quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Da rebeldia ao psicodelismo: relembre as 6 fases dos Beatles na moda

Apenas sete anos separam os lançamentos do primeiro e o do último álbum dos Beatles. Entre 1963 e 1970, os Fab Four, como foram apelidados, revolucionaram a indústria musical em níveis identificáveis até hoje. Na moda, a influência do grupo britânico também é significativa. Em menos de uma década, as mudanças visuais dos garotos de Liverpool foram tão intensas que é difícil acreditar no tão pouco tempo passou entre cada fase.

·         Influência norte-americana

Nos primeiros anos de banda, John, Paul e George (o baterista Ringo Starr só entraria em 1963) eram altamente influenciados, musicalmente e na moda, por artistas dos Estados Unidos. Apesar de serem britânicos, as jaquetas de couro norte-americanas eram o figurino dos pequenos shows que os Beatles apresentavam.

Os visuais vinham do cinema, desde os anos 1950, eternizados em ícones como Marlon Brando, no filme O Selvagem (1953), e James Dean, em Juventude Transviada (1955). Na música, Elvis Presley e Gene Vincent já traziam o look desde a década que precedeu os Beatles.

·         Jovens e românticos

Assim os Beatles foram apresentados ao mundo: os ternos combinando, o icônico cabelo moptop e o olhar inocente. Acompanhados de letras em sua maioria românticas, os visuais de John, Paul, George e Ringo se tornaram um estereótipo de como uma banda de rock ‘n’ roll deveria se vestir nos anos 1960.

O inconfundível corte de cabelo teve inspiração nos jovens franceses e no cenário musical da Alemanha, por onde os Beatles estiveram em seus primeiros momentos juntos, antes mesmo de lançarem Please Please Me, o primeiro álbum da banda, em 1963.

·         Quatro Beatles, quatro personalidades

O sucesso imediato — e internacional — da boy band britânica permitiu que os integrantes explorassem suas individualidades, criando, além de músicas, looks cada vez mais autorais. Os cortes de cabelo se mantiveram no padrão, mas as cores vibrantes invadiram o visual.

No ano de 1966, o álbum Revolver foi lançado. Esse foi o primeiro contato da banda com a psicodelia, ainda em pequenos níveis. A letargia também foi visual: diferentes padrões de estampa e cores vivas foram o primeiro sinal do que a moda dos anos 1970 viria a trazer.

·         All You Need is Love

psicodelia chegou de vez. No auge do uso do LSD, os Beatles embarcaram em uma turnê. Não mais pelos palcos, mas em um ônibus. O Magical Mystery Tour foi um álbum-conceito, acompanhado de um filme, no qual a moda negou a inocência do passado e abraçou as cores, as culturas orientais, como da Índia e do Tibete, e o maximalismo; até mesmo uma fantasia de morsa foi vestida à época.

Parte da responsabilidade pelas inovações é do coletivo holandês The Fool, responsável pela elaboração de variados figurinos da banda. Os destaques são os visuais da apresentação para TV da canção All You Need is Love e do filme Magical Mystery Tour, ambos em 1967.

·         Os óculos de John Lennon

Ao ver um simples desenho de óculos de lentes redondas sobre um bigode, já sabemos de quem se trata. Dos últimos anos de Beatles até sua morte trágica, em 1980, John Lennon fez do acessório sua marca registrada. O artista adotou os óculos entre 1967 e 1968, mas foi com o álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band que o visual ganhou a relevância na cultura pop.

Influenciados e influenciadores do movimento hippie, a capa e os produtos promocionais do lançamento marcaram não só pelo óculos de Lennon, mas por toda a cenografia e looks dos quatro Beatles. As coloridas vestes militares foram desenhadas por Noel Howard e foram essenciais na representação da banda fictícia liderada pelo Sargento Pimenta criada pelos Fab Four no álbum de 1967.

·         Por fim, a volta ao tradicional

Os últimos anos dos Beatles foram conturbados. As rotineiras discussões levaram a banda à separação em 1970. Antes disso, a fim de preservar as imagens individuais, os (não mais) garotos de Liverpool voltaram a uma postura comedida e com poucas aparições públicas. No estilo, os ternos, casacos e coletes voltaram à tona, com pegada mais luxuosa.

Cada integrante ia em uma direção diferente. George Harrison era influenciado pela religiosidade e pelo budismo, enquanto John Lennon se mantinha com raízes hippies. Paul queria o rock ‘n’ roll, e Ringo se manteve com o espírito brincalhão. Os últimos álbuns foram gravados sem grandes produções, com sons crus e temas adultos.

Na quinta-feira (2/11), 53 anos depois da dissolução da banda, a última música dos Beatles foi lançada. A repercussão com a novidade evidencia o impacto cultural estrondoso que John, Paul, George e Ringo causaram em diferentes indústrias. Na moda, percebe-se uma exemplar utilização de símbolos que ultrapassaram a estética e a utilidade, sendo transformados em identificadores de quem os veste. Grupos cover, paródias e até mesmo bandas atuais adotam os visuais que deixam claro, à primeira vista, que se trata de um dos produtos mais influentes da história, os Beatles.

 

Ø  Ex-beatle não acreditou que banda faria sucesso e cogitou trabalhar como cabeleireiro

 

“Quando nós começamos a ter sucesso, pensamos que talvez teríamos dez anos. Para mim, era a extensão máxima para um grupo de rock na época. Nenhum de nós pensou que duraria uma semana”, revelou o ex-beatle Ringo Starr, em entrevista recente dada ao jornal britânico The Sunday Times.

Como membro de uma das bandas ainda mais famosas do mundo, Starr expressou sua incredulidade quanto ao potencial de sucesso dos Beatles. Na entrevista, que discutia o lançamento mais recente do grupo, "Now and Then", ele confessou suas dúvidas sobre a longevidade do grupo.

Ele também revelou que tinha a intenção de seguir uma carreira como cabeleireiro, enquanto George Harrison estava planejando abrir uma oficina de automóveis. Ringo explicou que os membros da banda haviam se preparado para um sucesso efêmero, mas isso não os impediu de continuar tocando juntos.

O músico expressou sua surpresa diante do sucesso dos Beatles na época. “Quantas pessoas nos ouviram no streaming no ano passado? Um bilhão? Três bilhões? Isso me surpreende… Nossas músicas ainda continuam, sabe?”

 “Os Beatles" solidificaram sua posição como uma das bandas mais bem-sucedidas e queridas na história da música durante as décadas de 1960 e 1970, deixando uma marca indelével na indústria fonográfica com canções como "Hey Jude", "Help!" e "Come Together".

Paul McCartney anunciou o lançamento da nova música, "Now and Then", que foi finalizada mais de 40 anos após o início de sua gravação e chegou ao mundo no dia 2 de novembro. Considerada "a última música dos Beatles", a música teve sua versão final foi de fato desenvolvida e trabalhada pelos quatro integrantes, mas em tempos diferentes. John Lennon escreveu e cantou, George Harrison fez o solo e Paul McCartney e Ringo foram os responsáveis pela finalização da canção.

Em 1970, John Lennon havia gravado apenas a versão demo. A inteligência artificial removeu os ruídos da gravação original de Lennon, transformando seu canto mais realista. O mesmo procedimento foi aplicado aos solos de Harrison, que originalmente haviam sido rejeitados em 1995 devido à considerável interferência sonora. McCartney e Ringo desempenharam seu papel, mantendo o alto padrão de qualidade que sempre ofereceram.

 

Ø  Chega de iê-iê-iê: Beatles como ameaça à Alemanha comunista

 

Quando a beat music chegou à comunista Alemanha Oriental, o autor e radialista Wolfgang Martin, nascido em 1952, era um adolescente. Ele ficou fascinado com esse novo som com que sobretudo quatro rapazes de Liverpool, na Inglaterra, haviam contagiado todo o mundo, não só o ocidental.

No começo dos anos 60, a “Cortina de Ferro” dividia a Europa entre o Oeste democrático e o Leste sob influência da União Soviética. Havia dois Estados alemães: a ocidental República Federal da Alemanha (RFA) e a República Democrática Alemã (RDA), uma ditadura socialista. Em 1961 ergueu-se o Muro de Berlim, dividindo ambos não só politicamente, mas fisicamente.

Além disso, havia grandes diferenças de cultura, em especial a jovem. No Ocidente a febre do rock’n’roll há muito se alastrara, graças a astros como Little Richard e Elvis Presley. Para as gerações mais velhas, tratava-se de algo estranho e até ofensivo, mas que não havia mais como deter. Então nasceu um gênero ainda mais “duro”, a beat music. E ela não parou diante da Cortina de Ferro.

“Cantores popularescos”

The Beatles, que já haviam contagiado todo o Ocidente, eletrizaram não só a juventude, mas também muitos músicos da RDA, que tentavam copiar seu estilo. O radialista Martin vivenciou tudo, desde o lançamento da carreira do Beatles, aos diversos grupos de beat que logo despontaram na Alemanha Oriental. Ele era fanático por música, escutava as rádios ocidentais e as novas bandas do Leste e do Oeste.

De início o regime comunista alemão tolerava esses sons “do outro lado”. A fim de aliviar um pouco a vida dos jovens contidos pelo Muro, permitia-se que escutassem a música que quisessem.

Assim, na popular revista de cultura Das Magazin, uma correspondente de Londres comentava, benevolente: “Os Beatles são um grupo de cantores popularescos entre 20 e 24 anos de idade, que tocam guitarras elétricas e tambores e, com alegre resistência física, dançando ritmicamente o twist para baixo e para cima, lançam sua música num amplificador mecânico.”

“A exuberante, desenfreada alegria juvenil de sua apresentação passa para o público, prende e contagia jovens e velhos”, prossegue o artigo do periódico alemão-oriental. E os discos dos Beatles também invadiam as casas: a gravadora Amiga, da RDA, chegou a lançar alguns.

Beat music declarada inimiga de classe

Mas esse idílio durou pouco: música, bandas e penteados logo saíram de controle. O governo socialista aproveitou como pretexto os tumultos durante um concerto dos Rolling Stones em Berlim, em setembro de 1965, para declarar a beat music “inimiga de classe”. As autoridades receberam a indicação de “proceder com todo o rigor contra tais excessos durante e após os eventos de dança […], assim como contra essa ‘música de hotentotes'”.

O chefe de Estado e partido da RDA de 1950 a 1971, Walter Ulbricht, formulou assim seu repúdio: “Será mesmo que agora temos que copiar todo esse lixo que vem do Ocidente? Seria o caso de dizer ‘chega’ à monotonia do iê-iê-iê, ou como quer que a coisa se chame.”

Wolfgang Martin se inspirou nessa citação tornada clássica para o título de seu livro Schluss mit dem Yeah, Yeah, Yeah? (Chega de iê-iê-iê?). Nele, descreve não só sua própria trajetória musical como também como a Beatlemania tomou conta da RDA e quão forte foi a influência do quarteto de Liverpool sobre os músicos alemães-orientais. E registra também o impacto sobre os fãs e bandas quando, no outono de 1965, a liderança socialista resolveu proibir a beat music.

Apenas na cidade de Leipzig, 44 conjuntos de música jovem foram praticamente criminalizados – e mesmo assim nunca abandonaram realmente o iê-iê-iê. Em seu livro, Martin conta também a história desses músicos, entrevistando celebridades pop da RDA como Veronika Fischer, Frank Schöbel ou Dieter Birr, do grupo Puhdys, que contam sobre sua paixão pela música e seu poder de resiliência durante os anos em que estavam proibidos de tocar seu gênero favorito.

Influência indelével dos quatro de Liverpool

No começo da década de 70, por fim, o regime da RDA, agora liderado por Erich Honecker, abrandou a interdição, e anos mais tarde permitiu até apresentações de artistas do Ocidente, como Bruce Springsteen ou o alemão ocidental Udo Lindenberg.

Mesmo bandas dos anos 70 e 80 – entre as quais Silly, Karat, City ou Puhdys, também conhecidas no Oeste –, formadas bem depois de os Beatles já terem se separado, reconhecem que suas raízes estão na música do quarteto de Liverpool.

Martin ilustra sua viagem pelos meios musicais e o quotidiano da RDA com fotos de capas de álbuns, das bandas e com recortes de jornais da época. Hoje esses anos parecem quase cômicos, mas na época eram a dura realidade para a população da Alemanha comunista.

Martin transformou sua paixão em profissão, como autor de programas de rádio e diretor de música de diversas emissoras. Schluss mit dem Yeah, Yeah, Yeah? é uma obra de história alemã: história contemporânea e, naturalmente, também história da música pop, escrita por um nerd com grande amor pelos detalhes. And the beat goes on.

 

Fonte: Metrópoles/Fórum/Deutsche Welle

 

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