quarta-feira, 1 de novembro de 2023

“Não há dúvida de que se trata de uma limpeza étnica”, diz presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil

Em entrevista ao Correio da Cidadania, o advogado e presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil, Ualid Rabah, é categórico em todas as suas afirmações sobre a guerra que Israel faz ao povo palestino. Aliás, a diferenciação já começa nesta definição, uma vez que a mídia corporativa insiste em vender como um conflito do Estado de Israel contra o Hamas. Mas, ao contrário do que essa contextualização pretende, nada começou em 7 de outubro. São 76 anos de projeto de extermínio continuado, ideia escancarada na demonstração de Benjamin Netanyahu na ONU de um mapa da Palestina histórica sem mais nenhum naco de terra para os palestinos.

“Não é apenas Gaza, não é apenas Cisjordânia, é Palestina. Portanto, não é Hamas, é sempre Palestina, povo palestino. O direito à resistência do povo palestino, o direito à reação do povo palestino. É o povo palestino que reage. Portanto, é um quadro dramático, de um experimento social genocida que torna a faixa de Gaza um campo de extermínio, inclusive de teste de equipamentos, sistemas, armas e munições para que Israel exporte e com isso se autofinancie. Essas são as causas. Sem entendê-las, não se entende o que de fato acontece na Palestina”.

Ualid Rabah não leva a sério as acusações de antissemitismo espalhadas pelos defensores de Israel e fortemente propagandeadas por uma mídia que nunca zelou seriamente pelo combate ao racismo, postura que salta aos olhos no Brasil. Como reiterado na entrevista, os racializados são os palestinos e estamos diante de um massacre que não permite margem a interpretação que vitimize um país cuja superioridade militar é tão flagrante.

“A opinião pública, inclusive de vastos setores do judaísmo mundial, está percebendo que cai numa armadilha. Está percebendo que este é um genocídio televisionado, primeiro genocídio televisionado da história humana e que os veículos de comunicação, os hegemônicos, os grandes veículos de comunicação comerciais ocidentais entraram pela primeira vez, desde o primeiro momento, numa guerra de extermínio. É isso que está fazendo mudar, com as mobilizações que nós estamos vendo e até uma crítica severa ao comportamento desses grandes veículos de comunicação”.

No fim das contas, trata-se de mais um capítulo dramático de um imperialismo ocidental que visa a manutenção de formas tardias de colonialismo e controle geopolítico. Mais uma obra de um Ocidente que espalha guerras e barbárie pelo mundo, enquanto se autodeclara moralmente superior – pra não dizer racial e culturalmente.

“Isso tudo só está acontecendo porque os Estados Unidos garantem e participam diretamente. Sem o armamento estadunidense, sem a tecnologia bélica estadunidense, sem os sistemas estadunidenses e sem a munição estadunidense, e sem o veto estadunidense na ONU sobre as resoluções que condenam Israel, e sem os mais de 5 bilhões de dólares anuais que o tesouro estadunidense doa a Israel, evidentemente não haveria isso. Os Estados Unidos comandam diretamente a guerra de extermínio continuada contra o povo palestino nesse round. Os Estados Unidos e o Ocidente, de um modo geral, precisam abrir mão de sustentar esse projeto genocida na Palestina. Esse é o grande problema que precisa ser superado”, sintetiza.

Para Ualid, existe um jeito simples de olhar a questão. Tudo passa pelo respeito às resoluções que a ONU estabeleceu desde 1948. É a garantia dos direitos do povo palestino que dará segurança duradoura aos israelenses. “A restauração dos direitos nacionais, civis e humanitários do povo palestino e a aplicação do direito internacional para tal objetivo são as condições para resolver isso. O fim do regime de apartheid também é imperioso. A segurança para o povo palestino garantirá segurança para os israelenses. Essas são as condições e isso deve ser buscado e pode ser buscado, porque são as condições mínimas de vida civilizada”.

·         Confira a entrevista completa com Ualid Rabah.

·         O que desencadeou a ofensiva do Hamas, que entrou em território israelense e matou centenas de cidadão deste país?

Ualid Rabah: Eu gostaria que nós sempre reposicionássemos, ou posicionássemos melhor, a questão. A propaganda de guerra do regime sionista chamado Israel, bem como dos seus protetores e verdadeiramente garantidores, especialmente os Estados Unidos e seus grandes veículos de comunicação, sua propaganda de guerra, gostam de usar nomenclaturas que desapareçam com a Palestina e o povo palestino.

Faz parte do apagamento que integra o processo geral de limpeza étnica do povo palestino, que é o objetivo do projeto sionista para a Palestina. Assim, quando nós falamos de Palestina, nós temos que falar de Palestina. Não é apenas Gaza, não é apenas Cisjordânia, é Palestina. Portanto, não é Hamas, é sempre Palestina, povo palestino. O direito à resistência do povo palestino, o direito à reação do povo palestino. É o povo palestino que reage. Dessa forma, quanto à pergunta, esse é o primeiro circunstanciamento.

O que levou a essa ação e, porventura, leve a outras formas de os palestinos reagirem, é a situação dramática que vivem. O povo palestino vive há 76 anos, desde dezembro de 1947, sob ocupação colonial, sob limpeza étnica, sob regime de Apartheid, e tudo isso é reconhecido por relatórios da ONU e das principais ONGs internacionais de direitos humanos. A ONU já disse, em relatório muito recente, que a Faixa de Gaza é uma prisão a céu aberto. Outros relatórios internacionais dizem que os palestinos vivem, especialmente aqueles que estão trancados em Gaza há 17 anos - fala-se em 15, mas são 17 na prática, sendo 15 os mais recrudescidos -, em condições análogas aos campos de concentração. A Faixa de Gaza sofre agora o sexto ataque. Agora já são mais de 6 mil mortos, com 2 mil crianças mortas.

Tudo somado, estamos falando de mais de 15 mil mortes nesses últimos 15 anos, considerando 2008, 2009, até os dias de hoje. Isso tudo numa espiral que nunca acaba. A população palestina de Gaza vive miséria, muita miséria. Nós estamos falando de uma população que vive pobreza, extrema pobreza, na casa dos 70, 80%. Nós estamos falando de uma população que é 73 % refugiada, de 1948, 49, 50, 51, ou seja, foi expulsa de suas casas, de seus negócios, de suas terras, e tudo deles foi roubado para se tornar um PIB do regime sionista chamado Israel. Cerca de 90% da população palestina em Gaza não têm acesso à água potável própria para o consumo humano, segundo dados da ONU. A maior parte dessa população nascida nos últimos 13 anos, a quase totalidade (na verdade, são duas gerações), nunca saiu desse território. O desemprego está perto da casa dos 60% em Gaza. Na juventude, é 75%.

Tal população vive com apenas 4 horas de energia elétrica média ao dia. Imagine como é que vão funcionar os hospitais. Essa população vive um bloqueio de 17 anos que impede a entrada de medicamentos, equipamentos, alimentos. Está restrita ao mínimo de calorias de acordo com a FAO e a OMS.

Portanto, é um quadro dramático, de um experimento social genocida que torna a faixa de Gaza um campo de extermínio, inclusive de teste de equipamentos, sistemas, armas e munições para que Israel exporte e com isso se autofinancie. Essas são as causas. Sem entendê-las, não se entende o que de fato acontece na Palestina.

·         Como analisa a reação internacional após cidadãos israelenses sofrerem com a violência que cotidianamente podemos acompanhar ser praticada por seu Estado contra o povo palestino?

Ualid Rabah: No primeiro momento nós tivemos uma ampla campanha midiática de propaganda de guerra para desumanizar o povo palestino, como tem feito há mais tempo, mas não nesses termos. Usaram de fake news, uma atrás da outra, encadeadas: a primeira delas a das crianças enjauladas, desmentida; a segunda das crianças decapitadas, desmentida; depois a dos estupros, desmentida; depois a de uma criança carbonizada, também desmentida; por fim, a do bombardeio do hospital que matou centenas de pessoas, fake news que não emplacou e agora parece esquecida.

A Fepal também desmentiu uma fake news de um civil palestino capturado e apresentado como membro do Hamas, um civil que não tinha nada a ver. Quando a cerca que bloqueia Gaza foi cortada, ele simplesmente atravessou a fronteira. Ele é um refugiado, filho de refugiado, neto de refugiado desses que foram expulsos há 76 anos, nos anos 40.

Tudo isso está sendo desmentido, mas os veículos de comunicação continuaram, demonizaram o povo palestino e mobilizaram num primeiro momento uma parcela da opinião pública, mais uma vez em desfavor dos palestinos, a fim de fazer tal opinião pública apoiar o extermínio que o regime sionista de Israel está promovendo.

Entretanto, isso está sendo revertido. A opinião pública, inclusive de vastos setores do judaísmo mundial, está percebendo que cai numa armadilha. Está percebendo que este é um genocídio televisionado, primeiro genocídio televisionado da história humana e que os veículos de comunicação, os hegemônicos, os grandes veículos de comunicação comerciais ocidentais entraram pela primeira vez, desde o primeiro momento, numa guerra de extermínio. É isso que está fazendo mudar, com as mobilizações que nós estamos vendo e até uma crítica severa ao comportamento desses grandes veículos de comunicação.

·         Como encarar a tese de que o Hamas seria um grupo terrorista?

Ualid Rabah: Não há que se falar em terrorismo. O que existe é um terrorismo de Estado permanente do regime sionista contra o povo palestino, que visa, por meio do máximo terror, demover a população palestina da resistência, bem como de deslocar-se dessa região, da sua terra milenar, para que a Palestina inteira seja judaizada.
Vejamos, quando o processo de limpeza étnica começou, qual a organização palestina que existia? O Hamas é de 1988, e a limpeza étnica começou em dezembro de 1947, pelo menos 40, 41 anos antes. Ademais, é preciso dizer que essa cartada do terrorismo sempre foi utilizada contra todas as organizações palestinas. Foi utilizada contra o Al-Fatah, contra a OLP, contra o Arafat. Não é uma novidade. E foi utilizada também contra o gueto de Varsóvia, que reagiu ao nazismo.

Os meios de comunicação hoje estariam defendendo a Alemanha nazista, seguramente. Mandela ficou preso quase três décadas, e o pretexto era o terrorismo. Os vietnamitas foram acusados de terrorismo. Todos os movimentos de libertação nacional foram acusados de terrorismo.

Portanto, os palestinos em seu movimento de libertação nacional seguramente serão também acusados, como vêm sendo acusados. Essa é a grande cartada. É a cartada para invisibilizar e justificar o extermínio de todo o povo.

·         Como lidar com Israel? Qual a responsabilidade do atual governo de Israel nisso tudo?

Ualid Rabah: Israel precisa ser entendido como um projeto colonial que visa o extermínio do povo palestino. Como um apartheid, porque já está relatado, e sofrer as consequências da comunidade internacional e do direito internacional por promover um regime de apartheid que persegue toda uma população. Deve também ser encarado como um projeto colonial que toma terras dos palestinos. Deve responder também pelo bloqueio de Gaza. Esse bloqueio tem de acabar.

Porém, mais do que isso, nós precisamos perceber o papel dos Estados Unidos. Isso tudo só está acontecendo porque os Estados Unidos garantem e participam diretamente. Sem o armamento estadunidense, sem a tecnologia bélica estadunidense, sem os sistemas estadunidenses e sem a munição estadunidense, e sem o veto estadunidense na ONU sobre as resoluções que condenam Israel, e sem os mais de 5 bilhões de dólares anuais que o tesouro estadunidense doa a Israel, evidentemente não haveria isso. Os Estados Unidos comandam diretamente a guerra de extermínio continuada contra o povo palestino nesse round. Portanto, o problema são os Estados Unidos.

Os Estados Unidos e o Ocidente, de um modo geral, precisam abrir mão de sustentar esse projeto genocida na Palestina. Esse é o grande problema que precisa ser superado.

·         Como analisa o papel de Hamas e Autoridade Nacional Palestina, representantes máximos dos palestinos em Gaza e Cisjordânia, respectivamente?

Ualid Rabah: Nós defendemos que todos os palestinos e todas as forças políticas palestinas e de resistência palestina entrem num acordo nacional, construam um governo de unidade e cessem essa divisão territorial e política. Nós precisamos do restabelecimento da concórdia entre todas as partes palestinas para que o povo palestino possa ser representado por uma só voz, buscar consensos e criar uma circunstância em que os palestinos não estejam, como estão, divididos. A divisão favorece a ocupação, favorece o projeto colonial, favorece Israel.

Israel aposta nisso, inclusive. Até mesmo espalhar fake news de uns de nós contra outros de nós visa o enfraquecimento da resistência palestina, da unidade do povo palestino. Nós temos de compreender que há um adversário, o regime sionista de ocupação, que é um inimigo existencial da raça humana também. E ele precisa ser enfrentado de forma unificada. A divisão não interessa ao povo palestino, interessa apenas ao ocupante sionista.

·         O que teremos pela frente? Os acordos de Oslo podem ser considerados sepultados?

Ualid Rabah: Os chamados Acordos de Oslo de 1993 foram sabotados e destruídos pelo regime sionista de Israel. Lembremos que Yitzhak Rabin, que foi assassinado em novembro de 1995, pouco mais de dois anos depois da assinatura de tais Acordos, foi morto por um colono extremista judeu e foi aplaudido por Ariel Sharon, Netanyahu e seus seguidores. E a partir do ano de 2000, quando esses acordos em princípio deveriam entrar na fase de finalização, com discussão de refugiados, da divisão de Jerusalém, das fronteiras definitivas, começou a ser sabotado e destruído.

Portanto, os acordos foram destruídos, em primeiro lugar, preciso salientar, pelo lado do regime sionista de Israel e não pelos palestinos. Ele seguramente não está mais como estava antes, então a probabilidade de ser necessário um novo tipo de arranjo está na pauta. Oslo foi assassinado pelo regime sionista de Israel, porque este não quer a paz, nunca quis. Quer aquilo que demonstrou Netanyahu na Assembleia Geral das Nações Unidas, há poucos dias, quando exibiu um mapa da Palestina sem a Palestina. Isso quer dizer muito.

O regime sionista de Israel também aprovou uma lei, a lei do Estado-nação judeu, em 2018, que diz que o direito à autodeterminação do que eles dizem ser Israel (do mapa de Netanyahu sem a Palestina), é direito exclusivo apenas de quem eles dizem ser o povo judeu. Consequentemente, sua autodeterminação é supremacista.

Também diz no item 7 que a colonização da Palestina, ou seja, por colonos extremistas judeus, como acontece na Cisjordânia, que promovem os pogroms contra o povo palestino, é um dever e uma obrigação que deve ser executada pelo Estado sionista de Israel. Isso tudo significa, muito claramente, que qualquer perspectiva de paz não passa pelas perspectivas do regime sionista.

A comunidade internacional, especialmente os Estados Unidos, deve se convencer de que Israel, sua máquina de guerra e seu projeto de extermínio do povo palestino, projeto de “solução final”, demonstrado cabalmente, precisa ser paralisado e alguma nova definição precisa ser buscada.

·         Se para vocês Israel tem como projeto a limpeza étnica da Palestina e a tomada de todo o território previsto como estado palestino, que solução se poderia imaginar, mesmo que de longo prazo? A solução está nas mãos das grandes potências?

Ualid Rabah: No nosso entendimento, uma solução para a Palestina que beneficie todos deve respeitar os direitos humanos, o direito internacional humanitário, o direito internacional de um modo geral, e tudo aquilo que ele aplica para as relações entre povos, países, nações, e as resoluções da ONU para a questão Palestina. E elas são muito simples. Elas dizem que os refugiados palestinos devem retornar, como mostra a Resolução 194, da devolução de território, na pior das hipóteses, pelos Acordos de Oslo, que preveem 22% da Palestina histórica. Dizem também que a Resolução 81 pode ser uma parte da solução, porque na Resolução 273-3, de 11 de maio de 1949, que admitiu Israel como Estado membro da ONU, há duas cláusulas condicionantes que Israel aceitou acatar e implementar. A 181, de 29 de novembro de 1947, que recomendou a partilha da Palestina em dois Estados: um futuro Estado judeu, com 56,5% do território, e um Estado que viria a ser o palestino em apenas parte da sua terra histórica, com 42% do território, enquanto 9,6% ficariam como área internacionalizada de Jerusalém.

Portanto, é uma possibilidade recuarmos a essas três resoluções, com as cláusulas condicionantes deste texto? É uma possibilidade. Não há como imaginar resolver as questões na Palestina sem a restauração dos direitos nacionais, civis e humanitários do povo palestino. Portanto, a desocupação das terras roubadas, o fim dos assentamentos de colonização da Palestina, que agora faz com que na Palestina já haja 800 mil estrangeiros judeus colonizando e roubando essas terras, fazendo com que a Palestina seja uma colcha de retalhos e o povo palestino não tenha condições de ter uma vida normal, pois vive em bantustões sob um regime de apartheid.

A restauração dos direitos civis, nacionais, civis e humanitários do povo palestino e a aplicação do direito internacional para tal objetivo são as condições para resolver isso. O fim do regime de apartheid também é imperioso. A segurança para o povo palestino garantirá segurança para os israelenses. Essas são as condições e isso deve ser buscado e pode ser buscado, porque são as condições mínimas de vida civilizada.

·         Por que Israel visa a limpeza étnica? O que corrobora tamanha acusação?

Ualid Rabah: Israel visa limpeza étnica, e o que corrobora com isso são números, porque o sionismo planejou que a Palestina seria exclusivamente para judeus. A declaração Balfour, de 2 de novembro de 1917, tem peculiaridades. Primeiro, não cita o povo palestino uma só vez. Segundo, ela diz que os direitos nacionais (porque ela se refere ao lar nacional judeu na Palestina), serão só para judeus, e não para os demais não-judeus daquela terra. A esses, ela diz, serão preservados seus direitos civis e religiosos. Ali se inaugura o apartheid, e se inaugura também a perspectiva de que não haverá povo palestino, que não é citado nenhuma vez. Novamente, na Conferência de San Remo, de 1920, que reúne os vencedores da Primeira Guerra Mundial, se resolve adotar a declaração Balfour, onde não é citado nenhuma vez sequer o povo palestino.

Em 1922, na Liga das Nações, quando é aprovado o mandato de protetorado, que na verdade busca legalizar a colonização, o domínio colonial da Grã-Bretanha na Palestina, seu preâmbulo diz que o objeto desse mandato colonial é promover o lar nacional judeu na Palestina. O povo palestino, nos 28 artigos que seguem, não é citado uma só vez, e os 11 primeiros artigos descrevem como será a limpeza étnica, deslocamento da população, imigração e assentamento de uma população estrangeira em seu lugar. Esse foi o processo que aconteceu.

De 1947 a 1951, num processo que começa em dezembro de 1947, perto de 88% da população palestina dos 78% do território tomado para se tornar Israel, foi expulsa. Esse foi um processo categórico de limpeza étnica. A Resolução 194 da ONU reconhece que houve limpeza étnica e por isso determina o retorno dos refugiados. Portanto, nós não estamos falando de coisas que não estão calcadas em realidade e inclusive na legalidade internacional. O processo permanente de limpeza étnica é evidente em Israel.

Por exemplo, os palestinos que vivem milenarmente em Jerusalém são considerados apenas residentes. Eles não têm cidadania plena e não são nacionais. Tem apenas o direito de residência. E de 1967 até agora, perto de 15 mil desses palestinos que vivem historicamente em Jerusalém tiveram o seu direito de residência cassado e tiveram de sair. Isso é claramente um processo de limpeza étnica. Não há dúvida de que há limpeza étnica e não há dúvida de que esse é o intento de Israel.

O experimento de cerco a Gaza, uma ocupação à distância, visa também inviabilizar a vida humana no pequeno território e fazer sua população ver só a saída como única possibilidade. Não há dúvida de se tratar de um processo de limpeza étnica.


Fonte: Por Gabriel Brito, no Correio da Cidadania

 

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