Comércio entre
países do BRICS aumentou 56% nos últimos 5 anos, diz mídia
De
acordo com estimativas de analistas, o grupo, ampliado neste ano, representará
quase metade da produção mundial até 2040.
O
comércio entre os cinco membros do bloco aumentou 56% chegando a US$ 422
bilhões (R$ 2 trilhões), entre 2017 e 2022, segundo a Bloomberg. A mídia cita
que, economicamente, os recursos naturais e os produtos agrícolas do Brasil e
da Rússia tornam-nos parceiros naturais da procura chinesa.
No
início deste ano, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que o BRICS já
ultrapassava os Estados do G7 em termos de paridade de poder de compra das suas
populações.
Os
especialistas projetam que o produto interno bruto (PIB) combinado do BRICS
expandido, em termos de paridade de poder de compra, ascenda a cerca de US$ 65
bilhões (R$ 319 bilhões). Isto aumentaria a participação do grupo no PIB global
dos atuais 31,5% para 37%. Em comparação, a participação do G7 está atualmente
em torno de 29,9%.
Na
quinta-feira (4), o vice-secretário do Conselho de Segurança da Rússia,
Aleksandr Venediktov, afirmou que emissários ocidentais estão tentando impedir
a expansão do BRICS com subornos e ameaças, mas que o bloco resistirá.
"Essa
tendência [de expansão do BRICS] certamente não agrada aos países ocidentais.
Eles querem construir um novo mundo apenas para a elite, onde os direitos e
interesses de todos os outros simplesmente não serão considerados [...]",
afirmou.
Venediktov
também destacou que a adesão de novos países ao BRICS é um sucesso da
diplomacia russa e uma conquista conjunta de todos os membros, e que o processo
de expansão continuará, conforme noticiado.
Visão estratégica: relevância geopolítica
e economia emergente levaram Etiópia a integrar o BRICS
A
entrada de países africanos no BRICS — para além da própria África do Sul no
bloco, que ocorreu há cerca de 13 anos — é vista por especialistas como um novo
capítulo da geopolítica. A partir de 1º de janeiro de 2024, novos países
adentram o bloco. A Etiópia é um deles.
Outrora
conhecida por suas lutas contra a fome e a miséria, a Etiópia é agora membro do
BRICS, um bloco de nações emergentes com destaque no cenário internacional.
Ao
podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas pontuam e explicam os
motivos pelos quais a entrada da nação no bloco é um ponto positivo.
Mestre
em relações internacionais pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), assistente
de ensino na Fundação Getulio Vargas (FGV) e pesquisadora de política externa
russa, Giovanna Dias Branco explica que a Etiópia não está sozinha nessa
expansão do BRICS, já que vários países africanos manifestaram interesse em se
unir a esse bloco multilateral, impulsionado pelo crescimento econômico chinês
e sua influência.
Giovanna
Branco pontua que a posição estratégica da Etiópia no continente africano
desempenhou um papel fundamental em sua entrada no BRICS, permitindo ao país
alçar voo em direção a novos níveis de desenvolvimento e cooperação
internacional.
"A
Etiópia não é uma economia dispensável no continente africano. É o segundo país
mais populoso de todo o continente. Ela consegue ganhar esse lugar no momento
em que o BRICS decide expandir com outros países africanos. Isso permite ao
país alcançar outros níveis de desenvolvimento e, também, outras fontes de
renda, como o banco de desenvolvimento do BRICS", pontua a especialista.
A
professora também destaca que os países que ingressam no BRICS compartilham
características comuns, como alta população, economias emergentes e potencial
de desenvolvimento econômico futuro. Além disso, há a importância geopolítica.
A
Etiópia atende a todos esses critérios, desafiando a visão preconceituosa de
que países africanos são automaticamente associados à pobreza e ao
subdesenvolvimento.
"A
Etiópia realmente foi uma escolha muito bem pensada pelos países do BRICS,
justamente para atender esses critérios, que também são os […] atendidos por
outros países, como os países árabes, que também passarão a fazer parte do
bloco", assegura.
A
analista aborda, ainda, a história da Etiópia como a única nação africana que
não foi colonizada.
Embora
isso tenha evitado os conflitos coloniais que afetaram muitas nações africanas,
a especialista pontua que a Etiópia ainda enfrenta desafios políticos, étnicos
e econômicos.
"[…]
não foi necessariamente uma grande vantagem, ao longo do tempo, não ter tido o
passado colonial. Com certeza, isso implica em menos casos de violência política,
internamente, relacionados ao conflito colonial", crava.
Em
meio aos conflitos internos e a uma grave crise hídrica, a Etiópia busca
soluções para seus desafios.
A
professora observa que a estabilidade política e o desenvolvimento econômico
frequentemente estão interligados no cenário internacional.
Kauê
Lopes, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador
visitante do Centro Latino-Americano e Caribenho da Escola de Economia e
Ciência Política de Londres (LACC-LSE, na sigla em inglês), explora como o
BRICS está abrindo novas perspectivas de relações políticas e econômicas, com
destaque para o papel da China na Etiópia.
A
dinâmica do BRICS representa "uma abordagem inovadora que une relações
políticas e econômicas, reconhecendo que a divisão entre esses dois aspectos é,
na prática, meramente didática", informa o especialista.
Ele
complementa sinalizando que, nesse contexto, a China emerge como um parceiro
significativo para a Etiópia. À medida que a China fortalece seus laços com a
Etiópia, a linha entre economia e política se torna cada vez mais indistinta.
Nesse
sentido, o BRICS pode contribuir para o desenvolvimento econômico da Etiópia,
investindo em infraestrutura, oferecendo empréstimos em longo prazo e
facilitando a entrada de investimentos.
Esse
desenvolvimento econômico poderia, por sua vez, criar instituições mais
democráticas e promover a estabilidade política no país.
"A
estabilidade política e o desenvolvimento econômico normalmente são cenários
atrelados, e o BRICS, neste momento, poderia ajudar a Etiópia no quesito
desenvolvimento econômico. Investir em infraestrutura, fazer empréstimos em
longo prazo, permitir maior entrada de capitais na Etiópia, fazendo com que
exista algum tipo de desenvolvimento ou, pelo menos, algum plano de crescimento
econômico", conclui a analista.
No
que diz respeito à relação do Brasil com a Etiópia, historicamente, segundo a
especialista, não há laços profundos.
A
inclusão da Etiópia no BRICS, entretanto, abre novas possibilidades de cooperação
entre os países, proporcionando oportunidades para promover interesses mútuos e
fortalecer a presença do bloco no continente africano.
Entrada da Argentina no BRICS pode dar
novo fôlego à demanda pela soberania das ilhas Malvinas?
Em
entrevista à Sputnik Brasil, especialistas apontam que assimetria do poderio
militar entre os dois atores envolvidos, e o fato de a questão envolver um país
da OTAN, torna improvável o envolvimento do BRICS.
A
entrada da Argentina no BRICS pode dar novo impulso no apoio ao país em relação
à questão das ilhas Malvinas. É o que afirmou, recentemente, Gustavo Martínez
Pandiani, conselheiro do candidato à presidência argentina, Sergio Massa, e
provável futuro ministro do Interior.
Em
entrevista aos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, do podcast Mundioka,
da Sputnik Brasil, especialistas destacam como a entrada no grupo poderia
auxiliar na demanda argentina, e que benefícios reacender a questão poderia
trazer para o país neste momento.
Para
Salvador Chavelson, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e
do programa de pós-graduação e integração latino-americana da Universidade de
São Paulo (USP), é improvável que a entrada do país no BRICS tenha um impacto
militar na questão.
"O
BRICS aparece mais como uma aliança econômica. A Argentina não tem mostrado uma
perspectiva de aliança geopolítica e, menos ainda, militar. Acredito que não
seja esse o espaço onde negociações diplomáticas vão acontecer. Então, a
princípio, não vejo mudanças no curto prazo", explica o professor.
Ele
acrescenta que a retomada da soberania sobre o arquipélago é uma demanda
difícil, por se tratar de um conflito militar vencido pelo Reino Unido e por
não ser um tema atual.
"Teve
uma guerra onde a Argentina perdeu e eu acho muito difícil que isso seja
revisado reabrindo conversas diplomáticas. É uma demanda histórica, mas
certamente não é um tema atual, um tema que esteja tendo conversas ou que tenha
tido algum avanço nas últimas décadas", explica Chavelson.
Ele
destaca que o arquipélago tem uma importância mais afetiva do que estratégica
ou mesmo econômica.
"Tem
uma importância geopolítica, mas é uma demanda mais com importância simbólica,
afetiva, eu diria. As crianças estudam, desde pequenas, na escola, que as
Malvinas são argentinas. Agora, uma importância econômica direta, por exemplo,
que tem vinculada a petróleo, a pesca, essas coisas, não acredito que seja hoje
o que coloca a questão em pauta", diz Chavelson.
O
especialista compara a demanda argentina pela soberania das ilhas Malvinas à
demanda da Bolívia pela recuperação da saída para o mar, perdida para o Chile
durante a Guerra do Pacífico, em 1879. "São conflitos complexos, não são
de uma questão estratégica de primeira ordem, que esteja em pauta, por exemplo,
em relação à economia do país, à macroeconomia."
Chavelson
diz não acreditar que a questão tenha algum impacto na corrida presidencial,
embora reconheça que o posicionamento sobre o tema seja algo de praxe para
candidatos.
"Os
candidatos já fizeram declarações de praxe, se declararam a favor da soberania.
A direita política teve algumas expressões no sentido de minimizar a
importância de voltar a essa questão. Mas acredito que é um consenso no setor
político. Porque é uma questão sensível para a população, que uma força eleitoral,
em geral, vai manifestar apoio. Mas não é uma questão divisora de águas, que
seja muito importante na atual disputa eleitoral", explica.
Porém,
ele alerta que a situação econômica atual da Argentina pode levar políticos
radicais a usar a questão para galvanizar apoio popular.
"A
Argentina está passando uma crise econômica, com inflação, desvalorização da
moeda. Isso permitiu que a extrema-direita, que o Javier Milei representa,
ganhasse espaço, também pela falência das forças políticas tradicionais. Nesse
contexto, há margem para mobilizar a população com propostas que envolvam as
emoções dos argentinos. Então, imagino que o tema pode aparecer, mas, sendo
realista, não parece existir um contexto para que isso seja discutido
formalmente, diplomaticamente, com possibilidade de reversão."
Em
relação ao BRICS, ele reafirma não acreditar que a entrada da Argentina possa
alimentar a retomada do conflito com o Reino Unido.
"Não
vejo que o BRICS esteja em posição de alimentar esse tipo de conflito. Se
fizesse isso, seria abrir mais um foco possível de uma guerra mundial. Não vejo
que essa seja a linha dos BRICS e, se fosse, também não vejo com boas
perspectivas um armamento dos pequenos conflitos que existem pelo mundo e
envolvem países do grupo", explica o especialista.
Ele
acrescenta considerar improvável que Rússia e China, as principais potências do
BRICS, tenham interesse em buscar o enfrentamento com o Reino Unido por conta
de um território cuja importância é simbólica.
Assimetria
de forças entre Reino Unido e Argentina torna inviável um possível
enfrentamento
Mateus
de Oliveira Pereira, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp),
doutor em relações internacionais pelo programa de pós-graduação San Tiago
Dantas, programa institucional que reúne a Unesp, a Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP) e a Universidade de Campinas (Unicamp), afirma
que o apoio do BRICS na questão, "sem dúvida, é uma das expectativas"
da Argentina.
"Acho
que [a questão] está colocada até na fala do presidente Alberto Fernández,
quando ele comunicou ao país a entrada da Argentina no BRICS. Embora me pareça
que, dentro do conjunto geral de questões que envolvem a entrada da Argentina
no grupo, a reivindicação sobre as ilhas Malvinas acaba tendo um caráter mais secundário,
menos importante do que outras agendas que o país tenta passar dentro do
BRICS."
Questionado
sobre a possibilidade de um novo conflito armado entre a Argentina e o Reino
Unido, ele afirma ser bastante remota.
Primeiro,
porque a guerra pelo território entre as partes, na década de 1980, deixou um
trauma muito forte no país.
"A
Argentina tem até hoje a memória da Guerra das Malvinas como uma coisa muito
forte, uma coisa que mobiliza bastante a sociedade e existe um trauma de fato
com relação a isso, pelo tamanho e envergadura daquela derrota", explica.
Ele
acrescenta que "a assimetria de poder militar entre os dois países, que já
existia em 1982, somente aumentou".
"Então,
eu não vejo muito como a questão em si poderia se transformar em um conflito armado
no futuro próximo. Eventualmente, as ilhas podem acabar se inserindo em outro
tipo de conflito armado, de caráter mais amplo, que venha a envolver os dois
países. Mas eu não vejo, sinceramente, como é que as Malvinas em si virariam um
problema militar de guerra no futuro próximo."
Pereira
avalia que "o que a Argentina tenta fazer o tempo inteiro é levar a
questão para as Nações Unidas e tentar resolver a questão
diplomaticamente".
"Agora,
nós não podemos ser ingênuos a ponto de achar que a questão se resolve
exclusivamente nesses termos [diplomáticos]. No fundo, o que sustenta a posição
britânica é o poder militar, que é muito superior ao argentino, e o fato de que
as Malvinas não são hoje uma questão que mobilize uma rede de interesses muito
ampla para além desses dois países."
Ele
se mostra cético quanto à possibilidade de o BRICS auxiliar diplomaticamente a
Argentina em uma possível retomada das Malvinas, embora a entrada no grupo
forneça respaldos importantes para o país.
"Os
países que fazem parte dos BRICS já apoiam a causa argentina em torno das
Malvinas, e isso fortalece, sem dúvida, a posição do país em termos
diplomáticos. Agora, sendo muito franco, eu não acho que isso produza
alterações significativas no curto e médio prazo, porque o apoio diplomático a
Argentina já tem de boa parte do mundo há muitas e muitas décadas. Mas isso não
foi suficiente para produzir nenhum tipo de alteração significativa na questão.
Porque o fato é que o problema em torno das ilhas não são uma questão que
mobilize de maneira muito forte outros atores que não os britânicos e os
argentinos", explica o especialista.
Porém,
ele ressalta que, nos últimos anos, a questão vem ganhando importância
"por conta da exploração de recursos naturais, como gás natural e
petróleo, na plataforma marítima em torno das ilhas. Isso termina sendo um
ponto importante da questão atualmente."
Em
relação à forma como o tema é abordado pelos presidenciáveis na Argentina,
Pereira avalia que nenhum dos dois têm trazido a questão à mesa de debate com
muita intensidade.
"Acho
que Javier Milei é muito claramente um candidato que não se importa com noções
tradicionais de soberania ou autonomia na política externa. Ele, inclusive, já
manifestou que retiraria a Argentina dos BRICS, foi muito hostil com o Brasil,
com a China. Não vejo por que haveria de ser diferente no caso das Malvinas.
Não me parece que seria um eventual governo Milei um governo que tivesse muito
preocupado em fazer alguma coisa para reaver a soberania das ilhas. Muito pelo
contrário, talvez ele fosse até no sentido de diminuir a intensidade das
reclamações, de pisar no freio e nos esforços do país para recuperar as
ilhas", diz o professor.
"Acho
que Sergio Massa vai um pouco no sentido contrário. Embora ele não seja uma
figura muito aguerrida na luta em relação às ilhas, acho que a gente poderia
esperar uma continuidade do que está sendo feito nesse governo [de Alberto
Fernández], que é recuperar o ativismo do país nos canais diplomáticos,
principalmente nas Nações Unidas, e tentar forçar o Reino Unido a vir para a
mesa para negociar a questão da soberania", acrescenta.
Assim
como Chavelson, Pereira acha improvável que a questão das Malvinas possa
escalar novamente para um conflito militar, e afirma que dificilmente haveria
um respaldo nesse sentido de parceiros do BRICS como Brasil, Rússia e China.
"O
que existe, em termos de benefício concreto para China e Rússia, que seriam os
parceiros militarmente mais relevantes dentro dos BRICS? Qual a vantagem que
China e Rússia têm em entrar em uma guerra diretamente contra o Reino Unido, e
por extensão contra OTAN? Porque esse é um ponto-chave, uma vez que o Reino
Unido é membro da OTAN e a OTAN é um mecanismo de segurança coletiva, uma
eventual invasão da Argentina às Malvinas representam abrir uma guerra contra a
OTAN. Qual o interesse que Rússia e China têm em entrar em uma guerra contra a
OTAN e com o Reino Unido, com possível envolvimento dos Estados Unidos, por
causa de umas ilhas que, para eles, não vão fazer nenhuma diferença expressiva?
É muito improvável."
Fonte:
Sputnik Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário