Thiago Trindade
Lula da Silva: Bolsonaro, Abin e sua Liberdade
A
liberdade é um conceito fundamental na ciência política, sempre existiram
várias definições e, por isso, é tão confusa e complexa. Para os capitalistas,
a liberdade do mercado, aquela que faz o dinheiro circular entre um
empreendimento e outro, se mistura à liberdade individual, aquela que permite
ao indivíduo escolher seu trabalho.
Para
um socialista, a liberdade de escolha do trabalho só pode ser possível se o
indivíduo tem garantias fundamentais de vida, como moradia, comida, acesso à
saúde etc. Pois, quem passa fome não tem liberdade para escolher seu trabalho.
A
economia-política são essas estruturas ideológicas e suas experiências construídas
na realidade, tentativas de organizar a sociedade para produzir e distribuir a
produção. O grande desafio sempre foi encaixar a ideia de liberdade na vida da
população.
A
sensação de liberdade pode nos prender a uma vida de exploração. Um exemplo
clássico é o motorista da Uber que acha que é empreendedor ou trabalhador
autônomo e trabalha para si mesmo.
Liberdade
é tão fundamental que até nos discursos mais extremistas e radicais esse
conceito precisa ser trabalhado e, normalmente, é visto como um fim a ser
alcançado. No entendimento da extrema direita brasileira, o fantasma do
comunismo ataca diretamente sua família, seus costumes e sua liberdade. Mesmo
não sabendo exatamente o que significa, existe uma ideia geral: a do Estado
opressor.
Muita
gritaria se ouviu nos últimos anos sobre um fantasma do comunismo e seu Estado
opressor. Um Estado tão inchado e controlador que tiraria as liberdades
individuais, amarraria a mão invisível do mercado e impossibilitaria uma
economia saudável e próspera. E essa gritaria ecoava por todo o Brasil dois
nomes como garantia de crescimento econômico e liberdade. Bom, economia
próspera e saudável foi exatamente o que não aconteceu durante o governo
Bolsonaro com seu posto Ipiranga Paulo Guedes, ex-ministro da Economia.
O
governo Bolsonaro cometeu muitos crimes, muitos deles para enriquecimento
próprio, como venda de joias, e outros de ordem social, como aumento das
queimadas e desmatamento da Amazônia. Só para citar alguns, pois a lista é
extensa e as investigações não param, e a cada semana surge um novo crime
absurdo.
Dessa
vez descobrimos que Bolsonaro usou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin),
subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República,
para espionar mais de 30 mil adversários. São eles advogados, juízes,
políticos, jornalistas ou qualquer pessoa com notoriedade que faça críticas às
suas ideias. Monitoramentos absolutamente ilegais que visavam exatamente o
controle desses cidadãos para manutenção no poder.
Esse
é um dos crimes de Bolsonaro que vão de encontro ao seu próprio discurso e que
tem bom potencial para condená-lo e dividir seus apoiadores. Mas assim como os
crimes de peculato, como no caso das joias, e tantos outros, é preciso fazer um
grande esforço para espalhar a informação.
Esse
movimento de extrema direita não é homogêneo, ou seja, existem grupos internos
com seus próprios interesses. Usar do Estado para espionagem é algo que parte
de seus apoiadores repudiam e apostaram na figura de Bolsonaro exatamente para
fazer o oposto. Seria Bolsonaro o garantidor da mínima interferência do Estado
na economia e, principalmente, na vida privada da população. Atacar os direitos
individuais com uso da máquina é algo que causa calafrios na sociedade
brasileira. Mesmo dentro do discurso confuso que Bolsonaro criou, onde mistura
ditadura militar com liberdade individual, a parte da liberdade é um pilar
fundamental para aglutinar parte considerável de seus apoiadores.
Além
de desmobilizar esse movimento de extrema direita a partir da derrocada da
figura de Bolsonaro e sua família, é fundamental conquistar os 30% da população
historicamente disputados nas eleições. Enterrar essa ideologia extremista
passa pela condenação de seus crimes, mas também passa pelo esforço coletivo da
memória e denúncia diária. Denunciar, apontar os crimes, incoerências,
hipocrisias e abusos é um trabalho de formiguinha necessário para a democracia
e o processo civilizatório.
É
claro que cabe ao governo atual o papel essencial de reconstruir o país, crescer
a economia, melhorar a vida da população e comunicar de maneira clara todos
esses avanços, mas cabe também à sociedade civil fazer seu papel no dia a dia.
Trabalho que muitos de nós já estamos cansados exatamente pela maratona dos
últimos anos, mas não podemos baixar a guarda. Mesmo que não seja na militância
ativa de algum movimento social, que seja pela insistência e introdução de
assuntos importantes no dia a dia.
A
típica tática do arrependido é o desinteresse, finge não se importar mais.
Muitos dos que estão quietos hoje gritaram sobre liberdade enquanto tentavam
abolir a democracia. Se seu plano tivesse funcionado, estaríamos sob uma
ditadura sendo espionados e perseguidos.
Nós
que sobrevivemos os últimos anos no Brasil, apesar da fome, apesar da doença,
apesar da falta dos direitos humanos, tivemos mais sorte que juízo. Mas é
melhor sempre ter juízo, porque ninguém pode garantir que teremos sorte
novamente.
O
fascismo não acabará com a provável prisão de Bolsonaro e os seus. A frase “A
cadela do fascismo está sempre no cio”, de Bertolt Brecht, continua verdadeira,
ainda mais num país que nada fez para punir seus ditadores.
Mesmo
assim, acredito, nesse caso, que bater nas bases é a forma mais eficaz de
derrubar a estrutura. Conscientizar o povo brasileiro que a extrema direita é
corrupta e sempre acaba em ditadura. Por isso, os casos do roubo das joias e
esse agora da espionagem são potencialmente os mais poderosos para combater a
estrutura confusa e complexa do bolsonarismo.
• Moraes atende pedido da PGR e manda PF
analisar doações via Pix para Bolsonaro
O
ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu a um
pedido feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e determinou que a
Polícia Federal (PF) analise o caso das doações realizadas, via Pix, para o
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Um
relatório produzido pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf),
órgão de combate à lavagem de dinheiro do governo federal, apontou que
Bolsonaro recebeu R$ 17,2 milhões via Pix em sua conta pessoal nos primeiros
seis meses do ano.
Parlamentares
pediram ao STF que Bolsonaro fosse investigado no caso da “vaquinha” feita por
seus apoiadores. Em seu parecer ao STF, o subprocurador Carlos Frederico Santos
defendeu que o caso fosse enviado para a PF para que os investigadores pudessem
apurar se há conexão entre a “vaquinha” para o ex-presidente e o inquérito das
milícias digitais, relatado por Moraes.
A
PGR quer saber especialmente se as transações atípicas, noticiadas pelo Coaf à
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do 8 de janeiro, foram realizadas por
doadores envolvidos na organização criminosa investigada no inquérito das
milícias digitais.
Os
dados do Coaf mostram que entre 1º de janeiro e 4 de julho o ex-presidente
recebeu mais de 769 mil transações por meio do Pix que totalizaram R$
17.196.005,80. O valor corresponde à quase totalidade do movimentado pelo
ex-presidente no período, de R$ 18.498.532,66.
O
órgão de combate à lavagem de dinheiro afirma no relatório que as transações
atípicas podem estar relacionadas à campanha de doações organizada por aliados
de Bolsonaro com o objetivo de pagar as multas impostas ao ex-presidente ao
longo dos últimos anos.
A
vaquinha foi organizada para levantar dinheiro para que o ex-presidente pudesse
arcar com o pagamento de multas aplicadas e eventuais novas punições por ter
desrespeitado o uso obrigatório de máscara em espaços públicos durante o auge
da pandemia do novo coronavírus.
Bolsonaristas voltam a atacar vacinas e
brasileiros respondem que imunização ‘é vida’
Mesmo
após 700 mil mortes, muitas delas evitáveis, e o controle da pandemia de
covid-19 graças às vacinas, bolsonaristas seguem com a sanha negacionista.
Parlamentares, incluindo filhos do ex-presidente extremista Jair Bolsonaro
(PL), estão atacando o governo federal. O motivo é o reforço nas campanhas de
vacinação. Entre os esforços estão o acréscimo das vacinas contra o coronavírus
no Programa Nacional de Imunização (PNI).
Trata-se
de um profundo descolamento da realidade pela extrema direita. Isso porque são
consenso absoluto na comunidade científica a segurança e eficácia das vacinas.
Além disso, pesquisa nova divulgada pela Universidade de São Paulo (USP) revela
que 98% dos pais e mães de filhos menores de 14 anos são favoráveis à vacinação
de seus filhos. Além disso, mais de 83% dizem que já levaram seus filhos para
atualizar os imunizantes.
Contudo,
a proteção das crianças, para o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), é “um
ataque frontal contra a família”. “Nunca um ataque foi tão frontal contra a
família e a liberdade geral. Se executada mesmo esta política em 2024, para
picar bebês de 6 meses de vida (…) estará aberta a porteira para absolutamente
qualquer coisa, bastando apenas um desculpa para deixar sem ação parte da
população”, disse o político radical.
• Vacina é vida
Então,
os políticos radicais que desprezam a vida das crianças em nome de “família e
liberdade” apresentaram requerimentos junto à Mesa diretora da Câmara dos
Deputados para tentar intimidar a ministra da Saúde, Nísia Trindade. Nísia,
profissional com vasta experiência, ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz,
limitou-se a dizer hoje (7) que “Vacina é vida. Vamos proteger quem amamos,
nossas famílias, crianças e adolescentes. Bora vacinar”.
Logo,
o termo “vacina é vida” entrou para os assuntos mais comentados nas redes
sociais. As palavras ficaram toda a manhã e a tarde entre os principais temas
no X, antigo Twitter.
Órgãos
ligados ao governo também manifestaram apoio às vacinas. Em seu perfil oficial,
a Presidência da República alertou que “qualquer campanha contra a vacinação de
crianças é uma campanha contra a vida”.
A
biomédica e neurocientista Mellanie Fontes-Dutra também apelou aos brasileiros
contra as mentiras divulgadas por negacionistas. “Só no 1º ano da vacinação
contra a covid-19, 20 milhões de vidas foram salvas. A desinformação contribui
para que brasileiros deixem de se vacinar, e a covid-19 traz riscos muito
maiores para a saúde. Não deixe a desinformação decidir o que é melhor pra ti.”
Ex-ministro da Defesa será ouvido em ação
que pode cassar Mourão
O
ex-ministro da Defesa de Jair Bolsonaro, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira,
será ouvido em uma ação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pode declarar
a inelegibilidade do senador Hamilton Mourão.
A
ação, sobre a suspeita de que bolsonaristas atuaram para transformar o
bicentenário da Independência em 2022 em um comício eleitoral, mira também o
empresário Luciano Hang — que subiu na tribuna ao lado de Bolsonaro —, o pastor
Silas Malafaia, o ruralista Antônio Galvan, entre outros.
Bolsonaro
foi condenado na semana passada por outra ação sobre o bicentenário, que
analisava o uso da máquina pública para insuflar o ato. Já nessa, são
investigados aqueles que ajudaram a promover o evento.
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Benedito
Gonçalves, corregedor-geral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), determinou a
oitiva de Paulo Sérgio Nogueira, pois os eventos oficiais naquele dia foram
organizados pelas Forças Armadas.
Fonte:
Fórum/CNN Brasil/RBA/Metrópoles
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