quarta-feira, 8 de novembro de 2023

André Márcio Neves Soares: O fim da ONU?

Se a ONU, caro leitor, não conseguir um meio de parar esse massacre de Israel contra os palestinos, temo que ela tenha se tornado obsoleta de uma vez por todas. A questão não é que não existam esforços para barrar o genocídio e o plano de Israel de expulsar os palestinos da região. O problema está no modelo adotado desde o fim da Segunda Guerra Mundial de existir apenas cinco países no mundo com o poder de vetar, unilateralmente, qualquer assunto que precisar da aprovação unânime deles. Resta mais do que claro que no atual mundo multipolar, com novos atores em ascensão e uma grave crise humanitária que se alastra pelo globo, não é mais possível que apenas 5 países tenham o cadeado das decisões mais importantes e que mais afetam todos os seres vivos do nosso planeta. Nesse sentido, a guerra é só um dos diversos temas polêmicos que estão a nos assolar. Podemos citar aqui também a questão climática, o drama interminável dos refugiados e dos migrantes mundo afora, a aceleração desenfreada da tecnologia e seus efeitos malévolos para o mundo do trabalho, o potencial para novas pandemias devido à destruição do meio ambiente, entre outros.

Nesse diapasão, vamos correlacionar nesse breve texto apenas a questão do conflito bélico entre Israel e o Hamas por uma questão de espaço. Antes disso, uma breve digressão: se voltarmos um pouco no tempo, exatamente nas chamadas “Guerra do Golfo”, “Guerra da Bósnia” e “Guerra do Kosovo ”, durante toda a década de 1990, é possível verificar a fragilidade desse modelo dos 5 países “senhores das armas”. Mesmo antes, como na invasão da Hungria pela então União Soviética ou na famigerada Guerra do Vietnã – para não falar nas guerras regionais na época da descolonização africana e asiática – quando um desses 5 países queria entrar em conflito, os outros se calavam, apoiavam ou simplesmente vetavam alguma medida mais humanitária, porém esse veto nunca evitou na prática a intervenção militar, se isso fosse da vontade desses países.

Nessa toada, o mundo assiste hoje uma reação mil vezes desproporcional de Israel ao ataque (quase) suicida do Hamas a algumas cidades que fazem fronteira com a faixa de Gaza. É verdade que alguns foguetes foram lançados mais longe, até Tel Aviv, mas foram poucos que chegaram ao seu destino. A verdade é que o Hamas mordeu a isca de vez lançada por Israel. De fato, desde que a ala mais conservadora dos sionistas voltou com toda a força ao poder em Israel nos últimos anos, a narrativa de domínio judaico sobre a região outrora ocupada pelos palestinos se intensificou, bem como o incremento dos assentamentos de colonos judeus em terras que não deveriam ser ocupadas por eles. Sem força militar comparável a Israel, nem voz política no cenário internacional que consiga barrar essas ações condenáveis, o que restou aos palestinos? Alguém que acompanhe minimamente os acontecimentos do mundo foi pego de surpresa com as ações do Hamas? Sinceramente, acredito que não. Talvez a surpresa tenha sido o êxito inicial e as atrocidades cometidas pelos integrantes dessa organização que a própria ONU não caracteriza como terrorista.

Por conseguinte, mais de duas mil crianças palestinas já morreram devido aos bombardeios incessantes de Israel na Faixa de Gaza. É duro ver um genocídio desses e ainda ter que engolir o discurso da grande mídia de que Israel tem o “direito de se defender”. Israel não está se defendendo. Está atacando, isso sim. Está matando pessoas que, na sua grande maioria, apenas lutam para sobreviver num pedaço exíguo de terra inóspita. De forma semelhante, mais de 6 mil prédios já foram atacados por bombas vindas do céu, sem (quase) nenhuma artilharia antiaérea, deixando centenas de pessoas sob escombros.

Mas, e a ONU? No exato momento em que Israel se prepara para lançar a ofensiva terrestre na faixa de Gaza, com potencial para quintuplicar o número de mortes já registradas, por que a ONU se limita apenas a tentar estabelecer corredores humanitários? Infelizmente, a resposta não é tão simples. Basta ver que a ONU foi criada, primordialmente, para evitar uma terceira guerra mundial. Mas não apenas para isso. A ONU possui muitos outros objetivos além de manter a segurança e a paz mundial, como estimular os direitos humanos, ajudar no desenvolvimento econômico e no progresso social, defender o meio ambiente, além de outras ações mais marginais de proteção contra desastres naturais, tentar evitar conflitos armados e ajudar aos mais necessitados contra a fome endêmica nos países mais pobres do globo.

Ao ler essa lista de atribuições que os países delegaram para esse organismo intergovernamental, é possível perguntar o quão todos esses objetivos foram realmente alcançados. A verdade é que ainda não tivemos uma terceira guerra mundial. Mas o crédito maior deve ser dado ao poder de destruição do planeta pelas bombas atômicas que as principais potências do mundo possuem, do que à capacidade da ONU de manter a segurança e a paz mundial.

Nessa circunstância, onde estão os direitos humanos dos migrantes mundo afora, em campos insalubres de refugiados por guerras promovidas, direta ou indiretamente, pelos mesmos países que têm o poder de veto no Conselho de Segurança da própria ONU? Da mesma maneira, cadê o desenvolvimento econômico e o progresso social dos países mais necessitados, especialmente no continente africano, ao longo dos últimos 80 anos, desde que a ONU foi criada? E o que dizer sobre o aquecimento global e o aumento da destruição do meio ambiente, com a expansão das commodities de monocultura e o incremento da exploração da indústria petrolífera, e agora a corrida pelo Lítio, componente básico para os veículos movidos por energia elétrica?

A lista é grande, caro leitor. A fome cresce num mundo abarrotado de produtos supérfluos, assim como temos nesse exato momento mais de uma dezena de conflitos armados ao redor do planeta, sendo os principais a Guerra entre Israel e Hamas, o conflito entre Azerbaijão x Armênia em Nagorno-Karabakh (Já finalizado), a Guerra Rússia x Ucrânia, a Guerra da Síria e a Guerra civil no Iêmen.

Diante do exposto, será que ainda existe alguém que aposta no prolongamento temporal da ONU como organização extraterritorial capaz de manter o mundo em condições adequadas para a vida prosperar? Ou seremos capazes de imaginar uma outra alternativa de sociedade mais eficaz para barrar a aniquilação de todas as vidas do planeta em um futuro não muito distante? Basta lembrar que uma em cada dez espécies pode ser extinta até o final desse século. A principal causa? O homem!

Destarte, insisto porque é imperioso para o futuro do planeta essa questão, a saber, um novo organismo supranacional que contemple todos os povos com suas culturas, economias, religiões e, acima de tudo, uma política de bem-estar geral. O atual secretário-geral da ONU, António Guterres, tem apresentado algumas propostas interessantes, porém ainda tímidas para o objetivo maior citado acima. Realmente, não é mais concebível uma entidade como a ONU baseada, na sua essência, no Tratado de Westfália, em 1648. Estamos no século XXI, CARAMBA!!! Não existem mais continentes a ser descobertos, muito menos isolamento territorial. A Pangeia humana já é fato há séculos. O avançar da tecnologia reduz e embrutece cada vez mais um mundo que já foi bonito pelas suas longas distâncias, idiossincrasias de cada povo e naturezas intocadas. Tudo isso acabou! Talvez o mais subjetivo que temos hoje seja a tela do celular de cada ser humano. Se tudo isso não for levado em conta para o estabelecimento de um novo acordo global entre as nações, corremos o risco de, enfim, desembocarmos nas mãos do “Grande Irmão” orwelliano. E se isso acontecer, a Palestina não existirá mais! 

 

·         O “fim de jogo” da guerra entre Israel e Hamas. Por Richard Galant

 

Em um livro de 2009, Gideon Rose escreveu que os americanos pensam nas guerras como “lutas de rua em grande escala, cujo desafio estratégico central é como derrotar os bandidos”.

Os líderes militares concentram-se nos combates, prestando pouca atenção às consequências a longo prazo. “Mas, em algum momento, toda guerra entra no que pode ser chamado de ‘fim de jogo’ ou ‘fase final’, e então quaisquer questões políticas que possam ter sido ignoradas voltam com força total.”

No livro, intitulado “How Wars End” (“Como As Guerras Terminam”), Rose descobriu que a incapacidade de refletir plenamente sobre as questões políticas marcou o envolvimento dos Estados Unidos em seis conflitos, desde a Primeira Guerra Mundial até a Guerra do Iraque.

Na semana passada, enquanto Israel continuava a sua resposta militar ao ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro, os seus objetivos políticos – e potencial fim de jogo – continuaram a ser uma fonte de enorme controvérsia.

Os EUA apoiaram o direito de Israel de se defender, mas o presidente Joe Biden, sob pressão de alguns membros do seu partido, apelou a uma “pausa” na guerra por razões humanitárias.

O especialista em poder aéreo e terrorismo, Robert A. Pape, da Universidade de Chicago, lembrou que “Israel invadiu o sul do Líbano com cerca de 78 mil soldados de combate e quase 3 mil tanques e veículos blindados em junho de 1982”.

“O objetivo era esmagar os terroristas da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), e Israel alcançou um sucesso significativo no curto prazo. No entanto, esta operação militar causou a criação do Hezbollah em julho de 1982, levou a um vasto apoio local ao Hezbollah e a ondas de ataques suicidas e, finalmente, levou à retirada do Exército de Israel de grande parte do sul do Líbano em 1985 e ao crescimento do Hezbollah desde então.”

Na guerra contra o Hamas, acrescentou, “a visão estratégica de Israel tem sido avançar fortemente militarmente primeiro e depois descobrir o processo político”.

“Mas é provável que isto integre cada vez mais o Hamas à população local e produza mais terroristas, em vez de matar. Existe uma alternativa: iniciar agora o processo político rumo a um caminho para um Estado palestino e criar uma alternativa política viável para os palestinos que não seja o Hamas.”

DJ Rosenthal, que atuou como diretor de contraterrorismo no Conselho de Segurança Nacional dos EUA durante a administração Obama, escreveu:

“Israel deve garantir que a prossecução dos seus objetivos contra o Hamas seja conduzida com o máximo cuidado para minimizar as baixas civis. Embora seja verdade que o Hamas utiliza civis como escudos humanos para criar uma complicação tática significativa para a missão de Israel, a desumanidade do Hamas não constitui uma base sobre a qual Israel possa afastar-se das suas obrigações de minimizar as baixas civis.”

“Não o fazer é correr o risco de minar os interesses de segurança de Israel na região, o apoio ocidental e a sua legitimidade”, disse.

“Tomemos, por exemplo, o ataque das Forças de Defesa de Israel ao campo de refugiados de Jabalya, em Gaza, na terça-feira (31). Embora as FDI tenham dito que visavam a liderança do alto escalão do Hamas, o que poderia tornar os ataques legais ao abrigo do direito internacional, Israel não deve ignorar as implicações da realpolitik”, escreveu ainda.

“A Bolívia, o Chile e a Colômbia tomaram medidas diplomáticas drásticas contra Israel, e a Jordânia chamou de volta o seu embaixador em Tel Aviv. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken visita novamente Israel, sem dúvida para exercer pressão privada sobre o governo israelense para evitar vítimas civis. Os impactos diplomáticos para Israel só continuarão a aumentar se estes tipos de ataques persistirem”, completou.

Shai Davidai, professor assistente de administração na Columbia Business School, explicou por que foi visto chorando em um vídeo viral gravado no campus da universidade.

“Após o terrível massacre em Israel perpetrado por terroristas do Hamas em 7 de outubro, senti uma dor intensa e implacável. Luto pelos milhares de civis baleados, assassinados, mutilados, estuprados e decapitados. Luto pela morte intencional de bebês, alguns queimados de forma irreconhecível. Luto pelas crianças confusas arrastadas sob a mira de armas por homens violentos para o cativeiro em Gaza.”

“No entanto, havia uma dor mais profunda e sombria. Uma dor que emanava de uma ferida que pensei estar curada. Uma dor que vem do trauma escondido no fundo do coração de cada judeu. Uma dor que vem de ver, mais uma vez, o povo judeu ser alvo de ataques em suas casas e comunidades”, disse.

Em Gaza, Nadia AbuShaban participou de uma festa de aniversário do seu sobrinho Hashem, de 12 anos. “Com tão poucas oportunidades em Gaza, o que ele se tornará quando crescer? Que efeito todo esse medo e violência terão em sua mente jovem e em desenvolvimento? Quando as realidades da vida aqui se estabelecerão? E, claro, ele viverá para ver seu próximo aniversário?”.

 

·         Condenar Israel ou Hamas é inútil, o problema é europeu, diz Bassem Youssef

 

O humorista e cirurgião egípcio Bassem Youssef viralizou ao protagonizar mais um episódio em que nos faz refletir sobre o que acontece no Oriente Médio, e principalmente em Gaza. Em entrevista concedida ao apresentador britânico Piers Morgan, Youssef inicia a análise pontuando a inutilidade do debate centrado na condenação de Israel ou Hamas. 

Segundo ele, mesmo que as condenações ocorram, isso não irá resolver o problema da guerra. “Condenar o Hamas ou Israel? Completamente inútil. Eu condeno o Hamas e você Israel, a entrevista acaba e o que acontece? Nada. É apenas um ponto de controle da moralidade”. 

·         A visão e o radicalismo do ocidente

O controle da moralidade a que Youssef se refere está no ciclo vicioso alimentado pelo radicalismo do ocidente, que enxerga apenas o que lhe convém, conforme a situação se agrava. É preciso olhar para a história e ver que “o problema não é um problema judeu, não é um problema do Oriente Médio, não é um problema árabe, é um problema europeu”. 

“O que é que o público ocidental vê? Vê pessoas regozijarem-se com a morte de civis em Israel. Foi isto que os árabes viram durante anos. Por exemplo, se procurarmos ‘Sderot Cinema’, isto foi em 2014, quando Israel esteve a bombardear Gaza como habitual, e os israelitas em Sderot, nos kibbutz ou nos Colonatos, foram para uma colina e tinham pipocas e bebidas para ver o espetáculo, e aplaudiam cada míssil que caía [em Gaza]”, argumenta.

·         Olhar para a história

Youssef pauta o século XIX, onde haviam os judeus orientais na Ucrânia e na Rússia, e os judeus ocidentais na Europa. À época, os judeus do leste tiveram de emigrar e foram expulsos. 

“E a certa altura, as pessoas no Ocidente, especialmente na Inglaterra [disseram] ‘temos demasiados judeus, precisamos de uma solução’. Uma solução para que? ‘Para o problema judaico’. Como se precisássemos nos livrar deles. E acabaram por dizer ‘muito bem, vamos para a Palestina’”, acrescenta.

Quando chegaram à Palestina, já em 1914, 700.000 pessoas viviam ali, 3% das quais eram judias. Youssef rememora a declaração do então ministro britânico das Relações Exteriores, Arthur Balfour, que chamou o povo judeu na Inglaterra de raça estranha e hostil, em 1917. “O único membro do parlamento inglês que os designou como cidadãos britânicos foi o Lord Montagu”, aponta Youssef. 

“Então, empurraram-no [povo judeu], mas não estava a ir suficientemente depressa, e vieram os nazis, e, nessa altura, já não se tratava de uma solução. Era a última solução, a solução final de Hitler, porque precisava de uma resposta para a questão judaica, a ‘Judenfrage’. E depois como vêem, aconteceu o Holocausto. O genocídio mais orquestrado, industrializado e horrível dos nossos tempos moderno, morreram 6 milhões de judeus”.  

Assim que a situação se alarmou, relembra o entrevistado, os judeus deixaram o Leste Europeu e foram para a Europa Ocidental e América, depois de acusados, seguiram para a Palestina. Então, em 1948, mesmo antes da declaração de Israel, viviam ali 2 milhões de pessoas. “Apenas 30% deles eram judeus. Então toda a ideia de uma terra sem povo, um povo sem terra era marketing, já haviam os palestinos”, refuta Youssef.

“Bem, ponha-se do lado árabe, em 1948 constituíam 70% da população, e de repente, a ONU dá-vos 48% da terra. E esta é uma questão muito importante, porque na mente do público ocidental, eles sempre pensaram na resistência palestiniana, ou o lado palestino como militante, islâmico”. complementa.

 

·         José Genoino: Israel está usando armas proibidas pela convenção internacional. Quem é terrorista nesta história?

 

O ex-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) José Genoìno, em entrevista à TV 247, expressou profunda preocupação e fez um apelo emocionado diante da trágica situação em Gaza. Em suas palavras, ele destacou a urgência de ação internacional para evitar uma catástrofe humanitária, que inclui a morte de crianças na região.

Uma das principais denúncias de Genoino é o uso de armas proibidas pela convenção internacional por parte de Israel, as bombas de fósforo branco. Essas armas, muitas vezes letais e destrutivas, estão causando um impacto devastador sobre a população civil em Gaza. Em meio a esse cenário, ele levanta uma questão contundente: "Quem é o terrorista nesta história?".

O ex-presidente também enfatizou a importância de uma postura unitária da esquerda em solidariedade ao povo palestino. Ele condenou veementemente o que descreveu como o "estado sionista, assassino e agressor de Israel". Essa declaração reflete a visão de que a solidariedade internacional é crucial para pressionar por uma resolução justa do conflito.

 

Fonte: Jornal GGN/CNN Brasil/Brasil 247

 

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