quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Cardeal Steiner: “A seca na Amazônia é dramática e sua população passará muita fome”

A seca provocou uma situação “dramática” na Amazônia, que levará pelo menos 3 ou 4 anos para se recuperar e sua população “passará muita fome”, explica o cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e presidente da Conferência Regional Norte de os bispos do Brasil: “Dos 62 municípios do estado brasileiro do Amazonas, 42 estão em estado de emergência e 18 em estado de alerta”.

A seca provocou uma situação “dramática” na Amazônia , que levará pelo menos 3 ou 4 anos para se recuperar e sua população “passará muita fome”, disse o cardeal Leonardo Steiner , arcebispo de Manaus.

 “Neste momento na Amazônia estamos passando por uma situação muito difícil, dramática. Não temos chuva. São quase seis meses sem chuva e isso significa que não há água nos rios. O que se deve acrescentar são “os incêndios contínuos”, indica o cardeal em entrevista à EFE Roma, onde participou no Sínodo.

O nível das águas diminuiu a ponto de deixar os barcos encalhados em uma área sempre abundante, graças à confluência próxima do Rio Negro e do Amazonas, como a cidade de Manaus, a mais populosa da Amazônia, com mais de 2 milhões de habitantes. de habitantes, e onde também se registaram nos últimos dias níveis de poluição atmosférica muito superiores ao habitual devido ao prolongado período de seca e às centenas de incêndios registados.

Steiner explica que esta situação se deve ao fenómeno “El Niño”, mas também “porque o governo local não planejou nada, nenhum projeto, sabendo que esta situação iria surgir”.

Dos 62 municípios do estado brasileiro do Amazonas, 42 estão em estado de emergência e 18 em estado de alerta. “As comunidades ribeirinhas não têm nada para comer neste momento, não podem pescar, não podem cultivar nada. As consequências deste momento vão demorar pelo menos 3 ou 4 anos a resolver. Vão passar muita fome ”, lamenta.

Além disso, ele destaca como o baixo nível dos rios também isolou muitas comunidades amazônicas e isolou povos indígenas: “Há lugares que só podem ser alcançados navegando pelos rios e as notícias que recebo dos bispos são de uma situação muito, muito difícil”.

O Arcebispo de Manaus convoca a participar da campanha “SOS Amazônia”, lançada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil) e pela Caritas, para ajudar essas comunidades como já aconteceu durante a pandemia.

O cardeal brasileiro comenta que o fenômeno “El Niño” não é novo, já se repete há muito tempo , mas “com esta intensidade é a primeira vez” e destaca que muito disso se deve ao fato de que uma parte do a floresta amazônica “não existe mais”, como antes”, como na região do Pará ou no entorno da cidade de Manaus, onde “permaneceu muito pouco”.

Influencia também o agravamento das alterações climáticas, que aquece cada vez mais as águas do Pacífico e provoca todos estes problemas meteorológicos, acrescenta.

Se esta seca continuar, os povos indígenas serão obrigados a se mudar para as grandes cidades, “algo que já está acontecendo porque vão em busca de educação e saúde”, mas alerta que “o que encontrarão será apenas pobreza”.

Ele garante que com o Governo de Luiz Inácio Lula da Silva as coisas mudaram, pois “há maior atenção” a essas comunidades e “há pelo menos o diálogo possível”, graças a iniciativas como a criação do Ministério dos Povos Indígenas.

Com o presidente Lula, “o Governo está mais próximo do povo”, destaca.

“O mundo tem uma dívida com as comunidades indígenas, que são as que cuidam da Criação, e a Igreja também tem essa dívida com elas”

Ele também garante que o mundo tem uma dívida com as comunidades indígenas , que são as que cuidam da Criação, e “a Igreja também tem essa dívida com elas”, como sempre disse o Papa Francisco nas viagens em que encontrou estes comunidades nativas, como no Canadá.

Porque, garante, “a Igreja olha para o seu passado e não quer esconder nada. Se há necessidade de pedir perdão, está feito”.

 

       Todas as cidades do Amazonas entram em emergência pela seca extrema

 

Todas as 62 cidades do Amazonas entraram em estado de emergência devido à seca extrema e histórica que atinge o estado neste ano. A informação é da Defesa Civil estadual e foi divulgada na 4a feira (1/11). Segundo o órgão, quase 600 mil pessoas estão sendo afetadas pela estiagem.

Na semana retrasada, 60 cidades do Amazonas estavam em emergência. No entanto, a situação se agravou, não apenas por causa da estiagem, mas também pelas queimadas. Segundo o novo relatório da Defesa Civil amazonense, os municípios de Presidente Figueiredo e Apuí, que até então estavam em alerta, decretaram situação de emergência, informam g1, TV Cultura, Metrópoles, O Tempo e AM1. E o sofrimento da população não para, mostra a Band.

Apesar disso, segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB), os rios da Bacia do Amazonas apresentavam tendência de estabilidade. A recuperação dos cursos d’água, porém, deve demorar mais do que o habitual por causa do El Niño, segundo o Estadão.

O rio Negro, em Manaus, manteve-se estável após subir 17 centímetros nos últimos dias e interromper uma série de baixas em seu nível. O Solimões, em Tabatinga, teve pequenas oscilações nos últimos dias e chegou a 1,18 metro, após atingir mínima histórica de 86 centímetros negativos em 11 de outubro.

A baixa dos rios tem impactado diretamente a chegada de insumos para o Polo Industrial de Manaus, lembra o g1. Em um píer flutuante de um terminal de cargas da capital amazonense – onde navios descarregam mercadorias diariamente –, um cargueiro não desembarca há quase 30 dias.

A situação também é delicada no Pará. No oeste do estado, 13 municípios tiveram situação de emergência decretada pelo governo federal, e a seca também levou à adoção de medidas emergenciais na hidrovia do Tapajós. A queda do nível do rio entre o município de Itaituba e o porto de Miritituba fez surgir um grande banco de areia que prejudica a navegação e o escoamento de grãos vindos do Centro-Oeste, destaca o Pará Terra Boa.

E com tantos estragos acumulados, nem mesmo o retorno da chuva é garantia de normalidade em curto e até mesmo médio prazo. Para especialistas ouvidos pelo Metrópoles, os efeitos da estiagem histórica devem ser sentidos por anos.

Em tempo: O governo federal vai pagar um auxílio de R$ 2.640 para pescadores que enfrentam a seca no Norte do Brasil. A medida provisória autorizando o pagamento foi assinada pelo presidente Lula na 4ª feira (1/11). O auxílio será pago em uma única parcela a pescadores artesanais beneficiários do Seguro Defeso e que estão cadastrados em municípios em situação de emergência. No total, 94 municípios de quatro estados – Amazonas, Amapá, Acre e Pará – serão beneficiados.

 

       ANM tem 363 autorizações de pesquisa ou exploração mineral em Terras Indígenas

 

O sistema da Agência Nacional de Mineração (ANM) tem 363 pedidos autorizados para exploração ou estudo dos recursos naturais dentro de Terras Indígenas homologadas no Brasil. A Vale é a empresa com mais processos para exploração dentro de TIs, seguida pela Belo Sun. As informações são da Folha, que cruzou as coordenadas geográficas dos requerimentos feitos à agência com as informações geográficas dos territórios disponibilizadas pela FUNAI. Todos os pedidos são ativos e o número não considera concessões anuladas. Há autorizações para pesquisa (a maioria), concessões de lavra para mineração e permissões de lavra garimpeira, tudo dentro de Territórios Indígenas homologados.

Os Kayapó são os que têm mais autorizações de exploração dentro de seus territórios, com 47, seguidos dos Parakanã (23), Xavante (15), Nambikwára (15) e Pataxó Hã-Hã-Hãe (14). De todos os pedidos, 88 são para exploração de ouro, 36 de areia, 36 de minério de manganês e 25 de cassiterita. O uso industrial das substâncias é o campeão dos registros, com 233.

A autorização em si não quer dizer que haja a exploração nas TIs, o que seria ilegal, mas escancara brechas no sistema de controle oficial. O que se confirma com a resposta das mineradoras, que dizem que esses registros são erro no sistema da agência reguladora, e da própria ANM, que afirma eliminar as sobreposições dessas autorizações com territórios indígenas.

A falha é ainda mais preocupante porque na 5ª feira (9/11) o Congresso vai analisar os vetos do presidente Lula à lei do marco temporal, lembram Brasil de Fato e Metrópoles. O texto, aprovado às pressas pelo Senado com um pacote de maldades contra os indígenas, tinha artigos que permitiam o garimpo em TIs, além de parcerias entre indígenas e não indígenas para esse fim, mas foram vetados. A bancada ruralista, porém, promete derrubar todos os vetos de Lula.

Ainda que os registros sejam um erro reparável, evidenciam a crise na ANM denunciada por servidores. Mesmo sendo a 2ª agência reguladora do país em arrecadação pública (R$ 7,2 bilhões em 2022 somente com royalties), a ANM é antepenúltima em orçamento (R$ 94,2 milhões no ano passado). Segundo o Sindicato Nacional dos Servidores das Agências Nacionais e Regulação (SINAGÊNCIAS) e a Associação dos Servidores da ANM (ASANM), a situação é “insustentável” e “caótica” e pode ter efeitos negativos mais amplos.

 

Fonte: Religion Digital/ClimaInfo

 

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