quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Governo Lula e os desafios de 2024

Em 2023, no que diz respeito à economia, o primeiro ano de governo do presidente Lula conseguiu se sair muito bem. Os índices de inflação e desemprego caíram para níveis mais baixos nos últimos anos, com a inflação acumulada em 12 meses caindo para 7,5% e o desemprego caindo para 8%.

Essa leva de bons resultados econômicos ao longo de 2023 é mostrada também nas diversas revisões que foram realizadas nas previsões sobre Produto Interno Bruto (PIB). O relatório Focus (uma espécie de carta do mercado com torcidas e pouca análise técnica) divulgado semanalmente pelo Banco Central, no começo do ano, indicava um crescimento inferior a 1%. Agora as previsões já chegam em 3%.

O governo não mediu esforços e levou à ferro e fogo um pacote de medidas econômicas e fiscais, que, apesar do Congresso Nacional, foi aprovada.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), seguiu à risca as orientações e diretrizes do presidente que tinha a economia como prioridade zero, o que pode ter “prejudicado” outros setores do governo.

Um exemplo disso é a comunicação do governo que, até o momento, não conseguiu fazer com que os bons resultados da economia chegassem à população como um todo. O governo também passou quase todo o ano passado com dificuldades e ruídos na comunicação. De ministros e membros do governo falando demais, passando até mesmo por não saberem o que falar.

Sobre isso, conversei com o doutor em antropologia e podcaster Orlando Calheiros, que fez a seguinte observação sobre as dificuldades do governo em se comunicar:

“A incapacidade do governo de promover a sua agenda positiva é, de fato, um dos principais fatores, mas é importante salientar também como o ecossistema da direita continua forte e atuante, assuntos como corrupção e segurança pública (pontos fortes desse ecossistema) continuam influenciando a opinião pública.”

Outro reflexo disso é a defesa da democracia que acabou ficando escanteada, em prol da governabilidade. Com um Congresso hostil às políticas públicas e uma parcela considerável da população simpática às teses extremistas, o governo realmente não tinha muita margem, porém, optou não deixar a discussão de lado e deixou um legado muito ruim, por enquanto.

Um destes legados é a PEC do faz-de-conta: a Proposta de Emenda à Constituição 42/2023, visa proibir militares na ativa de se candidatarem em eleições e, embora ainda não tenha sido aprovada na Câmara dos Deputados (apenas no Senado), já conta com uma série de “poréns” vindos do próprio governo para sufocar outras iniciativas mais “incisivas” de livrar o Brasil da ameaça verde-oliva que rotineiramente ameaça a República.

A nomeação do próprio José Múcio Medeiros para o Ministério da Defesa e as contenções que o governo fez na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o 8 de janeiro, além do fortalecimento dos militares no sistema de inteligência brasileiro, reforçam o pacote de ações do governo que não fortalecem em nada a democracia.

Com isso, não é muito difícil afirmar que o governo precisará, ao longo deste ano, se concentrar na sua comunicação e, mais à esquerda, fortalecer a democracia.

Não é cabível que, ainda hoje, sempre que um candidato mais à esquerda desponta nas eleições presidenciais, o fantasma do golpe e a série de ameaças anônimas de militares sejam pauta em disputas eleitorais. Queira ou não, isso prejudica também a economia, já que isso enfraquece governos progressistas e, com um Congresso hipertrofiado como o atual, acabe criando uma espécie de parlamentarismo informal.

Já do lado da comunicação, se partidos como o PL e outros do centrão lotarem as prefeituras de boa parte do país e principalmente nas capitais, isso enfraquecerá ainda mais o governo que ficará ainda mais de joelhos ao legislativo.

Se o governo não conseguir se comunicar bem, dificilmente conseguirá fortalecer os seus candidatos. Mais do que arranjar cizânias com o ministro Haddad por conta do novo regime fiscal, alguns membros do Palácio do Planalto deveriam se preocupar com o que fará para fazer as conquistas do governo chegarem do Oiapoque ao Chuí.

Isso vale, inclusive, para outro calcanhar de Aquiles do governo: a segurança pública. Até o momento não está muito tangível para a população em geral o que o governo está fazendo neste tema. Não quer dizer que não esteja fazendo.

 

Ø  Lindbergh rebate Haddad e fala em desafios econômicos no governo Lula

 

Após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), fazer uma cobrança pública ao Partido dos Trabalhadores (PT) em entrevista ao jornal O Globo, destacando os números positivos da economia durante sua gestão, o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) respondeu às afirmações do ministro.

Haddad argumentou que, diante dos indicadores favoráveis, é crucial que o partido reconheça os avanços conquistados.

“Nos cards de Natal, o que aparece é assim: ‘A inflação caiu, o emprego subiu. Viva Lula!’ O meu nome não aparece. Haddad é um austericida”, disse o ministro. Em uma postagem na rede social X (antigo Twitter), Lindbergh reconheceu os méritos da política econômica no primeiro ano do governo Lula, afirmando que “o governo teve muitos acertos””, escreveu o parlamentar.

“No entanto, ele também alertou para a desaceleração do cenário interno em 2024, sem uma PEC da Transição, como ocorreu em 2023, para injetar mais dinheiro na economia e estabelecer uma meta de déficit primário zero”, lembra.

“Não vamos ter mais a PEC da transição em 2024. Em 2023, as despesas cresceram 9% e estimularam a economia. Em 2024, teremos a meta de déficit primário zero, o que vai congelar as despesas, permitindo um crescimento máximo de 0,6%. A preocupação é com o crescimento econômico. Existem sinais claros de uma desaceleração econômica no início deste ano. Optar por uma ‘austeridade fiscal’ pode ter um impacto significativo no crescimento em 2024, com cortes no PAC, no orçamento das universidades, institutos federais, entre outros”, completou.

Além disso, o parlamentar também expressou preocupações com a governabilidade e a popularidade do governo caso suas previsões de desaceleração econômica se concretizem.

“O quadro político não é simples, temos uma extrema direita forte, a democracia ainda precisa ser consolidada, e temos um Congresso que age como se já estivéssemos no semipresidencialismo, retirando atribuições e grande parte do orçamento do controle do Executivo”, ressalta.

“Se a economia desacelerar, essa turma vai querer engolir o governo. O que queremos é a consolidação da democracia e o sucesso do governo Lula”, emenda.

Haddad também propôs um debate interno no PT sobre a sucessão de Lula, e Lindbergh destacou que “para pensarmos em 2026 ou 2030, temos que falar menos de ajuste fiscal e mais de crescimento econômico. Temos que parar de dar tanta atenção aos sábios da Faria Lima e olhar mais para a sabedoria do Lula, que governou ampliando investimentos e melhorando a vida do povo pobre, com um crescimento médio de 4,1% ao ano”.

 

Ø  Merval e sua primeira canalhice intelectual contra Lula em 2024

 

Em um artigo completamente desonesto publicado nesta terça-feira, 2, Merval Pereira, jornalista do Grupo Globo, traçou um paralelo ridículo entre os governos do recém-empossado presidente da Argentina, Javier Milei, e do atual presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Pereira aponta para um uso comum do populismo nas gestões de ambos, apesar das imensas e claras diferenças ideológicas.

O jornalista afirma de forma despudorada que Milei e Lula, cada um a sua maneira, utilizam estratégias para influenciar o Congresso na aprovação de medidas cruciais para seus respectivos governos.

Merval cita uma atuação teatral de Milei, que ameaça com uma revolta popular caso seu projeto ultraliberal denominado de ‘Omnibus’ não seja aprovado e insinua que o governo do presidente Lula adota essa mesma estratégia.

Saindo desse imaginário mergulhado no delírio de Merval, a realidade é que Lula é criticado até mesmo por aliados pelo seu pragmatismo, por vezes exagerado, com um Congresso Nacional majoritariamente conservador e reacionário. O que logicamente não é a mesma situação do atual chefe de estado argentino.

“Os dois, cada um à sua maneira, usam as armas que têm para pressionar o Congresso e obter a aprovação de medidas que consideram indispensáveis para o prosseguimento de seus planos. Embora Milei seja mais histriônico e ameace diretamente o Congresso com uma revolta popular caso não consiga a aprovação de seu ‘Omnibus’, o governo petista não deixa de ser mais agressivo na decisão de enviar ao Congresso uma Medida Provisória decretando justamente o contrário do que os parlamentares acabaram de decidir”, disparou Merval.

O colunista da família Marinho também falou sobre a trajetória política na Argentina, onde diferentes facções do peronismo dominaram a cena, e agora Milei emerge como uma figura “promissora”, prometendo a famigerada “renovação” pela extrema-direita.

Vamos lembrar que o Grupo Globo, onde Merval ainda encontra espaço para escrever suas bobagens, sempre tratou Milei como um “libertário” e não como uma figura carimbada na realidade, ou seja, um fascista de primeira linha.

Voltando ao texto de Merval, ele compara esse “populismo” de Milei com o presidencialismo brasileiro, ressaltado por plebiscitos, e a imagem de Lula como “pai dos pobres” e “salvador da pátria”, repetindo um discurso de estigma e preconceito de uma parte da nossa elite com Lula, uma liderança política com raizes no sindicalismo e nos movimentos populares.

Por fim, o artigo de Merval Pereira encerra com uma visão “crítica” sobre a capacidade de ambos os presidentes enfrentarem resistências no Congresso. Ele sugere que nem Milei nem Lula possuem força suficiente para impor completamente suas vontades, enfatizando os desafios enfrentados pelos governos na América do Sul.

“Nem Milei parece ter mais força para impor suas vontades a uma população assustada — incapaz de entender que a motosserra cortaria também sua carne —, nem Lula tem condições de impor ao Congresso uma humilhação como a que propôs, restabelecendo o veto em matéria já decidida pelos parlamentares”.

Patético!

 

Ø  Estadão começa 2024 com um show de viralatismo contra o governo Lula e a indústria nacional

 

No primeiro dia de 2024, o Estadão publicou um editorial falando sobre supostas e crescentes preocupações em relação as políticas de conteúdo nacional da Petrobrás e sua influência na reindustrialização do Brasil no terceiro governo do presidente Lula.

O periódico afirma que em dezembro o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) optou por elevar significativamente os requisitos de conteúdo local para o fornecimento de equipamentos destinados a exploração e produção de petróleo no país. Logicamente, o jornal provinciano se opõe a qualquer prática de protecionismo da nossa indústria, por mais básica que seja.

De acordo com as mudanças anunciadas, o requisito de conteúdo local passou de 18% para 30% na fase de exploração, que abrange a pesquisa de reservas, e de 25% para 30% na etapa subsequente, conhecida como desenvolvimento da produção.

Essa medida visa fomentar a indústria nacional, promovendo a fabricação de equipamentos dentro do país, gerando empregos com melhores salários para a mão de obra nacional.

Além disso, o editorial viralatista do Estadão põe em dúvidas a capacidade da indústria nacional de atender a essa nova demanda em tempo hábil para suportar as operações de exploração e extração de petróleo. O texto afirma, de forma maliciosa e desonesta, que a decisão do CNPE pode ser vista como apressada e autoritária, questionando a capacidade e o nível aprendizagem da nossa indústria.

Por fim, o jornal que sempre defendeu o conservadorismo e o status quo na economia, sem qualquer tipo de compromisso com o debate popular, chegou a falar da “importância” de um debate aberto sobre as implicações dessas políticas para o setor energético do país e para a indústria nacional como um todo, pois segundo o editorial, a necessidade de uma abordagem “equilibrada” que leve em consideração as capacidades reais da indústria brasileira.

 

Fonte: O Cafezinho

 

Nenhum comentário: