André Márcio Neves
Soares: O fim da ONU?
Se
a ONU, caro leitor, não conseguir um meio de parar esse massacre de Israel
contra os palestinos, temo que ela tenha se tornado obsoleta de uma vez por
todas. A questão não é que não existam esforços para barrar o genocídio e o
plano de Israel de expulsar os palestinos da região. O problema está no modelo adotado
desde o fim da Segunda Guerra Mundial de existir apenas cinco países no mundo
com o poder de vetar, unilateralmente, qualquer assunto que precisar da
aprovação unânime deles. Resta mais do que claro que no atual mundo multipolar,
com novos atores em ascensão e uma grave crise humanitária que se alastra pelo
globo, não é mais possível que apenas 5 países tenham o cadeado das decisões
mais importantes e que mais afetam todos os seres vivos do nosso planeta. Nesse
sentido, a guerra é só um dos diversos temas polêmicos que estão a nos assolar.
Podemos citar aqui também a questão climática, o drama interminável dos
refugiados e dos migrantes mundo afora, a aceleração desenfreada da tecnologia
e seus efeitos malévolos para o mundo do trabalho, o potencial para novas
pandemias devido à destruição do meio ambiente, entre outros.
Nesse
diapasão, vamos correlacionar nesse breve texto apenas a questão do conflito
bélico entre Israel e o Hamas por uma questão de espaço. Antes disso, uma breve
digressão: se voltarmos um pouco no tempo, exatamente nas chamadas “Guerra do
Golfo”, “Guerra da Bósnia” e “Guerra do Kosovo ”, durante toda a década de
1990, é possível verificar a fragilidade desse modelo dos 5 países “senhores
das armas”. Mesmo antes, como na invasão da Hungria pela então União Soviética
ou na famigerada Guerra do Vietnã – para não falar nas guerras regionais na
época da descolonização africana e asiática – quando um desses 5 países queria
entrar em conflito, os outros se calavam, apoiavam ou simplesmente vetavam
alguma medida mais humanitária, porém esse veto nunca evitou na prática a
intervenção militar, se isso fosse da vontade desses países.
Nessa
toada, o mundo assiste hoje uma reação mil vezes desproporcional de Israel ao
ataque (quase) suicida do Hamas a algumas cidades que fazem fronteira com a
faixa de Gaza. É verdade que alguns foguetes foram lançados mais longe, até Tel
Aviv, mas foram poucos que chegaram ao seu destino. A verdade é que o Hamas
mordeu a isca de vez lançada por Israel. De fato, desde que a ala mais
conservadora dos sionistas voltou com toda a força ao poder em Israel nos
últimos anos, a narrativa de domínio judaico sobre a região outrora ocupada
pelos palestinos se intensificou, bem como o incremento dos assentamentos de
colonos judeus em terras que não deveriam ser ocupadas por eles. Sem força
militar comparável a Israel, nem voz política no cenário internacional que
consiga barrar essas ações condenáveis, o que restou aos palestinos? Alguém que
acompanhe minimamente os acontecimentos do mundo foi pego de surpresa com as
ações do Hamas? Sinceramente, acredito que não. Talvez a surpresa tenha sido o
êxito inicial e as atrocidades cometidas pelos integrantes dessa organização
que a própria ONU não caracteriza como terrorista.
Por
conseguinte, mais de duas mil crianças palestinas já morreram devido aos
bombardeios incessantes de Israel na Faixa de Gaza. É duro ver um genocídio
desses e ainda ter que engolir o discurso da grande mídia de que Israel tem o
“direito de se defender”. Israel não está se defendendo. Está atacando, isso
sim. Está matando pessoas que, na sua grande maioria, apenas lutam para
sobreviver num pedaço exíguo de terra inóspita. De forma semelhante, mais de 6
mil prédios já foram atacados por bombas vindas do céu, sem (quase) nenhuma
artilharia antiaérea, deixando centenas de pessoas sob escombros.
Mas,
e a ONU? No exato momento em que Israel se prepara para lançar a ofensiva
terrestre na faixa de Gaza, com potencial para quintuplicar o número de mortes
já registradas, por que a ONU se limita apenas a tentar estabelecer corredores
humanitários? Infelizmente, a resposta não é tão simples. Basta ver que a ONU
foi criada, primordialmente, para evitar uma terceira guerra mundial. Mas não
apenas para isso. A ONU possui muitos outros objetivos além de manter a
segurança e a paz mundial, como estimular os direitos humanos, ajudar no
desenvolvimento econômico e no progresso social, defender o meio ambiente, além
de outras ações mais marginais de proteção contra desastres naturais, tentar
evitar conflitos armados e ajudar aos mais necessitados contra a fome endêmica
nos países mais pobres do globo.
Ao
ler essa lista de atribuições que os países delegaram para esse organismo
intergovernamental, é possível perguntar o quão todos esses objetivos foram
realmente alcançados. A verdade é que ainda não tivemos uma terceira guerra
mundial. Mas o crédito maior deve ser dado ao poder de destruição do planeta
pelas bombas atômicas que as principais potências do mundo possuem, do que à
capacidade da ONU de manter a segurança e a paz mundial.
Nessa
circunstância, onde estão os direitos humanos dos migrantes mundo afora, em
campos insalubres de refugiados por guerras promovidas, direta ou
indiretamente, pelos mesmos países que têm o poder de veto no Conselho de
Segurança da própria ONU? Da mesma maneira, cadê o desenvolvimento econômico e
o progresso social dos países mais necessitados, especialmente no continente
africano, ao longo dos últimos 80 anos, desde que a ONU foi criada? E o que
dizer sobre o aquecimento global e o aumento da destruição do meio ambiente,
com a expansão das commodities de monocultura e o incremento da exploração da
indústria petrolífera, e agora a corrida pelo Lítio, componente básico para os
veículos movidos por energia elétrica?
A
lista é grande, caro leitor. A fome cresce num mundo abarrotado de produtos
supérfluos, assim como temos nesse exato momento mais de uma dezena de
conflitos armados ao redor do planeta, sendo os principais a Guerra entre
Israel e Hamas, o conflito entre Azerbaijão x Armênia em Nagorno-Karabakh (Já
finalizado), a Guerra Rússia x Ucrânia, a Guerra da Síria e a Guerra civil no
Iêmen.
Diante
do exposto, será que ainda existe alguém que aposta no prolongamento temporal
da ONU como organização extraterritorial capaz de manter o mundo em condições
adequadas para a vida prosperar? Ou seremos capazes de imaginar uma outra
alternativa de sociedade mais eficaz para barrar a aniquilação de todas as
vidas do planeta em um futuro não muito distante? Basta lembrar que uma em cada
dez espécies pode ser extinta até o final desse século. A principal causa? O
homem!
Destarte,
insisto porque é imperioso para o futuro do planeta essa questão, a saber, um
novo organismo supranacional que contemple todos os povos com suas culturas,
economias, religiões e, acima de tudo, uma política de bem-estar geral. O atual
secretário-geral da ONU, António Guterres, tem apresentado algumas propostas
interessantes, porém ainda tímidas para o objetivo maior citado acima.
Realmente, não é mais concebível uma entidade como a ONU baseada, na sua
essência, no Tratado de Westfália, em 1648. Estamos no século XXI, CARAMBA!!!
Não existem mais continentes a ser descobertos, muito menos isolamento
territorial. A Pangeia humana já é fato há séculos. O avançar da tecnologia
reduz e embrutece cada vez mais um mundo que já foi bonito pelas suas longas
distâncias, idiossincrasias de cada povo e naturezas intocadas. Tudo isso
acabou! Talvez o mais subjetivo que temos hoje seja a tela do celular de cada
ser humano. Se tudo isso não for levado em conta para o estabelecimento de um
novo acordo global entre as nações, corremos o risco de, enfim, desembocarmos
nas mãos do “Grande Irmão” orwelliano. E se isso acontecer, a Palestina não
existirá mais!
·
O
“fim de jogo” da guerra entre Israel e Hamas. Por Richard Galant
Em
um livro de 2009, Gideon Rose escreveu que os americanos pensam nas guerras
como “lutas de rua em grande escala, cujo desafio estratégico central é como
derrotar os bandidos”.
Os
líderes militares concentram-se nos combates, prestando pouca atenção às
consequências a longo prazo. “Mas, em algum momento, toda guerra entra no que
pode ser chamado de ‘fim de jogo’ ou ‘fase final’, e então quaisquer questões
políticas que possam ter sido ignoradas voltam com força total.”
No
livro, intitulado “How Wars End” (“Como As Guerras Terminam”), Rose descobriu
que a incapacidade de refletir plenamente sobre as questões políticas marcou o
envolvimento dos Estados Unidos em seis conflitos, desde a Primeira Guerra Mundial
até a Guerra do Iraque.
Na
semana passada, enquanto Israel continuava a sua resposta militar
ao ataque terrorista do
Hamas de 7 de outubro,
os seus objetivos políticos – e potencial fim de jogo – continuaram a ser uma
fonte de enorme controvérsia.
Os EUA apoiaram o direito de Israel de se
defender, mas o presidente Joe Biden, sob pressão de alguns membros do seu
partido, apelou a uma “pausa” na guerra por razões humanitárias.
O
especialista em poder aéreo e terrorismo, Robert A. Pape, da Universidade de Chicago, lembrou que “Israel
invadiu o sul do Líbano com cerca de 78 mil soldados de combate e quase 3 mil
tanques e veículos blindados em junho de 1982”.
“O
objetivo era esmagar os terroristas da Organização para a Libertação da
Palestina (OLP), e Israel alcançou um sucesso significativo no curto prazo. No
entanto, esta operação militar causou a criação do Hezbollah em julho de 1982,
levou a um vasto apoio local ao Hezbollah e a ondas de ataques suicidas e,
finalmente, levou à retirada do Exército de Israel de grande parte do sul do
Líbano em 1985 e ao crescimento do Hezbollah desde então.”
Na
guerra contra o Hamas, acrescentou, “a
visão estratégica de Israel tem sido avançar fortemente militarmente primeiro e
depois descobrir o processo político”.
“Mas
é provável que isto integre cada vez mais o Hamas à população local e produza
mais terroristas, em vez de matar. Existe uma alternativa: iniciar agora o
processo político rumo a um caminho para um Estado palestino e criar uma
alternativa política viável para os palestinos que não seja o Hamas.”
DJ Rosenthal, que atuou como diretor de
contraterrorismo no Conselho de Segurança Nacional dos EUA durante a
administração Obama, escreveu:
“Israel
deve garantir que a prossecução dos seus objetivos contra o Hamas seja
conduzida com o máximo cuidado para minimizar as baixas civis. Embora seja
verdade que o Hamas utiliza civis como escudos humanos para criar uma
complicação tática significativa para a missão de Israel, a desumanidade do
Hamas não constitui uma base sobre a qual Israel possa afastar-se das suas
obrigações de minimizar as baixas civis.”
“Não
o fazer é correr o risco de minar os interesses de segurança de Israel na
região, o apoio ocidental e a sua legitimidade”, disse.
“Tomemos,
por exemplo, o ataque das Forças de Defesa de Israel ao campo de refugiados de
Jabalya, em Gaza, na terça-feira
(31). Embora as FDI tenham dito que visavam a liderança do alto escalão do
Hamas, o que poderia tornar os ataques legais ao abrigo do direito
internacional, Israel não deve ignorar as implicações da realpolitik”, escreveu
ainda.
“A
Bolívia, o Chile e a Colômbia tomaram medidas diplomáticas drásticas contra
Israel, e a Jordânia chamou de volta o seu embaixador em Tel Aviv. Entretanto,
o secretário de Estado Antony Blinken visita novamente Israel, sem dúvida para
exercer pressão privada sobre o governo israelense para evitar vítimas civis.
Os impactos diplomáticos para Israel só continuarão a aumentar se estes tipos
de ataques persistirem”, completou.
Shai Davidai, professor assistente de administração na
Columbia Business School, explicou por que foi visto chorando em um vídeo viral
gravado no campus da universidade.
“Após
o terrível massacre em Israel perpetrado por terroristas do Hamas em 7 de
outubro, senti uma dor intensa e implacável. Luto pelos milhares de civis
baleados, assassinados, mutilados, estuprados e decapitados. Luto pela morte
intencional de bebês, alguns queimados de forma irreconhecível. Luto pelas
crianças confusas arrastadas sob a mira de armas por homens violentos para o
cativeiro em Gaza.”
“No
entanto, havia uma dor mais profunda e sombria. Uma dor que emanava de uma
ferida que pensei estar curada. Uma dor que vem do trauma escondido no fundo do
coração de cada judeu. Uma dor que vem de ver, mais uma vez, o povo judeu ser
alvo de ataques em suas casas e comunidades”, disse.
Em Gaza, Nadia AbuShaban participou de uma
festa de aniversário do seu sobrinho Hashem, de 12 anos. “Com tão poucas
oportunidades em Gaza, o que ele se tornará quando crescer? Que efeito todo
esse medo e violência terão em sua mente jovem e em desenvolvimento? Quando as
realidades da vida aqui se estabelecerão? E, claro, ele viverá para ver seu
próximo aniversário?”.
·
Condenar
Israel ou Hamas é inútil, o problema é europeu, diz Bassem Youssef
O
humorista e cirurgião egípcio Bassem Youssef viralizou ao protagonizar mais um
episódio em que nos faz refletir sobre o que acontece no Oriente Médio, e
principalmente em Gaza. Em entrevista concedida ao apresentador britânico Piers
Morgan, Youssef inicia a análise pontuando a inutilidade do debate centrado na
condenação de Israel ou Hamas.
Segundo
ele, mesmo que as condenações ocorram, isso não irá resolver o problema da
guerra. “Condenar o Hamas ou Israel? Completamente inútil. Eu condeno o
Hamas e você Israel, a entrevista acaba e o que acontece? Nada. É apenas um
ponto de controle da moralidade”.
·
A visão e o radicalismo do ocidente
O
controle da moralidade a que Youssef se refere está no ciclo vicioso alimentado
pelo radicalismo do ocidente, que enxerga apenas o que lhe convém, conforme a
situação se agrava. É preciso olhar para a história e ver que “o problema
não é um problema judeu, não é um problema do Oriente Médio, não é um problema
árabe, é um problema europeu”.
“O
que é que o público ocidental vê? Vê pessoas regozijarem-se com a morte de
civis em Israel. Foi isto que os árabes viram durante anos. Por exemplo, se
procurarmos ‘Sderot Cinema’, isto foi em 2014, quando Israel esteve a
bombardear Gaza como habitual, e os israelitas em Sderot, nos kibbutz ou nos
Colonatos, foram para uma colina e tinham pipocas e bebidas para ver o
espetáculo, e aplaudiam cada míssil que caía [em Gaza]”, argumenta.
·
Olhar para a história
Youssef
pauta o século XIX, onde haviam os judeus orientais na Ucrânia e na Rússia, e
os judeus ocidentais na Europa. À época, os judeus do leste tiveram de emigrar
e foram expulsos.
“E
a certa altura, as pessoas no Ocidente, especialmente na Inglaterra [disseram]
‘temos demasiados judeus, precisamos de uma solução’. Uma solução para que?
‘Para o problema judaico’. Como se precisássemos nos livrar deles. E acabaram
por dizer ‘muito bem, vamos para a Palestina’”, acrescenta.
Quando
chegaram à Palestina, já em 1914, 700.000 pessoas viviam ali, 3% das quais eram
judias. Youssef rememora a declaração do então ministro britânico das Relações
Exteriores, Arthur Balfour, que chamou o povo judeu na Inglaterra de raça
estranha e hostil, em 1917. “O único membro do parlamento inglês que os
designou como cidadãos britânicos foi o Lord Montagu”, aponta Youssef.
“Então,
empurraram-no [povo judeu], mas não estava a ir suficientemente depressa, e
vieram os nazis, e, nessa altura, já não se tratava de uma solução. Era a
última solução, a solução final de Hitler, porque precisava de uma resposta
para a questão judaica, a ‘Judenfrage’. E depois como vêem, aconteceu o
Holocausto. O genocídio mais orquestrado, industrializado e horrível dos nossos
tempos moderno, morreram 6 milhões de judeus”.
Assim
que a situação se alarmou, relembra o entrevistado, os judeus deixaram o Leste
Europeu e foram para a Europa Ocidental e América, depois de acusados, seguiram
para a Palestina. Então, em 1948, mesmo antes da declaração de Israel, viviam
ali 2 milhões de pessoas. “Apenas 30% deles eram judeus. Então toda a
ideia de uma terra sem povo, um povo sem terra era marketing, já haviam os
palestinos”, refuta Youssef.
“Bem,
ponha-se do lado árabe, em 1948 constituíam 70% da população, e de repente, a
ONU dá-vos 48% da terra. E esta é uma questão muito importante, porque na mente
do público ocidental, eles sempre pensaram na resistência palestiniana, ou o
lado palestino como militante, islâmico”. complementa.
·
José
Genoino: Israel está usando armas proibidas pela convenção internacional. Quem
é terrorista nesta história?
O
ex-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) José Genoìno, em
entrevista à TV 247, expressou profunda preocupação e fez um apelo emocionado
diante da trágica situação em Gaza. Em suas palavras, ele destacou a urgência
de ação internacional para evitar uma catástrofe humanitária, que inclui a
morte de crianças na região.
Uma
das principais denúncias de Genoino é o uso de armas proibidas pela convenção
internacional por parte de Israel, as bombas de fósforo branco. Essas armas,
muitas vezes letais e destrutivas, estão causando um impacto devastador sobre a
população civil em Gaza. Em meio a esse cenário, ele levanta uma questão
contundente: "Quem é o terrorista nesta história?".
O
ex-presidente também enfatizou a importância de uma postura unitária da
esquerda em solidariedade ao povo palestino. Ele condenou veementemente o que
descreveu como o "estado sionista, assassino e agressor de Israel".
Essa declaração reflete a visão de que a solidariedade internacional é crucial
para pressionar por uma resolução justa do conflito.
Fonte:
Jornal GGN/CNN Brasil/Brasil 247
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