ROMBO NAS CONTAS: ENTENDA O DEBATE EM TORNO DO ‘DEFICIT ZERO’
O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
de que “dificilmente” o governo vai conseguir alcançar a meta de zerar o rombo
das contas públicas em 2024 intensificou as especulações se o governo mudará ou
não a meta proposta para o próximo ano.
Nesta segunda-feira (30), durante coletiva de
imprensa, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, evitou responder diretamente
a perguntas sobre a manutenção da meta, mas afirmou que não há "nenhum
descompromisso" do presidente Lula em relação ao objetivo de equilíbrio
fiscal do país.
A meta de zerar o rombo nas contas públicas em 2024
está no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) - enviado pelo
governo ao Congresso Nacional em abril.
• O que
é a LDO?
A Lei de Diretrizes Orçamentárias estabelece as
regras para a elaboração do Orçamento do ano seguinte. Cabe ao texto definir,
por exemplo, o nível de equilíbrio entre receitas e despesas: se haverá
superávit primário (quando as receitas superam as despesas, sem considerar o
pagamento dos juros da dívida pública), déficit primário (quando as despesas estão
acima das receitas, sem considerar os juros da dívida), ou se haverá ‘déficit
zero’ (quando as despesas se equiparam às receitas).
O projeto com as diretrizes para 2024 ainda precisa
ser votado pela Comissão Mista de Orçamento (CMO), formada por deputados e
senadores. O calendário inicial da comissão previa que a votação do relatório
final do projeto acontecesse até 05 de julho.
Em entrevista ao Jornal Nacional na última
sexta-feira (27), o relator do texto, deputado Danilo Forte (União/Ceará),
justificou que o atraso na votação da LDO ocorreu “para dar a oportunidade para
o governo federal realizar o convencimento acerca das propostas da equipe
econômica”.
• A
meta pode ser alterada?
A meta de déficit zero para o próximo ano pode ser
alterada pelos parlamentares durante a tramitação do projeto no Congresso
Nacional, mas o governo também pode propor uma eventual alteração.
Caso o governo decida alterar a meta de ‘déficit
zero’ para 2024 - apresentada pelo próprio governo -, pode enviar uma proposta
de modificação ao projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), que está
em tramitação na Comissão Mista de Orçamento (CMO).
Porém, há um prazo para o envio de alterações: uma
proposta de mudança na LDO só pode ser apreciada pelo Congresso Nacional se for
recebida até o início da votação do relatório preliminar na CMO.
O relator Danilo Forte tem sinalizado que pretende
votar o projeto amanhã (31). Neste cenário, se o governo deseja alterar a meta
por meio de mensagem modificativa, o prazo para o envio da proposta de mudança
terminaria amanhã, antes do início da votação.
Até a última atualização dessa reportagem, porém,
não havia sessão da CMO - onde ocorrerá a votação - marcada para terça-feira.
Segundo um técnico do Congresso Nacional, se o
prazo para envio da mensagem for expirado, o governo poderá ainda encaminhar
ofício solicitando alteração ao relator - que pode acatar ou não a solicitação
do governo.
• O que
diz o arcabouço
A meta de déficit fiscal zero no ano que vem está
contemplada, também, no chamado arcabouço fiscal, a nova regra para as contas
públicas proposta pelo governo e aprovada pelo Congresso Nacional em agosto
deste ano.
Pelas normas do arcabouço, há um intervalo de
tolerância para o resultado das contas públicas.
Em 2024, por exemplo, a meta central é de um
‘déficit zero’, mas o governo pode registrar um déficit primário (sem contar os
juros da dívida pública) de até 0,25% do PIB no próximo ano sem que a meta seja
descumprida.
Mas se esse resultado ficar abaixo do intervalo de
tolerância, o governo federal sofrerá algumas punições:
• Crescimento
menor das despesas no próximo ano: em linhas gerais, pelas regras do arcabouço,
as despesas públicas vão poder crescer acima da inflação, mas respeitando uma
margem de 0,6% a 2,5% de crescimento real ao ano. Se as contas estiverem dentro
da meta, o crescimento de gastos terá um limite de 70% do crescimento das
receitas primárias. Caso o resultado primário fique abaixo da meta, o limite
para os gastos cai para 50% do crescimento da receita.
• Vedação
a novas despesas: o governo ficará proibido de criar novas despesas
obrigatórias, como novos auxílios, benefícios fiscais e novos cargos. Caso o
resultado fique abaixo da banda de tolerância pelo segundo ano consecutivo,
governo também ficará proibido de realizar concurso público.
Nos
bastidores, governo já discute déficit de 0,25%
O governo Lula debate internamente mudar a meta
fiscal de zero para um déficit de 0,25% do PIB, em 2024. A decisão tem de ser
tomada nos próximos dias, para que o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO), deputado Danilo Forte, inclua a proposta no seu relatório (União-CE).
Ele pode apresentá-lo nesta semana, mas a votação
será apenas na seguinte. Por isso, há quem defenda que o relatório também fique
para a próxima semana.
O Ministério da Fazenda ainda defende uma meta
fiscal zero, argumentando que, antes de mudar oficialmente a proposta, é
preciso checar se o Congresso Nacional irá aprovar as medidas que permitiram
zerar o déficit público no próximo ano.
Um déficit de 0,25% do PIB, segundo assessores do
presidente Lula, já seria um dado muito positivo. Nem o mercado trabalha com um
déficit de 0,25%, mas acima deste patamar.
E, sendo fixada a meta neste percentual, o déficit
poderia chegar até a 0,5% do PIB, pela margem de 0,25 ponto percentual para
cima e para baixo prevista no novo marco fiscal.
• Discussão
sobre a meta
Lula diz que governo 'dificilmente' atingirá meta
zero nas contas públicas em 2024
Há meses, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
defende a adoção de medidas para zerar o déficit das contas públicas no ano que
vem.
No entanto, na última sexta-feira (27), em café da
manhã com jornalistas, o presidente Lula disse que a meta
"dificilmente" será alcançada, praticamente jogando a toalha. A fala
do petista foi mal recebida pelo mercado. A Bolsa caiu e o dólar passou a
subir.
Lula não quer corte de gastos no ano que vem. Sua
orientação é para que seja cumprido o que está previsto na proposta de
Orçamento de 2024. Ou seja, se a receita não subir, o governo aceitaria um
déficit, mas não faria uma redução das despesas.
Segundo um assessor, o presidente vai avaliar nesta
terça (31) com os líderes da base aliada sobre as chances de aprovação das
propostas encaminhadas pelo Ministério da Fazenda para aumentar a arrecadação.
O ministro Fernando Haddad, por sinal, já avisou
que deve mandar outras medidas nas próximas semanas ao Congresso para tentar
garantir o cumprimento de uma meta de déficit zero.
A ala política do governo defende a alteração da
meta, por receio dos bloqueios orçamentários que podem ser impostos para zerar
o déficit.
Na segunda (30), o ministro Fernando Haddad se
irritou e não respondeu se a meta será alterada. Nesta terça, questionado
novamente, ele voltou a evitar uma resposta concreta.
Haddad
reafirma compromisso fiscal, mas realça queda nas receitas
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad , ratificou
o empenho do governo federal com o controle das contas públicas. “Vou buscar o
equilíbrio fiscal de todas as formas justas e necessárias para que tenhamos um
país melhor”, disse em entrevista coletiva em Brasília nesta segunda-feira
(30).
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Haddad, no entanto, admitiu que há erosão de
tributos por duas razões: em função do abatimento sobre a base de cálculo da
Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) e do Imposto sobre a Renda das
Pessoas Jurídicas (IRPJ), conforme permitido pela Lei Complementar nº 160, de
2017; e por causa da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), também naquele
ano, que retirou da base de cálculo do PIS/Confins o Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços (ICMS) recolhido pelas empresas.
“Esse gasto tributário está em um patamar exagerado
em função dessas decisões que foram tomadas em 2017, e que a repercussão está
acontecendo agora”, afirmou o ministro.
De acordo com ele, o abatimento sobre a base de
cálculo da CSLL e do IRPJ no ano passado foi de R$ 149 bilhões, e a estimativa
para este ano é de R$ 200 bilhões. Quanto à decisão do STF, Haddad não informou
o volume total de recursos perdidos, mas citou como exemplo o caso de uma empresa
fabricante de cigarros que, com o veredito da Suprema Corte, ficou com crédito
de R$ 4,8 bilhões que serão deduzidos de tributos que deveriam ser recolhidos.
“Nós queremos que a sociedade conheça esses
números. Quem pagou esse imposto foi o consumidor, e não é ele que está
recebendo. Aí há um enriquecimento [do fabricante] sem causa.” O ministro
evitou citar o nome da empresa, mas disse ter uma “agenda com o Supremo para
corrigir essas distorções”.Fernando Haddad assinalou que está buscando soluções
junto à presidência do STF e ao Congresso Nacional.
“Preciso de apoio político, preciso do Congresso,
preciso do Judiciário. Tenho tido até aqui a colaboração tanto de um quanto do
outro.” O ministro revelou já ter tratado do problema de erosão fiscal com o
presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, e com o presidente da Câmara dos
Deputados, Arthur Lira (PP-AL). “Isso é uma coisa que precisa ser feita pelos
Três Poderes; não é só a área econômica e o Executivo.”
Nos próximos dias, o governo deve realizar uma
reunião com os líderes dos partidos políticos no Congresso Nacional para
apresentar os números e propostas em estudo no Ministério da Fazenda.
“Nós vamos levar medidas ao governo para que os
objetivos alcançados, independentemente desses contratempos que foram apurados
ao longo do exercício e que têm trazido a erosão da base de cálculo dos
tributos federais, mas precisa validar na política as decisões que vão ser
tomadas.”
Está em tramitação no Congresso a Medida Provisória
nº 1.185, que dispõe sobre o crédito fiscal decorrente de subvenção para a
implantação ou a expansão de empreendimento econômico. De acordo com Haddad, a
iniciativa corrige essas distorções. “Tudo dando certo, 2023 vai ser o último
ano dessa enorme brecha que permite às empresas abater da base de cálculo
incentivos fiscais dados pelos estados.”
• Banco
Central
No início da entrevista coletiva, Fernando Haddad
apresentou os economistas que serão indicados para cargos de direção no Banco
Central. Paulo Picchetti, professor da Fundação Getulio Vargas, deve assumir
diretoria de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, no
lugar de Fernanda Guardado, e Rodrigo Teixeira, ex-funcionário da instituição,
deve ocupar a diretoria de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta,
em substituição a Maurício Costa de Moura.
Os indicados serão sabatinados no Senado Federal e
precisam ter o nome aprovado em plenário. Se aprovados, terão mandato fixo de
quatro anos, não coincidente com o do presidente da República. A lei permite eventual
recondução por mais um mandato de mesmo tamanho. A data da posse ainda não está
marcada.
Os novos diretores participarão do Conselho de
Política Monetária (Copom), formado pelo presidente do Banco Central e oito
diretores. Uma das atribuições do Copom é estabelecer a Selic, taxa básica de
juros da economia.
Haddad
'prega no deserto', mas não joga a toalha
O núcleo duro da base de apoio do governo Lula (PT)
no Congresso já fala abertamente em uma meta de déficit fiscal classificada
como "realista" de ao menos 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB) para
2024, num revés para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O movimento mostra que a pregação de uma ala do
governo Lula, representada especialmente na figura do ministro da Casa Civil,
Rui Costa (PT), contra o déficit zero defendido por Haddad ganhou terreno no
Congresso, apesar da nota divulgada ontem pelo presidente do Senado, de apoio
ao ministro.
A articulação já alcança os pilares da negociação
do governo dentro das duas Casa, Senado e Câmara, inclusive líderes aliados do
Planalto.
Parlamentares ouvidos reconhecem que a batalha
travada por Haddad é importante e carregada de simbolismo, em especial para o
mercado, mas dizem que, diante do cenário, o déficit zero seria
"impraticável".
Aliados do ministro, por sua vez, dizem que Haddad
está "pregando no deserto" e preveem um fim de ano difícil.
Na segunda (30), Haddad escorregou e perdeu a
primeira batalha de comunicação pública, sendo ríspido na entrevista coletiva
chamada por ele após a declaração pública de Lula sobre a dificuldade de fixar
o déficit zero como meta fiscal para 2024.
A queda de braço travada pelo ministro dentro do
governo e do Congresso pela meta travou a análise da Lei de Diretrizes
Orçamentárias, a LDO, uma espécie de prévia do Orçamento de 2024.
Por isso, o governo chega ao fim do ano tendo de
patrocinar a votação dos dois projetos importantíssimos diante de um Congresso
que não esconde o apetite por cargos e emendas.
• Haddad
diz que não ficou bravo com perguntas
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que
“não ficou bravo” com as perguntas da imprensa sobre a possível mudança na meta
de zerar o déficit fiscal das contas do governo em 2024, mas evitou novamente
responder sobre o assunto. O titular da pasta foi questionado por jornalistas
na manhã desta terça-feira (31), ao sair do prédio da Fazenda para um
compromisso no Palácio do Planalto.
Na segunda-feira (30), em coletiva de imprensa, o
ministro foi questionado diversas vezes se haveria mudança na meta após o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dizer que o governo federal não
precisa perseguir o déficit zero, apesar dessa ser uma das principais bandeiras
do Ministério da Fazenda.
Nesta manhã, os jornalistas questionaram novamente,
e pediram que o ministro não “ficasse bravo” com a insistência. Haddad não
respondeu novamente sobre a meta, mas justificou a irritação do dia anterior.
“Eu não fiquei bravo, é que a jornalista me fez uma
pergunta muito dura, assim, de uma maneira que eu não esperava. Vocês me
perguntam com educação, eu respondo com educação”, afirmou.
Os jornalistas insistiram, mas Haddad apenas riu e
entrou no carro sem responder aos questionamentos.
Durante a coletiva de segunda, o ministro não
respondeu sobre a mudança na meta, mas disse estar comprometido com o
equilíbrio fiscal. Ele ainda listou uma série de eventos que, segundo ele, têm
atrapalhado a arrecadação de impostos e impedem chegar ao resultado primário
positivo.
Na ocasião, Haddad citou um dos casos, de uma
empresa de cigarros que teria conseguido créditos tributários no valor de R$
4,8 bilhões de forma indevida, e que estaria gerando a “erosão tributária” na
visão dele. Ao ser questionado sobre o nome da empresa, sugeriu que a repórter
“fizesse seu trabalho” para encontrar.
Na sequência, a imprensa continuou perguntando
sobre a meta e Haddad acabou se irritando com a insistência e deixou a coletiva
sem responder se haveria alteração.
• Marco
de Garantias
Haddad também foi questionado sobre a sanção do
Marco das Garantias, que muda regras das garantias para empréstimos, com o
objetivo de diminuir os juros e os custos do crédito. O texto foi publicado no
Diário Oficial da União (DOU) desta terça e trouxe vetos.
O presidente seguiu indicação do Ministério da
Justiça e Segurança Pública para vetar trecho do projeto que autorizava a busca
e apreensão extrajudicial de bens móveis. Na perspectiva da pasta, a proposição
incorreria em vício de inconstitucionalidade.
Segundo Haddad, o veto não prejudica o consumidor,
mas sim deixa a transação mais segura.
“Então toda a transferência de propriedade, como é
com imóvel hoje, você vai poder fazer com o veículo também, mas a imissão na
posse, pela lei agora sancionada, vai depender de uma autorização judicial, mas
só essa última etapa. O presidente ficou inseguro de abuso, mas concorda que
nós temos que pôr ordem no sistema de crédito para que a taxa de inadimplência
possa cair e o spread, que é muito alto que possa cair. Só para você ter uma
ideia, hoje o spread de um financiamento de veículo está quase 30%. Não se
justifica, dá pra ser muito mais baixo esse spread. E essa lei vai permitir que
a redução dos spreads como aconteceu com os imóveis”, disse o ministro.
De acordo com o especialista em direito bancário e
Recuperação de Crédito e sócio do Montezuma e Conde Advogados Associados,
Benito Conde, o veto é positivo, pois poderia comprometer o sucesso da reforma
legislativa.
Segundo o advogado, a alteração traria ainda mais
morosidade para a retomada do veículo fornecido em garantia ao contrato.
“Com os vetos do presidente Lula, as instituições
financeiras contarão com garantias reforçadas de que o processo de busca e
apreensão será conduzido com maior eficácia. Além disso, é exigido por lei que
o procedimento extrajudicial seja conduzido por um advogado, conforme
estipulado pelas normas vigentes. Para a manutenção do procedimento judicial da
forma como é hoje, fica garantido o reforço policial para o cumprimento dos
mandados, o que não era garantido pela reforma que foi proposta”, explicou.
Fonte: g1/iG/CNN Brasil
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