Governo Lula e os desafios de 2024
Em 2023, no que diz respeito à economia, o primeiro
ano de governo do presidente Lula conseguiu se sair muito bem. Os índices de
inflação e desemprego caíram para níveis mais baixos nos últimos anos, com a
inflação acumulada em 12 meses caindo para 7,5% e o desemprego caindo para 8%.
Essa leva de bons resultados econômicos ao longo de
2023 é mostrada também nas diversas revisões que foram realizadas nas previsões
sobre Produto Interno Bruto (PIB). O relatório Focus (uma espécie de carta do
mercado com torcidas e pouca análise técnica) divulgado semanalmente pelo Banco
Central, no começo do ano, indicava um crescimento inferior a 1%. Agora as
previsões já chegam em 3%.
O governo não mediu esforços e levou à ferro e fogo
um pacote de medidas econômicas e fiscais, que, apesar do Congresso Nacional,
foi aprovada.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), seguiu
à risca as orientações e diretrizes do presidente que tinha a economia como
prioridade zero, o que pode ter “prejudicado” outros setores do governo.
Um exemplo disso é a comunicação do governo que,
até o momento, não conseguiu fazer com que os bons resultados da economia
chegassem à população como um todo. O governo também passou quase todo o ano
passado com dificuldades e ruídos na comunicação. De ministros e membros do
governo falando demais, passando até mesmo por não saberem o que falar.
Sobre isso, conversei com o doutor em antropologia
e podcaster Orlando Calheiros, que fez a seguinte observação sobre as
dificuldades do governo em se comunicar:
“A incapacidade do governo de promover
a sua agenda positiva é, de fato, um dos principais fatores, mas é importante
salientar também como o ecossistema da direita continua forte e atuante,
assuntos como corrupção e segurança pública (pontos fortes desse ecossistema)
continuam influenciando a opinião pública.”
Outro reflexo disso é a defesa da democracia que
acabou ficando escanteada, em prol da governabilidade. Com um Congresso hostil
às políticas públicas e uma parcela considerável da população simpática às
teses extremistas, o governo realmente não tinha muita margem, porém, optou não
deixar a discussão de lado e deixou um legado muito ruim, por enquanto.
Um destes legados é a PEC do faz-de-conta: a
Proposta de Emenda à Constituição 42/2023, visa proibir militares na ativa de
se candidatarem em eleições e, embora ainda não tenha sido aprovada na Câmara
dos Deputados (apenas no Senado), já conta com uma série de “poréns” vindos do
próprio governo para sufocar outras iniciativas mais “incisivas” de livrar o
Brasil da ameaça verde-oliva que rotineiramente ameaça a República.
A nomeação do próprio José Múcio Medeiros para o
Ministério da Defesa e as contenções que o governo fez na Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito (CPMI) sobre o 8 de janeiro, além do fortalecimento dos
militares no sistema de inteligência brasileiro, reforçam o pacote de ações do
governo que não fortalecem em nada a democracia.
Com isso, não é muito difícil afirmar que o governo
precisará, ao longo deste ano, se concentrar na sua comunicação e, mais à
esquerda, fortalecer a democracia.
Não é cabível que, ainda hoje, sempre que um
candidato mais à esquerda desponta nas eleições presidenciais, o fantasma do
golpe e a série de ameaças anônimas de militares sejam pauta em disputas
eleitorais. Queira ou não, isso prejudica também a economia, já que isso
enfraquece governos progressistas e, com um Congresso hipertrofiado como o
atual, acabe criando uma espécie de parlamentarismo informal.
Já do lado da comunicação, se partidos como o PL e
outros do centrão lotarem as prefeituras de boa parte do país e principalmente
nas capitais, isso enfraquecerá ainda mais o governo que ficará ainda mais de
joelhos ao legislativo.
Se o governo não conseguir se comunicar bem,
dificilmente conseguirá fortalecer os seus candidatos. Mais do que arranjar
cizânias com o ministro Haddad por conta do novo regime fiscal, alguns membros
do Palácio do Planalto deveriam se preocupar com o que fará para fazer as
conquistas do governo chegarem do Oiapoque ao Chuí.
Isso vale, inclusive, para outro calcanhar de
Aquiles do governo: a segurança pública. Até o momento não está muito tangível
para a população em geral o que o governo está fazendo neste tema. Não quer
dizer que não esteja fazendo.
Ø Lindbergh
rebate Haddad e fala em desafios econômicos no governo Lula
Após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT),
fazer uma cobrança pública ao Partido dos Trabalhadores (PT) em entrevista ao
jornal O Globo, destacando os números positivos da economia durante sua gestão,
o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) respondeu às afirmações do
ministro.
Haddad argumentou que, diante dos indicadores
favoráveis, é crucial que o partido reconheça os avanços conquistados.
“Nos cards de Natal, o que aparece é assim: ‘A
inflação caiu, o emprego subiu. Viva Lula!’ O meu nome não aparece. Haddad é um
austericida”, disse o ministro. Em uma postagem na rede social X (antigo
Twitter), Lindbergh reconheceu os méritos da política econômica no primeiro ano
do governo Lula, afirmando que “o governo teve muitos acertos””, escreveu o
parlamentar.
“No entanto, ele também alertou para a
desaceleração do cenário interno em 2024, sem uma PEC da Transição, como
ocorreu em 2023, para injetar mais dinheiro na economia e estabelecer uma meta
de déficit primário zero”, lembra.
“Não vamos ter mais a PEC da transição em 2024. Em
2023, as despesas cresceram 9% e estimularam a economia. Em 2024, teremos a
meta de déficit primário zero, o que vai congelar as despesas, permitindo um
crescimento máximo de 0,6%. A preocupação é com o crescimento econômico.
Existem sinais claros de uma desaceleração econômica no início deste ano. Optar
por uma ‘austeridade fiscal’ pode ter um impacto significativo no crescimento
em 2024, com cortes no PAC, no orçamento das universidades, institutos federais,
entre outros”, completou.
Além disso, o parlamentar também expressou
preocupações com a governabilidade e a popularidade do governo caso suas
previsões de desaceleração econômica se concretizem.
“O quadro político não é simples, temos uma extrema
direita forte, a democracia ainda precisa ser consolidada, e temos um Congresso
que age como se já estivéssemos no semipresidencialismo, retirando atribuições
e grande parte do orçamento do controle do Executivo”, ressalta.
“Se a economia desacelerar, essa turma vai querer
engolir o governo. O que queremos é a consolidação da democracia e o sucesso do
governo Lula”, emenda.
Haddad também propôs um debate interno no PT sobre
a sucessão de Lula, e Lindbergh destacou que “para pensarmos em 2026 ou 2030,
temos que falar menos de ajuste fiscal e mais de crescimento econômico. Temos
que parar de dar tanta atenção aos sábios da Faria Lima e olhar mais para a
sabedoria do Lula, que governou ampliando investimentos e melhorando a vida do
povo pobre, com um crescimento médio de 4,1% ao ano”.
Ø Merval e
sua primeira canalhice intelectual contra Lula em 2024
Em um artigo completamente
desonesto publicado nesta terça-feira, 2, Merval Pereira, jornalista do Grupo
Globo, traçou um paralelo ridículo entre os governos do
recém-empossado presidente da Argentina, Javier Milei, e do atual presidente do
Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Pereira aponta para um uso comum do
populismo nas gestões de ambos, apesar das imensas e claras diferenças
ideológicas.
O jornalista afirma de forma despudorada que Milei
e Lula, cada um a sua maneira, utilizam estratégias para influenciar o
Congresso na aprovação de medidas cruciais para seus respectivos governos.
Merval cita uma atuação teatral de Milei, que
ameaça com uma revolta popular caso seu projeto ultraliberal denominado de
‘Omnibus’ não seja aprovado e insinua que o governo do presidente Lula adota
essa mesma estratégia.
Saindo desse imaginário mergulhado no delírio de
Merval, a realidade é que Lula é criticado até mesmo por aliados pelo seu
pragmatismo, por vezes exagerado, com um Congresso Nacional majoritariamente
conservador e reacionário. O que logicamente não é a mesma situação do atual
chefe de estado argentino.
“Os dois, cada um à sua maneira, usam as armas que
têm para pressionar o Congresso e obter a aprovação de medidas que consideram
indispensáveis para o prosseguimento de seus planos. Embora Milei seja mais
histriônico e ameace diretamente o Congresso com uma revolta popular caso não
consiga a aprovação de seu ‘Omnibus’, o governo petista não deixa de ser mais
agressivo na decisão de enviar ao Congresso uma Medida Provisória decretando
justamente o contrário do que os parlamentares acabaram de decidir”, disparou
Merval.
O colunista da família Marinho também falou sobre a
trajetória política na Argentina, onde diferentes facções do peronismo
dominaram a cena, e agora Milei emerge como uma figura “promissora”, prometendo
a famigerada “renovação” pela extrema-direita.
Vamos lembrar que o Grupo Globo, onde Merval ainda
encontra espaço para escrever suas bobagens, sempre tratou Milei como um
“libertário” e não como uma figura carimbada na realidade, ou seja, um fascista
de primeira linha.
Voltando ao texto de Merval, ele compara esse
“populismo” de Milei com o presidencialismo brasileiro, ressaltado por
plebiscitos, e a imagem de Lula como “pai dos pobres” e “salvador da pátria”,
repetindo um discurso de estigma e preconceito de uma parte da nossa elite com
Lula, uma liderança política com raizes no sindicalismo e nos movimentos
populares.
Por fim, o artigo de Merval Pereira encerra com uma
visão “crítica” sobre a capacidade de ambos os presidentes enfrentarem
resistências no Congresso. Ele sugere que nem Milei nem Lula possuem força
suficiente para impor completamente suas vontades, enfatizando os desafios
enfrentados pelos governos na América do Sul.
“Nem Milei parece ter mais força para impor suas
vontades a uma população assustada — incapaz de entender que a motosserra
cortaria também sua carne —, nem Lula tem condições de impor ao Congresso uma
humilhação como a que propôs, restabelecendo o veto em matéria já decidida
pelos parlamentares”.
Patético!
Ø Estadão
começa 2024 com um show de viralatismo contra o governo Lula e a indústria
nacional
No primeiro dia de 2024, o Estadão
publicou um editorial falando sobre supostas e crescentes preocupações em relação as
políticas de conteúdo nacional da Petrobrás e sua influência na
reindustrialização do Brasil no terceiro governo do presidente Lula.
O periódico afirma que em dezembro o Conselho
Nacional de Política Energética (CNPE) optou por elevar significativamente os
requisitos de conteúdo local para o fornecimento de equipamentos destinados a
exploração e produção de petróleo no país. Logicamente, o jornal provinciano se
opõe a qualquer prática de protecionismo da nossa indústria, por mais básica
que seja.
De acordo com as mudanças anunciadas, o requisito
de conteúdo local passou de 18% para 30% na fase de exploração, que abrange a
pesquisa de reservas, e de 25% para 30% na etapa subsequente, conhecida como
desenvolvimento da produção.
Essa medida visa fomentar a indústria nacional,
promovendo a fabricação de equipamentos dentro do país, gerando empregos com
melhores salários para a mão de obra nacional.
Além disso, o editorial viralatista do Estadão põe
em dúvidas a capacidade da indústria nacional de atender a essa nova demanda em
tempo hábil para suportar as operações de exploração e extração de petróleo. O
texto afirma, de forma maliciosa e desonesta, que a decisão do CNPE pode ser
vista como apressada e autoritária, questionando a capacidade e o nível
aprendizagem da nossa indústria.
Por fim, o jornal que sempre defendeu o
conservadorismo e o status quo na economia, sem qualquer tipo de compromisso
com o debate popular, chegou a falar da “importância” de um debate aberto sobre
as implicações dessas políticas para o setor energético do país e para a
indústria nacional como um todo, pois segundo o editorial, a necessidade de uma
abordagem “equilibrada” que leve em consideração as capacidades reais da
indústria brasileira.
Fonte: O Cafezinho
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