadores, 11% das mortes por covid [do mundo], tendo uma população que representa cerca de 4% [da população global]”, argumentou.

·        Desenvolvimento

Tendo por base a experiência – positiva e negativa – brasileira, Nísia sugeriu algumas medidas a serem adotadas em situações de pandemia como a da covid-19. A primeira delas, investimento em ciência, tecnologia e inovação.

Segundo a ministra, é também necessário reduzir as desigualdades entre os países, especialmente no que se refere ao desenvolvimento e produção de vacinas, medicamentos, testes e diagnósticos. “Por essa razão, estamos propondo, no âmbito do G20, uma aliança no sentido de que se incentiva essa produção em nível local e regional”.

·        Complexo industrial

A ministra da Saúde defendeu estratégias nacionais que se expandam a um debate de saúde global visando a constituição de um “complexo econômico industrial de saúde que permita organizar essa produção de insumos e reduzir a desigualdade, fortalecendo os sistemas nacionais, especialmente nos países de baixa renda, de média renda e também países em desenvolvimento”.

As discussões visando tais instrumentos de combate a pandemias devem ser adotados no âmbito da Organização Mundial de Saúde (OMS).

“É muito importante que haja uma visão integrada da vigilância de possíveis novos surtos e novas epidemias com potencial pandêmico. Essa vigilância deve ser vista de forma integral, iniciando na atenção primária à saúde mas também fortalecendo os centros de inteligência epidemiológica no país, para que essa vigilância possa ser melhor orientada”, acrescentou.

Essas agendas devem, ainda, incluir sistemas de proteção social. “Esses sistemas são fundamentais em tempos de crise, como o que vivemos recentemente”, argumentou. “Tudo feito a partir de evidências científicas”, complementou.

 

Ø  Mais que preço, mundo precisa debater valor da natureza, diz Marina Silva

 

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou, nesta quarta-feira (17/01), que não há como “precificar” os serviços prestados pela natureza, tamanho o valor que ela tem para o planeta e para os seres humanos.

A declaração referia-se à tentativa do 54º Fórum Econômico Mundial de mensurar, em termos financeiros, “serviços ecossistêmicos incalculáveis”, ao convidar a ministra para participar da mesa de debates Colocando um Preço na Natureza. O evento está sendo realizado em Davos, na Suíça.

“Tem um exemplo que eu gosto de citar: a Amazônia produz 20 bilhões de toneladas de água por dia. A floresta usa 50% dessa água e 50% são dispensados na atmosfera, que é responsável pelo nosso regime de chuvas, ao qual está relacionado 75% do PIB [Produto Interno Bruto] da América do Sul. Se fôssemos bombear essa água, precisaríamos de 50 mil usinas de Itaipu. Alguém consegue imaginar um investimento como esse, bombeando água ininterruptamente para poder alimentar o nosso regime hidrológico?”, questionou a ministra.

·        Serviço incalculável

“A natureza faz isso utilizando apenas a terra, seus nutrientes, a floresta, o Sol e o vento. É, portanto, um serviço ecossistêmico incalculável”, disse Marina Silva.

A ministra abriu sua participação dizendo ter recebido com estranheza o convite para participar de uma mesa de debates que tentaria “botar um preço na natureza”. Ao refletir sobre o tema, ela concluiu que seria melhor adotar, em vez de “preço”, o termo “valor” para o debate.

“A palavra valor, para mim, remete a algo que vai além daquilo que podemos precificar porque a natureza tem valores que a forma e o estágio em que nos encontramos ainda não conseguem alcançar. A gente só conseguiria precificar algo que pudesse produzir”, acrescentou.

Segundo a ministra, até seria possível chegar a um preço, mas esse cálculo só poderia ser feito após se conseguir “ver o valor” da natureza. “Um valor que [a partir desse olhar] tem preço também. Sobretudo o preço de quem pesquisa; o preço de quem usufrui desses serviços ecossistêmicos e dos conhecimentos milenares daqueles que têm conhecimentos associados a esses recursos. Que esse debate seja constante nesse olhar para a natureza.”

Marina Silva disse ainda que o Brasil trabalhará, em uma força-tarefa do G20 (grupo formado pelas 20 maiores economias do planeta), a ideia de pagamentos para os serviços ecossistêmicos, de forma a preservá-los para o bem do planeta.

 

Fonte: Opera Mundi

 

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