quarta-feira, 8 de novembro de 2023

As divergências na América Latina sobre guerra Israel-Hamas

guerra entre Israel e Hamas, desencadeada após os atentados terroristas em 7 de outubro e a subsequente resposta do governo israelense, agitaram o tabuleiro das relações diplomáticas na América Latina. Ainda que, inicialmente, a maioria dos governos da região tenha condenado os ataques a Israel, as reações de cada país têm nuances e divergências. Mas uma coisa é certa: ninguém ficou indiferente. 

>>>>> Confira como cada país da América Latina vem se posicionando sobre o conflito:

·         Argentina: país com a maior comunidade judaica da região

Na Argentina vivem mais de 300 mil pessoas de religião judaica. Nove argentinos morreram nos ataques de 7 de outubro em Israel e, desde então, outros 21 permanecem desaparecidos. O presidente Alberto Fernandez expressou sua "enérgica condenação ao brutal ataque terrorista perpetrado pelo Hamas na Faixa de Gaza contra o Estado de Israel", reiterada em diversas ocasiões.

Um comunicado do dia 2 de novembro reforçou a condenação aos ataques terroristas e reconheceu o direito de Israel à sua legítima defesa. No entanto, o Ministério das Relações Exteriores do país acrescentou que "de toda maneira, nada justifica a violação dos direitos humanos internacionais, e a obrigação de proteger a população civil” e condenou também um ataque israelense contra o campo de refugiados de Jabalia.

Em reação, a Delegação de Associações Israelenses da Argentina (DAIA) repudiou as alegações do ministério e pediu ao governo de Buenos Aires que se diferenciasse das "posições pusilânimes de alguns países da região que decidiram romper relações com Israel e condenar seu legítimo direito a defesa”.

·         Bolívia: a postura mais dura contra Israel

Inicialmente, o governo da Bolívia publicou um comunicado que pedia a desescalada da violência sem condenar abertamente os ataques terroristas. Mas sua postura foi endurecendo-se até o rompimento das relações diplomáticas com Israel, que, por sua vez, acusou a atual administração do presidente Luis Arce de "render-se ao terrorismo" e de alinhar-se "com a organização terrorista Hamas".

O próprio grupo terrorista Hamas exaltou a medida. "Elogiamos fortemente a postura corajosa adotada pelo governo boliviano de cortar relações com a entidade sionista”, afirmou um comunicado do grupo palestino, citado por vários meios de comunicação. O ex-presidente Evo Morales, líder do Movimento ao Socialismo (MAS), que está no poder, considerou que a medida não seria suficiente e pediu que o governo boliviano declarasse Israel um "Estado terrorista” e apresentasse "uma denúncia ao Tribunal Penal Internacional".

·         Chile: a maior comunidade palestina

Com meio milhão de pessoas, a comunidade palestina no Chile é a maior fora de países árabes. O país tem um morto e um desaparecido nos ataques do Hamas, que condenou desde o princípio. O governo chileno também pediu que as partes evitassem uma escalada do conflito que causasse mais danos e sofrimento à população civil. O país pediu o retorno de seu embaixador em Israel para consultas, e descreveu os bombardeios israelenses como "punição coletiva à população civil palestina em Gaza".

·         Colômbia: fortes críticas de Petro a Israel

Ainda que o governo da Colômbia tenha inicialmente condenado "com veemência o terrorismo e os ataques contra civis" em Israel, posteriormente suavizou o seu comunicado para referir-se apenas aos impactos na população civil. Em suas declarações, o presidente Gustavo Petro insistiu que "se reconheça de maneira integral o Estado palestino". Além disso, reuniu-se com o embaixador palestino na Colômbia, Raouf Almalki. Em postagens nas redes sociais, o presidente causou polêmica ao comparar a resposta de Israel com o Holocausto e a Segunda Guerra mundial.

Israel ameaçou suspender todas as exportações de tecnologias de segurança à Colômbia e romper com a ajuda que vinha fornecendo ao país na sua luta contra grupos armados. Petro, por seu lado, ameaçou suspender totalmente as relações comerciais com Israel. Mais tarde, a Colômbia convocou o seu embaixador no país para consultas.

·         Costa Rica: condenação enérgica dos atentados

O Ministério das Relações Exteriores da Costa Rica foi um dos primeiros a publicar um comunicado oficial condenando de maneira enérgica o que denominou como "atrozes e deploráveis ataques terroristas do Hamas a Israel" e pedindo a liberação imediata dos reféns.

·         Cuba: apoio aos palestinos

O governo de Havana expressou em um comunicado em 7 de outubro sua "grave preocupação" pela escalada de violência entre Israel e Palestina, que classificou como "consequência de 75 anos de permanente violação dos direitos inalienáveis do povo palestino". Além disso, apelou pela solução de dois Estados na região.

Uma semana depois, em uma declaração do Ministério das Relações Exteriores,  publicado também em árabe, o governo cubano referiu-se aos bombardeios em Gaza sem mencionar os ataques terroristas do Hamas e pediu pela "busca de uma solução rápida por meio de negociação".

·         Equador: solução de dois Estados

O Ministério das Relações Exteriores do país condenou imediatamente os "atos de terror vividos em Israel" e pediu paz e diálogo. Posteriormente, reiterou a sua condenação em um comunicado que também manifestava "profunda preocupação" a respeito do bombardeio israelense ao campo de refugiados de Jabalia e afirmava que o exercício da legítima defesa deveria ser sempre feito de acordo com as regras do direito internacional. O Equador está alinhado, de forma geral, com as resoluções das Nações Unidas sobre a situação entre Israel e Palestina e defende a solução de dois Estados seguindo as "fronteiras reconhecidas em 1967". 

·         El Salvador: posicionamento forte de Bukele

O posicionamento do presidente Nayib Bukele, de origem palestina, contra o Hamas chamou atenção. Em uma mensagem escrita em inglês, ele estabeleceu um paralelo entre o terrorismo da organização islâmica e o das gangues conhecidas como "maras” em El Salvador.

"Qualquer pessoa que apoie a causa palestina cometeria um grande erro ao se aliar a esses criminosos. Seria como se nós, salvadorenhos, tivéssemos ficado do lado dos terroristas da MS13, só porque compartilhamos ancestrais ou nacionalidade", disse ele em referência ao grupo "Mara Salvatrucha” , considerado em El Salvador não só uma gangue criminosa, mas um grupo terrorista.

·         Guatemala: apoio irrestrito a Israel

O país mantém relações estreitas com Israel, tanto históricas como atuais. A Guatemala foi o segundo país, depois dos Estados Unidos, a votar nas Nações Unidas a favor da criação do Estado de Israel em 1947 (algo que fizeram 33 nações das 57 que então formavam a ONU). Ao lado do Paraguai, foi um dos dois únicos países latino-americanos que votaram contra uma recente resolução da Assembleia da ONU que pedia, por proposta dos países árabes, uma "trégua humanitária" na Faixa de Gaza.

Desde o início, o presidente Alejandro Giammattei manifestou seu apoio a Israel em redes sociais, em inglês e espanhol. A Guatemala, que tem representação diplomática em Israel desde 1956, mantém vários programas de cooperação com o MASHAV (o departamento de cooperação internacional do Ministério das Relações Exteriores de Israel) em áreas como turismo, investimentos, cooperação acadêmica, tecnologia, saúde e segurança. Além disso, sob o presidente anterior, foi o segundo país latino-americano a abrir uma embaixada em Jerusalém.

·         Honduras: respeito aos direitos humanos internacionais

O governo de Xiomara Castro condenou os ataques do Hamas. Em relação aos bombardeios sobre Gaza, Honduras aderiu à posição majoritária nas Nações Unidas, expressa na última resolução, que reafirma a obrigação de respeitar os direitos humanos internacionais em todas as circunstâncias e enfatiza a situação humanitária catastrófica na Faixa de Gaza e as suas consequências para a população civil, visão reverberada pelo Ministério das Relações Exteriores de Honduras. O país também chamou o seu embaixador em Israel para consultas.

·         México: busca por equidistância

Um comunicado do Ministério das Relações Exteriores do país no dia seguinte aos ataques do Hamas afirmava: "A posição do México é clara (...) fiel ao princípio constitucional da resolução pacífica de conflitos". Dois mexicanos estão entre os reféns do Hamas e o governo tentou contato direto com o grupo terrorista para promover sua liberação. A declaração ainda reconhecia o direito de Israel à autodefesa, mas condenava "o uso da força, independentemente de quem vier" e defendia uma "solução abrangente e definitiva para o conflito, sob a premissa de dois Estados".

O presidente Andrés Manuel López Obrador limitou-se a insistir que "não queremos uma guerra" e condenou o uso da força contra civis. Ele evitou "tomar partido" repetidas vezes, argumentando que essa atitude poderia fazer do México um agente na busca de uma solução pacífica.

"Agradeceríamos se o governo mexicano pudesse considerar uma posição que condene de maneira contundente os atos bárbaros perpetrados pela organização terrorista Hamas", manifestou em um comunicado a embaixada de Israel no México, reagindo às declarações do presidente em sua primeira coletiva de imprensa após os ataques de 7 de outubro.

·         Nicarágua: solidariedade com os palestinos

O regime de Daniel Ortega condenou veementemente o agravamento do conflito israelo-palestino em uma declaração no mesmo dia 7 de outubro, afirmando que ele "piora continuamente, face à arrogância, cegueira, incompreensão e inação da comunidade internacional e, particularmente, das Nações Unidas". O anúncio não fazia referência aos ataques do Hamas. O governo se posicionou ainda "sempre solidário à causa palestina" e ressaltou que o problema seria o não reconhecimento do Estado palestino.

·         Panamá: firme condenação dos atentados

O Panamá, que teve a morte de uma cidadã nos ataques terroristas do Hamas, condenou a ação do grupo desde o primeiro momento. O presidente Nito Cortizo expressou solidariedade com o povo israelense, e expressou repúdio a toda forma de violência. 

·         Paraguai: voto a favor de Israel

Junto com a Guatemala, foi o único país da região que votou contra a resolução da ONU que pedia um cessar-fogo humanitário, proposta pela Jordânia. O apoio do país a Israel, no entanto, teve seus altos e baixos: em 2018, o governo de Horacio Cartes anunciou a transferência da embaixada em Israel para Jerusalém no final de seu mandato, uma medida que foi revertida por seu sucessor três meses depois. Dois paraguaios estavam entre os mortos nos ataques do Hamas, e outros dois continuam desaparecidos.

·         Peru: três peruanos mortos na "espiral de violência"

O Peru inicialmente condenou os ataques do Hamas, mas recentemente também repudiou a resposta de Israel. Em uma declaração, o Ministério das Relações Exteriores lamentou que uma espiral de violência e uma escalada do conflito no Oriente Médio tenham sido desencadeadas, resultando em inúmeras mortes, incluindo três cidadãos peruanos.

·         Uruguai: rejeição absoluta ao terrorismo

O Ministério das Relações Exteriores do país condenou os ataques desde o início e disse "reafirmar sua rejeição absoluta ao terrorismo e seu compromisso com a segurança de Israel". As declarações do presidente Luis Lacalle Pou foram no mesmo sentido. Não houve vítimas uruguaias nos ataques, mas o país confirmou que uma mulher uruguaia-israelense de 29 anos foi sequestrada no kibutz de Nir Oz e está sendo mantida como refém. 

·         Venezuela: chavismo pró-palestino

Juntamente com Nicarágua e Cuba, a Venezuela está entre os três únicos países latino-americanos que não condenaram expressamente os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro. Em um comunicado naquele dia, o governo pediu "negociações genuínas" e expressou sua "profunda preocupação" com a situação, além de afirmar que a escalada da violência era resultado da "impossibilidade do povo palestino de encontrar na legalidade internacional multilateral um espaço para fazer valer seus direitos históricos". O presidente Nicolás Maduro, cuja legitimidade é amplamente questionada, chegou a falar em "genocídio" e "apartheid".

·         E o Brasil?

O Brasil conta com a segunda maior comunidade judia da América Latina, depois da Argentina, com mais de 100 mil integrantes. Além disso, os ataques terroristas do Hamas deixaram três brasileiros entre as vítimas, assim como um ferido que se recuperou e uma pessoa que segue desaparecida. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou os ataques, assim como o Ministério das Relações Exteriores, que pediu desde o início "moderação máxima" a todas as partes.

No momento dos ataques, o Brasil estava na presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU e redigiu uma proposta de cessar-fogo para a região, defendendo a abertura de corredores diplomáticos em Gaza e condenando os ataques do Hamas a Israel. A proposta foi vetada pelos EUA, e o país e encerrou seu mandato na presidência do conselho em 31 de outubro.

Além de ter repudiado os ataques do Hamas em 7 de outubro, classificando-os como "atos de loucura e terrorismo", Lula também afirmou: "Não é porque Hamas cometeu um ato terrorista contra Israel que Israel tem que matar milhões de inocentes".

 

·         Quais países apoiam e quais condenam a resposta militar de Israel aos ataques do Hamas

 

O cenário internacional está mais uma vez abalado por um conflito armado.

Quase dois anos após o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, o mundo está há um mês dividido em outro conflito, de Israel contra o Hamas, depois dos ataques do grupo islâmico no território israelense em 7 de outubro, que deixaram 1.400 mortos, segundo o governo israelense, e mais de 240 pessoas sequestradas.

À medida que bombardeios e ataques israelenses na Faixa de Gaza se ampliam e o número de vítimas civis cresce - já são mais de 10 mil, segundo autoridades palestinas -, em diferentes partes do globo algumas nuances começaram a aparecer em relação às posições assumidas no início do conflito, que consistiam principalmente na condenação dos atos do Hamas e no apoio a Israel.

Isso é o que revelam decisões tomadas no fim de outubro e início de novembro por governos de vários países.

A Bolívia rompeu relações diplomáticas com Israel em 31 de outubro ao criticar a "ofensiva militar agressiva e desproporcional" contra Gaza, tornando-se assim o primeiro país a fazer isso.

A Colômbia e o Chile, por sua vez, convocaram os seus embaixadores em Israel para consultas devido ao "massacre do povo palestino" e às "violações inaceitáveis do Direito Internacional Humanitário que ocorreram na Faixa de Gaza".

Dois países muçulmanos - Jordânia e Bahrein - também retiraram os seus embaixadores de Israel.

Entretanto, vozes que pedem um cessar-fogo ou uma pausa nos bombardeios por razões humanitárias começam a ser ouvidas em países que são aliados tradicionais do governo israelense, à medida que se espalham protestos de cidadãos sobre a situação desesperada vivida pelos habitantes de Gaza.

"Os EUA estão com o povo de Israel, nunca deixaremos de apoiá-los (…) O apoio do meu governo à segurança de Israel é sólido como uma rocha e inabalável."

Com estas palavras, após os ataques de 7 de outubro, o presidente dos EUA, Joe Biden, confirmou o lugar da superpotência como principal aliado político, econômico e militar de Israel.

Desde os ataques do Hamas, a Casa Branca tem demonstrado apoio inabalável ao governo de Benjamin Netanyahu. Primeiro, o secretário de Estado, Antony Blinken, visitou Israel e, mais tarde, o próprio Biden fez uma visita.

Além disso, Washington enviou dois porta-aviões da sua frota à costa de Israel para proteger o seu aliado no Oriente Médio.

O presidente americano - que tem resistido a pedir um cessar-fogo em Gaza - pressiona o Congresso do seu país para aprovar um pacote de ajuda de mais de US$ 14 bilhões para a defesa militar de Israel.

Para Mariano Aguirre, membro associado do think tank de política externa Chatham House, no Reino Unido, o apoio dos EUA é "fundamental" para a segurança de Israel.

Em segundo lugar na lista dos aliados de Israel, Aguirre coloca o Reino Unido e alguns membros da União Europeia (UE), como a Alemanha, França ou Itália, e países do leste da Europa, como a Hungria ou a República Checa.

"A UE apoia Israel sem nuances sobre o Hamas, mas não sobre os palestinos (…) A sua posição não é tão definida como a dos EUA", diz Alfredo Rodríguez Gómez, diretor do mestrado em Segurança Internacional da Universidad Internacional de La Rioja, na Espanha, à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

Rodríguez refere-se ao fato de países europeus considerarem o Hamas uma organização terrorista, mas defender o direito do povo palestino a ter o seu próprio Estado.

Aguirre diz que o apoio de dois países europeus está condicionado pela exigência de que Israel realize as suas operações contra o Hamas dentro do respeito ao Direito Internacional Humanitário, ou seja, que "a população civil não seja atacada".

Isso explicaria as mudanças em países como a Espanha, cujo presidente, Pedro Sánchez, passou de condenar os ataques do Hamas e reafirmar os direitos de Israel a defender-se "dentro do Direito Internacional" para pedir um cessar-fogo urgente e expressar dúvidas sobre a legalidade das ações militares israelenses.

Entretanto, no Reino Unido, o primeiro-ministro Rishi Sunak e membros do seu gabinete têm sido firmes na sua defesa de Israel e da sua campanha militar em Gaza.

Na verdade, o deputado conservador Paul Bristow perdeu o cargo no governo por pedir a Sunak que apoiasse um cessar-fogo por razões humanitárias.

À medida que a campanha militar israelense avança e o número de mortes em Gaza aumenta, líderes europeus e americanos começam a introduzir nuances nas suas posições, como demonstra o fato de Biden ter pedido a Israel uma "pausa" em suas ações em operações em Gaza para facilitar a entrega de ajuda aos civis.

"A causa palestina tem muito apoio internacional. Isto foi visto em 2012, quando a Assembleia Geral da ONU aceitou a Palestina como Estado observador", diz Aguirre, que afirma que este apoio não inclui o Hamas ou outros grupos, como a Jihad Islâmica.

Por sua vez, Rodríguez Gómez afirma que entre os principais aliados dos palestinos estão "os países muçulmanos, mesmo aqueles que assinaram os Acordos de Abraham em 2020 e estabeleceram relações com Israel [Emirados Árabes Unidos, Marrocos, Bahrein e Sudão]".

Por isso, a decisão da Jordânia e do Bahrein de retirarem os seus embaixadores de Israel é considerada significativa.

A Jordânia normalizou as relações com Israel com a assinatura de um acordo de paz em 1994, enquanto o Estado do Golfo Pérsico o fez em 2020 com os acordos promovidos pelos EUA.

Os países muçulmanos manifestaram o seu apoio nas Nações Unidas a um cessar-fogo em Gaza e em locais como o Egito, o Líbano e Marrocos têm havido manifestações em apoio aos palestinos.

·         E quem está com o Hamas?

O principal aliado do Hamas é o Irã, de onde o grupo recebe recursos financeiros, armas e formação para seus membros, segundo autoridades israelenses e ocidentais.

Ter o apoio do regime dos aiatolás significa, segundo os especialistas, ter também o apoio de países como o Iraque ou a Síria, que estão na órbita de Teerã.

Mas não só o Irã está por trás do Hamas - o Catar também. O Estado do Golfo é considerado outro dos principais apoiadores do ponto de vista financeiro e diplomático do grupo palestino.

"O principal líder do Hamas (Ismail Haniyeh) está em Doha, embora o Catar seja aliado dos EUA", lembra Aguirre.

Um caso peculiar é o da Turquia. Apesar do seu país ser membro da Otan, o presidente, Recep Tayip Erdogan, disse que "o Hamas não é um grupo terrorista", mas sim "um grupo de libertadores", e acusou Israel de cometer crimes de guerra em Gaza.

·         Rússia e China

A posição de outras duas potências nucleares nesta questão é guiada pelas suas rivalidades e interesses econômicos.

"O caso da Rússia é peculiar, pois sua posição responde ao seu confronto geoestratégico com os Estados Unidos", afirma Ignacio Gutiérrez de Terán, professor de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade Autônoma de Madri (Espanha), que lembra que Moscou não condenou o ataque do Hamas, mas culpou Washington pelo conflito.

Rodríguez Gómez fala em termos semelhantes, assegurando que "o ataque do Hamas é muito bom para a Rússia, porque serve para dispersar as forças dos Estados Unidos e da Europa, e desviar a atenção do que faz na Ucrânia".

"Se a Rússia tivesse que ser colocada num equilíbrio entre o Ocidente e o Hamas, estaria mais próxima do Hamas", afirma o especialista.

O governo de Netanyahu recentemente convocou o embaixador russo em Israel em protesto contra a presença de líderes da organização islâmica na capital russa.

Quanto à China, Rodríguez Gómez afirma que se trata de um caso "diferente".

"A China precisa de um mundo estável. Os grandes projetos econômicos precisam de estabilidade e a China quer levar a cabo o seu grande projeto da Rota da Seda e uma desestabilização como a da Ucrânia ja basta", explica.

 

Fonte: Deutsche Welle/BBC News Brasil

 

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