Da rebeldia ao
psicodelismo: relembre as 6 fases dos Beatles na moda
Apenas
sete anos separam os lançamentos do primeiro e o do último álbum dos Beatles. Entre 1963 e
1970, os Fab Four, como foram apelidados, revolucionaram a indústria musical em níveis
identificáveis até hoje. Na moda, a influência do grupo britânico também é
significativa. Em menos de uma década, as mudanças visuais dos garotos de
Liverpool foram tão intensas que é difícil acreditar no tão pouco tempo passou
entre cada fase.
·
Influência
norte-americana
Nos
primeiros anos de banda, John, Paul e George (o baterista Ringo Starr só
entraria em 1963) eram altamente influenciados, musicalmente e na
moda,
por artistas dos Estados Unidos. Apesar de serem britânicos, as jaquetas de couro norte-americanas
eram o figurino dos pequenos shows que os Beatles apresentavam.
Os
visuais vinham do cinema, desde os anos 1950, eternizados em
ícones como Marlon Brando, no filme O Selvagem (1953), e James Dean, em Juventude Transviada
(1955).
Na música, Elvis Presley e Gene Vincent já traziam o look desde
a década que precedeu os Beatles.
·
Jovens
e românticos
Assim
os Beatles foram apresentados ao mundo: os ternos combinando, o icônico cabelo
moptop e o olhar inocente. Acompanhados de letras em sua maioria românticas, os
visuais de John, Paul, George e Ringo se tornaram um estereótipo de como uma
banda de rock ‘n’ roll deveria se vestir nos anos 1960.
O
inconfundível corte de cabelo teve inspiração nos jovens franceses e no cenário
musical da Alemanha, por onde os
Beatles estiveram em seus primeiros momentos juntos, antes mesmo de
lançarem Please Please Me, o primeiro álbum
da banda, em 1963.
·
Quatro
Beatles, quatro personalidades
O
sucesso imediato — e internacional — da boy band britânica
permitiu que os integrantes explorassem suas individualidades, criando, além de
músicas, looks cada vez mais autorais. Os cortes de cabelo se
mantiveram no padrão, mas as cores vibrantes
invadiram o
visual.
No
ano de 1966, o álbum Revolver foi lançado.
Esse foi o primeiro contato da banda com a psicodelia, ainda em pequenos
níveis. A letargia também foi visual: diferentes padrões de estampa e cores
vivas foram o primeiro sinal do que a moda dos anos 1970 viria a
trazer.
·
All You Need is
Love
A psicodelia chegou de
vez. No auge do uso do LSD, os Beatles embarcaram em uma turnê. Não mais pelos
palcos, mas em um ônibus. O Magical Mystery Tour foi um
álbum-conceito, acompanhado de um filme, no qual a moda negou a inocência do
passado e abraçou as cores, as culturas orientais, como da Índia e
do Tibete, e o maximalismo; até mesmo uma
fantasia de morsa foi vestida à época.
Parte
da responsabilidade pelas inovações é do coletivo holandês The Fool,
responsável pela elaboração de variados figurinos da banda. Os destaques são os
visuais da apresentação para TV da canção All You Need is Love e do filme Magical Mystery
Tour, ambos em 1967.
·
Os
óculos de John Lennon
Ao
ver um simples desenho de óculos de lentes redondas sobre um bigode, já sabemos
de quem se trata. Dos últimos anos de Beatles até sua morte trágica, em
1980, John Lennon fez do
acessório sua marca registrada. O artista adotou os óculos entre 1967 e 1968,
mas foi com o álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band que o visual
ganhou a relevância na cultura pop.
Influenciados
e influenciadores do movimento hippie, a capa e os
produtos promocionais do lançamento marcaram não só pelo óculos de Lennon, mas
por toda a cenografia e looks dos quatro Beatles. As
coloridas vestes militares foram
desenhadas por Noel Howard e foram essenciais na representação da banda
fictícia liderada pelo Sargento Pimenta criada pelos Fab Four no
álbum de 1967.
·
Por
fim, a volta ao tradicional
Os
últimos anos dos Beatles foram conturbados. As rotineiras discussões levaram a
banda à separação em 1970. Antes disso, a fim de preservar as imagens
individuais, os (não mais) garotos de Liverpool voltaram a uma postura comedida
e com poucas aparições públicas. No estilo, os ternos, casacos e coletes
voltaram à tona, com pegada mais luxuosa.
Cada
integrante ia em uma direção diferente. George Harrison era influenciado pela
religiosidade e pelo budismo, enquanto John Lennon se mantinha com raízes
hippies. Paul queria o rock ‘n’ roll, e Ringo se manteve com o espírito
brincalhão. Os últimos álbuns foram gravados sem grandes produções, com sons
crus e temas adultos.
Na
quinta-feira (2/11), 53 anos depois da dissolução da banda, a última música dos Beatles foi lançada.
A repercussão com a novidade evidencia o impacto cultural estrondoso que John,
Paul, George e Ringo causaram em diferentes indústrias. Na moda, percebe-se uma
exemplar utilização de símbolos que ultrapassaram a estética e a
utilidade,
sendo transformados em identificadores de quem os veste. Grupos cover, paródias
e até mesmo bandas atuais adotam os visuais que deixam claro, à primeira vista,
que se trata de um dos produtos mais influentes da história, os Beatles.
Ø Ex-beatle não
acreditou que banda faria sucesso e cogitou trabalhar como cabeleireiro
“Quando
nós começamos a ter sucesso, pensamos que talvez teríamos dez anos. Para mim,
era a extensão máxima para um grupo de rock na época. Nenhum de nós pensou que
duraria uma semana”,
revelou o ex-beatle Ringo Starr,
em entrevista recente dada ao jornal britânico The Sunday
Times.
Como
membro de uma das bandas ainda mais famosas do mundo, Starr expressou sua
incredulidade quanto ao potencial de sucesso dos Beatles.
Na entrevista, que discutia o lançamento
mais recente do grupo, "Now and Then", ele confessou suas
dúvidas sobre a longevidade do grupo.
Ele
também revelou que tinha a intenção de seguir uma carreira como cabeleireiro,
enquanto George
Harrison estava planejando abrir uma oficina de automóveis.
Ringo explicou que os membros da banda haviam se preparado para um sucesso
efêmero, mas isso não os impediu de continuar tocando juntos.
O
músico expressou sua surpresa diante do sucesso dos Beatles na
época. “Quantas pessoas nos ouviram no streaming no ano passado? Um
bilhão? Três bilhões? Isso me surpreende… Nossas músicas ainda continuam,
sabe?”
“Os Beatles" solidificaram sua posição
como uma das bandas mais bem-sucedidas e queridas na história da música durante
as décadas de 1960 e 1970, deixando uma marca indelével na indústria
fonográfica com canções como "Hey
Jude", "Help!" e "Come
Together".
Paul
McCartney anunciou o lançamento da nova música, "Now
and Then", que foi finalizada
mais de 40 anos após o início de sua gravação e chegou ao mundo
no dia 2 de novembro. Considerada "a última música dos
Beatles", a música teve sua versão final foi de fato desenvolvida e
trabalhada pelos quatro integrantes, mas em tempos diferentes. John Lennon escreveu
e cantou, George Harrison fez o solo e Paul McCartney e Ringo foram os
responsáveis pela finalização da canção.
Em
1970, John Lennon havia gravado apenas a versão demo. A inteligência
artificial removeu os ruídos da gravação original de Lennon,
transformando seu canto mais realista. O mesmo procedimento foi aplicado
aos solos de Harrison, que originalmente haviam sido rejeitados em 1995 devido
à considerável interferência sonora. McCartney e Ringo desempenharam seu
papel, mantendo o alto padrão
de qualidade que sempre ofereceram.
Ø Chega de iê-iê-iê:
Beatles como ameaça à Alemanha comunista
Quando
a beat music chegou à comunista Alemanha Oriental, o autor e radialista
Wolfgang Martin, nascido em 1952, era um adolescente. Ele ficou fascinado com
esse novo som com que sobretudo quatro rapazes de Liverpool, na Inglaterra,
haviam contagiado todo o mundo, não só o ocidental.
No
começo dos anos 60, a “Cortina de Ferro” dividia a Europa entre o Oeste
democrático e o Leste sob influência da União Soviética. Havia dois Estados
alemães: a ocidental República Federal da Alemanha (RFA) e a República
Democrática Alemã (RDA), uma ditadura socialista. Em 1961 ergueu-se o Muro de
Berlim, dividindo ambos não só politicamente, mas fisicamente.
Além
disso, havia grandes diferenças de cultura, em especial a jovem. No Ocidente a
febre do rock’n’roll há muito se alastrara, graças a astros como Little Richard
e Elvis Presley. Para as gerações mais velhas, tratava-se de algo estranho e
até ofensivo, mas que não havia mais como deter. Então nasceu um gênero ainda
mais “duro”, a beat music. E ela não parou diante da Cortina de Ferro.
“Cantores
popularescos”
The
Beatles, que já haviam contagiado todo o Ocidente, eletrizaram não só a
juventude, mas também muitos músicos da RDA, que tentavam copiar seu estilo. O
radialista Martin vivenciou tudo, desde o lançamento da carreira do Beatles,
aos diversos grupos de beat que logo despontaram na Alemanha Oriental. Ele era
fanático por música, escutava as rádios ocidentais e as novas bandas do Leste e
do Oeste.
De
início o regime comunista alemão tolerava esses sons “do outro lado”. A fim de
aliviar um pouco a vida dos jovens contidos pelo Muro, permitia-se que
escutassem a música que quisessem.
Assim,
na popular revista de cultura Das Magazin, uma correspondente de Londres
comentava, benevolente: “Os Beatles são um grupo de cantores popularescos entre
20 e 24 anos de idade, que tocam guitarras elétricas e tambores e, com alegre
resistência física, dançando ritmicamente o twist para baixo e para cima,
lançam sua música num amplificador mecânico.”
“A
exuberante, desenfreada alegria juvenil de sua apresentação passa para o
público, prende e contagia jovens e velhos”, prossegue o artigo do periódico
alemão-oriental. E os discos dos Beatles também invadiam as casas: a gravadora
Amiga, da RDA, chegou a lançar alguns.
Beat
music declarada inimiga de classe
Mas
esse idílio durou pouco: música, bandas e penteados logo saíram de controle. O
governo socialista aproveitou como pretexto os tumultos durante um concerto dos
Rolling Stones em Berlim, em setembro de 1965, para declarar a beat music
“inimiga de classe”. As autoridades receberam a indicação de “proceder com todo
o rigor contra tais excessos durante e após os eventos de dança […], assim como
contra essa ‘música de hotentotes'”.
O
chefe de Estado e partido da RDA de 1950 a 1971, Walter Ulbricht, formulou
assim seu repúdio: “Será mesmo que agora temos que copiar todo esse lixo que
vem do Ocidente? Seria o caso de dizer ‘chega’ à monotonia do iê-iê-iê, ou como
quer que a coisa se chame.”
Wolfgang
Martin se inspirou nessa citação tornada clássica para o título de seu livro
Schluss mit dem Yeah, Yeah, Yeah? (Chega de iê-iê-iê?). Nele, descreve não só
sua própria trajetória musical como também como a Beatlemania tomou conta da
RDA e quão forte foi a influência do quarteto de Liverpool sobre os músicos
alemães-orientais. E registra também o impacto sobre os fãs e bandas quando, no
outono de 1965, a liderança socialista resolveu proibir a beat music.
Apenas
na cidade de Leipzig, 44 conjuntos de música jovem foram praticamente
criminalizados – e mesmo assim nunca abandonaram realmente o iê-iê-iê. Em seu
livro, Martin conta também a história desses músicos, entrevistando
celebridades pop da RDA como Veronika Fischer, Frank Schöbel ou Dieter Birr, do
grupo Puhdys, que contam sobre sua paixão pela música e seu poder de
resiliência durante os anos em que estavam proibidos de tocar seu gênero
favorito.
Influência
indelével dos quatro de Liverpool
No
começo da década de 70, por fim, o regime da RDA, agora liderado por Erich
Honecker, abrandou a interdição, e anos mais tarde permitiu até apresentações
de artistas do Ocidente, como Bruce Springsteen ou o alemão ocidental Udo
Lindenberg.
Mesmo
bandas dos anos 70 e 80 – entre as quais Silly, Karat, City ou Puhdys, também
conhecidas no Oeste –, formadas bem depois de os Beatles já terem se separado,
reconhecem que suas raízes estão na música do quarteto de Liverpool.
Martin
ilustra sua viagem pelos meios musicais e o quotidiano da RDA com fotos de
capas de álbuns, das bandas e com recortes de jornais da época. Hoje esses anos
parecem quase cômicos, mas na época eram a dura realidade para a população da
Alemanha comunista.
Martin
transformou sua paixão em profissão, como autor de programas de rádio e diretor
de música de diversas emissoras. Schluss mit dem Yeah, Yeah, Yeah? é uma obra
de história alemã: história contemporânea e, naturalmente, também história da
música pop, escrita por um nerd com grande amor pelos detalhes. And the beat
goes on.
Fonte:
Metrópoles/Fórum/Deutsche Welle
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