Alemães veem antissemitismo em alta, aponta pesquisa
Em um pronunciamento em vídeo que viralizou nas
redes sociais, o ministro da Economia e vice-chanceler alemão, Robert Habeck, do partido dos Verdes, alerta para
o antissemitismo crescente
no país – entre islamistas e extremistas de direita, mas
também em "setores da esquerda".
Segundo Habeck, a Alemanha permite críticas ao
Estado de Israel, bem como a defesa dos
direitos do povo palestino, mas não tolera
qualquer tipo de violência contra judeus. "Não se deve tolerar nenhuma
forma de antissemitismo – nenhuma", ressaltou em mensagem divulgada nesta
quarta-feira (01/11).
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Um em cada dois alemães
se diz preocupado
O vice-chanceler não é o único a ver o
antissemitismo em alta no país: um em cada dois alemães (52%) têm essa
percepção, segundo a pesquisa Deutschlandtrend, conduzida pelo instituto
Infratest Dimap e encomendada pela emissora pública ARD.
Do outro lado, quase quatro em cada dez
entrevistados dizem não ver aumento do antissemitismo.
Numa sondagem em 2019, feita logo após o atentado de extrema-direita contra uma sinagoga em Halle que deixou dois mortos, 59% dos alemães afirmaram ver um aumento
do antissemitismo e 35% refutaram essa percepção.
A pesquisa não estratificou os dados para eleitores
do partido FDP, dos liberais-democratas. O
motivo é que a sigla, que precisa de ao menos 5% dos votos para ocupar assentos
no Bundestag (Parlamento alemão), ficou abaixo desse patamar em intenção de
votos.
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Como os alemães avaliam a
reação de Israel
O ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro e suas consequências preocupam a opinião pública alemã. Um em
cada três entrevistados (74%) afirma estar muito comovido com os eventos atuais
no Oriente Médio.
Para desmantelar o Hamas, Israel recorre a
bombardeios e enviou tropas a Gaza. O grupo radical islâmico – classificado
como terrorista por União Europeia e Estados Unidos, dentre outros países
árabes e do Ocidente – não reconhece o Estado de Israel e tem como
objetivo declarado a destruição do país.
Indagados sobre a reação militar de Israel aos
atentados, 35% dos entrevistados disseram considerá-la proporcional; para
outros 8%, ela é insuficiente. Já 41% afirmaram que o país age de maneira
desproporcional. Um ponto importante para muitos alemães é que civis sejam
poupados do conflito.
Um em cada quatro alemães (25%) acha que as
investidas militares de Israel contra o Hamas estão justificadas mesmo quando
palestinos civis são afetados, contra 61% que compartilham opinião contrária.
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Quem é responsável pela
situação em Gaza?
Oito em cada dez entrevistados (81%) dizem se
preocupar com as mais de 200 pessoas sequestradas pelo Hamas. O bem-estar de
civis em Israel preocupa 65% dos entrevistados, enquanto em relação aos civis
palestinos esse índice chega a 72%. Uma eventual expansão do conflito na região
é temida por 78%.
Em relação à situação humanitária da população
civil palestina na Faixa de Gaza, 77% dos alemães concordam que o Hamas
tem responsabilidade, total ou em maior parte, pelas condições atuais "catastróficas" – nas palavras de organizações de ajuda humanitária que atuam na
região. Mas também 57% responsabilizam Israel pelo quadro.
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Alemães continuam
insatisfeitos com o governo
A sondagem representativa, realizada entre segunda
(30/10) e quinta-feira (02/11) com 1.314 eleitores, também incluiu uma
avaliação do trabalho do governo federal. Em comparação com o mês anterior, o
chanceler Olaf Scholz e sua
equipe ministerial tiveram um desempenho ligeiramente melhor, mas ainda assim
desfavorável: 23% aprovam o trabalho do gabinete, 4% a mais que na sondagem
anterior, enquanto 76% desaprovam, uma melhora de 3%.
Se a eleição para o Bundestag ocorresse naquele
momento, a coalizão atual – integrada por SPD, Verdes e FDP – deixaria de
existir.
Os cristãos-democratas (CDU/CSU) e a Alternativa
para a Alemanha (AfD) continuam os favoritos, com 30% e 22% das
intenções de votos, respectivamente. O SPD teria 16% e os verdes, 14%. Já a
Esquerda atingiria a marca dos 5%, garantindo sua sobrevivência no parlamento
federal.
Quais as chances de Sahra
Wagenknecht?
Por décadas uma das mais famosas políticas da
Esquerda, Sahra Wagenknecht anunciou a criação de seu próprio
partido – gesto positivamente avaliado por 36% dos
eleitores, e reprovado por 51%. Três em cada dez (29%) afirmaram que poderiam
votar na nova legenda – entre os motivos, a maioria cita decepção em relação
aos outros partidos (40%) e simpatia pela figura de Wagenknecht (28%).
Potenciais eleitores dela citam como temas
prioritários a política migratória (25%), seguida de políticas econômicas e
sociais (18%), bem como questões de política externa e relacionadas à Ucrânia
(11%).
Ø Alemanha lidera em racismo contra negros na UE, diz estudo
O racismo contra negros na União Europeia (UE)
atingiu um novo patamar, com Alemanha e Áustria liderando os relatos de assédio
e discriminação raciais, segundo um relatóriodivulgado nesta quarta-feira (25/10) pela Agência dos Direitos
Fundamentais da União Europeia (FRA).
Para o estudo, a agência entrevistou imigrantes
negros de primeira e de segunda geração que vivem em 13 países do bloco. O
levantamento revelou que um terço dos entrevistados se sentiram discriminados
devido à cor da sua pele nos últimos 12 meses – o que representa um aumento de
dez pontos percentuais em relação à pesquisa anterior, realizada há seis anos.
No entanto, na Alemanha e na Áustria, 64% dos
entrevistados disseram ter sofrido discriminação racial no período analisado pelo levantamento – ou seja, quase o dobro
da média europeia. Em comparação: na pesquisa anterior, 33% dos migrantes
na Alemanha disseram ter sido vítima de racismo. Em seis anos, esse número praticamente dobrou.
"É chocante não ver nenhuma melhora desde a
nossa pesquisa anterior", afirmou o diretor da FRA, Michael O'Flaherty.
"Em vez disso, as pessoas de ascendência africana enfrentam cada vez mais
discriminação apenas por causa da cor de sua pele."
A pesquisa também questionou os entrevistados se
eles foram vítimas de racismo nos últimos cinco anos, e 45% disseram que
sim, um aumento de seis pontos percentuais em relação ao estudo anterior.
De novo, a Alemanha liderou o ranking, com 76%
dos entrevistados no país afirmando terem sofrido discriminação racial nos
últimos cinco anos. As taxas mais elevadas de assédio racista também foram
observadas na Alemanha, com 54% dos entrevistados afirmando ter sofrido
esse tipo de violência nos últimos cinco anos.
Depois da Alemanha, a Áustria e a Finlândia
registram os índices mais altos de discriminação e assédio raciais. Portugal,
Suécia e Polônia são os países com as menores taxas de racismo na pesquisa.
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Discriminação e pobreza
Apesar de 30% dos entrevistados revelarem que foram
vítimas de racismo na UE no ano passado, o relatório mostrou que poucos deles
denunciaram a violência. O documento afirma ainda que mulheres jovens, pessoas
com ensino superior e que usam vestimentas religiosas são os que mais sofrem
racismo.
Um terço dos entrevistados afirmou que se sentiu
descriminado ao procurar um emprego, enquanto 31% disseram que sentiram o mesmo
quando tentaram encontrar um local para morar.
O relatório revelou ainda que negros na União
Europeia estão mais propensos a enfrentar a pobreza, com 33% dos
entrevistados tendo dificuldades de pagar as contas e 14% não conseguindo
manter suas moradias aquecidas. Entre a população geral, esses índices ficam em
18% e 7%, respectivamente.
A FRA pediu que os países membros da União Europeia
tomem medidas para diminuir o racismo, incluindo a aplicação adequada da lei
antidiscriminação, a identificação e punição de crimes de ódio, além da
prevenção e erradicação da discriminação institucional, como, por exemplo,
dentro da polícia.
Ø Como a Alemanha tenta combater o perfilamento racial
Em 27 de junho deste ano, um jovem de 17 anos foi morto a tiros pela polícia durante uma blitz no subúrbio parisiense de
Nanterre. Devido a isso, eclodiram protestos em toda a França contra a
violência e o racismo da polícia. Um comitê da Organização das Nações Unidas (ONU) solicitou ao governo francês que tomasse medidas contra o
perfilamento racial.
O caso, tal qual a morte de George Floyd pela
polícia dos Estados Unidos em 2020, mais uma vez deu destaque internacional ao
racismo institucionalizado e à violência policial. A Alemanha também teve
episódios de brutalidade por parte da polícia, como as mortes do requerente de
asilo Oury Jalloh sob
custódia policial, em 2005, e de um refugiado de 16 anos em Dortmund no verão
passado.
Mas como pode ser definido o perfilamento racial?
Respondendo de maneira objetiva, isso ocorre quando pessoas são abordadas pela
polícia ou por outras autoridades devido a características como a cor da pele,
etnia ou religião.
As abordagens podem incluir verificações de
identidade, questionamentos, vigilância, buscas ou até mesmo prisões que não se
baseiam em suspeitas concretas, mas apenas nas características
externas, o que é considerado discriminatório porque coloca
diversos grupos sob suspeita.
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Com que frequência
ocorre?
Vítimas e ONGs denunciam regularmente a ocorrência
de perfilamentos raciais em abordagens policiais. "Não estamos falando
apenas de casos isolados", afirmou à DW Hendrik Cremer, advogado e
pesquisador associado do Instituto Alemão de Direitos Humanos (DIMR). O
difícil, porém, é apresentar conclusões empíricas sobre o fenômeno – pelo
menos na Alemanha – porque
há poucos dados disponíveis, segundo Cremer.
Dados de um estudo francês de 2017 mostram que
homens jovens considerados negros ou árabes têm 20 vezes mais chances de serem
parados para verificação de identidade na França do que o restante da
população. Nos EUA, 41% dos negros americanos afirmam ter sido abordados ou
detidos pela polícia por causa de sua etnia.
Embora pesquisas mais enxutas tenham sido
realizadas, um estudo para saber mais sobre o perfilamento racial em toda a
Alemanha está em andamento na Universidade da Polícia Alemã.
Em abril, a ministra do Interior, Nancy Faeser, do Partido
Social-Democrata (SPD), defendeu a corporação,
dizendo que "nossos policiais merecem todo o apoio e respeito. Eles
trabalham dia e noite em condições difíceis, às vezes correm risco de vida, e
defendem o Estado de direito e a democracia". Faeser também insistiu, no
entanto, que o surgimento e as ocorrências de preconceito devem ser combatidas
de forma mais consistente.
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Como as leis abordam o
problema?
As questões legais envolvendo o tema variam de país
para país. Tribunais dos EUA e do Reino
Unido, por exemplo, reconhecem a prática como um
problema. Em alguns estados americanos, como no Texas, o perfilamento racial é
legalmente conceituado e explicitamente proibido.
Na Alemanha, não é assim. Embora os controles
baseados apenas na aparência das pessoas violem a Constituição do país, as
legislações policiais em nível federal e estadual ainda deixam espaço para
manobras.
"Especialmente no caso da polícia federal, a
base legal é problemática. A corporação tem autorização, em certos lugares,
como trens, aeroportos e estações, para abordar pessoas sem motivo aparente.
Mas o objetivo é verificar se as pessoas estão em situação ilegal na
Alemanha", disse Cremer à DW. E isso pode fazer com que policiais
selecionem pessoas com base em características físicas, como a cor da pele, complementou.
Um exemplo de como a lei pode ser distorcida: um
trem está cheio de passageiros brancos, com exceção de uma pessoa, a única
não branca, que é a abordada. A polícia argumenta que fez a verificação porque,
possivelmente, a pessoa carregava uma mala suspeita. Desta forma, outro
"conceito" é acrescentado à característica externa, o que, na
prática, não aponta para perfilamento racial, de acordo com o governo federal.
Cremer argumenta que esse não deveria ser o caso:
"As leis, como estão no momento, fazem com que esses controles ocorram
seguidamente. E as pessoas temem ser abordadas repetidamente e, assim, serem
estigmatizadas em público."
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Quais são as
consequências?
O perfilamento racial pode ter
consequências profundas para os alvos. O fato de pertencer a um grupo
populacional sob suspeita gera sentimentos de humilhação, alienação e
desconfiança, além de estresse psicológico e físico.
A prática também pode reduzir a disposição dessas
pessoas em cooperar com a polícia, que, em contrapartida, pode lidar mal em
reação a certos casos.
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Como evitar?
Uma estratégia para evitar o perfilamento racial é
contratar uma força policial mais diversa e fortalecer sua competência
intercultural. Algumas pesquisas, no entanto, apontam que isso não alcança os
problemas estruturais.
"Na educação e no treinamento dos policiais, é
preciso comunicar com mais ênfase no que exatamente implica a proibição da
discriminação racial e até que ponto isso impõe barreiras ao trabalho
policial", disse Cremer.
E a responsabilidade disso não é apenas da polícia,
mas também da legislação, já que o perfilamento racial é mais predominante onde
a polícia não tem diretrizes legais concretas.
Outras medidas para combater o problema poderiam
incluir a criação de órgãos independentes para analisar queixas e reclamações,
requerer o registro pela polícia do histórico dos indivíduos abordados e
educar a população em geral sobre como reconhecer e combater essa forma de
racismo.
Em maio, Faeser anunciou um projeto de lei para a
"modernização" das leis da polícia federal, incluindo maior
transparência e uma triagem mais rigorosa para evitar que extremistas atuem na
corporação.
Embora não mencione especificamente o perfilamento
racial, há referência aos controles de fronteira, com o texto dizendo que a
legislação "serve para esclarecer que qualquer tipo de discriminação não
será tolerado na polícia federal" e que, de acordo com a Constituição, as
autoridades devem exercer "discernimento tanto com relação à seleção de
uma pessoa quanto com relação à execução das medidas [...] para impedir ou
interromper a entrada não autorizada no território federal".
Se a lei for aprovada pelo Bundesrat, a câmara alta do parlamento alemão, com
representantes dos estados, os policiais também serão
obrigados a documentar o motivo pelo qual realizaram uma abordagem.
Fonte: Deutsche Welle
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