Alex Solnik: Em ano
de Lula vs. Bolsonaro, déficit zero é palavrão
Haddad
não nasceu ontem, mas esqueceu de consultar o calendário ao propor déficit zero
em 2024.
Ano
que vem não será apenas um ano de eleições; será o primeiro plebiscito do novo
governo.
Mais
uma vez estarão frente a frente Lula e Bolsonaro.
Será
uma espécie de terceiro turno.
Quem
fizer mais prefeitos será o vencedor de 2024, que será o prelúdio de 2026.
Lula,
portanto, não pode perder. Se perder, será visto como um presidente fraco. “Não
consegue nem eleger mais prefeitos que Bolsonaro”, poderão dizer seus detratores,
cujas declarações irão abrilhantar as centenas de milhares de páginas dos
bolsonaristas renitentes.
Em
ano de eleições, sobretudo eleições tão determinantes do futuro do governo,
déficit zero é palavrão.
Não
só o governo precisa inaugurar uma enorme coleção de obras, do Oiapoque ao
Chuí, como não pode fechar os olhos aos pleitos de seus aliados, que também vão
do Oiapoque ao Chuí. Nessas horas aparecem aliados de todo lado.
É
óbvio que o principal inimigo do déficit zero era o chefe da Casa Civil, a quem
Lula incumbiu de viabilizar o PAC trilionário.
Ele
fez o papel do homem mau, do vilão, sempre de cara fechada quando encontrava o
mocinho do déficit zero. Deveria estar pensando: “Ele quer me derrubar, se eu
não cumprir a tarefa designada pelo presidente, o presidente põe outro no
lugar”.
Até
que Lula entrou em campo para mediar o conflito. Decretou o cessar-fogo. E
levantou a mão do chefe da Casa Civil. Haddad perdeu por pontos.
É
melhor perder o discurso da austeridade que perder para Bolsonaro.
Déficit zero só tem efeito simbólico,
afirma professor da Unicamp
O
Congresso Nacional deverá votar nos últimos dias de novembro a Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO), que estabelece as regras para a elaboração do
orçamento público de 2024. Entre diferentes normas e princípios para o futuro
orçamento, a LDO fixa o nível de equilíbrio fiscal entre receitas e despesas
previstas.
Inicialmente,
o projeto da LDO previa que o volume de recursos disponíveis na administração
pública federal empataria com o total de gastos e investimentos no mesmo valor:
R$ 5,391 trilhões. Nesta semana, porém, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
admitiu que “há erosão de tributos”, por causa do abatimento sobre a base de
cálculo da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) e do Imposto sobre a
Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) e em razão de as empresas estarem retirando
da da base de cálculo do PIS/Confins o Imposto sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços (ICMS).
Admitido
o problema, Haddad afirmou que o governo federal vai “buscar o equilíbrio
fiscal de todas as formas justas e necessárias para que se tenha um país
melhor.” A despeito das explicações dadas e de compromissos reafirmados pelo
ministro, há forte expectativa no mercado financeiro para saber se os gastos no
ano que vem de fato estarão cobertos pela arrecadação a ser apurada, ou se
haverá déficit. E, se houver déficit, qual será a proporção: 0,25% ou 0,5%.
Para
o professor Pedro Linhares Rossi, do Instituto de Economia da Unicamp, que
estuda efeitos da política fiscal nos direitos sociais, “há uma certa celeuma
do mercado”, em torno da previsão. “O déficit ser zero ou ser 0,5% não faz
diferença alguma em termos de variação da dívida [pública]. O impacto é muito
pequeno. A dívida tem uma dinâmica que depende de vários fatores. “
“A
narrativa predominante, que aparece o tempo todo na mídia, vocalizada por
economistas de mercado, trata a questão fiscal como caminho para reformas mais
profundas de constrangimento do gasto público. Há uma ideia, desde 2015, de que
é preciso cortar gastos públicos, e o resultado fiscal é usado como instrumento
para esse constrangimento”, pondera Rossi.
Na
avaliação do professor, a economia do país não corre riscos e eventuais
impactos serão “simbólicos” e “restritos a situações de curto prazo”. Segundo
Rossi, as variáveis fiscais são fundamentais no médio e no longo prazos, mas
não adianta buscar estabilização da dívida ou redução do déficit gerando corte
de gastos que, por sua vez, geram desemprego e queda do crescimento. Há uma relação
entre gasto público e crescimento que deve ser considerada na hora da definição
das variáveis fiscais.”
• Sem insolvência
De
acordo com Rossi, a dívida está sob controle, e o Estado seguirá remunerando
normalmente investimentos em títulos públicos. “A insolvência do setor público,
dos títulos públicos, está totalmente fora do horizonte. Não há nenhuma razão
nesse sentido para demandar déficit zero. O que fica no radar do mercado é uma
convenção de que as variáveis fiscais geram impacto no mercado de curto prazo.
Isso de fato se realiza quando a maioria dos agentes pensa dessa maneira.”
Para
ele, o país necessita de mais investimentos para ter maior crescimento
econômico, que inclusive potencializa a arrecadação e cria melhores condições
para o equilíbrio fiscal. “O que é preciso é definir o que se quer de mudança,
o que se quer em termos de gasto público e, a partir disso, definir quais são
as variáveis do lado fiscal, receita e despesa, e como construir resultados e
metas fiscais para viabilizar esse projeto de país.”
O
economista propõe a investidores, ao governo e à sociedade discutir novas
agendas. “Em vez de discutir a transição ecológica, as mudanças na economia
brasileira, ou seja, o desenvolvimento econômico, estamos discutindo uma
variável fiscal cuja importância é difícil discernir no debate público. Eu
diria que essa importância é superdimensionada no debate público.”
Dívida
em queda Como reportado pela Agência
Brasil, a Dívida Pública Federal (DPF) está em queda. De acordo com o último
resultado apresentado pelo Tesouro Nacional, o volume caiu para R$ 6,028
trilhões em setembro, um recuo de 3,02% em relação ao mês anterior
A
dívida pública é contraída pelo governo para financiar gastos não cobertos com
a arrecadação de tributos. Quando precisa de recursos, o Tesouro Nacional emite
papéis, promissórias, bônus rotativos, apólices para tomar empréstimos e
remunera os investidores, conforme prazo de pagamento e volume de dinheiro
levantado.
'Limitar investimentos ao déficit zero é
ficar prisioneiro do neoliberalismo', diz José Genoíno
Ex-presidente
do PT, José Genoíno disse ser contra a meta fiscal de déficit zero para 2024,
como defende o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). O debate acerca desta
questão veio à tona após o presidente Lula (PT) dizer a jornalistas que
“dificilmente” o governo conseguirá cumprir a meta.
“Eu
estou do lado do Lula. Déficit zero é impossível. Para garantir o déficit zero
ele vai ter que cortar saúde e educação”, alertou Genoíno à TV 247. “Eu acho
que o Haddad não devia ter levantado essa bandeira do déficit zero. Acho que a
defesa do rigor fiscal, a defesa da responsabilidade, tudo isso nós podemos
dizer. Agora, você fixar uma meta… Quando você faz essa fixação você fica
prisioneiro da lógica dos detentores do poder econômico. E acho que para a
esquerda governar e atender aos trabalhadores e trabalhadoras, ao povo, tem que
mexer nos interesses do grande capital. Olha a experiência da Argentina, olha a
experiência do Chile. São experiências que a gente tem que ler e fazer o
contrário”.
Para
Genoíno, o governo fica refém do neoliberalismo ao estabelecer o déficit zero
como meta. “Se nós vamos limitar os investimentos e os gastos sociais à lei do
déficit zero, à lei de uma concepção de responsabilidade fiscal tirânica, vamos
ficar prisioneiros do neoliberalismo. Isso é a derrota da esquerda. A esquerda
foi eleita para criar direitos, para garantir direitos, para gerar empregos,
para ter política industrial, social, e não para administrar os interesses do
grande capital”.
Ø
Para
evitar desgaste de Haddad, governo defende mudar meta fiscal de 2024 ainda este
ano
Entre
declarações e bastidores, para evitar resposta negativa do mercado e o desgaste
da imagem do ministro da Fazenda, base do governo pretende mudar meta fiscal de
2024.
De
acordo com o g1, após uma semana da fala do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, que contradisse seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a meta
fiscal de déficit zero do país para 2024 não ser possível de ser atingida, a
indefinição sobre manter ou alterar a meta ainda permanece no cenário
econômico, dividindo as opiniões no governo.
Segundo
a apuração, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, defende a mudança para um
déficit de 0,25% do produto interno bruto (PIB) nas contas, enquanto o ministro
da Fazenda continua defendendo a manutenção do déficit zero.
Desde
o imbróglio gerado a partir do episódio, uma ala do governo passou a defender
um caminho mais equilibrado. Para o ministro das Relações Institucionais,
Alexandre Padilha, e a do Planejamento, Simone Tebet, a meta deve ser alterada,
mas apenas no fim do ano, quando será possível fazer uma avaliação da
arrecadação a partir dos projetos aprovados pelo Congresso.
Como
o presidente Lula tem até a próxima terça-feira (7) para decidir a questão, já
que há previsão de que o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de
2024, Danilo Forte (União-CE), coloque seu parecer em votação na Comissão Mista
de Orçamento, é provável que a definição saia ainda esta semana.
O
governo pode alterar sua previsão de meta fiscal apenas em três momentos: ainda
esta semana, na votação da LDO; no fim do ano, quando será votado o Orçamento
de 2024; e em março do ano que vem, quando o governo apresenta o relatório de
receitas e despesas do primeiro bimestre e estratégias para o atingimento da
meta.
Ø
Especialistas
criticam privilégios criados pela reforma tributária
Uma
esmagadora maioria de especialistas considera positivos os efeitos da reforma tributária, que deve ser
votada na próxima terça (7/11) na Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Esses
especialistas afirmam, por exemplo, que as propostas simplificam o sistema, a
ponto de livrar as forças produtivas do atual “manicômio” de tributos. Muitos
deles, contudo, veem um grave senão nas medidas em debate: a criação de ilhas
de privilégios para uns poucos setores da sociedade.
Na
avaliação do economista Maílson da Nóbrega, sócio da consultoria Tendências e
ex-ministro da Fazenda, entre 1988 e 1990, no governo Sarney (1985-1990), essas
brechas oferecem um retrato do poder dos lobbies para obter ou ampliar
privilégios no Brasil. Para ele, a lista de problemas começa com a redução do
imposto sobre o valor agregado (IVA), que incide sobre o consumo de serviços.
Maílson
destaca que setores como a educação e a saúde vão pagar apenas 40% da alíquota
do imposto. “Isso é inaceitável do ponto de vista social”, diz. “Os serviços
são consumidos, essencialmente, pelas classes mais ricas. Assim, a família que
coloca o filho na melhor escola privada, usa os melhores hospitais e tira
férias nos melhores lugares vai pagar menos imposto. Enquanto isso, o pobre, à
exceção da cesta básica, vai ser taxado pela alíquota cheia.”
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O
ex-ministro observa que, se a alíquota do IVA for fixada em 25% (um valor
hipotético, citado para facilitar o exemplo), os que consomem serviços de
educação e saúde pagarão 10%. “A agravante é que, além de beneficiar as classes
mais ricas, a redução de alíquotas tende a provocar distorções na economia”,
afirma. “Isso porque as empresas buscam se enquadrar nas categorias que fixam
cobranças mais baixas e, com isso, tendem a adotar tecnologias menos
eficientes. E isso conspira contra o crescimento do país.”
·
Profissionais liberais
Para
o advogado e economista Eduardo Fleury, consultor do Banco Mundial, um dos privilégios mais “inexplicáveis”,
assim como “inaceitáveis”, da atual reforma é o que beneficia as profissões
regulamentadas, cujos integrantes estão fora do Simples. Advogados,
engenheiros, médicos e economistas pagarão 70% da alíquota do imposto sobre o
consumo. “Isso não faz sentido sob nenhum aspecto”, diz. “Do ponto de vista de
distribuição de renda é ruim, porque favorece os profissionais que ganham mais.
Além disso, beneficia pouquíssimas pessoas.”
·
Argumentos “falaciosos”
Para
o ex-ministro da Fazenda, “argumentos entre questionáveis e falaciosos”
sustentaram a concessão de privilégios. “Alguns disseram que a reforma
aumentaria o custo da educação, por isso, foi concedida uma redução da alíquota
para o setor. Isso não é bem verdade. Ela vai aumentar o custo, mas para os
mais ricos”, diz. “O problema é que a opinião pública comprou essa ideia.”
Ele
observa que o mesmo ocorreu em relação ao saneamento básico. “De fato, o custo
vai aumentar para esse serviço. Mas a melhor saída teria sido fazer com que a
alíquota do setor aumentasse gradativamente, num período de dez anos, em vez de
conceder qualquer privilégio de redução do imposto.” Ele observa que outros
segmentos, como é o caso da agricultura, também estão sendo beneficiados pelo
projeto em discussão.
·
Tratamento especial
Maílson
da Nóbrega pondera que alguns setores, por conta de características especiais,
podem receber um tratamento diferenciado, mas isso deve ser feito por meio da
criação de regimes especiais. Esses segmentos em muitos países, nota o
ex-ministro, incluem o sistema financeiro, pois uma alíquota cheia poderia
encarecer em demasiado os empréstimos, a construção civil e o turismo.
Fleury
considera que, no caso dos impostos sobre consumo – o alvo da atual reforma –,
a melhor forma de evitar que as mudanças acentuem, ou mesmo, perpetuem a
desigualdade é o mecanismo de cashback, que prevê a devolução dos
tributos para as famílias mais pobres e não cria brechas para a redução das
alíquotas. O atual projeto prevê o uso dessa ferramenta em casos como a conta
de luz. “Esse mecanismo oferece o melhor resultado sob o ponto de vista de
distribuição de renda”, afirma o advogado.
Alíquota
cheia
Nóbrega
acrescenta que a experiência internacional acumulada com o IVA mostra que a
melhor solução é a alíquota única, sem nenhuma distinção para qualquer segmento.
“Se houver uma justificativa razoável para que um setor mereça um tratamento
especial, o melhor é que ele seja concedido por meio de um subsídio e não pela
redução da alíquota”, afirma. “Mas, como diz o economista Marcos Lisboa, somos
o país da meia-entrada.”
Para
o ex-ministro da Fazenda, há um problema adicional em quaisquer privilégios:
“Uma vez obtidos, eles se perpetuam”, diz. “No projeto que tramita no Senado,
foi especificada uma revisão dessas concessões a cada cinco anos. Mas, uma vez
obtido o benefício, duvido que alguém mude alguma coisa depois. É uma
ingenuidade pensar que vai haver revisão. Se os grupos foram competentes para
conseguir o privilégio, serão mais ainda para lutar pela sua renovação.”
Fonte:
Brasil 247/Agencia Brasil/Sputnik Brasil/Metrópoles
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