Centrão usa máquina (por enquanto), mas não deverá apoiar Lula em 2026
Às vésperas da campanha de 2014, Aécio Neves lançou
uma cantada indecorosa para os partidos que ocupavam ministérios de Dilma
Rousseff. O tucano sugeriu que as siglas deveriam extrair o que pudessem e,
depois, apoiar sua candidatura. “Eu digo para eles: façam isso mesmo, suguem
mais um pouquinho e, depois, venham para o nosso lado.”
Lula tem alguns daqueles vampiros alojados na
Esplanada dos Ministérios e em bancadas que, no papel, formam a base aliada de
seu terceiro mandato. O Palácio do Planalto aceitou pagar um preço salgado pela
ajuda do centrão em votações de interesse do governo, mas não comprou o apoio
do grupo para 2026.
Dentro da coalizão de Lula, é considerada certa
apenas a adesão das siglas de esquerda à reeleição, mas dirigentes do MDB e do
PSD já manifestaram interesse numa aliança em torno do petista para mais um
mandato. Já União Brasil, PP e Republicanos, bem alimentados por acordos com o
governo, têm simpatia inequívoca pelo campo adversário.
As preferências expressas por esses três partidos
nas votações do Congresso estão distantes da agenda de Lula. Não foram poucas
as vezes em que legendas da base aliada deram sustentação a posições vinculadas
ao bolsonarismo. É um comportamento que, na prática, limita as ações que o
governo espera apresentar ao eleitor.
Além disso, a operação política desse grupo nos
ministérios, sem surpresas, é dedicada ao fortalecimento de seus próprios
interesses eleitorais.
O centrão pode manter o governo de pé, mas a rede
de prefeitos e deputados beneficiados pela verba federal provavelmente estará a
serviço de um candidato de oposição na próxima eleição presidencial.
A não ser que Lula chegue ao fim do mandato com uma
popularidade arrasadora, sua base aliada corre risco considerável de sofrer uma
desidratação em 2026.
Isso significa ter um ano final com instabilidade
no Congresso e, pior ainda, ver uma máquina abastecida pelo governo trabalhar a
favor de um rival.
Ø MESMO COM
LULA PRESIDENTE, PT GANHOU POUCOS FILIADOS EM 2023
O novo mandato de Lula (PT)
na Presidência da República não serviu para aumentar a lista de filiados
ao Partido dos Trabalhadores até o momento. Um dos fundadores
e nome de maior destaque do partido, Lula assumiu o comando do governo federal
pela terceira vez em 2023. Mas, no ano, o PT aumentou o seu número de filiados
em somente 0,8%.
Ainda assim, a sigla de esquerda é a segunda maior
do Brasil. Saiu de 1,60 milhão de filiados em janeiro para 1,62 milhão em
novembro de 2023, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
atualizados até 21 de dezembro.
O crescimento pequeno foi uma fuga positiva do
padrão dos partidos com mais de um milhão de filiados. Todos os outros nesta
categoria tiveram quedas, ainda que tímidas. A exceção é o PRD (Partido
Renovação Democrática), que foi criado em novembro de 2023, com a fusão do
Patriota e o PTB.
Por outro lado, o PL de Jair
Bolsonaro cresceu 6% no primeiro ano do novo governo Lula. Saiu de 761 mil
em janeiro para 807 mil em novembro. O partido comandado por Valdemar Costa Neto é de franca oposição à gestão petista,
principalmente no Congresso.
Tanto PT quanto PL devem ser adversários diretos
nas eleições municipais de 2024. O enfrentamento com a direita foi explicitado
na resolução do Diretório Nacional do PT em 2023, segundo nota divulgada no
início de dezembro.
"É nossa tarefa participar ativamente das
eleições municipais de 2024, fazendo o embate contra a extrema-direita, para
reeleger e aumentar as prefeituras em que estamos hoje, além de ampliar
expressivamente nossa base de vereadores e vereadoras, incentivando a
participação de mulheres, negros, jovens e LGBTQI+", diz o texto do partido comandado por Gleisi Hoffmann (PR).
Para o PT, a disputa pelas prefeituras e pelas
vagas de vereadores será uma oportunidade para "organizar e consolidar a
base popular necessária para mudar a correlação de forças políticas e mudar o
Brasil"
Já o PL tem como objetivo conquistar mais de 1.500 prefeituras.
Segundo Costa Neto, essa marca será atingida defendendo valores conservadores e
mantendo a oposição ao PT, sem "a menor possibilidade de o Partido Liberal
formar qualquer tipo de coligação ou acordo" com os petistas, segundo já divulgou em seu perfil nas redes sociais.
"Somos a legenda que mais cresce no Brasil, e
com a força dos nossos parlamentares e de Bolsonaro, iremos fazer mais de 1500
prefeitos nas próximas eleições", afirmou o presidente do PL em junho de 2023.
·
Perfil do filiado petista
A maior parte dos filiados petistas fazem parte da
base da sigla há mais de 10 anos. São 81,4% dos filiados, segundo o TSE. Nos
últimos cinco anos, o PT conseguiu filiar pouco mais de 200 mil pessoas.
A maior parte dos filiados que moram no Brasil são
da região sudeste, com 677,6 mil pessoas como integrantes do PT. A segunda
região com mais petistas é um reduto importante da sigla: o Nordeste. Os
nordestinos somam 401,8 mil filiados, segundo os dados até novembro.
Entre os filiados que vivem no Brasil, a maior
parte da militância petista é masculina, concentrando 53,1% dos filiados. As
mulheres são 46,7%, enquanto o restante não informou o gênero ao TSE.
No exterior, essa tendência se inverte. A maioria
das filiadas se identificam com o gênero feminino: são 56,4%. Já os homens
chegam a 43,52%. O PT conta com 2.075 pessoas filiadas que não moram no Brasil.
Ø FUSÃO DE
PATRIOTA E PTB CRIA TERCEIRO MAIOR PARTIDO DO BRASIL EM NÚMERO DE FILIADOS
Nome pouco conhecido ainda para o eleitorado geral,
o Partido Renovação Democrática (PRD) é o terceiro maior partido do Brasil em
número de filiados. São 1,3 milhão de pessoas que fazem parte da mais nova
sigla brasileira.
O PRD foi fundado em novembro de 2023, depois que o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) autorizou a fusão do Patriota e do Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB). Ovasco
Resende, que fazia parte da cúpula do Patriota, assumiu o comando do novo
partido. A direção nacional da sigla não conta com familiares de Roberto
Jefferson, que já foi um dos principais nomes do PTB nos últimos anos.
A fusão de um partido em crise depois das eleições,
o PTB, e outro pequeno em representação, o Patriota, acabou criando mais um
partido gigante em filiados. O PRD conseguiu desbancar o PSDB como o terceiro
maior partido do país nessa métrica.
Os tucanos ficam logo atrás da nova sigla, com 1,31
milhão de filiados. O PSDB tenta encontrar uma identidade para voltar a crescer nas
eleições de 2024.
A fusão das duas siglas veio como consequência da
cláusula de barreira. Nenhum dos dois partidos conseguiu eleger número
suficiente de congressistas para alcançar a cláusula de desempenho para ter
acesso ao Fundo Partidário. Com a fusão, o novo partido deve poder acessar esta
verba pública, considerando o número de votos válidos que ambas as siglas
receberam em todo o Brasil na eleição de 2022.
No pleito, o PTB conseguiu eleger somente um
deputado. Já o Patriota conseguiu eleger quatro deputados nas eleições gerais.
Atualmente, a Câmara dos Deputados conta com quatro deputados do Patriota, mas
nenhum do PTB.
O PTB teve um candidato à Presidência nas eleições
de 2022, o Padre
Kelmon. Para além de enfrentamentos que chamaram a atenção do eleitor, o candidato não conseguiu uma votação
significativa no pleito e ficou em 7º lugar, com 81.129 votos.
Outro problema do PTB nas eleições anteriores foi
Roberto Jefferson, ex-deputado e ex-presidente da sigla, que contava com muita
influência no partido. Jefferson foi preso pela Polícia Federal em outubro de
2022 depois de atirar em policiais ao ter sua prisão decretada.
Com a fusão, o PRD terá acesso ao Fundo Partidário
decorrente da soma dos votos que PTB e Patriota receberam. O TSE havia bloqueado esses valores até que o procedimento de fusão
fosse confirmado. Agora, o PRD contará com verba para tentar aumentar o número
de eleitos nas eleições de 2024.
Ø COM INCORPORAÇÃO
DO PSC, PODEMOS QUASE DOBRA FILIADOS EM ANO PRÉ-ELEITORAL
O partido Podemos entra em 2024 com 98% mais
filiados do que tinha em janeiro de 2023. Segundo dados do Tribunal Superior
Eleitoral, a legenda comandada pela deputada Renata Abreu (SP) conta com 802,4 mil integrantes. É o nono maior partido em
filiados do Brasil.
O crescimento de filiados não se deu organicamente,
mas sim com a incorporação do Partido Social Cristão (PSC). O TSE aprovou a medida de forma unânime em junho de 2023.
O PSC contava com 407 mil filiados no início de
2023. No entanto, nas eleições gerais, não conseguiu ultrapassar a cláusula de
barreira para ter acesso aos recursos do Fundo Partidário. O partido conseguiu
a eleição de um senador, Cleitinho – que migrou para o Republicanos – e seis
deputados.
Como a incorporação funciona com a absorção de um
partido por outro, o Podemos ganhou os filiados do PSC. O crescimento se dá
logo antes das eleições municipais, que devem ser realizadas em outubro de
2024.
O Podemos entrará na disputa com o Fundo Partidário
a que já tinha direito por ter conseguido cumprir a cláusula de desempenho,
além das verbas que seriam do PSC. O TSE havia bloqueado esse valor para direcionar ao Podemos, caso
a incorporação realmente fosse aprovada.
As verbas do Fundo Partidário considera a soma dos
votos dos partidos para indicar o montante que terão direito para as eleições.
O Podemos não apresentou alterações em seu estatuto
depois da incorporação do PSC ao TSE. A sigla conta com uma composição diversa
em relação a posicionamentos políticos no Congresso Nacional.
Entre seus integrantes está o senador Marcos do Val (Podemos-SE), que é contrário ao governo Lula (PT)
e só votou de acordo com a gestão petistas em 37% das vezes, segundo a
ferramenta do Congresso em Foco, Radar do
Congresso. Mas também conta com os deputados Romero Rodrigues (PB) e Raimundo Costa (BA), que votaram 92% e 93% das vezes com o governo,
respectivamente.
De forma geral, segundo o Radar do Congresso,
o Podemos na Câmara é mais governista do que os integrantes da sigla no Senado.
Entre os deputados, o alinhamento médio no plenário chega a 82%. Já com os
senadores é de 60%.
A maior liberdade para votações fez com que a
bancada do partido crescesse no Senado em 2023. No início da legislatura, eram
quatro senadores do Podemos. Agora, são sete. Na Câmara, também houve alta, de 12 deputados eleitos para 15
integrantes atualmente.
Fonte: FolhaPress/Congresso em Foco
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