terça-feira, 7 de novembro de 2023

Lula e a causa palestina: esperanças, frustrações e os limites da política externa brasileira

Oriente Médio sempre teve um lugar especial na política externa dos governos Lula à frente do Brasil. Juntamente do seu assessor para Relações Exteriores Celso Amorim, Lula tem tentado exercer um papel decisivo para a resolução do conflito entre Israel e Palestina, embora sem muito sucesso.

Fato é que, durante seus dois primeiros mandatos (2003-2010), Lula procurou posicionar o Brasil como uma potência global emergente, apoiado em uma intensa diplomacia presidencial, o que levou a uma maior participação do país na discussão de problemas regionais complexos, como é o caso da situação envolvendo o conflito Israel-Palestina. Em repetidas ocasiões, o presidente Lula expressou seu desejo de ajudar a resolver o impasse nos processos de paz da região, apesar de entender os limites da atuação do Brasil para a consecução desse objetivo.

No geral, a estratégia de Lula para o Oriente Médio tradicionalmente conteve duas características principais. Em primeiro lugar, estava o papel do Brasil como potencial mediador de conflitos regionais. Tal aspiração já fora demonstrada quando, em 2010, Lula viajou para Jerusalém e Ramallah, na Cisjordânia, no intuito de estreitar contatos tanto com Israel quanto com a Autoridade Palestina.

Também no intuito de apresentar-se como um mediador internacional "neutro", Lula e Amorim fizeram visitas inclusive ao Irã para auxiliar (junto da Turquia) um acordo nuclear com Teerã. Essas visitas, em um segundo momento, ampliavam as oportunidades comerciais e políticas para o Brasil no âmbito global, dado que o país pleiteava um tão sonhado assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Fazendo sinalizações positivas ao mundo árabe, o Brasil de Lula também foi um dos poucos países fora da Europa e do Oriente Médio a criticar abertamente a decisão do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, de invadir o Iraque no início de 2003. Como resultado, o Brasil recebeu pouco tempo depois o status de membro observador da Liga Árabe.

Em segundo lugar, estavam os interesses brasileiros com a ampliação do comércio, importante componente nas interações do Brasil com o mundo árabe. Até por isso Lula procurou impulsionar relações com países-chave na região como Síria e Líbia (antes da eclosão da Primavera Árabe em 2011), que se apresentavam como potenciais parceiros comerciais de peso, podendo abrir oportunidades estratégicas para setores exportadores importantes do Brasil, como a agricultura e a pecuária. Durante os dois primeiros mandatos de Lula, aliás, transações econômicas com Israel também estiveram no foco das atenções, sobretudo após a assinatura de um acordo de livre comércio Mercosul-Israel em 2007.

Entretanto, as relações diplomáticas do Brasil com Tel Aviv viriam a ser impactadas negativamente pela posição abertamente pró-Palestina de Lula, que se manteve em consonância com as posições tradicionais do Partido dos Trabalhadores em favor da autodeterminação dos povos oprimidos em todo o mundo. Não por acaso, entre 2006 e 2010 o então ministro das Relações Exteriores do Brasil Celso Amorim (hoje assessor especial da Presidência) visitou os territórios palestinos por quatro vezes.

Além disso, em 2007 o Brasil foi convidado a participar da Conferência de Anápolis, nos Estados Unidos, encontro dedicado a promover uma retomada nos processos de paz no Oriente Médio envolvendo Israel e a Palestina. Na ocasião, o Brasil chegou até mesmo a apresentar um roteiro político para os americanos, contendo determinadas premissas que, no entendimento brasileiro, poderiam ser úteis para diminuir as tensões na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

Seja como for, a aproximação mais evidente do Brasil com a Palestina e com o próprio Irã não foi bem recebida pelo governo de Israel. Ainda mais porque, em um de seus últimos atos diplomáticos em dezembro de 2010, o Brasil de Lula reconheceu oficialmente a soberania do Estado da Palestina ao longo das fronteiras de 1967, decisão apoiada por diversos outros governos latino-americanos. Seja como for, os interesses estratégicos do Brasil no Oriente Médio, a saber, como possível mediador em conflitos locais, inegavelmente tiveram suas limitações, em função do posicionamento mais pró-Palestina de Lula, gerando certas tensões sazonais com Israel e com o próprio Ocidente, principal patrocinador político de Tel Aviv.

Com Dilma à frente do Brasil entre 2011 e 2016, no entanto, arrefeceram as tentativas do Brasil de participar ativamente da resolução do conflito palestino-israelense, dado o baixo engajamento internacional da então presidente brasileira, que preferiu relegar ao Conselho de Segurança da ONU o papel de resolver as constantes crises no Oriente Médio. Ainda assim, em termos de marco político, o governo Dilma apoiou em 2012 o pedido de Mahmoud Abbas para que a Palestina obtivesse maior reconhecimento no âmbito das Nações Unidas, auferindo então o status de membro observador na organização.

Atualmente, diante da tragédia humanitária resultante de mais um novo conflito envolvendo Israel e a Palestina, Lula e a diplomacia brasileira têm enfrentado mais uma vez dificuldades em promover uma solução para a crise. Presidindo as últimas reuniões no Conselho de Segurança, o Brasil tentou passar resoluções (como as do dia 18 de outubro) que pediam por uma "pausa humanitária" e um cessar-fogo nas hostilidades na Faixa de Gaza.

A proposta brasileira, embora apoiada no mundo árabe, no Sul Global e pela própria Palestina, foi vetada de forma cínica pelos Estados Unidos que, assim como no conflito na Ucrânia, parecem estar satisfeitos com o prolongamento da violência na região, enquanto fornecem apoio incondicional para as ações do governo de Israel.

Esbarrando nos jogos de poder da principal potência ocidental, há muito pouco o que Lula e o Itamaraty possam fazer para trazer um fim ao conflito, independente das boas intenções do presidente brasileiro. Diante desse contexto, as esperanças de Lula com relação à causa palestina tendem a se transformar em frustração e a demonstrar os limites da diplomacia brasileira.

 

Ø  Israel é o único projeto nazista da história para o qual se passa pano, diz Ualid Rabah

 

No 26º dia da guerra entre Israel e o Hamas, o genocídio do povo palestino pelo governo do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu foi denunciado pelo presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), Ualid Rabah, ao jornalista Luís Nassif no programa TV GGN 20h, exibido na noite desta quarta-feira, no Youtube.

Em um dos pontos altos da entrevista, Ualid chamou atenção para a limpeza étnica praticada na Faixa de Gaza por Israel, ressaltando que a situação dos palestinos na região é semelhante ao de um campo de concentração, mas com o agravante de ser atualmente uma espécie de laboratório de guerra para testar armamentos e métodos de extermínio em massa.

 “Este campo de extermínio em Gaza, diferentemente de qualquer outro que já tenha existido na face da terra em todos os tempos, também é um campo de testes para sistemas, armamentos e munições de uma indústria bélica que depois os vende“, denunciou Ualid.

Segundo ele, oBrasil ainda estaria envolvido na trama. “O parlamento brasileiro fez o desfavor de aprovar há poucos dias três acordos de cooperação com Israel, assinados pelo governo anterior [Bolsonaro], que transformam o Brasil num grande Kibutz, num grande experimento de ódio e de intolerância, todos eles com a bandeira de Israel”, disse.

“Espero que o presidente Lula não ratifique esses acordos, que significam que o Brasil vai participar diretamente de uma máquina de guerra que experimenta nos corpos e no morticínio dos palestinos estes equipamentos, sistemas, armas e munições“, pontuou o presidente da FEPAL.

·         É genocídio

Ao ser questionado sobre a proganda de guerra por Israel contra os extremistas do Hamas, Ualid comentou que a morte – seja de civis ou militares – não deve ter nenhum tipo de apoio, mas destacou que o que ocorre na Palestina há décadas é crime de genocídio conforme estabelecido pela Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, adotada por unanimidade pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) em 1948.

“A convenção de genocídio descreve exatamente a situação na Palestina há 76 anos. Sendo que essa convenção de genocídio é de 9 de Dezembro de 1948, de dois dias antes da [Resolução da ONU] 194, do retorno dos refugiados. E ao reconhecer a limpeza étnica na 194 – e a limpeza étnica é crime de genocídio – houve genocídio já naquele momento“, explicou Ualid.

“Mas o grande problema, na minha modesta opinião, é que Israel é o único projeto nazista da história para o qual se ‘passa pano’. É um regime fascista. E o sionismo é um regime que propôs – antes do nazismo (…) – a limpeza étnica do povo palestino, a substituição daquela demografia por uma estrangeira, levada a emigrar para lá com o apoio da potência britânica então“, declarou.

“Se estivéssemos hoje a Alemanha nazista fazendo o que fez, e isso sendo televisionado por esses grandes veículos de comunicação, teríamos possivelmente a ONU paralisada, os governos paralisados, e as massas na rua, porque estariam vendo as câmaras de gás“, pontuou Ualid.

“Este processo histórico precisa ser adequadamente compreendido e melhor debatido no campo democrático e popular brasileiro, na academia brasileira, nos veículos de comunicação brasileiros e fundamentalmente genocídio não é uma questão de esquerda e direita. Genocídio é genocídio“, acrescentou.

Quase 9 mil palestinos assassinados; mais da metade, crianças

“São 26 dias de genocídio e deve parar de funcionar nas próximas 48 horas o maior hospital de atendimento de câncer de Gaza, onde pessoas estão entre a vida e a morte por falta de medicamentos e insumos gerais para o câncer“, apontou Ualid.

“Neste momento temos 8.850 mil mortos e 24.000 mil feridos entre palestinos. Desses feridos, a maior parte com gravidade ou mutila, e dentre os 8.850 mortos, 3.648 são crianças mortas e 1.150 mil estão desaparecidas entre os escombros, e nem Deus vai fazê-las saírem com vida“, disse o especialista.

“Nós estamos falando de 5.000 mortes de crianças. Desde 2019, segundo uma importante ONG que trata das questões da infância no mundo, em todo o mundo e em todas as guerras nestes anos, não morreu tanta criança quando morreu em 26 dias em Gaza (…) Uma criança palestina morre a cada 10 minutos. Hoje estamos com 170 crianças palestinas mortas para cada uma israelense, e os grandes veículos de comunicação ficam falando em dois lados. Esses dois ‘ladismos’ nem Hitler o faria“, completou.

 

Ø  'Espiral de violência e ódio mútuo': Borrell considera conflito no Oriente Médio 'fracasso coletivo'

 

Resolução do conflito palestino-israelense é um "fracasso coletivo", disse o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell.

"A tragédia que se desenrola no Oriente Médio é o resultado de um fracasso político e moral coletivo pelo qual israelenses e palestinos estão pagando o preço. Esse preço continuará a subir", afirmou o chefe da diplomacia da UE em uma conferência em Bruxelas.

Foi a falta de vontade de resolver a crise no Oriente Médio que levou a esse fracasso, de acordo com Josep Borrell.

Agora, a comunidade internacional tem a última chance de uma resolução de longo prazo do conflito no Oriente Médio, destacou o chefe da diplomacia europeia.

"Essa é a última oportunidade; se não apoiarmos a solução de dois Estados, estaremos em uma espiral de violência e ódio mútuo pelas próximas gerações", resumiu Borrell.

O conflito entre Israel e Hamas começou no dia 7 de outubro, quando o movimento palestino lançou milhares de foguetes a partir da Faixa de Gaza em um ataque sem precedentes. Como resposta, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou guerra e convocou quase 360 mil reservistas.

 

Ø  Olaf Scholz afirma que alemães devem proteger os judeus e enfrentar o antissemitismo

 

Diante da crise no Oriente Médio, o chanceler alemão disse que cidadãos devem mostrar "coragem cívica" para enfrentar o antissemitismo.

Os cidadãos alemães devem garantir a proteção dos judeus que vivem no país contra a onda de ataques antissemitas desencadeada pela guerra Israel-Hamas, disse o chanceler Olaf Scholz.

"Qualquer pessoa que ataque os judeus na Alemanha está atacando todos nós. É por isso que todos devemos defender a proteção dos judeus na Alemanha. É uma questão de coragem cívica", disse Scholz ao jornal Mannheimer Morgen no fim de semana.

Scholz acrescentou que o vice-chanceler Robert Habeck "formulou muito bem a posição de todo o governo federal em seu vídeo nas redes sociais".

Em um discurso de dez minutos publicado na quarta-feira (1º), Habeck disse que "pouquíssimos" muçulmanos alemães tomaram posição em defesa dos judeus em casa e contra as ações do grupo militante palestino Hamas, que matou cerca de 1.400 pessoas, a maioria civis, durante sua incursão em Israel no dia 7 de outubro.

Habeck apelou à comunidade muçulmana para se distanciar das manifestações de antissemitismo que aumentaram drasticamente após o recente surto de violência no Oriente Médio.

Em declarações ao Mannheimer Morgen, Scholz disse que Berlim está trabalhando com Israel e "utilizando todos os contatos na região para facilitar a libertação incondicional de todos os reféns" detidos pelo Hamas.

Nesta semana, a ministra do Interior, Nancy Faeser, anunciou a proibição das atividades do Hamas, que está listado como organização terrorista na Alemanha.

·         Partido de extrema direita cresce na Alemanha e Scholz parece perdido, diz mídia

O partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão) registrou um aumento no apoio e tem como meta uma série de eleições em 2024 para consolidar seus ganhos.

De acordo com a Bloomberg, no Dia da Unidade Alemã (3), a polícia da cidade de Dresden impediu que um comício de extrema direita fosse interrompido por uma multidão de manifestantes vestidos de preto tocando música techno e entoando slogans que condenavam o fascismo.

Segundo a apuração, centenas de apoiadores — em sua maioria mais velhos — do AfD desfrutavam de cerveja, salsichas e discursos para agitar a multidão no mês de outubro, quando seus opositores marcharam em direção ao encontro em uma praça no centro histórico da cidade oriental, com bandeiras de arco-íris e cartazes de apoio aos migrantes. Equipados com coletes à prova de balas, o pessoal de segurança do Estado garantiu que o impasse permanecesse pacífico, mas a situação cada vez mais recorrente é impossível de se ignorar.

Ao longo deste ano, a União Europeia (UE) tem sofrido com uma recessão persistente, e a Alemanha — a maior economia do bloco — tem sofrido ainda mais graças a uma crise de energia relacionada ao bloqueio do fornecimento de energia russo pela UE, e especialmente com um aumento da imigração, em um momento em que a exploração do sentimento de nacionalismo por partidos como o AfD vem sendo utilizado. Como resultado, cidadãos são direcionados ao conflito, questionando, sobretudo, a direção política de seu país.

Apesar de todo o esforço da cidade de Dresden no pós-reunificação da Alemanha, nada disso foi suficiente para conter o aumento do apoio ao AfD. Com o declínio das antigas indústrias e novas ondas de migrantes forçando mudanças na Alemanha fortemente atingida pelo aumento do custo de vida, cada vez mais frequente tem sido a manifestação apaixonada dos apoiadores e representantes do AfD.

"Não é a economia, estúpido", disse o representante do AfD no Parlamento Europeu, Maximilian Krah, à Bloomberg no comício em Dresden. "É fundamentalmente uma questão de identidade – quem é você? Este é o nosso país?"

A corrente política dominante na Alemanha tem lutado para encontrar uma resposta ao AfD, mas o partido de extrema direita lidera as pesquisas na Saxônia, com eleições estaduais previstas para setembro de 2024, uma das três votações do próximo ano que lhe oferecem a oportunidade de reforçar o seu controle no leste da Alemanha, onde o seu apoio é mais forte.

Embora seja pouco provável que o partido obtenha apoio suficiente em qualquer um desses estados para governar sozinho, é provável que seja difícil formar coligações sem o seu apoio.

Ao contrário da maioria dos partidos de extrema direita europeus, o AfD não costuma moderar suas posições à medida que se aproximava do poder. O apoio do grupo de dez anos é impulsionado pela sua oposição à imigração, mas outras políticas fazem soar o alarme para os aliados da Alemanha, incluindo o desejo de sair da união monetária europeia e construir laços mais estreitos com o Kremlin. Isto encoraja países como Hungria e Eslováquia, que questionam a ajuda à Ucrânia, enquanto poucos países pedem por uma saída diplomática para o conflito.

 

Fonte: Sputnik Brasil/Jornal GGN

 

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